A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.

Quem são os “Lázaros” de nosso tempo?
A Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre nossa relação com os bens: bens que passam e que devem ser usados, e os bens eternos, que devem ser abraçados.
Na primeira Leitura (Am 6, 1a.4-7) Amós, o “Profeta da justiça social”, denuncia a exploração dos ricos sobre os pobres, um luxo vivido à custa da exploração dos pobres.
Sua voz é um grito profético sobre esta situação, e Deus não Se faz indiferente, e não compactua com esta realidade, porque não é o Seu Projeto pensado e querido para a humanidade.
O grito do Profeta Amós ultrapassa seu tempo e chega até nós, pois também vivemos situações de desigualdade, exploração e miséria que precisam ser superadas: gastos com supérfluos, contrastando com realidades abomináveis de fome, desnutrição, sede e muito mais a ser mencionado.
Na fidelidade a Deus, vivendo a vocação profética, não podemos nos furtar de sagrados compromissos para que todos tenhamos uma vida plena e feliz.
Na passagem da segunda Leitura (1 Tm 6,11-16), o Apóstolo Paulo traça o perfil de alguém que serve a Deus, com uma desejável vida santa: deve amar os irmãos, ter fé, ser paciente, perseverante, justo, piedoso, terno, vive totalmente voltado para o outro em doação e serviço; entusiasmado na vivência do ministério; fidelidade na transmissão e vivência da Doutrina que ensina.
Reflitamos:
– Quais das características citadas estão presentes em nós, como discípulos missionários do Senhor?
Na passagem do Evangelho (Lc 16, 19-31), ouvimos a Parábola do rico e do pobre Lázaro, que é uma catequese sobre como devemos possuir os bens e não sermos possuídos por eles, vivendo o amor, a partilha e a solidariedade, sobretudo com os mais pobres, com os “Lázaros” de cada tempo.
Com a Parábola, entre outros ensinamentos, aprendemos que enquanto a Palavra de Deus não for acolhida no mais profundo do coração, a ponto de determinar nossos pensamentos, escolhas e ações, permaneceremos mergulhados na escuridão, encalacrados no egoísmo, no orgulho, na autossuficiência, sem jamais entender e viver a graça do amor e da partilha.
Não podemos perpetuar situações em que um quarto da humanidade fica com oitenta por cento dos recursos disponíveis do planeta, enquanto três quartos ficam com o restante (vinte por cento).
Muito bem nos ensina a Igreja, perita em humanidade: “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém par auso de todos os homens e povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos…” (Gaudium et Spes n. 69).
O rico da Parábola não tem nome, pois pode ser cada um de nós; representa a humanidade, mas o pobre tem nome, chama-se “Lázaro”, que tem apenas os cães para lhe lamberem a ferida, amenizando a dor, servindo-lhe de companhia na dor da solidão, da marginalização e do abandono.
Que nossos olhos, ouvidos, coração sejam abertos para contemplar a face de Deus e escutar Sua Palavra, para que vivamos o amor, a solidariedade e a partilha com os “Lázaros” de cada tempo.
Os “cães” da Parábola e os “ais” do Profeta Amós devem ser interpelação constante para todos nós, no amor de compaixão, para a superação de relações pecaminosas de miséria e opressão.
Para tanto, as características dos discípulos mencionadas (segunda leitura) devem estar presentes em nós. Somente assim a eternidade será alcançada.
Cremos que, na vivência das Obras de Misericórdia, muito poderemos contribuir na transformação das estruturas sociais injustas.
É sempre oportuno lembrar as Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais:
– Obras de Misericórdia Corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos.
– Obras de Misericórdia Espirituais: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as fraquezas do próximo, rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Reflitamos:
– Como usamos os bens que nos são confiados?
– Sabemos partilhar com os outros os bens que possuímos?
– Quais são nossas riquezas que precisamos colocar em comum em alegre sinal de amor, comunhão, partilha e solidariedade?
– Quem são os “Lázaros” que se encontram em nossas portas?
– O que fazemos concretamente em seu favor?
Continuemos em permanente vigília e conversão, para que nos empenhemos na superação desta brutal e pecaminosa realidade, que se manifesta em inúmeras formas de desigualdade e injustiça social, no bom combate da fé vivido, comprometidos com um novo céu e uma nova terra.
Fonte inspiradora: www.Dehonianos.org/portal
A Liturgia do 25º Domingo do tempo comum (ano C) reflete sobre a correta utilização dos bens que passam, a fim de que abracemos os que não passam: os bens são necessários, mas não são deuses.
Na passagem do Livro Profeta Amós (Am 8,4-7) temos um brado profético contra a exploração dos pobres na defesa da justiça de Deus, que se concretiza na construção de relações justas e fraternas.
O Profeta denunciou com coragem e ousadia as práticas para o aumento do lucro à custa dos empobrecidos.
Embora nosso contexto de exploração, enriquecimento e empobrecimento seja muito diferente do citado no tempo de Amós, constatamos que esta relação, lamentavelmente, persiste com novas expressões, às vezes mais sutis, mas não menos insanas (preços exorbitantes de medicamentos indispensáveis, a publicidade que gera falsas necessidades, produtos adulterados e impróprios para o consumo, produtos que deveriam ser evitados, pois absolutamente antiecológicos e tantos outros fatos).
Com a passagem da segunda Leitura (1 Tm 2,1-8), aprendemos que a Oração feita por um coração límpido, os horizontes da fraternidade, amizade, comunhão e solidariedade geram vida e a paz.
São Basílio Magno (séc. IV) já nos acenava que toda concentração ou desperdício gera situações de miséria e indigência.
São duras e inesquecíveis suas palavras, mas muito mais do que isto são extremamente questionadoras para todos nós:
“Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?(…)
Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar.”
Evidentemente que a passagem do Evangelho não faz uma apologia à corrupção (Lc 16,1-13). É indubitavelmente impensável fazer este tipo de leitura, no mínimo, ingênuo.
