A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
A Misericórdia Divina e a nossa conversão
A Liturgia do 3º Domingo da Quaresma (Ano C) é um convite a repensarmos a nossa existência, para que sejamos homens novos e livres, com exigente mudança de mentalidade e atitudes.
Com a passagem da primeira Leitura (Ex 3,1-8a.13-15), somos exortados a viver em comunhão íntima com Deus, numa luta contra tudo quanto possa nos escravizar.
O Povo de Deus tem que manifestar sua fé e adesão e adoração a um Deus presente, que salva e liberta. De fato, Deus sempre Se manifesta onde há luta e compromisso com um mundo novo, afastando toda marca de egoísmo, comodismo, indiferença.
Reflitamos:
– Sentimos a presença de Deus caminhando conosco, atuando e nos libertando de todas as amarras que nos roubam a vida e a felicidade?
– Como correspondemos a esta presença?
A passagem da segunda Leitura (1Cor 10,1-6.10-12) nos ilumina sobre a nossa participação na Eucaristia, que exclui qualquer possibilidade de prática idolátrica.
O Apóstolo adverte aqueles que na comunidade se julgam fortes e iluminados, para que se tornem disponíveis para o serviço e, sobretudo, o amor incondicional para com os fracos e os menos iluminados.
É preciso esforços contínuos para a transformação radical da existência, recentrando a nossa vida nos valores divinos, com total adesão à vontade de Deus, sem jamais cair na prática idolátrica que nos afastaria da comunhão com Deus, escandalizando os pequeninos.
Jamais deixar de multiplicar esforços para uma vida marcada pela coerência e comunhão com Deus, no que consiste o essencial da vida cristã.
Reflitamos:
– Quando apenas parecemos cristãos e não o somos de fato?
– O que somos capazes de sacrificar por amor aos pequeninos preferidos de Deus, para não fragilizá-los e escandalizá-los?
– O que significa a celebração dos Sacramentos em nossa vida, sobretudo o Sacramento da Eucaristia?
– Quais são as possíveis marcas de coerência e incoerência na vida cristã?
Na passagem do Evangelho (Lc 13, 1-9), Jesus nos revela a face misericordiosa de Deus, que deseja de todos os modos a salvação da humanidade.
É um forte convite e apelo de conversão à novidade do Reino de Deus por Jesus inaugurado.
“Por maior que seja uma catástrofe que atinja os homens nos seus bens e até na sua sobrevivência terrena, muito mais grave é a catástrofe a que vai ao encontro quem não se abre à ação de Deus e não lhe responde.
Isto não significa que o Senhor seja um juiz vingativo e que o mal seja uma represália Sua. Pelo contrário, Ele é um Pai misericordioso, pronto a fazer mais festa por um só pecador que se tenha salvado do que por noventa e nove justos que O louvam (cf. Lc 15)” (1)
Deste modo, a fé em Jesus requer a nossa sincera conversão que consiste numa reorientação geral da própria vida, como resposta à ação misericordiosa de Deus por meio d’Ele, o Filho Amado, Jesus.
A onipotência divina pode ser contemplada em sua ação misericordiosa, sendo livre para perdoar e criando o bem mesmo onde ele não existe.
Da mesma forma sua transcendência ultrapassa a distância entre o céu e a terra como reza o Salmista (Sl 102,11).
Lamentavelmente, pode se confundir a paciência de Deus contemplada no Evangelho com a indiferença para com nossos pecados, e permissividade para a continuidade marcada por uma vida descomprometida e desordenada.
Jamais nos é permitido confundir misericórdia divina como cumplicidade e permissividade. Ao contrário, ela é uma força de Amor que rompe a dureza de nosso coração, incendeia com o fogo do Espírito a frieza do pecado.
Ela provoca que abramos a mente e o coração para um sincero e contínuo compromisso de conversão (Rm 2,4) de tal modo que nos tornemos misericordiosos como o Pai (Lc 6,36), e na solicitude para com os empobrecidos procuremos ter os mesmos sentimentos de Cristo Jesus ( Fl 2,5).
Reflitamos:
– Onde e quando Deus nos oferece oportunidades para conversão?
– O que entendemos como conversão da mente e coração?
– Quais são os frutos que expressam nossos esforços de conversão?
– De que modo correspondemos à bondade e paciência de Deus, sem o seu abuso?
– Como o tempo é breve, temos nos empenhado em busca sincera de conversão?
Demos um primeiro passo no itinerário Quaresmal quando recebemos as Cinzas e nos pusemos num caminho de conversão e fé no Evangelho, Boa Nova de Vida e Salvação; quando reconhecemos que somos pó e ao pó voltaremos, e nos propusemos por quarenta dias a viver os exercícios quaresmais (Oração, Jejum, Esmola).
No primeiro Domingo da Quaresma, fomos ao deserto com Jesus para aprendermos com Ele e n’Ele vencer as tentações do Maligno (ter/poder/ser).
No segundo Domingo, fomos à Montanha contemplar o Cristo Glorioso, ouvindo o que Ele tem a nos dizer, como Filho Amado e escolhido do Pai; descendo depois à planície do quotidiano, com coragem e fidelidade carregando nossa cruz em sinceros e renovados compromissos com os rostos desfigurados.
