“Tempo de amadurecimento, de escuta e aprofundamento de nosso
chamado vocacional que não foi isento de algumas dificuldades”
Em fase conclusiva da etapa de formação sacerdotal, qual seja, o discipulado, ainda resta-nos muitas inquietações e, não raras vezes, emergem do próprio nome do curso: o que é filosofia?
O seminário é o ventre da Igreja cuja missão é gerar sacerdotes segundo o coração de Deus. Assim como uma mãe aguarda nove meses para gerar um filho, a Igreja também é uma gestante de vocações. Nesse sentido, Alisson Sandro Anacleto e eu, nos colocamos em estado permanente de oração durante esses quatro anos de gestação sacerdotal.
Principiamos nossa caminhada a partir dos encontros vocacionais promovidos pela Diocese de Guanhães e, em seguida ingressamos no Seminário Propedêutico São José, em Ubaporanga-Mg, mais precisamente, aos 31 de Janeiro de 2016. Terminada a etapa querigmática, iniciamos, no ano seguinte, o discipulado – período que compreende o estudo de filosofia – no Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário, em Caratinga-Mg, dando continuidade, até então, no Seminário Provincial Sagrado Coração de Jesus, em Diamantina-Mg.
Tempo de amadurecimento, de escuta e aprofundamento de nosso chamado vocacional que não foi isento de algumas dificuldades; seja a saudade da família, as muitas incompreensões do cenário da Igreja, os relacionamentos conflitivos, o anseio de uma verdadeira mudança interior, as cobranças e provas, enfim, tudo contemplado e assimilado aos olhos da fé, como Maria que “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2, 19). Não tenho dúvidas que as orações feitas e as recebidas dos fiéis, foram e são, o sustento que nos apoiam mediante aos desafios oriundos da própria caminhada vocacional.
Por outro lado, tem-se momentos marcantes vividos com intensidade: as confraternizações, as ordenações sacerdotais, as conquistas individuais, as amizades feitas, o aprendizado adquirido e tantas outras experiências que de muito servem para nutrir esta centelha do amor de Deus.
Além disso, a capacidade reflexiva adquirida pela dimensão intelectual, no tocante à filosofia, foi de suma importância para a compreensão de si e a do mundo que nos circunda. A tecla mais usada durante esse período é a que corresponde ao sinal de interrogação (?); expressa bem o que é filosofia.
Etimologicamente o termo traduz-se por amor à sabedoria. O Filósofo Aristóteles já dizia que por natureza tendemos ao saber. E, um pouco antes, Sócrates afirmava veementemente que uma vida irrefletida não merece ser vivida. Santo Agostinho afirmava que o intento de sua pesquisa filosófico-teológica era conhecer a si e a Deus. Thomas Hobbes e Rousseau divergiam no tocante à natureza humana; objetivavam saber quem somos e a influência, para bem ou para mal, dos aparatos sociais criados. Immanuel Kant refletia acerca de perguntas básicas: o que posso saber? O que devo fazer? E o que me é permitido esperar?
Toda filosofia se baseia numa certa inquietação existencial humana e na busca de uma resposta para aquietar o espírito. Disso compreendemos que o crucial não seja tanto saber o que foi pensado por muitos filósofos; isso é indispensável! Mas pensar filosoficamente acerca das principais questões a que é submetida a sociedade contemporânea. Não ter medo de fazer e se fazer perguntas é um bom começo do filosofar.
É nesse sentido que podemos afirmar que o próprio conteúdo do curso é de suma importância para também, contribuir na formação sacerdotal. Concomitantemente, é uma bagagem teórica fundamental para tratar de temáticas tão abstratas com as quais lida a teologia. Resta-nos diante desse processo formativo, permitirmo-nos ser gestados para assim sermos filhos sacerdotais cuja maneira de ser seja expressão de nosso parentesco a Deus Pai em cujo Filho, nos configuramos no horizonte da cruz, para, com a força do Espírito, exercer com fidelidade a missão para qual nos preparamos.