O coração do discípulo deve ser indiviso e seduzido pelo Bem Maior – Deus! Com habilidade os discípulos podem gerar uma nova sociedade pondo os bens a serviço de todos, numa clara postura profética contra a ambição e a acumulação.
Considerando o contexto da Parábola de Jesus, trata-se da capacidade de renúncia de algo em favor de um bem maior.
O administrador abriu mão do lucro assegurando seu futuro na espera da gratidão de seus devedores. O que o fez injusto não foi isto, mas o que anteriormente fez e que o levou a ser despedido.
Jesus nos ensina que os discípulos devem usar os bens deste mundo, não como um fim em si mesmo, mas para conseguir algo mais importante e mais duradouro, como sinais do Reino.
As riquezas jamais devem se tornar obstáculo à Salvação e a honestidade é virtude que deve perpassar em todas as nossas relações.
Reflitamos:
– Qual deve ser o lugar dos bens materiais na vida dos discípulos do Senhor?
– Como sermos hábeis e não desonestos na busca do essencial, visto que não podemos servir a dois senhores?
– Como lido com os bens que tenho?
– Possuo os bens ou são eles que me possuem, me escravizam?
– Os bens que tenho me impedem de partilhar com alegria e desprendimento?
– Alguns têm pouco e são escravos deste pouco, outros têm muito e nunca estão felizes, outros ainda se alegram e são felizes com o que possuem. E eu, com quem me identifico?
De fato, o discípulo deve ser livre de todos os bens, porque tem um Bem Maior: Deus.
Na “Primavera Divina” seremos julgados
pela administração dos bens que o Senhor nos confiou.
Ele espera colher muitas flores e frutos
do amor, da justiça, da verdade e da paz!
“Entremos na Alegria do Pai”

Com a Liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C), somos convidados a contemplar a face misericordiosa de Deus, que se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade, de modo especial pelos pecadores e excluídos.
A primeira Leitura (Ex 32,7-11.13-14) retrata um momento fundamental na História do Povo de Deus. Moisés está no Monte Sinai, e lá Deus Se manifesta com Ele dialoga, mais ainda, ora e intercede pelo povo que, infringindo os termos da Aliança, faz um bezerro de ouro para ser adorado.
A mensagem fundamental é o retratar do compromisso de amor e comunhão de Israel com Deus, sem o que cairá em nova escravidão, da qual Javé os libertou. Sem fidelidade e adoração a Javé não há vida, liberdade e felicidade.
Ressalta-se a intercessão de Moisés e a ação misericordiosa de Deus, que se expressa em ternura e bondade. O Amor infinito de Deus pelo Seu Povo sempre fala mais alto que Sua vontade de castigar por causa dos desvios e infidelidades cometidas. A lealdade e o infinito Amor de Deus são notáveis e incontestáveis.
A atitude de Moisés é questionadora: face à indignação de Deus, intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse do Povo – “deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação”. Moisés não aceitou a proposta, mas intercede em favor do povo. Moisés nada pede para si e questiona a tantos que sacrificam tudo pelo status, poder e acúmulo de bens…
Reflitamos:
– Quais são as infidelidades que cometemos contra Deus?
– Como corresponder melhor ao infinito e incondicional Amor de Deus por nós?
– Quais lições temos a aprender com Moisés nesta passagem bíblica?
A passagem da segunda Leitura é uma passagem da Carta de Paulo a Timóteo (1 Tm 1,12-17) que retrata o ministério do Apóstolo e os efeitos da misericórdia de Deus em sua vida.
A Carta aborda três temas:
– A organização da comunidade;
– Como viver a fé e combater as heresias;
– A vida cristã dos fiéis.
O Apóstolo vê seu ministério como ação da misericórdia e da magnanimidade divinas. Com isto, somos convidados a tomar consciência do Amor que Deus a todos oferece, sem exceção, sejam quais forem as faltas cometidas. É este Deus misericordioso que Paulo conheceu e testemunhou, e que também devemos conhecer e testemunhar.
Como o Apóstolo, viver a gratidão para com o Amor de Deus, que é irrestrito e incondicional, e questionar qual o amor que vivemos para com Deus e para com o nosso próximo.
A passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32) é apresentada no contexto do caminho de Jerusalém, onde Jesus consumará a Sua missão, Paixão, morte e Ressurreição.
As três Parábolas comunicam ao Amor de Deus derramado sobre os pecadores, sendo a segunda e terceira exclusivas do Evangelista Lucas, e não por acaso, o Evangelho de Lucas é chamado de “Evangelho da ternura divina”, como bem cita o Missal Dominical:
“Lucas, o evangelista da ternura divina multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do Amor de Deus”. (1)
As Parábolas são apresentadas num contexto muito concreto, em que Jesus é questionado pelos fariseus e escribas pelo fato de andar e comer com os pecadores.
Elas revelam a misericórdia divina, que tem uma lógica diferenciada dos fariseus e escribas (lógica da intolerância e exclusão), pois a misericórdia divina faz novas as criaturas.
Normalmente, são conhecidas como Parábolas da “ovelha perdida”, “moeda perdida” e “filho pródigo”, mas poderiam ser apresentadas de outra forma: a misericórdia e alegria de Deus pelos pecadores que se convertem.
Deus jamais rejeita e marginaliza, ama-nos com Amor de Pai, e esta há de ser a atitude dos discípulos para com os pecadores: amor que vai ao encontro, acolhe e perdoa:
“Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre” (2)
Um amor que reintegra e celebra com alegria a volta daquele que estava perdido, morto, e encontrado voltou a viver.
As Parábolas expressam a ação divina que abomina o pecado, mas ama o pecador. A comunidade é chamada a ser testemunha da misericórdia divina e jamais compactuar com o pecado.
Amar como Deus ama, um amor incompreendido e que nos dá vertigem.
Os seguidores de Jesus, que se põem a caminho com Ele, farão sempre uma caminhada de penitência e conversão, sem recriminar e excluir, mas acolhendo os pequenos, pecadores, e também se deixando ser acolhido pelo Amor de Deus.