Hoje, a Palavra Divina nos adverte para ressoe em nosso coração o suave e forte apelo de conversão da mente e coração (metanoia), para que produzamos os frutos esperados por Deus.
Contemplar a misericórdia, compaixão, bondade divinas, sem jamais abusar da paciência de Deus.
A contemplação e correspondência ao Amor divino são verdadeiras quando nos fazem melhores, mais humanos, mais sinceros, mais fraternos.
Do deserto para a montanha, da montanha para a planície, pois é nela que os apelos de conversão se multiplicam. Quanto maior e mais sincera a nossa conversão, maior será a alegria da Páscoa a ser celebrada.
(1) Lecionário Comentado – P. 148
No 1º Domingo da Quaresma (Ano C), repensamos nossas opções de vida, tomando consciência das tentações que nos impedem de viver a vida nova que um dia recebemos em nosso Batismo.
A passagem da primeira Leitura (Dt 26,4-10) retrata a tentação do Povo de Israel de ceder à idolatria, adorando falsos deuses. É preciso que eliminemos os falsos deuses que nos afastam do verdadeiro Deus, do contrário, as marcas do orgulho, da autossuficiência, do egoísmo, da desumanidade, da desgraça e da morte, deixarão suas marcas.
Essencialmente é um texto anti-idolátrico, em que anuncia a vida e felicidade somente encontrada em Deus. A tentação do abandono do Senhor para adoração das divindades das populações da nova terra, das divindades da Natureza é um constante perigo.
Encontramos neste trecho uma solene profissão de fé, inserida numa Liturgia de Ação de Graças pelos dons da terra e a oferta das primícias dos frutos das colheitas; possibilitando-nos refletir quais são os falsos deuses que podem tomar o lugar do Deus vivo e verdadeiro: o dinheiro, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, líderes e suas ideologias ou quaisquer outras coisas que se sobreponham a Deus e até mesmo que levem a d’Ele prescindir.
Reflitamos:
– Quando se prescinde de Deus que futuro é reservado para a humanidade?
– Quais são os deuses da pós-modernidade que seduzem e afastam a pessoa do encontro e relação com o Verdadeiro Deus da Vida, que a Sagrada Escritura nos apresenta?
Na passagem da segunda Leitura, (Rm 10, 8-13), o Apóstolo Paulo nos fala da Salvação como dom de Deus e compromisso nosso.
A Salvação não é uma conquista humana, mas dom gratuito de Deus que, na Sua bondade, quer salvar a todos. Também afirma que o Evangelho de Jesus é a força que congrega e salva aquele que crê (judeus e pagãos), pois Deus quer salvar a todos, indistintamente (v. 11-12).
Reflitamos:
– Quais são as divisões existentes em nossas famílias e comunidades? O que as provocam?
– Como tornar nossa comunidade mais fraterna, mais próxima do que Jesus quer para Sua Igreja?
– Como tornar, de fato, a comunidade um lugar da adesão à fé na pessoa de Jesus?
A passagem do Evangelho (Lc 4, 1-13) retrata de forma catequética, e não de forma jornalística, as tentações enfrentadas por Jesus no deserto (deserto como lugar da privação, dos desafios, da tentação): ter, poder e ser, que são as tentações fundamentais de toda pessoa.
A primeira tentação é um não à riqueza/acúmulo, a segunda um não ao poder/dominação, e a terceira um não ao êxito fácil.
Jesus recusou terminantemente o caminho do materialismo (poder, domínio, êxito fácil), do contrário, trairia o Plano de Deus, que se realiza pela serviço, partilha e doação da própria vida com simplicidade e amor.
Os discípulos missionários de Jesus devem fazer o mesmo caminho por Ele vivido e proposto: o egoísmo cede lugar para a partilha; o autoritarismo para o serviço; o espetáculo/sucesso para a vida plena.
O discípulo missionário terá que decidir entre a obediência ao Pai e o serviço ao próximo ou a sedução às tentações.
Aqui devem ser lembradas as palavras do Bispo Santo Agostinho: –“Como vencer se não combater, como combater se não formos tentados. Se n’Ele somos tentados, com Ele também venceremos”. E ainda: “O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar – se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”.
Com o Pão da Palavra e com o Pão da Eucaristia, podemos vencer quaisquer tentações que venham a nos afastar do Projeto de Vida que Deus tem para nós. Se alimentados por Deus, vencemos; do contrário, sucumbimos e perdemos a alegria e o sentido do próprio existir.
As tentações enfrentadas por Jesus não são uma página virada, mas um desafio a ser vivido e enfrentado por todo aquele que deseja segui-Lo, ontem, hoje e sempre.
Reflitamos:
– De que modo estas tentações se manifestam hoje nos espaços em que vivemos, dentro e fora da Igreja?
– Nesta Quaresma, como nos alimentarmos melhor da Palavra e da Eucaristia?
Dando os primeiros passos no itinerário Quaresmal, entremos com Jesus na travessia do deserto de nossa vida.
Acolhamos, pois, a Salvação como dom de Deus, dando nossa resposta com liberdade, responsabilidade e maturidade, pois nisto consiste a vida cristã: corresponder cada vez mais e melhor aos desígnios de Deus e ao Seu Projeto de Amor, dando a Deus e ao nosso próximo o melhor que pudermos.