Gabriel Ferreira Oliveira,
seminarista
A figura de Maria se faz presente em nossa vida e na vida da igreja. Liturgicamente falando, no tempo do advento e do Natal, ela se torna um personagem que provoca em nós muitas reflexões: Escuta, abertura ao novo, esperança, serviço, saída ao encontro do outro, ser luz na vida de alguém e dar a luz a alguém, acolhimento à Palavra de Deus; “nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens’’; (Jo 1,4). Advento e Natal, tempo com características especiais, levam-nos a revermos nosso compromisso com a vida em todas as circunstâncias. É sim um tempo de esperança durante o qual recordamos as promessas de Deus a respeito da nossa salvação. Deus é fiel e o que Ele promete é cumprido; mas também tempo de revisão: como está sendo meu compromisso com o Deus fiel, o Deus da vida?
Maria, essa figura sensível e forte, dentro da sua simplicidade agiu concretamente ao dizer sim ao Plano de Deus. Tenhamos em mente, não uma jovem que magicamente aparece grávida, mas uma jovem atenta aos apelos do seu tempo, do seu povo, da sua gente. Que não mediu circunstâncias nem quais seriam as dificuldades futuras; disse sim à vida com todas as suas consequências. Na sua presteza, Maria nos ensina o grande segredo do serviço; escuta à Palavra, atenção aos fatos, à realidade e atitude de saída ao encontro do outro. Ser portador de Jesus é estar atento a todos esses fatos. Se queremos ser “cristãos”, somos chamados a trazer para realidade à nossa volta sinais de esperança, de atenção, de escuta dos apelos que clamam por vida tanto humana quanto ecológica. Viver o Natal é estar em harmonia com toda natureza, assim nos ensinou Francisco de Assis quando montou o primeiro presépio e nele incluiu os elementos da natureza e os animais.
Que, ao prepararmos nosso presépio, tenhamos em mente uma ecologia integral, onde tudo e todos estejam voltados para Ele, com Ele e por Ele, o grande presente esperado e celebrado por toda a humanidade. E que não faltem em nossa lista de presentes, intensa caridade e solidariedade para com os pobres, doentes e todos que sofrem. Que eles se sintam presenteados e lembrados por Deus por meio de nossa fraternidade; assim criamos um clima para o Natal; Com Maria e José caminhemos rumo a Belém, nossa casa do Pão, da fraternidade universal.
Feliz Natal a todos e um 2020 repleto de fraternidade!
Maria Madalena dos Santos Pires
Equipe de articulação CNLB/ Guanhães
A poetisa mineira, Adélia Prado, assim descreve o natal: “Que noite bonita é esta em que a vida fica mansa, em que tudo vira festa e o mundo inteiro descansa? Esta é uma noite encantada, nunca assim aconteceu, os galos todos saudando: o Menino Jesus Nasceu!
A realidade é que aquele doce e pobre menino ali representado num berço de palhas ficou adulto, disse verdades que sacudiram a História e o resultado disso todos nós sabemos. Não existe mais o Menino Jesus. Por isso falemos, não do “Menino Jesus”, mas do “Jesus que foi menino”.
Ele veio e voltará! É por isso que a liturgia faz muita referência ao “fim dos tempos”, ocasião em que o messias voltará e por isso devemos estar atentos, despertados como o galo na aurora.
Aliás, a tradicional “missa do galo” – que se celebra à meia-noite entre os dias 24 e 25 de dezembro – aguça nossa curiosidade: afinal o que tem a ver o Galo com o nascimento de Jesus? Numa rápida pesquisa encontraremos que foi instituída pelo Papa São Telésforo no ano 143.
O galo é aquele que anuncia um novo dia; daí, a meu ver, o sentido da missa do galo simboliza o nascer do sol – solis invictus – e de um novo dia, que é o próprio Jesus Cristo. Sendo assim, o galo representa o testemunho cristão, preparado para a vinda do Senhor, para quando o senhor voltar, pois ainda ele chegue durante a alta noite ou ao raiar do dia, “bem-aventurados os servos que o senhor encontrar preparados” (Lc 12,37).
A missa do galo nos fala da virtude da vigilância, ou seja, daquela disposição constante e firme para permanecermos acordados à espera de Nosso Senhor, que há de voltar a esta terra e deseja encontrar nossos corações preparados para a sua gloriosa vinda.
Vale aqui a exortação de Paulo aos celebrantes do Natal: “desperta, tu que dormes, e Cristo te iluminará” (Ef 5,14); acordando-nos, assim, deste “sono” espiritual, Cristo nos chama à verdadeira vigilância.