Amados, acolhidos e perdoados por Deus tornamo-nos acolhedores e sinais do Seu Amor e do Seu perdão, que recria e faz novas todas as coisas. Verdadeiramente, a misericórdia divina vivida nos faz novas criaturas.
As Parábolas revelam que o Amor divino vai até o fim. Como não transbordar de alegria diante deste Amor que nos ama e nos ama até o fim?
Entremos na alegria de Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do Espírito Santo.
Redimidos pelo Amor Trinitário, preenchidos deste Amor, seremos dele comunicadores, transbordando o mesmo Amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.
Reflitamos:
– Sinto este Amor incondicional, irrestrito e eterno de Deus?
– De que modo rejeitar o pecado e não o pecador?
– O que as Parábolas da misericórdia divina nos ensinam?
– Como vivemos a fidelidade e correspondência ao Amor divino?
– Entramos na alegria de Deus, na festa dos reconciliados, dos que estavam perdidos e foram encontrados, dos que estavam mortos e voltaram a viver?
– Em que nos assemelhamos aos fariseus e escribas e sua lógica de recriminação e exclusão?
– Sentimo-nos acolhidos, amados e perdoados por Deus?
– Somos instrumentos de acolhida, amor e perdão divinos?
Finalizando, “Cristo nos revelou um Deus como desejamos. Um Deus que é Amor e misericórdia.“ (3)
(1) (2) (3) – Missal Dominical pág. 1236.

A Liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre as exigências para seguir Jesus.
Constatamos que não se trata de um caminho marcado por facilidades. Ao contrário, o caminho da Cruz exige renúncia, coragem, desapegos, desprendimentos como veremos à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).
Caminhemos com o Senhor rumo a Jerusalém. Seguir o Senhor, não é falta de opção, ao contrário, é a melhor e a mais decisiva opção que fazemos em nossa vida.
Trata-se da mais radical, pois deve ser feita na raiz de nosso coração, na raiz de nossa vida, de modo que nossa vida é redimensionada e deverá ser pautada pela Sabedoria Divina que nos é revelada, de modo especial na Sagrada Escritura.
Esta escolha implica fortalecimento do coração com o Amor Divino, e a nossa mente com sua mais bela e desejada Sabedoria (Sab. 9,13-18).
O amor é essencial para que se fortifique novo modo de se relacionar rompendo barreiras, superando preconceitos, numa relação de irmãos e irmãs em Cristo como nos fala o Apóstolo à Filemon ( Fm 9b-10.12-17).
A Sabedoria Divina possibilita-nos o conhecimento da vontade de Deus, acompanha-nos em nossos discernimentos para viver a Sua vontade com paciência, constância e prudência.
Assim conclui-se que só por amor e com Sabedoria Divina trilharemos o caminho da cruz que, por mais paradoxal que possa parecer, é o caminho da felicidade.
Neste caminho três exigências para que sejamos cristãos, de fato:
Ø O desapego afetivo em relação à família e até a própria vida;
Ø A disponibilidade para carregar a cruz, na mais perfeita e completa imitação do Sublime Mestre e Divino Salvador;
Ø A renúncia de tudo, deixando absoluto espaço para Aquele que é o Absoluto em nossa vida.
Deste modo, compreenderemos e veremos confirmada a Palavra do Senhor: “Quem perder sua vida por causa de mim, ganhá-la-á” (Lc 9,22-25).
Como vemos nas Parábolas do Evangelho, aquele que se coloca a caminho com o Senhor, precisa da “sabedoria do arquiteto” e a “prudência de um rei”, para um seguimento que não seja entusiasmo momentâneo.
Sejamos realistas como o arquiteto e prudentes como o rei evitando ilusões fáceis, não reduzindo o cristianismo apenas ao “cultivo de boa vontade”.
Sábios e criativos, saberemos enfrentar os riscos que o compromisso cristão nos apresenta a cada momento, contando com a Fonte da Sabedoria, a presença do Espírito.
Por isto, concluamos com compromisso de mais tempo dedicado à oração e leitura da Palavra Divina, pedindo ao Senhor, uma vez por Ele amados e seduzidos, que jamais O desapontemos no caminhar da fé.
Tenhamos a maturidade de suportar os riscos de nossa fé cristã, com a certeza de que na fidelidade vivida na construção do Reino, nutridos provisoriamente no Banquete da Vida, um dia no Banquete Eterno a Coroa da Glória nos será alcançada.
Se quisermos seguir Jesus… Por onde iremos?
Pelo caminho da facilidade ou da felicidade?
O que é necessário para que sigamos o Senhor?
Sem cruz não há fidelidade no seguimento ao Senhor!
Sem despojamento, desprendimento e
renúncia não há discipulado!
Como discípulos missionários do Senhor,
amemos com o Amor do Amado.
Eis a fonte, princípio e meta de um autêntico,
frutuoso e desejado discipulado!

“Porque quem se eleva será humilhado e
quem se humilha será elevado” (Lc 14, 11)
A Liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre o Banquete do Reino e a necessária revisão: se estamos, verdadeiramente, credenciados para dele participar, com as exigências que o Senhor nos ensina e vive.
Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 3,19-21.30-31), que nos convida a refletir sobre a humildade, como caminho para sermos agradáveis a Deus e, ao mesmo tempo, para termos êxito e sermos felizes, colocando-nos, por amor e alegremente, a serviço do outro, sobretudo quando este outro é o que mais precisa.
O aprofundamento sobre a Sabedoria Divina e a sua vivência é certeza do viver bem e feliz. A Sabedoria Divina somente pode ser saboreada por quem viver a humildade, ou seja, quem assumir com simplicidade o próprio lugar, pondo a render os talentos, sem jamais humilhar o outro com uma eventual superioridade, mas colocando os próprios dons a serviço de todos, com simplicidade e amor.