É preciso revitalizar a fé, quotidianamente, para não cedermos às tentações que nos afastem do Projeto Divino. É preciso viver uma fidelidade límpida, superando toda infidelidade à Palavra de Deus, rompendo com o pecado, como criaturas novas pela graça batismal.
Jesus venceu as tentações para nos ensinar também a vencê-las. Com Ele, e somente com Ele, faremos a travessia do deserto, alcançando a outra margem, no encontro definitivo.
Vivendo, a cada dia, a configuração ao Senhor, em Sua Vida, Paixão e Morte, com renúncias necessárias, desapego de si mesmo, tomando a cruz de cada dia, com Ele também Ressuscitaremos.
Ao rezar o “Pai Nosso”, façamos com mais ardor esta súplica: “… O Pão nosso de cada dia nos dai hoje…” , e “… e não nos deixeis cair em tentação”.
Somente alimentados pelo Pão da Palavra e da Eucaristia podemos vencer as tentações que impeçam o Reino de Deus acontecer, como também a verdadeira santificação do nome de Deus.
Oremos:
“Ó Deus, dai-nos força para resistir à tentação,
paciência na tribulação,
e sentimentos de gratidão na prosperidade. Amém.”
Com a Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum, continuamos o aprofundamento do Sermão da Planície, que Jesus nos apresentou na passagem do Evangelho.
Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 27,4-7), que nos adverte que não julguemos as pessoas pela primeira impressão.
O autor convida a maior fidelidade à Lei de Deus, para que vivamos a autêntica Sabedoria.
É preciso rever sempre os critérios de nossas escolhas, para que não nos deixemos enganar pelas falsas impressões.
O autor nos ensina que a palavra revela, claramente, o íntimo do coração do homem.
Sendo possível ao homem fingir, enganar, disfarçar e encenar determinados tipos de comportamento, é preciso considerar que a Palavra o revela e põe a nu os seus sentimentos mais profundos.
Na passagem da segunda leitura (1 Cor 15,54-59), o Apóstolo Paulo conclui sua Catequese sobre a Ressurreição de Jesus.
Nela acreditando, o discípulo missionário deverá testemunhar, com verdade, sinceridade e coerência, a Sua proposta, que consiste no único caminho necessário para a vida plena que Deus reserva.
Deste modo, aqueles que professam a fé no Ressuscitado devem permanecer firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor (1 Cor 15,58), não cruzando os braços numa passividade que aliena, mas empenhando-se, verdadeiramente, numa efetiva transformação que traga vida nova para todos e para todo o mundo:
“A Igreja ensina que a importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica, mas que esta antes reforça com novos motivos a sua execução” (Gaudium et spes, n.21).
Portanto, acreditar na Ressurreição, é compromisso de empenho na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo, do pecado e da morte que impeçam a viver a vida em plenitude.
Na passagem do Evangelho (Lc 6, 39-45), Jesus adverte Seus discípulos sobre o perigo de um cego guiar outro cego, com risco de ambos caírem num buraco e o perigo de enxergar com nitidez os defeitos do próximo sem dar conta dos próprios:
“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).
Somos exortados a crescer sempre mais na prática da Misericórdia, procurando suas múltiplas faces, expressões e concretizações.
Esta prática, além de levar ao amor e oração pelos inimigos, também exige coerência de vida, evitando uma vida pautada por “dois pesos e duas medidas”, procurando a cura do mínimo sinal de miopia espiritual, para que enxergando bem, sem traves nos olhos, para que se possa ajudar mutuamente, sem desviar do caminho da prática da misericórdia, não mergulhando nos buracos que uma cegueira nos levaria (cegueira como ausência da Misericórdia).
Se por um lado a Misericórdia se expressa na coerência de vida, há algo que a ofusca: hipocrisia, ambiguidade, julgamento rigoroso de nossos irmãos e impaciência de vê-los trilhar o caminho do crescimento, aperfeiçoamento…
Somente a Misericórdia vislumbrada na prática da caridade resgata, recria e possibilita o novo, muitas vezes materializada no gesto da acolhida e do perdão reintegrador. Somente a Misericórdia na prática da caridade constrói, edifica, promove…
A ausência da Misericórdia destrói a paciência, a caridade, e, consequentemente, o outro.
Jesus nos adverte para um mal que rouba a luminosidade de nossa fé, porque rouba a coerência, a transparência, e leva à perda da força do testemunho da Palavra que Senhor nos comunica, levando-nos à hipocrisia.
Urge suplicar ao Senhor para que nos liberte do fermento da hipocrisia, e que Ele nos dê o ázimo da sinceridade e da verdade, e tão somente assim nos tornaremos mais transparentes nas intenções e na pureza do coração, condição indispensável para que um dia a Deus vejamos, pois somente os puros de coração verão a Deus (Mt 5,8).
Esta hipocrisia consiste em toda tentativa inútil de ludibriar a Deus, porque a Deus ninguém engana. Podemos enganar os outros e a nós mesmos, o que seria o ápice da hipocrisia.
Manifesta-se quando há falsidade do coração, quando professamos com os lábios verdades que não cremos; sentimentos que procuramos expressar, mas não brotam com naturalidade, pureza e autenticidade, porque não vêm das entranhas do coração.