Mas atenção para não cairmos nas armadilhas das mazelas do consumismo que o natal pagão nos envolve: é o natal dos muitos presentes, das comilanças, da bebedeira, da árvore de natal repleta de presentes e neste país tropical – em pleno verão – alguém estará usando roupa de papai Noel.
Conforme padre Zezinho, “tudo seria bem melhor se o natal não fosse um dia” e o espírito fraterno caridoso que paira no ar nessa época do ano perdurasse todos os dias do ano. Graças ao bom Deus, essa é uma realidade que, em variadas paróquias de nossa diocese, vem acontecendo: alimentação, moradia, entre outros, são oferecidos a quem tem necessidade também durante todo o ano.
Desejo a você uma boa leitura, Feliz Natal e um abençoado ano Novo. Seguiremos juntos, formando e informando o povo de Deus com essa forma de comunicação que se tornou um órgão oficial que, a partir de 1997, publica os atos oficiais e a vida diocesana.
Pe Bruno Costa Ribeiro,
no Editorial da Folha Diocesana, Dez/2019
Foto do presépio na Matriz de São Sebastião do Maranhão/MG
Alguns dizem que a arrecadação da Igreja se mantém a mesma, ainda que a maioria receba mais. E em janeiro e fevereiro, a arrecadação até cai, pois é uma época de muitos gastos. A Bíblia nos orienta: “trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o senhor”. Malaquias 3,10. Estamos em Outubro, mas já tem muita gente fazendo planos e contando com o tão sonhado décimo terceiro. Para algumas pessoas, a primeira parcela começa a ser depositada em novembro… Então fica este questionamento: Devemos devolver o Dízimo do Décimo Terceiro Salário?
Tudo que recebemos é graça de Deus, inclusive o Décimo Terceiro… Dízimo não é sistema jurídico, não se baseia no processo de como o Trabalhador o recebe. Há em Gênesis 28,20-22; Malaquias 3, 5-12; 2 Coríntios 9,6-12 são exemplos que nos ajudam a entender sobre a generosidade da entrega de tudo quanto recebemos.
Por que Deus disse “fazei prova de mim”? Todo o Livro de Malaquias tem como pano de fundo a infidelidade do Povo de Israel a Deus. Desde as lideranças religiosas até o povo comum havia muita infidelidade e isso é combatido por Deus. No Livro do Profeta Malaquias (Ml 3,6-12) há uma reprovação de Deus quanto à infidelidade do povo no Dízimo e Ofertas, revelando um povo egoísta e que não estava observando com retidão as Leis de Deus.
Deste modo, Deus usa ali palavras duras, chamando o povo de ladrões (Malaquias 3,8). Deus deixa claro que a atitude do povo trazia sobre si as maldições descritas na aliança (Malaquias 3,9). Essa é a parte da repreensão que chamamos de “negativa”.
Na parte “positiva” da repreensão, Deus diz: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (Malaquias 3,10). Logo de início, a ordem “trazei todos os dízimos” relembra o povo de sua obrigação dentro da Aliança feita com Deus. Essa obrigação de obedecer não era uma obrigação unilateral, ou seja, onde as pessoas tinham que obedecer e não recebiam nada em troca. Antes, existia também um compromisso do próprio Deus em abençoar o povo se ele fosse obediente.
Fazei prova de mim é um incentivo à obediência. Deus continua e manda o povo: “fazei prova de mim”. Muitos entendem de forma errada esse trecho. Deus não está aqui dando poder ao homem de aplicar provações ao próprio Deus. O que Deus está fazendo aqui é chamando o Seu povo a desafiar, a testar a Sua fidelidade.
Em outras palavras, Deus está dizendo algo como “experimentem ser obedientes e verão como derramo grandiosas bênçãos sobre suas vidas”. Deus não precisa provar a Sua fidelidade, pois n’Ele habita toda a justiça, mas aqui Ele dá essa abertura para que as pessoas, cegas pela desobediência, viessem a obedecer e verificassem a grandeza das bênçãos do Pai sendo derramadas em suas vidas.