Bem diferente é o soberbo, que permite crescer nas entranhas de seu coração a árvore da maldade, com suas raízes tão profundas.
A vida cristã será sempre o desafio de não sermos soberbos, mas humildes servidores, não pelo nosso mérito, mas pela graça de Deus, porque tudo é dom de Deus.
Na passagem da segunda Leitura, o autor da Carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.22-24) nos exorta a viver maior proximidade e intimidade com o Senhor, fortalecendo a humildade, a gratuidade e o amor desinteressado, como Ele por excelência viveu.
Trata-se de um convite à superação de uma fé cômoda e sem grandes resistências, redescobrindo a novidade e a exigência do cristianismo: comunhão, proximidade e intimidade maior com Deus. Um amor autêntico que se faz dom, doação, entrega, serviço.
É preciso que a comunidade volte à fidelidade de sua vocação, desinstalando-se, rompendo a preguiça e enfrentando com coragem a perseguição, com uma conduta consequente daquele que abraçou a fé: amor e serviço.
Com isto, supera-se a morna conduta cristã, sem jamais recuar, revelando ao mundo um rosto do Deus vivo e verdadeiro que nos consome e inflama nosso coração de amor.
O Senhor nos precedeu, agora é a hora da comunidade. É preciso revisitar a História do Povo de Deus e reencontrar o entusiasmo.
Ontem, como hoje, quantas coisas nos acontecem e, se não mantivermos a fé, poderemos perder o entusiasmo, a chama acesa do primeiro amor!
É preciso que trilhemos, como discípulos missionários do Senhor, o caminho da humildade, que é diferente do caminho da humilhação.
Na passagem do Evangelho (Lc 14,1.7-14), vemos que bem diferentes são os critérios para participar do Banquete do Reino em relação ao banquete farisaico.
A lógica divina contrapõe a humildade à superioridade, a simplicidade ao orgulho, o serviço à ambição, o ocupar o último lugar ao invés dos primeiros, a solidariedade para com os últimos e não se servir do próximo.
São dois banquetes totalmente diferentes: o primeiro é o Banquete do Amor, serviço e inclusão; o segundo, do egoísmo, indiferença, mera exclusão.
O banquete farisaico é marcado pelo complexo de superioridade, orgulho, ambição. Há a procura dos primeiros lugares.
De outro lado, as credenciais para participação do Banquete do Reino são: humildade, simplicidade, serviço por amor desinteressado, colocando-se no lugar dos últimos para serviço dos últimos.
De fato, a competição é necessária, desde que não leve à destruição do outro, mas à busca de maior qualificação para melhor servir. Esta deve ser a marca daqueles que se põem a caminho com o Divino Mestre Jesus: amor vivido com autenticidade edifica e fortalece a comunidade.
Iluminadora a citação do Missal Dominical (p.1223): “Para todos, em qualquer plano da hierarquia social que se encontrem, escolher o último lugar significa usar o próprio lugar para o serviço dos últimos e não para o domínio sobre eles”.
Deste modo, a conversão é um apelo constante em nossa caminhada cristã. Cremos e professamos a fé em Jesus Cristo que, com Sua morte, assumida livremente na Cruz, nos apresentou um Deus cuja Sabedoria é imprevisível e impensável; tão distante da sabedoria humana que ninguém poderia encontrá-la.
Assim afirma o Missal Dominical (pp.1222-1223): “Jesus seria um entre os muitos mestres de virtude, se não tivesse vivido até o fim Sua Palavra, e se Sua Pessoa, Sua Palavra, Sua vida não fossem a revelação definitiva de Deus.
A Cruz é Sua Sabedoria, Seu Livro, Sua Palavra reveladora. A morte de Jesus não é o fim de uma tentativa de instaurar um novo Reino; é o Seu ato de nascimento;… Converter-se à Sabedoria de Deus é ver na Cruz que a verdade do Amor tem na morte o seu teste. Quem entra no Reino começa uma nova sabedoria.”
Reflitamos:
– Quais são os convidados de nossos banquetes?
– Participamos com todo o zelo do Banquete do Reino que o Senhor nos convida ou nos sentimos familiarizados no banquete farisaico?
– Quanto há de humildade, gratuidade e amor autêntico em nossa prática pastoral?
– Qual é o entusiasmo que temos na fidelidade ao Senhor, como Seus discípulos missionários?
Oremos:
Senhor, livrai-nos do banquete farisaico, e ensinai-nos a viver a lógica do Banquete do Reino de Deus, vivendo com humildade, gratuidade, amor e solicitude com os últimos, os Vossos preferidos.
Senhor, dai-nos a sabedoria para nos colocarmos como últimos, a serviço de todos. Amém.
PS: Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

Com a Liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum (ano C), refletimos sobre a radicalidade da missão, como discípulos missionários do Senhor, na vivência da vocação profética que Ele nos confia.
A passagem da primeira Leitura (Jr 38,4-6;8-10) nos apresenta a missão do Profeta Jeremias, que testemunha, à luz da verdade e com coerência, o Projeto que Deus tem para a humanidade.
A missão do Profeta atrai dos chefes do povo o ódio, e deste a desconfiança. No entanto, confiando em Deus, não se omite em sua missão, ainda que pague com o preço da própria vida (abandono, solidão, traição, desolação…).
A atividade profética de Jeremias se deu numa época muito complicada em termos históricos (a partir de 627 a.C. até bem depois da queda de Jerusalém em 586 a.C.).
A sua vida foi constantemente arriscada por causa da Palavra de Deus e de sua missão profética, por isso é modelo do Profeta que dá sua própria vida para que a Palavra de Deus ecoe no mundo e na vida da humanidade.
O Profeta, como Jeremias, sabe que Deus está sempre ao lado dos que anunciam e testemunham fielmente a Sua Palavra, de modo que suportam perseguição e marginalização pelo mundo e pelos poderosos. Assim é a história de Jeremias: incompreendido, humilhado, esmagado, abandonado (não por Deus, que é sempre presença amiga e reconfortante).