Também quando supomos agradar a Deus com as aparências, com longas Orações, sacrifícios com segundas intenções, beirando à simulação, como que se Deus não conhecesse o mais profundo de nós, como tão bem expressou o Salmista (Sl 138), e acreditamos que Ele veria bondade, onde tão apenas existe uma superficialidade de relacionamento, sem verdadeira entrega a Ele de todo nosso ser, de toda a nossa vida.
Hipocrisia que pode ser entendida como sinônimo de astúcia, esperteza, duplicidade, mas nos faz tão apenas falsários, com a estéril tentativa de pagar a Deus com moeda falsa, reduzindo nossa honra ao Senhor com os lábios, mas o coração longe d’Ele se encontrando (Mt 5, 8).
Deste modo, as palavras e obras de fé, esperança e caridade devem nos acompanhar cada dia para que sejamos libertos de toda hipocrisia e de qualquer outro sentimento que não seja conforme os pensamentos, palavras e sentimentos de Jesus, e assim possamos gerar e formar Cristo em nós e nos outros.
Jesus também disse que a boca fala daquilo que o coração está cheio, e também podemos concluir que nossos olhos revelarão aquilo que se encontra em nosso íntimo, em nosso coração.
Se nele houver rancor, ódio, tristeza, indiferença, preconceitos, egoísmo, materialismo, hedonismo cultuado (busca do prazer sem medida), ídolos cultivados, o nosso olhar será a mais perfeita e triste expressão de tudo isto.
É tempo de olharmos para dentro de nós mesmos, para que possamos dizer como São Paulo:
“Pregar o Evangelho não é, para mim, motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16).
E pregando, vivamos, pois diz ele mesmo:
“Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a boa nova aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1Cor 9, 27).
Quando a Misericórdia, o Amor de Deus em ação, na ação dos que creem, for vivida, com ousadia, vigor, ardor inextinguível, e paixão por Cristo, à luz da espiritualidade paulina, resplandecerão os sinais do Reino: amor, verdade, justiça e paz, reencantamento da vida.
Somente guiados pela Luz Divina, seremos para o irmão e irmã, com humildade, guias luminosos!
Oremos:
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
semente plantada que, abundantemente, germina!
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda cegueira elimina!
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda hipocrisia abomina!
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que nossos olhos ilumina!
Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que a humanidade incansavelmente ensina!
Amém!
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em
http://peotacilio.blogspot.com/2020/02/livrai-nos-senhor-da-cegueira-e-da.html
Amor sem limites
A Liturgia do 7º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a crescer no amor ao próximo, ainda que este próximo seja nosso inimigo, alguém que nos magoou, ferindo-nos profundamente.
Somos vocacionados para viver um amor total, amor sem limites, vivendo a lógica do amor e não a lógica da violência.
Do alto da Cruz, Jesus Cristo nos ensina a perdoar – “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34).
Na passagem da primeira Leitura, ouvimos o Primeiro Livro de Samuel (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23).
Davi é a experiência de quem viveu uma nova lógica do amor, da misericórdia e do perdão e encontrou correspondência/recompensa de Deus. Sendo um homem de coração magnânimo, tendo a possibilidade da eliminação de seu inimigo, escolhe a atitude de perdão.
Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 15,45-49), continuamos a refletir sobre a Ressurreição. Crer nela é viver um amor com radicalidade e sem limitações, crendo no anúncio do mundo novo que nos espera além da terra, da própria morte.
A Ressurreição é a passagem para uma nova vida, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites da materialidade do nosso corpo.
“A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada, como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida plena. Sendo assim, haverá alguma razão para temermos a morte ou para vermos nela o fim de tudo – uma espécie de barreira que põe definitivamente fim à comunhão com aqueles que amamos?” (1)
A fé na Ressurreição nos liberta do medo de agir, de denunciar as forças de morte que oprimem e desfiguram o mundo.
A nossa corporeidade é oportunidade para o amor sem limites até que possamos mergulhar no horizonte infinito do amor de Deus, com um corpo celestial que é impossível de ser descrito.
“Que temos a perder, quando nos espera a vida plena, o mergulho no horizonte infinito de Deus – onde nem o ódio, nem a injustiça, nem a morte podem pôr fim a essa vida total que Deus reserva aos que percorreram, neste mundo, os caminhos do amor e da paz?” (2).
Na passagem do Evangelho (Lc 6,27-38), Jesus exige de Seus seguidores, um coração sempre disponível para o perdão, para a acolhida, de modo que vejamos no outro, mesmo no inimigo, um irmão nosso; por isto Jesus é a expressão máxima do amor e do perdão:
“Jesus vai muito mais além do que a doutrina do Antigo Testamento. Para Ele é preciso amar o próximo; e o próximo é, sem exceção, o outro – mesmo o inimigo, mesmo o que nos odeia, mesmo aquele que nos calunia e amaldiçoa, mesmo aquele de quem a história ou os ódios ancestrais nos separam” (3).
Portanto, o amor é a única forma para desarmar o ódio e a violência, e assim, somos chamados ao amor e ao perdão, para alcançar a verdadeira felicidade: não viver o perdão é carregar a inutilidade de um peso que somente nos faz mal.
Nesta passagem, encontramos a “regra de ouro”: “o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também” – o amor não se limita a exclusão do mal, mas num compromisso sério e objetivo com o bem em favor do próximo.
Concluindo, os últimos séculos, que tem sido marcado pela violência (Guerras mundiais), desafiam-nos a inverter a lógica e a espiral da violência, num amor sem limites para recriarmos um mundo novo, mais justo e fraterno.
