É sempre tempo para que o Presbítero reveja a fidelidade a Cristo e à Sua Igreja, a fim de que seja mais verdadeira e profunda, mas há uma exigência indispensável e irrenunciável: que o Sacerdote tenha o coração seduzido pelo Amor de Deus, em intensa relação de apaixonamento por Cristo, e indiviso, porque plenificado pelo Amor do Espírito Santo, pelo qual foi marcado no dia da ordenação, para total entrega, disponibilidade e obediência.
A visibilidade e o testemunho do amor do Sacerdote por Cristo contagiam de modo salutar toda a comunidade, levando-a a mesma relação.
Iluminador é o que nos dizem grandes Bispos da Igreja, para que o coração de cada Sacerdote seja inflamado de amor, na sedução querida e desejada, tornando-o homem de amor indiviso: amor à Igreja e ao Povo de Deus a ele confiado!
Com São Pedro Crisólogo (séc. V), vemos que a força do amor tudo move, tudo motiva, pois leva ao desejo maior, a contemplação da Face Divina:
“… Deus, que o mundo não pôde conter, como olhar limitado do homem o abrangeria? Mas, o que deve ser, o que é possível, não é a regra do amor.
O amor ignora as leis, não tem regra, desconhece medida. O amor não desiste perante o impossível, não desanima diante das dificuldades.
O amor, se não alcança o que deseja, chega a matar o que ama; vai para onde é atraído, e não para onde deveria ir. O amor gera o desejo, cresce com ardor e pretende o impossível.
E que mais? O amor não pode deixar de ver o que ama. Por isso todos os santos consideravam pouca coisa toda recompensa, enquanto não vissem a Deus…”
Com Santo Anselmo (séc. XII), refletimos sobre o mesmo desejo de contemplar a Face de Deus:
“Que pode fazer, Altíssimo Senhor, que pode fazer este exilado longe de Vós? Que pode fazer este Vosso servo, sedento do Vosso Amor, mas tão longe de Vossa presença.
Deseja aproximar-se de Vós, mas Vossa morada é inacessível. Aspira encontrar-Vos, mas não sabe onde estais. Tenta procurar-Vos, mas desconhece a Vossa Face.
Senhor Vós sois o meu Deus, o meu Senhor e nunca Vos vi. Vós me criastes e me redimistes, destes-me todos os Vossos bens e ainda não Vos conheço. Fui criado para Vos ver e ainda não fiz aquilo para que fui criado…
Ensinai-me a Vos procurar e mostrai-Vos quando Vos procuro; não posso procurar-Vos se não me ensinais nem encontrar-Vos se não Vos mostrais. Que desejando eu Vos procure, procurando Vos deseje, amando Vos encontre, e encontrando Vos ame”.
Oremos por todos os Presbíteros para que vivam esta relação amorosa com Deus, e são muitos os que estão dando consistência e vivacidade a tudo que se disse.
Vivem o Ministério inspirados nos Profetas, como Jeremias, Isaías, o Apóstolo Paulo e outros luminares, com o coração seduzido pelo Amor de Deus e indivisos, totalmente entregues e consagrados pelo Sacramento da Ordem, edificando e santificando a Igreja, procurando multiplicar os sinais do Reino.
De fato, a felicidade, tanto de um Sacerdote como da comunidade que ele cuida, com coração de pastor, está na exata medida da intensidade de seu amor por Cristo.
Quanto maior o seu amor por Cristo, mais indiviso seu coração o será: somente a Paixão pelo Reino o consumirá, maior amor vivenciará e testemunhará!
Dom Otacilio F. de Lacerda.