De fato, o caminho percorrido pelo Profeta: “não é um percurso fácil, nem carreira recheada de êxitos humanos, nem um caminho atapetado pelo entusiasmo e pelas palmas das multidões; mas é um caminho de cruz, de sofrimento, de incompreensão, com o poder daqueles que pretendem construir o mundo sobre valores de egoísmo, de prepotência, de orgulho, de morte” (1)
Reflitamos:
– O que tenho a aprender com o Profeta Jeremias?
– Como vivo a vocação profética?
– Sinto a presença de Deus em todos os momentos da minha vida?
A segunda Leitura nos apresenta uma passagem da Epístola aos Hebreus (Hb 12,1-4). Trata-se de uma mensagem dirigida a uma comunidade cansada, acomodada, desanimada diante das dificuldades e do aparente fracasso da missão.
A comunidade vive num contexto de hostilidade e o autor exorta para que os cristãos corram, incansável e determinantemente, para a meta, que é o próprio Cristo, e assim alcançará a vitória, a Salvação.
Para tanto, os cristãos precisam despojar-se do fardo do pecado (egoísmo, comodismo, autossuficiência), tendo Jesus Cristo como modelo fundamental, pois Ele enfrentou a Cruz e sentou-Se à direita do trono de Deus:
“O caminho do cristão não é um passeio fácil e descomprometido, mas um caminho duro e difícil que não se compadece com ‘meias tintas’ nem com compromissos mornos e a ‘meio gás’. Exige coragem para vencer os obstáculos, capacidade de luta para enfrentar a oposição, compromissos profundos e radicais.” (2)
Reflitamos:
– Como está a vida de fé de nossa comunidade?
– Quais os obstáculos que encontramos no caminho, na vivência de nossa fé?
– Como testemunho com radicalidade o amor de Deus?
Na passagem do Evangelho (Lc 12,49-53), o Evangelista nos apresenta a missão de Jesus: “lançar fogo a terra”, ou seja, colocar fim ao egoísmo, escravidão do pecado, inaugurando assim o Reino de Deus.
No entanto, trata-se de uma proposta exigente e radical: “Vós pensais que vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, Eu vos digo, vim trazer divisão” (Lc 12,51).
Como entender estas difíceis Palavras de Jesus? Consideremos que tem em Seu horizonte a Cruz, e é nesta perspectiva que devemos compreender Suas Palavras, segundo o Evangelista Lucas: é uma mensagem catequética para preparar os discípulos para a compreensão da missão de Jesus, a radicalidade do Reino e as exigências para todos os que aderirem à Sua proposta e se puserem no mesmo caminho.
O simbolismo do fogo: Jesus veio revelar à humanidade a santidade de Deus; com isto a destruição do egoísmo, da injustiça, da opressão que roubam a beleza da vida em todos os seus âmbitos e sentidos. Lucas retomará o simbolismo do fogo em Pentecostes, quando o Espírito foi enviado aos discípulos reunidos, na imagem das línguas de fogo.
O fogo que Jesus veio acender é um fogo purificador e transformador que deve atingir o coração de todos nós e transformar a nossa vida. O fogo que Ele traz à terra é o fogo do amor que desmascara nossas recusas, mas ao mesmo tempo as purifica.
Jesus veio comunicar uma paz diferente (não a paz dos cemitérios, da “pax romana”, uma paz apodrecida). A paz que Ele veio comunicar é o “Shalom”, plenitude de vida para todos, de modo especial para os empobrecidos, para os marginalizados.
E isto não se dá sem os conflitos, denúncias, interpelações de conversão: alguns aceitarão, outros a rejeitarão e O eliminarão na morte de Cruz:
“Jesus veio trazer a paz, mas a paz que é vida plena vivida com exigência e coerência; essa paz não se faz com ‘meias tintas’, com meias verdades, com jogos de equilíbrio que não chateiam ninguém, mas também não transformam nada. A proposta de Jesus é exigente e radical; assim, não pode deixar de criar divisão.” (3)
A Paz que Jesus veio comunicar é fruto do amor desconcertante por causa de sua exigência maior, que consiste no amor aos inimigos, assim como é o amor do Pai que Ele anuncia e testemunha:
“Jesus veio pôr a nu o nosso coração. Escolher por ou contra Jesus: inevitavelmente, surgirão conflitos”. (4)
Reflitamos:
– Sentimos o fogo do Espírito aceso em nossos corações, na vida da comunidade?
– O que entendemos por paz e qual nosso compromisso com ela?
– Quando, de fato, somos causa de divisão por causa da Palavra e da Pessoa de Jesus e não por causa de nossas fraquezas, imperfeições e pecado?
Que o nosso coração seja inflamado pelo fogo purificador do amor do Senhor, tão somente assim seremos verdadeiros discípulos Seus, e viveremos com ardor e coragem a vocação profética que Ele nos confia.
Acendei, Senhor, em nós a chama do Vosso divino amor!
(1) (2) (3) (4) cf. www.dehonianos.org.br

Com a Liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum (Ano C), refletimos sobre a vigilância, a pobreza e a busca da verdadeira sabedoria para vivermos a vocação, como discípulos missionários do Senhor.
A passagem da primeira Leitura (Sb 18,6-9) retrata o primeiro século, e o autor tem a preocupação da manutenção da firmeza e pureza da fé judaica. A comunidade deve ser vigilante, discernindo entre os valores efêmeros e os valores duradouros.
Se a comunidade viver a fidelidade a Javé, terá assegurada a liberdade e a paz. Inevitavelmente o alcance da felicidade passa pelo caminho da fidelidade aos propósitos de Deus, e se faz necessária uma busca atenta. Vigiar, portanto, é “fazer exatamente o que Deus quer de cada um de nós”.
Na passagem da segunda Leitura (Hb 11,1-2;8-19), o autor dirigindo-se à comunidade, marcada pelo cansaço, tédio, desinteresse e perda da generosidade inicial, apresenta Abraão e Sara como modelos de fé para todo aquele que crê, independentemente de época.