Cremos que a violência gera sempre mais violência e que somente o amor desarma a agressividade e transforma os corações dos maus e dos violentos.
Cremos na força desarmada do amor, que Jesus nos ensinou e até o fim viveu, e quer que o mesmo façamos.
Oremos:
“Ó Deus, que no Vosso Filho, despojado e humilhado na Cruz, revelastes a força do Amor, abri o nosso coração ao dom do Vosso Espírito e despedaçai as cadeias da violência e do ódio, para que, na vitória do bem sobre o mal, demos testemunho do Vosso Evangelho de paz. Amém”.
(1); (2); (3) – www.Dehonianos.org/portal
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
A prática das Bem-Aventuranças na construção do Reino
No 6º Domingo do Tempo comum (ano C), a Liturgia nos convida a refletir sobre o caminho para o alcance da verdadeira felicidade.
Na passagem da primeira Leitura (Jr 17,5-8), o Profeta Jeremias nos alerta que viver prescindindo de Deus é percorrer um caminho de morte, renunciando à felicidade e à vida plena.
É preciso vencer toda atitude de autossuficiência e egoísmo, tendo em Deus total confiança e esperança, pois “Prescindir de Deus e não contar com Ele significa construir uma existência limitada, efêmera, raquítica, a que falta o essencial, como um arbusto plantado no deserto, condenado precocemente à morte” (1).
Reflitamos:
– Quais são as referências fundamentais para a construção de nossa vida?
– Onde estão a nossa segurança e esperança?
– De que modo vivemos nossa fidelidade a Deus?
Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 15,12.16-20), continuamos a refletir sobre o Mistério da Ressurreição, que é o fundamento de todo o nosso existir e de nossa fé, e a garantia de nossa própria Ressurreição.
O Apóstolo Paulo afirma que é feliz quem deposita a sua esperança no Cristo Ressuscitado: “A fé em Cristo Ressuscitado desemboca inexoravelmente na inquebrantável esperança de que também os cristãos ressuscitarão. O inverso também é verdadeiro: não esperar a ressurreição dos mortos equivale a não acreditar na ressurreição de Cristo. Não é possível desvincular uma coisa da outra” (2).
Reflitamos:
– Cremos na Ressurreição de Jesus e, por meio dela, a nossa?
– De que modo testemunhamos a fé na Ressurreição do Senhor?
Com a passagem do Evangelho (Lc 6,17.20-26), Jesus nos apresenta o “Sermão da planície”, de modo que a felicidade é alcançada por quem constrói a sua vida à luz dos valores sagrados com simplicidade e humildade, vencendo todo egoísmo, orgulho e autossuficiência, em total compromisso com os empobrecidos.
Deste modo compreendamos as Bem-Aventuranças não como lei, mas Evangelho, uma Boa-Nova que nos orienta e nos conduz para a construção do Reino de Deus.
Os pobres são, por sua vez, “os desprotegidos, os explorados, os pequenos e sem voz, as vítimas da injustiça, que com frequência são privados dos seus direitos e da sua dignidade pela arbitrariedade dos poderosos” (3).
A Salvação de Deus dirige-se, prioritariamente, a estes pois na sua simplicidade, humildade, disponibilidade e despojamento, estão mais abertos para a acolhida da proposta que Deus tem a oferecer por meio de Jesus Cristo:
“Jesus louva os pobres que vivem ao mesmo tempo em dois mundos, o presente e o escatológico; ameaça os ricos que vivem em um só mundo, o mundo que escraviza quase inevitavelmente aquele que leva uma vida cômoda. O rico já está satisfeito com o que possui, que não entra no mais íntimo do próprio ser. O pobre, entretanto, só possui a solidão, mas a vive com uma coragem que o leva ao íntimo do seu ser, onde é percebido um mundo novo” (4).
De um lado, as Bem-Aventuranças manifestam que Jesus é enviado pelo Pai ao mundo para a libertação dos oprimidos; de outro, as “maldições”, que são os quatro “ais” de Jesus, “denunciam a lógica dos opressores, dos instalados, dos poderosos, dos que pisam os outros, dos que têm o coração cheio de orgulho e autossuficiência e não estão disponíveis para acolher a novidade revolucionária do ‘Reino’’” (5).
O Sermão, portanto, nos inquieta e nos questiona, porque nos convida a uma mudança, a um regresso a Deus e fazer progressos maiores ainda na prática do Mandamento do Amor a Ele e ao próximo; amor oblativo, amor que é sair de si mesmo e ir de encontro, sobretudo, dos que mais precisam:
“Em uma civilização de consumo, em que o dinheiro é o ídolo ao qual se sacrificam o homem e todos os outros valores, em um mundo superindustrializado e superseguro, em que não há mais lugar para a liberdade autêntica, só ‘o homem das bem-aventuranças’, o homem livre das coisas, pode fazer redescobrir a verdadeira face do homem” (6).
Reflitamos:
– De que modo o “Sermão da planície” nos questiona?
– Como vivemos as Bem-Aventuranças?
– Quais “ais” de Jesus, precisamos acolher em atitude de conversão?