Geralmente a palavra provação é usada na Bíblia relacionada a Deus aplicando testes na vida das pessoas com objetivos de abençoá-las. Mas aqui em Malaquias, Deus diz “fazei prova de mim”, ou seja, Ele inverte o que estamos acostumados e nos dá a abertura de fazermos um “teste” com Ele, ou seja, o teste de sermos obedientes e verificarmos as bênçãos sem medida que serão derramadas. A expressão usada é “abrir as janelas dos céus e derramar bênçãos sem medida”. Se o povo fosse obediente, seria enriquecido com bênçãos imagináveis vindas diretamente das mãos do próprio Deus!
Concluindo, não há dúvida de que também devemos devolver o Dízimo do Décimo Terceiro ou de qualquer outra forma de renda que proceda de nosso trabalho, pois tudo é graça de Deus.
Sendo assim, é importante que cada dizimista reflita em seu coração, diante de Deus, sobre a graça de devolver o Dízimo do Décimo Terceiro, até porque no final do ano é que nossas Comunidades Paroquias e Diocese mais têm gastos, ou seja,“Investimentos Dobrados”, como: Décimo Terceiro dos Funcionários, Seguro dos Veículos e Planejamentos para todo o Ano.
Que São Miguel e Nossa Senhora Aparecida intercedam por você e sua Família, derramando Bênçãos Copiosas dos Céus. Juntos, somos mais!
Pastoral Diocesana do Dízimo e Partilha
Diác. Edmilson Henrique Cândido
Assessor Diocesano da Pastoral do Dízimo e Partilha
“Vivemos o Ano Nacional do Laicato em 2018, mas ele não se encerrou em 25 de novembro; estende-se como um compromisso de toda a Igreja para ‘melhor apoiar e incentivar a vida e a ação dos cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade’”.(CNBB 105, n.275)
Celebraremos no próximo dia 24 de novembro a Solenidade de Cristo Rei , dia do Cristão Leigo e Leiga, momento de renovarmos nosso compromisso com a Igreja da qual recebemos o Batismo e, por ele , tornamo-nos , com Cristo, sacerdote , profeta e rei. A celebração do dia do Cristão Leigo e Leiga quer nos aproximar, nos comprometer, nos enriquecer na fé e na esperança, para juntos construirmos relações fraternas que visualizam os sinais do Reino de Deus entre nós.
“Muitos são os espaços para nossa atuação evangélica de cristãos leigos e leigas e é nesses espaços que vamos continuar dando ‘corda no relógio’, como nos lembra o Papa Francisco na Carta ao Cardeal Ouelet em 2016: ‘ é a hora dos leigos , mas parece que o relógio parou’. ‘Não podemos deixar o relógio parar. Este é o nosso desafio! Continuar com o que retomamos com o ano do laicato, para que os cristãos leigos e leigas assumam sua missão nas realidades do mundo, onde só eles e elas são capazes de ser ‘Igreja no coração do mundo’ como verdadeiro sujeito’.(Marilza J.L. Shuina)”.
Com esse propósito, nossa Diocese de Guanhães, em 2019, caminhou no sentido de se organizar como Igreja comprometida com uma sociedade renovada, articulando-se junto ao CNLB -Regional Leste II para em comunhão fraterna, crescermos como “Igreja em saída” a serviço do Reino. Esse é o nosso sonho. E como já disse o poeta “sonho que se sonha só é pura ilusão; sonho que se sonha junto é sinal de realização”. Que Maria, a Rainha da Evangelização, caminhe conosco!
Maria Madalena dos Santos Pires,
Comissão de articulação do CNLB na diocese de Guanhães
Em outubro, mês em que se celebra o dia das crianças, acompanhamos tristes notícias de violência e abuso contra crianças e vimos também calúnia, como no caso do auxiliar de educação física Hudson Nunes de Freitas, de 22 anos, que foi investigado por suspeita de estupro de vulnerável nas dependências de um colégio de BH. E ainda, os acusadores que inicialmente se declararam vítimas de abuso sexual de Antonio Molina, expulso do estado clerical pelo Vaticano, recentemente se retrataram perante os tribunais de El Salvador; outra vítima de calúnia.
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) registrou que, a cada 24 horas, pelo menos oito ocorrências de abuso sexual contra crianças e adolescentes de até 14 anos e pessoas mentalmente ou fisicamente incapazes de oferecer resistência a esse tipo de violência são registradas em Minas Gerais. Isso sem mencionar as situações em que o silêncio da vítima, seja por ameaça ou vergonha, impede a polícia de agir.