É preciso aprofundar a vocação e não ceder ao desalento, ao retrocesso, à acomodação. A Carta é um estímulo, uma revitalização da experiência de fé. É preciso manter vivos os aspectos básicos da vida cristã: a fé e a perseverança.
Caminhar com fé, não obstante a nossa finitude, nossas limitações, nossos momentos difíceis, nosso pecado. Viver a fé apontando para a vida plena que Deus prometeu para quem com Ele caminha e vai ao Seu encontro. Ao mesmo tempo em que com Ele caminhamos, vamos ao Seu encontro como peregrinos.
Nem tanta euforia sem fundamento, tão pouco o desânimo total, será a vida daquele que a fé professa.
Na passagem do Evangelho (Lc 12,32-48), Jesus alerta aos discípulos sobre a necessária vigilância, acolhendo os dons de Deus, para que sejam solícitos em responder aos Seus apelos, empenhando-se decididamente na construção do Reino de Deus.
É preciso estar sempre vigilante a espera da vinda do Senhor. Comprometer-se com a construção do Seu Reino deve se constituir no nosso verdadeiro tesouro.
Viver na pobreza, que não é sinônimo de miséria. A pobreza consiste no despojamento para que nos tornemos disponíveis e acolhedores do dom de Deus, para nos colocarmos solidariamente em favor daqueles que nada têm.
As três Parábolas nos convidam à vigilância, porque é incerta a hora em que o Senhor virá. E enquanto isto a melhor atitude é nos colocarmos a serviço da comunidade.
Evidentemente, quanto maior a confiança depositada, maior será a responsabilidade diante de Deus e a cobrança que Ele nos fará, de modo que não nos é permitido distração, mas constante vigilância ativa. Ser cristão as vinte e quatro horas do dia.
Reflitamos:
– De que modo vivemos a vigilância?
– O que Abraão e Sara têm a nos ensinar para vivermos a fé hoje?
– Qual é o nosso tesouro?
– Quais são os valores que motivam a nossa vida?
– Somos capazes de arriscar tudo pelo Reino de Deus?
– Como exercemos, na Igreja, os ministérios e serviços que nos são confiados?
– Como testemunhamos a Sabedoria Divina para que sejamos, de fato, luz do mundo?
Concluindo, rezemos para que sejamos enriquecidos pela Sabedoria Divina, e de modo especial, por todos pais e mães para que eduquem os filhos e filhas na fé, como seus primeiros catequistas. Não lhes faltem ousadia, confiança, compromisso, solidariedade, fé, esperança e caridade.
Rezemos, também, por todos os Presbíteros a fim de que sejam cumulados da Sabedoria Divina para conduzir o rebanho a eles confiados.
Portanto, não tenhamos medo, como pequeninos do rebanho do Senhor, pois o caminho a ser trilhado é desafiador, mas não podemos desistir. Somente assim irradiaremos a única Luz da fé que penetra e transforma toda realidade, como nos exortou o Papa Francisco em sua Encíclica “Lumen Fidei”. Dom Otacilio F. Lacerda
“Buscai as coisas do alto”
A Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida a refletir sobre nossa atitude frente aos bens deste mundo.
Não podemos fazer deles deuses, a tal ponto de determinar nossa vida. É preciso usar as coisas que passam e abraçar as que não passam, as coisas do alto, as coisas celestiais e não as terrenas.
A passagem da primeira Leitura do Livro do Eclesiastes (Ecl 1,2; 2,21-23) que, por seu caráter sapiencial, nos faz pensar, rever nossa conduta, questionando nossas falsas seguranças e saberes:
“Não é um Livro onde se vão procurar respostas, mas onde se denuncia o fracasso da sabedoria tradicional e onde ecoa o grito de angústia de uma humanidade ferida e perdida, que não compreende a razão de viver”. (1)
A mensagem é explícita: somente Deus dá sentido à nossa existência. A vida somente pelos bens materiais conduz à falência, quem vive por si e para si não encontra saída e sentido para sua vida. É preciso o humilde reconhecimento de nossa impotência diante da onipotência divina, que se manifesta como misericórdia, amor, bondade, alegria, vida e paz.
Não podemos colocar a nossa esperança em coisas falíveis e passageiras: “A nossa caminhada nesta terra está, na verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência”. (2)
A passagem da segunda Leitura da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 3,1-5.9-11) nos convida, como homens novos pelo Batismo, a abandonar os falsos deuses, identificando-nos com Cristo que nos basta para a nossa Salvação.
A comunhão vivida entre nós com o Cristo Ressuscitado exige que tenhamos esta identificação, como o próprio Paulo dirá em outra passagem aos Gálatas – “Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim “(Gl 2, 20) e aos Filipenses –“Tenhamos em nós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus “ (Fl 2,5). E nisto consiste buscar as coisas do alto, as coisas celestiais.
Vivendo o Batismo, renascemos a cada dia como homem novo, e assim verão Cristo em nós. O batizado revela a face de Cristo para o mundo, por seus pensamentos, palavras e ação.
A passagem do Evangelho (Lc 12,13-21) nos apresenta a “Parábola do rico insensato”, com uma mensagem essencial para nossa vida: o perigo de uma vida voltada apenas para os bens materiais.
Jesus não é contra a riqueza, e tão pouco contra o progresso e o crescimento do nível de vida. O perigo é torna-se rico para si mesmo tão apenas, deixando-se aprisionar pelo dinheiro. A vida de uma pessoa e o seu valor real não são medidos por suas riquezas.
A lógica do Reino é diferente da lógica do mundo – é preciso usar as coisas e não ser usado por elas. O acúmulo de bens sempre pode levar ao esquecimento do outro, inclusive de Deus, da família, dos irmãos da comunidade…
A ambição e o egoísmo esvaziam o coração humano do essencial e, deste modo, é preenchido daquilo que não lhe dá sentido, incorrendo num consumismo com consequências empobrecedoras, tornando-nos escravos da lógica do lucro que escraviza e não nos faz verdadeiramente felizes.