Na Celebração Eucarística que participamos, subimos à Montanha Sagrada, onde Deus Se revela e nos envolve com Seu sopro. Respirando o ar de Deus, e refeitos de nossos cansaços, sofrimentos, marginalização, é-nos apresentada a proposta, o programa de Jesus a ser vivido na planície de nossas vidas.
Celebrar a Eucaristia é experimentar a força do Ressuscitado e romper com o velho mundo dos “ais”, e inaugurar o novo mundo das Bem-Aventuranças; rompendo todo egoísmo, prepotência, injustiça, exploração, um mundo sem Deus, logo, um mundo sem amor.
As Bem-Aventuranças são encarnadas quando vivemos com humildade, multiplicando gestos de partilha, solidariedade, comunhão e amor que inauguram relações mais fraternas.
Elas são caminhos para se viver com Deus e chegar até Deus, pois Ele nos criou para a felicidade, e esta somente com Ele, pois “o próprio Deus colocou no coração do homem um desejo íntimo de felicidade” (7).
(1) (3) (5) – www.dehonianos.org
(2) (4) (6) Missal Dominical – Editora Paulus – p. 1117
(7) Catecismo da Igreja Católica – n. 1718
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em http://peotacilio.blogspot.com/2020/02/a-pratica-das-bem-aventurancas-na.html
“Avancemos para águas mais profundas”
No 5º Domingo do Tempo Comum (Ano C) somos convidados a refletir sobre a nossa vocação e rever a sua história.
Com a passagem da primeira Leitura (Is 6,1-2a.3-8), refletimos sobre a vocação de Isaías: primeiramente vemos que a vocação é obra de Deus; também temos a objeção e o reconhecimento da condição impura daquele que é chamado; finalmente, a aceitação da missão pelo Profeta.
Como vemos, a vocação profética é, invitavelmente, um caminho de cruz, superando o egoísmo, o medo e a preguiça, enfrentando todas as dificuldades, sofrimentos, conflitos e confrontos. É preciso ter sensibilidade para ouvir o apelo e chamado de Deus, e coragem para viver uma resposta a Ele na missão confiada.
Enriquecedora a afirmação do Missal Dominical:
“O homem não tem poder sobre Deus. Ora, o Profeta
não anuncia uma doutrina abstrata, meramente humana,
mas o Deus vivo; ele é Profeta se Deus Se lhe revela,
se o chama, se o envia. Revelação, vocação
e missão estão estreitamente unidas.”
Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 15, 1-11) refletimos sobre a Ressurreição, que por sua vez trata-se de uma realidade que dá forma à vida do discípulo, levando-o a enfrentar sem medo as forças da injustiça e da morte.
É o mais antigo querigma (anúncio) da Morte e Ressurreição de Cristo, já com ligação à redenção dos pecados. Paulo reafirma com vigor e paixão esta verdade.
O Apóstolo Paulo escreve para uma comunidade cujo contexto cultural é de não aceitação da unidade do corpo e da alma, com influências das filosofias dualistas (viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma realidade ideal e nobre) e com isto a dificuldade de aceitação da ressurreição integral do homem.
O Apóstolo anuncia a Ressurreição, e sua argumentação é clara e explícita: ressuscitaremos da mesma forma um dia, porque Cristo Ressuscitou, do contrário vazia é a nossa fé.
A Ressurreição de Cristo é um fato real, mas ao mesmo tempo sobrenatural e meta-histórico, porque ultrapassa completamente quaisquer categorias humanas de espaço e de tempo, e nos insere necessariamente no contexto da fé.
A fé na Ressurreição foi testemunhada pela transformação ocorrida no coração dos discípulos, antes cheios de medo, frustrados e acovardados, tornando-se intrépidos mensageiros e testemunhas de Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado.
Com a fé e presença de Jesus Ressuscitado, o medo cede lugar para a coragem; a frieza para o ardor e a missão se realiza pelo testemunho.
A comunidade cristã é chamada a fazer, ao longo da história, este mesmo itinerário de descoberta, superação, conversão e testemunho da força que vem do Cristo Vivo e Ressuscitado.
Na passagem do Evangelho (Lc 5, 1-11) contemplamos a presença e ação de Jesus que assegura a grande pesca milagrosa. Contemplamos a ação de Deus que vai sempre ao encontro da humanidade, de suas necessidades, manifesta Sua ação gloriosa nos momentos de aparente fracasso transformando-os em êxitos que revelam Sua magnificência e onipotência e amor incondicional por nós.
A passagem pode ser dividida em três partes:
– A descrição do lugar da pregação de Jesus (v. 1-3);
– A pesca milagrosa (v.4-10a);
– O chamamento de Simão (v. 10b-11).
Estar na barca de Jesus (símbolo da Igreja) exige que escutemos a Sua Palavra e O reconheçamos como a presença de Deus em nosso meio; aceitando a Sua proposta libertadora e deixando tudo por Ele, com a certeza de êxito numa “pesca milagrosa”.
“A pesca extraordinária é símbolo da atividade futura de Pedro: o seu barco, ou seja, a Igreja, tem em nome de Jesus, a tarefa de ‘pescar’ os homens para o Reino dos Céus. E Jesus está sempre junto dos Seus para os ajudar” (1)
Reflitamos:
– Estamos na barca de Jesus, de fato?
– Escutamos Sua voz, Sua Palavra?
– Reconhecemos Sua presença em nosso meio?
– Aceitamos Sua missão libertadora a nos confiada?