Os estupros de vulneráveis, muitas vezes, são cometidos por pessoas próximas ou algum familiar, tanto homens como mulheres, ou alguém que trabalhe com esportes, educação ou até com religião de variados cultos. Apesar de alguns maliciosos associarem pedofilia à igreja (padres e celibato), a violência que crianças vêm sofrendo é uma realidade “extra murus” da Igreja Católica. Afeta a igreja, pois os membros dela estão inseridos no mundo e por isso expostos a todo mal. A igreja está inserida neste contexto social, contudo, é um mal da sociedade e não da Igreja. Os agressores são tanto homens como mulheres e as vítimas meninos ou meninas.
É dever da Igreja, ao defender a dignidade da Pessoa Humana, combater esse tipo de violência – a começar de dentro. Por isso mesmo foi realizado o Encontro sobre proteção de menores e adultos vulneráveis entre os dias 21 e 24 de fevereiro de 2019. Os padres têm acesso ao mais íntimo de nossos irmãos, não por suas qualidades, mas em virtude do sacramento da confissão e do zelo pastoral de orientar espiritual o povo confiado a nós e aqueles que nos procuram. Digo isso para que entenda que sabemos o quanto meninos e meninas sofrem por serem violentadas por algum familiar (pais, padrastos, madrasta, primos, tios, padrinhos entre outros), vizinho, amigo da família e outros.
A igreja não pode ser hipócrita e fechar os olhos a essa triste realidade que ceifa nossos pequeninos (Mt 18,6) e a sociedade também não pode ser hipócrita e estigmatizar a Igreja e o celibato dos padres – atribuindo-lhes a exclusividade de tal aberração -, fechando os olhos a homens e mulheres casados que destroem a infância e adolescência das vítimas apesar de serem desimpedidos do celibato.
É preciso conversar, mas não de forma pejorativa. Orientar, por exemplo, sobre a inadequação de ter os órgãos genitais tocados por outras pessoas. Explicar que criança não namora, nem de brincadeira. Alertar que existem áreas no corpo que ninguém pode tocar ou nelas encostar, mas é importante que seja dito na linguagem da criança.
Não se devem fechar os olhos para ninguém; deve-se exigir que todas as instituições façam o mesmo. Se bem que muitas famílias não tenham coragem de denunciar algum dos seus. O Papa Francisco já acionou a “tolerância zero” para padres e bispos que cometerem tal desvio – e outros – ou de alguma forma acobertarem conforme consta na Carta Apostólica Motu próprio “Como uma Mãe amorosa” você entenderá melhor.
Pe Bruno Costa Ribeiro,
assessor da Pastoral Familiar e PASCOM
“Ide vós também para a minha vinha”
(Mt 20,7)
O coração humano é respeitado por ser o lugar onde residem as qualidades morais de um indivíduo, ou seja, os sentimentos e as emoções. No coração missionário não é diferente. Neste pequeno órgão muscular encontramos o governo, onde o chamado de Deus faz sentido: “Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20,7). Na missão somos convidados “a entrar, fechar a porta e a orar ao Pai. Este que vê a sinceridade nos recompensará” (Mt 6, 6-8). O missionário tem a arte de dirigir o espírito que o impulsiona a calçar as sandálias da missão. Como nos diz George Peters: “O mundo está muito mais preparado para receber o Evangelho do que os cristãos para propagá-lo”. Daí que, para o missionário, não existe o perto ou o longe, mas a vontade de evangelizar.
A alegria do evangelizador é proporcionar vida para todos (Jo 10,10). Por isso, o que é outorgado ao missionário não é uma concessão, nem uma simples característica que a Igreja lhe oferece, mas sua autenticidade de ser. Daqui se entende as palavras de Jesus, quando diz: “Ide por todo o mundo e fazei discípulos meus” (Mt 28, 19). As palavras Bill Gothard asseveram: “Uma mensagem preparada numa mente alcança uma mente; uma mensagem preparada numa vida alcança uma vida”. Jesus é a mensagem e a vida, o Evangelho por excelência (Mc 1,1). O missionário é aquele que entende o verdadeiro sentido das palavras do Mestre: “Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20,7).