A ânsia da ascensão social pode conduzir ao declínio, ao esvaziamento, ao desmoronamento da vida pessoal e da própria família, de todos com os quais se convive.
Em nome do acumular cada vez mais, quantas famílias são sacrificadas e privadas do mínimo essencial para sua dignidade e felicidade! É o perigo da deificação da riqueza, tornar os bens como deuses (aqui a idolatria encontra campo fértil). É preciso tomar cuidado com os falsos deuses não deixando que o acessório, o transitório nos distraia e nos afaste do fundamental para a nossa vida.
Urge que nos libertemos deste desejo de acumulação que nos torna cegos e indiferentes às necessidades do outro, e abramos horizontes na perspectiva da partilha e da solidariedade, do desapego e da liberdade diante das coisas terrenas, pautando a nossa vida pelos valores eternos que jamais passam.
Reflitamos:
– Quais são as nossas falsas e verdadeiras riquezas?
– De quais devemos nos esvaziar?
– De que modo avaliamos a nossa vida, ou seja, atrás do que corremos, nos consumimos?
– De que modo trabalhamos sem a perda do sentido da vida?
– O que nos preenche e nos dá alegria?
Concluo citando mais uma vez Santa Teresa D’Avila e Santa Teresa dos Andes, respectivamente:
“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem nada lhe falta: só Deus basta.”
“Só Deus nos basta para sermos felizes. Apalpo a cada instante o que é ser toda de Deus e parece-me que, se agora me fosse necessário passar pelo fogo para consagrar-me a Ele, não titubearia em fazê-lo, pois todos os sacrifícios desaparecem diante da felicidade de possuir a Deus só”.
(1) cf. www.dehonianos.org.br
(2) Idem.
“
“Mestre, ensina-nos a rezar”
A Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida à reflexão sobre o tema da Oração sincera, pura, dialogal, confiante e frutuosa, que nos coloca numa relação filial para com Deus e de irmãos e irmãs entre nós.
A passagem da primeira Leitura (Gn 18,20-32) nos apresenta Abraão como alguém que sabe fazer da Oração um verdadeiro diálogo com Deus. Colocando-se diante d’Ele com ousadia e confiança, apresentando suas inquietações, dúvidas, anseios, procurando captar Sua vontade para a humanidade.
A passagem é uma catequese sobre o peso que o justo e o pecador têm diante de Deus; revela-nos a misericórdia divina que é maior do que a vontade de castigar. A vontade que Deus tem de salvar é infinitamente maior do que a vontade de perder: Deus está sempre pronto a nos salvar. É preciso que nos abramos à Sua vontade.
Abraão nos ensina que é possível dialogar com Deus numa forma familiar, confiante, insistente e ousada. Revela-nos um Deus que veio ao encontro da humanidade, entrou em sua tenda, sentou-se à sua mesa, criando vínculos de comunhão, e ainda mais, realizando os sonhos daquele que O acolhe.
Com o pai da fé, aprendemos que Deus é alguém com quem se pode dialogar, com amor e sem temor; com uma Oração que brota de um coração humilde, reverente, respeitoso, confiante, ousado e cheio de esperança.
Abraão não repete palavras vazias e gravadas, sem ressonância na própria vida, mas estabelece com Deus um diálogo espontâneo e sincero.
A passagem da segunda Leitura (Cl 2,12-14), embora não se relacione diretamente ao tema, nos apresenta Jesus Cristo e Sua centralidade na vida de quem crê. Por Ele podemos dirigir ao Pai a nossa Oração, em comunhão com o Espírito Santo, e seremos ouvidos.
Na passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,1-13), Jesus nos ensina a rezar, de modo que a Oração daquele que crê deve ser um diálogo confiante, como uma criança em relação ao pai.
Deste modo, a Oração é o espaço do encontro pessoal e íntimo com o Pai e o momento fundamental para o discernimento de Sua Vontade, de Seu Projeto a ser realizado.
A caminho de Jerusalém, Jesus nos ensina a força e a importância da Oração na vida dos Seus seguidores, assim como foi fundamental em todos os grandes momentos decisivos do próprio Jesus, como tão bem nos apresenta o Evangelista Lucas na Eleição dos Doze (Lc 6,12); antes do primeiro anúncio da Paixão (Lc 9,18); na Transfiguração (Lc 9,28-29); após o regresso dos discípulos da missão (Lc 10,21); na última Ceia (Lc 22,32); no Getsemani (Lc 22,40-46); na Cruz (Lc 23, 34-46).
Jesus nos ensina a Oração do Pai Nosso e nos coloca em atitude de diálogo com o Pai, como filhos, e ao mesmo tempo nos põe no caminho da realização do Seu Plano, na construção de um mundo novo, numa comunhão fraterna a ser construída quotidianamente.
Quanto ao conteúdo:
“Santificado seja o Vosso nome” – que Deus Se manifeste como Salvador aos olhos de todos, através de nossa conduta, marcada pela justiça, bondade e santidade;
“Venha o Vosso Reino” – que o mundo novo proposto por Jesus se torne uma realidade na vida da humanidade – Reino de amor, verdade, justiça e liberdade;
“O pão de cada dia” – Deus nos concede o essencial para vivermos. Oferece o pão material, mas acima de tudo o Pão espiritual. Com Deus nada nos falta. Ele nos dá o próprio Filho, o Pão da Vida que sacia a fome e a sede da humanidade: amor, alegria, perdão, comunhão, fraternidade;
“Perdão dos pecados” – sem a experiência da misericórdia divina, somos incapazes de perdoar e pedir perdão. Acolhidos pela misericórdia e por ela perdoados, para também acolher e perdoar o irmão que pecou contra nós;
“Não nos deixeis cair em tentação” – que nosso coração não seja seduzido por felicidades ilusórias e transitórias, mas que pautemos a nossa vida na busca da felicidade duradoura, eterna, a fim de que tenhamos vida plena e feliz.