São Paulo VI, declara: “Jesus é o primeiro e maior evangelizador, que incessantemente nos envia a anunciar o Evangelho do amor, com a força do Espírito Santo (EN, 7). Eis, pois, que a alegria do missionário tem como segurança as palavras do Senhor: “não tenham medo” (Mt 28,5). O sentimento de júbilo do evangelizador rejuvenesce com os sinais da vitória do ressuscitado, estimulando a graça da conversão, mantendo viva a esperança que não decepciona. O que define o arauto do Senhor não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que deve empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo (DA 14). O Evangelho é sua segurança.
O Papa Francisco nos assegura que a missão nos oferece uma alegria contagiante, porque põe em prática a certeza do “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6), que é o próprio Jesus. O Documento de Aparecida nos diz: “a alegria do missionário, baseia-se no amor do Pai, na participação no mistério pascal de Jesus Cristo que, pelo Espírito Santo, faz-nos passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o sentido profundo da existência, do desalento para a esperança. Esta alegria não é um sentimento artificial provocado num estado de ânimo passageiro (DA 17). O amor do Pai, revelado em Cristo, nos convida a entrar no seu Reino. Ele nos ensinou a orar dizendo “Abba, Pai” (Rm 8,15; Mt 6, 9). Nisto consiste a fé que nos leva à missão. “Quanto mais próximos estivermos d’Ele mais nos tornaremos missionários e com maior intensidade”. Assim nos assegura Henry Martin. Seja um apaixonado pela missão. Seja missionário de Jesus Cristo em sua comunidade paroquial, com sua família, em seu trabalho, vida social, onde estiver. Ouça as palavras de Jesus agora: “Ide vós também para a minha vinha” (Mt 20,7). Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof. do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina-MG
Membro da Academia Marial – SP
ESTAR COM OS PAPAS: UM ATO DE FÉ
Não me proponho aqui discutir o dogma da infalibilidade papal, proclamado em 1870 pelo Concílio Vaticano I, nem tampouco avaliar os 264 papas que sucederam ao apóstolo Pedro, escolhido pelo próprio Cristo como primus inter pares, isto é, o primeiro entre os discípulos, com a missão de conduzir a sua Igreja e confirmar na fé os irmãos que, doravante, se uniriam aos demais (cf. Lc 22,32). Lugar de juiz pertence a Deus! No entanto, não é difícil perceber, mesmo numa releitura rápida da história da Igreja que, não obstante a Igreja seja assistida pelo Espírito Santo e nenhum mal possa contra ela (cf. Mt 16,18), o lado humano de seus líderes (e de todo o povo!), vez ou outra, coloca obstáculos à ação de Deus.
Conviver com a vulnerabilidade dos papas sempre foi um desafio para os cristãos e o mundo, o que não significa que não possam ser infalíveis quando se pronunciam ex cathedra ou em comunhão com os demais bispos a respeito da fé e da moral cristã católica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 891). Faz parte da humildade de um chefe supremo da Igreja reconhecer seus limites e saber que precisa do discernimento do Alto até mais que do que os fiéis, pela grandeza de suas incumbências. É como disse o papa emérito Bento XVI, em julho de 2005, por ocasião do lançamento de seu livro Jesus de Nazaré: “O papa não é um oráculo, é [somente] infalível em situações raríssimas”.
Ou mesmo nosso querido papa Francisco, quando um jornalista o questionou o porquê de ele falar muito sobre os pobres, mas relativamente pouco sobre a classe média: “Você está certo. É um erro meu não pensar nisso”, e “você está me falando sobre algo que preciso fazer. Preciso ir mais fundo nisso”. Não é à toa que ele sempre pede ao povo que reze por ele!
O que desejo, no entanto, é chamar a atenção para outro aspecto, talvez mais relevante que os debates sobre privilégios papais: a importância de caminharmos como Igreja e com a Igreja, o que inclui estar com nossos papas. A Igreja, antes de ser uma instituição humana, é um mistério de fé. Nascida do lado aberto do divino Esposo pendente na cruz (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 766), ela permanece no mundo até a sua vinda definitiva como sinal e instrumento a serviço da salvação da humanidade. “Creio a Igreja santa”: é a maneira que o Símbolo dos Apóstolos encontrou para dizer que, mais do que nas obras da instituição, cremos no mistério da Igreja como dom do Alto e assistida pelo Espírito (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 750). Essa Igreja não se reduz à sua hierarquia, mas é a comunidade dos iniciados na fé cristã, Povo de Deus chamado a testemunhar os valores do Evangelho e conduzido por aqueles pastores colocados à sua frente pelo próprio Jesus, o Pastor dos pastores.