A Oração do Pai Nosso, em síntese, pode ser assim apresentada:
Que Deus seja reconhecido como Deus: um Pai misericordioso e nos trata como filhos e filhas;
É um Projeto de Amor que Deus tem para a humanidade;
Três pedidos fundamentais: pão para viver; perdão para amar e liberdade para ficar de pé e pôr-se sempre a caminho.
Pode parecer estranha a afirmação, mas na Escola de Jesus aprendemos a rezar verdadeiramente, em forma e conteúdo. A Oração que Jesus ensina transforma a vida de quem a reza e põe em prática.
Não podemos repetir a Sua Oração, sem saborearmos Palavra por Palavra de seu conteúdo vital e irradiador de alegria e luz, que plenifica com a Sua vida e a Sua graça, porque feita sob a ação e presença do Espírito, dirigida confiantemente ao Pai.
Uma Oração verdadeira precisa ser essencialmente Trinitária, nos inserindo nesta comunhão intensa e profunda de Amor.
Com isto, a Oração é, em sua exata medida, um diálogo intenso, profundo com a Trindade Santa, que nos envolve pela presença e ternura divinas.

“Mestre, que devo fazer para
receber em herança a vida eterna?”
Com a Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum (Ano C), aprofundamos o caminho para o encontro da Vida Eterna, o caminho da felicidade presente e eterna; tendo como mensagem central: somente o amor a Deus e ao próximo é que nos dará vida em plenitude.
A passagem da primeira Leitura (Dt 30,10-14) é uma Catequese sobre o Amor a Deus, escutando a Sua voz no íntimo do coração e percorrendo o caminho dos Seus Mandamentos, em adesão total e incondicional.
A Lei de Deus não é posta fora de nosso alcance; é inscrita em nosso coração e em nossa mente, proclamada pela nossa boca, mas principalmente com a nossa vida.
Vivendo o contexto do final do exílio da Babilônia, o autor remete a parte final do terceiro discurso de Moisés, quando conduzia o Povo de Deus.
Ressoa como forte alerta para que o Povo de Deus tome consciência da sua infidelidade, e volte à fidelidade original para ter vida.
Reflitamos:
– Qual a qualidade de nossa escuta, adesão e fidelidade a Deus e aos Seus Mandamentos?
– O que nos impede de ouvir a voz de Deus, que nos fala e nos propõe vida em plenitude?
– Quais são as vozes que tentam calar a voz de Deus, hoje?
Na passagem da segunda Leitura (Cl 1,15-20), o Apóstolo Paulo nos fala da centralidade de Jesus em nossa vida: Ele é o centro a partir do qual tudo se constrói.
É preciso escutá-Lo atentamente, e viver Seu Mandamento, exigência fundamental para quem quiser segui-Lo.
Nada pode nos salvar a não ser Cristo Jesus e a Sua Palavra de Salvação. Ele é a “imagem de Deus invisível”; “o primogênito de toda criatura”, e “n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”.
Deus é visível em Jesus, que tem por sua vez a supremacia e autoridade do Pai, e deve ocupar a centralidade em nossa vida. Ele não pode ser reduzido a um visionário, idealista, e humanista por excelência, pois tem a soberania no Mistério da redenção: Ele é “cabeça”, “princípio” e “n’Ele habita toda plenitude”.
Reflitamos:
– Jesus Cristo é verdadeiramente o centro de nossa vida?
– Quem é Cristo para nós?
A passagem do Evangelho (Lc 10,25-37) nos apresenta a Parábola do bom samaritano. Refere-se a um herege, um infiel, segundo os critérios judaicos (por longos séculos assim foi se caracterizando), mas foi aquele que tudo deixou para ser solidário ao irmão caído à beira da estrada, e o Senhor no-lo apresenta como exemplo a ser imitado: Fazer-se próximo de quem mais precisa – “Vai e faz o mesmo”.
Na Parábola são citados os levitas e sacerdotes que passam ao lado, sem nada fazer; talvez por medo de ficarem impuros, por pressa, indiferença, ou por viverem uma religião sem misericórdia.
Ao contrário, o samaritano, herege, excomungado, tem o coração cheio de amor, e nos dá o verdadeiro sentido da religião: ter um coração pleno de amor a Deus, que se concretiza no amor ao próximo, em gestos de partilha e solidariedade.
Conclui-se que a vida eterna somente se alcança quando não se separa o amor a Deus do amor ao próximo.
Este próximo é qualquer um que necessite de nós, amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido; e todo aquele que se encontra à beira do caminho e precisa de nosso amor e de nossas mãos para se levantar e se por a caminho.
Nisto consistirá a missão da Igreja do Bom Samaritano, em todos os tempos, na fidelidade ao Senhor Jesus: viver um amor sem limites, sem fronteiras, sem rotulações.
Reflitamos:
– Qual a missão que O Senhor confia a nossas comunidades à luz desta parábola?
– Somos sensíveis e solidários aos clamores dos pobres?
– Como nossas comunidades podem ser mais parecidas com o bom samaritano?
– Quem se encontra à beira do caminho e precisa de nossas mãos e ação solidária?
– Como estamos vivendo a verdadeira religião, que nos permite experimentar a proximidade divina, para uma maior proximidade humana, em gestos de comunhão fraterna?
– Qual é a diretriz de minha vida: leis, ritos ou o amor concreto?
Concluindo, quando Cristo é o centro de nossa vida e de nossa comunidade, abrimo-nos ao outro, fazemo-nos próximos daqueles que estão à beira do caminho, no amor, misericórdia, compaixão e solidariedade.
Lembremos as palavras do Papa Emérito Bento XVI, na Encíclica – Deus Caritas Est” – 2005 – n. 15.16:
“O Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo:
no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e,
em Jesus, encontramos Deus… o amor ao próximo
é uma estrada para encontrar também a Deus, e que
o fechar os olhos diante do próximo torna cegos
também diante de Deus.”