A caminhada do Povo de Deus nunca foi feita sem sobressaltos. E mais uma vez recorremos à história para recordar o quanto já titubeamos nessa trajetória bimilenar. Assim será até o fim, pois o caminho ainda não é o horizonte nem o mar ainda é o ancoradouro. O Reino definitivo inaugurado pelo Senhor supera em muito a própria Igreja, mas conta com ela para sua chegada a cada coração humano e ao cerne de cada cultura e sociedade, para que ali comece, no passageiro, o que se anuncia como definitivo para além da história. Querer uma Igreja perfeita é perder a noção de que ela é ponte e não porto!
Nesta nossa trajetória, quis o Senhor que tivéssemos à nossa frente as figuras dos papas como sinais a apontar a direção e garantia da unidade do povo em marcha. Como uma só família irmanada no amor do Cristo, um pai (papa) nos é dado como testemunha de fé e memória do Evangelho. Suas palavras e ensinamentos – e, sobretudo, o seu modo de vida! – sempre atentos às demandas de cada época, são para nós indicações preciosas de como viver, no hoje da vida, a Palavra divina que dá a vida e liberta todo ser humano. Estar com os papas, portanto, é estar com a própria Igreja de Jesus Cristo, na tentativa de fidelidade ao seu projeto. É ter diante de nós a autoridade legitimamente constituída, querida por Jesus, a quem devotamos o obséquio do nosso respeito e a sinceridade de nosso amor.
O papa Francisco é o autêntico sucessor de Pedro, como o foram os outros papas. Seu agir, profundamente enraizado nos Evangelhos é, para nós, memória do agir de Jesus Cristo e apelo contínuo à conversão. Seu olhar misericordioso e atento às dores das minorias e aos clamores dos mais pobres e sofredores é a resposta de Deus a uma humanidade marcada pela dor e pela carência de afetos que curam. Suas palavras simples e profundas chegam muito depressa aos corações daqueles aos quais ninguém quer dirigir a voz. Mas seu profetismo também ecoa em nossas consciências adormecidas e mal acostumadas à indiferença pelo ser humano e pela casa comum da criação. Sua denúncia da idolatria – a mesma feita por Jesus – incomoda a todos nós, especialmente àqueles que há muito se renderam ao capital e a seu séquito de ídolos que ferem a dignidade humana. Por isso, ele é perseguido, do mesmo modo que Jesus o foi até à morte escandalosa na cruz, punição definitiva aos rebeldes e agitadores sociais.
Infelizmente, até mesmo católicos acusam-no de “esquerdista”, “comunista”, “progressista” e tantos outros chavões descontextualizados e vorazmente repetidos, os quais, no fundo, encobrem a única e mesma verdade: a vergonha que seus opositores sentem por não darem conta de amar como ele ama, isto é, de amar como Jesus amou! O escândalo que Francisco provoca não é primeiramente contra a ortodoxia (correta doutrina) da Igreja, mas por apresentar uma ortopráxis (correta ação) profundamente evangélica, coisa há muito esquecida pelos que querem defender a “cátedra de Moisés” contra a insurreição do amor que clama que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Então ele é um santo? Certamente está a caminho, como deveríamos também estar! Ele não erra? Igualmente a seus predecessores e a todos nós, tem suas falhas, das quais não se abstém de reconhecer e de se retratar.
No entanto, Francisco é nosso papa! Gostando ou não gostando do seu estilo, devemos-lhe respeito e amor filial. Ele não tem errado. Mas, se ele errar, erraremos com ele; isso sempre fez parte da história da nossa Igreja, santa e pecadora. E o Espírito sempre mostrou o caminho da restauração! São João Paulo II ou Bento XVI nunca erraram? Obviamente que sim! E estávamos com eles, compreendendo que a fé exige também caminhar na penumbra muitas vezes, como devemos estar com o papa Francisco. Ou será que a nossa presunção de sabermos mais do que o papa (e de quase cem por cento dos bispos católicos do mundo que estão com ele) nos levará à vaidade de nos acharmos os donos da verdade? Afinal, acreditamos ou não que a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo, que “sopra onde quer” (Jo 3,8)?
Pe. Vanildo de Paiva
Do medievo ao nosso hoje
Da Igreja à sociedade
Ao de perto e ao de longe
Levar o amor, a caridade
Repelindo os desares
Compartilhando o doce bem
Vamos, Francisco,
Vem, se apresse!
O Cristo quer ir mais além!
Pois de um passado ainda presente
Ouviste a voz do grande Amor:
“Reconstrói a minha Igreja”
E atendeste ao teu Senhor
Da mesma voz se torna ouvinte:
Papa Francisco é o pedinte
De misericórdia e bondade
Quer restaurar na esperança
O povo de Deus que luta e cansa
Ansiando piedade
Vamos, Francisco, juntos todos
Com pobreza, paz e rogos
De Assis ao mundo, a Deus
Com Francisco, o nosso papa
Sendo Cristo, o guia, o mapa
Vem, Santo Pobre, aos pobres seus!
Mateus Alves Correia,
Seminarista da Arquidiocese de Diamantina
CONVERSANDO SOBRE DEPRESSÃO
O que é
“Muita gente uma vez ou outra na vida se sente deprimida ou triste. É uma reação natural à perda, aos desafios da vida e à baixa autoestima. Mas, às vezes, o sentimento de tristeza se torna intenso, dura longos períodos e retira a pessoa da vida normal. É o mais comum dos transtornos mentais, mas é uma doença tratável. “
O texto a seguir é uma entrevista com uma jovem acometida pela doença.
Depressão significa falta de fé em Deus?
– Não. Depressão é um distúrbio mental e que pode ocorrer mesmo em pessoas de muita fé. A depressão nos deixa desesperançosos e sem ânimo; e a fé é movimento.
– Você já teve depressão?
– Sim. Estou em tratamento atualmente. A depressão pode ser média, leve ou grave. Já estive em estado grave. Hoje me mantenho em tratamento para não chegar a esse ponto novamente.
– Só o tratamento ajuda?
– O tratamento tem de ser completo. Físico, mental, emocional e espiritual.
– O que você tem feito para conviver com essa doença?
– Respeito meus limites, tento fazer atividades mesmo sem vontade, falo a respeito com outras pessoas, encorajando-as a partir da minha experiência e tento brincar com a situação.
– A depressão tem um motivo ou uma causa?
– Pode ter ou não. Há pessoas que se deprimem por um fator externo; outras, pela forma como elas têm de pensar e ver a vida, mas pode acontecer com qualquer pessoa.
– Quando a pessoa descobre que está com depressão?
– Algumas pessoas nem descobrem. Acham que estão numa fase chata ou ruim e que vai passar. Geralmente pessoas próximas é que conseguem perceber. Eu descobri com ajuda de profissionais. Não tinha consciência da doença.
– A pessoa, sem ajuda profissional, consegue se curar?
Não acho. A depressão é um distúrbio. A pessoa pode se esforçar e ficar bem por um tempo, mas curar-se, não acho.
– E o que a família pode fazer nesse caso?
Apoiar, falar palavras de ânimo, fazer-se presente mesmo que em silêncio, ajudar a pessoa doente a se sentir amada.
– No Brasil, a depressão atinge 11,5 milhões de pessoas.
Há alguma forma de evitar a doença?
– Sim. Enxergando depressão como um distúrbio da mente, encorajando as pessoas a procurar ajuda profissional; não descrever psicólogo e psiquiatra como médicos de doido.
– A pergunta “Como vai você” pode ajudar uma pessoa a falar sobre a depressão?
– Depende da forma como for realizada e se a pessoa aguarda a resposta. No automático, não rola (risos). “Como vai você?” somente como uma forma de cumprimentar, não. Mas como aproximação e interesse verdadeiro de ajudar, sim.
– Do que a pessoa com depressão não precisa?
Ouvir que é falta de Deus, que a vida dela é linda, que vai passar, pra ela não dar importância.
Obs.: A pessoa com quem conversei sobre esse tema enche minha vida de graça, beleza, delicadeza e esperança.
Luís Carlos Pinto
Professor de Educação Básica