– Somos capazes de tudo deixar por causa de Sua Proposta?
Sigamos Jesus como Isaías, Pedro, Paulo e tantos outros, crendo na força, ação e presença do Ressuscitado. É necessário que façamos como eles, nos reconhecendo pecadores para o verdadeiro encontro com o Senhor.
(1) Leccionário Comentado Tempo Comum – pág. 215
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em http://peotacilio.blogspot.com/2020/02/com-deus-nao-ha-fracassos.html
No 4º Domingo do Tempo Comum (Ano C), continuamos a reflexão sobre a Missão de Jesus que é a missão da Igreja, sob a ação do mesmo Espírito que pousou sobre Ele e O acompanhou em todos os momentos na fidelidade ao Pai.
Nesta missão, como discípulos missionários, vivendo a vocação profética pelo Batismo, podemos viver experiências difíceis como perseguições, incompreensões, obstáculos a serem transpostos, mas o amor “ágape” fala sempre mais alto.
Na passagem da primeira Leitura (Jr 1,4-5.17-19), contemplamos a figura do Profeta Jeremias que foi escolhido, consagrado e constituído Profeta por Deus.
Como os demais Profetas, trilhou um árduo caminho de sofrimento, solidão, risco por possuir uma consciência crítica, ser defensor da verdadeira paz, nutrir a verdadeira esperança e confiança na defesa dos pobres, tudo fazendo por amor.
O Profeta é por excelência alguém que se encontrou com Deus e Sua Palavra e aceitou viver o desígnio divino. Ninguém é Profeta por iniciativa própria.
Enviado por Deus, vive o caminho profético, conjugando e vivendo os verbos denunciar, criticar, demolir, destruir, edificar e plantar, consumindo-se e vivendo intensamente a missão por Deus confiada.
Reflitamos:
– Ontem Jeremias, e hoje quem são os Profetas, aqueles que têm olhos voltados para Deus sem desviar o seu olhar para a realidade na qual estão inseridos?
– Onde e como vivemos a vocação profética recebida no dia de nosso Batismo?
– Como estamos conjugando e vivendo os verbos denunciar, criticar, demolir, destruir, edificar e plantar?
A passagem da segunda Leitura (1Cor 12,31-13,13) aparentemente desconectada da primeira e do Evangelho, mas apenas aparentemente, pois se a virtude do Amor divino não nos mover, não nos impulsionar, jamais viveremos a vocação profética, não suportaremos o peso da cruz a ser carregada, quotidianamente, com as renúncias necessárias.
Trata-se do “hino ao amor” que já inspirou poetas e Profetas. Há quem chame esta passagem de “o Cântico dos Cânticos da Nova Aliança”.
Paulo retrata o amor como o dom maior e eterno a ser vivido por todo aquele que segue Jesus, e que possui uma superioridade incontestável sobre qualquer outro carisma.
O caminho do amor é o caminho mais seguro, mais acessível a todos, e consiste no caminho insubstituível que conduz à Salvação.
Não se trata de um amor qualquer, trata-se do amor-‘ágape’, onde não há resquícios de egoísmo, mas é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem nada esperar em troca.
O Apóstolo enumera 15 características ou qualidades do verdadeiro amor, sendo sete apresentadas de forma positiva, e as outras de forma negativa.
Resumindo, a passagem pode ser dividida em três partes:
1 – O confronto entre a caridade e os carismas – (13,1-3);
2 – As características principais e operativas da caridade – (13,4-7);
3 – A perfeição da caridade e sua perenidade – (13,8-13).
Reflitamos:
– Qual é a qualidade do amor que vivemos na comunidade cristã?
– Vivemos o amor cristão, o amor “ágape”, o amor generoso, por pura gratuidade?
Na passagem do Evangelho (Lc 4,21-30) descreve a rejeição enfrentada por Jesus, quando desprezado pelos habitantes de Nazaré e pelos próprios parentes, por não compreenderem e não aceitarem a Sua missão.
A missão de Jesus frustra na medida em que não propicia espetáculos. O Deus a quem Jesus vive fidelidade até o fim tem uma séria proposta de salvação a ser concretizada na vida daquele que crê.
Assim como os Profetas, o próprio Senhor enfrentou a incompreensão, a incredulidade, a solidão, o risco, a doação e autoentrega de Sua vida.
Reflitamos:
– Quem é Jesus para mim? Qual Sua missão e como a vivo?
– Como vivo a minha fidelidade a Jesus, como discípulo missionário?
– Quais as incompreensões e rejeições que passo por causa do anúncio e testemunho da Boa-Nova?
– Sinto alegria em continuar, sob a ação do Espírito, como Igreja, a missão de Jesus?
Concluindo: O amor é o “motor” de nossa missão, o amor-“ágape”: Cristo que ama em nós. Somos vocacionados para o amor, para a profecia, sob a ação do Espírito Santo.
Se inflamados por este amor, continuaremos nosso caminho vivendo a vocação profética, sendo no mundo luz, da terra o sal, sem jamais perder o sabor.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda http://peotacilio.blogspot.com/2020/02/nao-ha-profecia-sem-chama-do-amor-divino.html
Somente o Senhor pode nos dar o Vinho Novo
Com a Liturgia do 2º Domingo do Tempo Comum (ano C), aprofundamos nossa reflexão sobre a Aliança de amor de Deus para com a humanidade: Deus é sempre fiel, pronto para nos amar e nos assegurar a alegria, a festa, a felicidade plena, o “vinho novo”.
Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Livro do Profeta Isaías (Is 62,1-5), que nos apresenta o amor inquebrável e eterno de Deus, que renova e transforma o povo, simbolizado, aqui, na relação de esposo e esposa.
O período é de pós-exílio, e os poucos habitantes da cidade vivem em condições de extrema pobreza, trazendo à memória a humilhação passada, destruição, na espera da restauração do Templo, acompanhados do sonho de uma nova Jerusalém, com vida, alegria e paz.
O profeta nos apresenta o amor de Deus pelo seu Povo, um amor que nada consegue quebrar ou destruir: nem o próprio afastamento d’Ele, ou nosso egoísmo, recusas. Espera-nos de forma gratuita, convidando-nos ao reencontro, a refazer nossa relação de amor, a fim de gerar vida nova, alegria, festa e felicidade.
Reflitamos:
– Somos sinais vivos de Deus, com o Seu amor transparecido em nossos gestos?
– Nossas famílias são um reflexo do amor de Deus?
– Nossas comunidades anunciam ao mundo, de forma concreta, o amor que Deus tem pela humanidade?
Na segunda Leitura, ouvimos a passagem da primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios (1 Cor 12,4-11), que nos apresenta a comunidade enriquecida dos carismas, de modo que os dons devem ser colocados a serviço de todos, com toda a humildade e simplicidade, e não para uso exclusivo de alguns, em benefício próprio.
A comunidade, assim vivendo, manifesta o amor Trinitário, que a une ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Na passagem do Evangelho (Jo 2,1-11), conhecida como as “Bodas de Caná”, num contexto de casamento, acontece o primeiro “sinal”, que nos apresenta a Pessoa de Jesus e o Seu Projeto de vida: apresentar à humanidade o Pai que a ama, e, com Seu amor, convoca a todos para a alegria e a felicidade plenas, prefigurados na água transformada em vinho novo, de melhor qualidade.
O sinal em que Jesus transforma a água em vinho novo, não é uma “mágica”, mas a manifestação do Seu poder em transformar nossa realidade humana pelo amor/confiança em Sua Palavra.
Há um rico simbolismo na passagem:
– vinho: símbolo do amor (relação esposo x esposa);
– seis talhas – a imperfeição, a incompletude;
– talha de pedra – lembra as tábuas da Lei do Sinai e os corações de pedra de que falava o profeta Ezequiel (Ez 36,26);
– a purificação – evoca o amor de Deus que renova o Seu Povo;
– talhas vazias – não proximidade com Deus: de nada adianta todo aparato, se não houver proximidade de Deus, ficamos vazios.
Se em Deus confiarmos e fizermos o que Ele nos diz, jamais teremos um coração de pedra, e jamais seremos como “talhas vazias”; ao contrário, seremos como “talhas” preenchidas do melhor vinho do amor, bondade, ternura, perdão…
Seremos eternos partícipes de uma festa que nunca se acaba, e os carismas colocados a serviço serão sua máxima expressão, pois os carismas e dons que recebemos são para serem colocados a serviço da comunidade.
Uma comunidade madura na fé celebra sempre a Nova e Eterna Aliança do amor de Deus derramado por nós, do Seu lado trespassado pela Cruz, de onde jorrou Água e Sangue, prefigurando nosso Batismo e a Eucaristia, nosso Nascimento e nosso Alimento, em doação total de sua vida por amor à humanidade, por todos nós, quando éramos pecadores e não merecedores de tamanho amor:
“A Morte e Ressurreição de Cristo dão início a uma nova comunidade dos homens com Deus. Celebrar a Eucaristia quer dizer ‘renovar’ um gesto que constitui esta comunidade em Povo de Deus, sua Igreja.
O vinho, sangue de Cristo, é o sinal de seu amor indefectível pela Igreja, vinho que antecipa a festa da nossa assembleia que se plenificará nas núpcias eternas” .(1)
A melhor maneira de corresponder ao amor de Deus é colocar-nos a serviço, a partir dos carismas que cada um recebeu. Deste modo, nunca acabará o Vinho Novo, que Jesus veio trazer e pode a todo instante nos oferecer.
Reflitamos:
– O que nossos olhos e lábios revelam na relação com Deus?
– revelamos a alegria que brota de um coração cheio de amor, ou o medo e a tristeza que brotam de uma religião de pesadelo, de leis e de medo?
– Como vivemos as palavras que Maria nos disse naquele primeiro sinal – “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5)?
O primeiro sinal realizado por Jesus, levou muitos a crerem n’Ele em Sua Pessoa e Projeto.
Jesus “toma a nossa vida, com as nossas alegrias, os nossos amores, as nossas conquistas humanas, importantes, mas tantas vezes efêmeras, com os nossos tédios, os nossos dias sem gosto e sem cor, os nossos fracassos e mesmo os nossos pecados, também eles ordinários.
E aí, Ele ‘trabalha-nos’ pelo Seu amor, no segredo para fazer brotar em nós a vida que tem o sabor do vinho do Reino. Isto, Ele cumpre-O em particular cada vez que participamos na Eucaristia. Façamos do ‘tempo ordinário’ o tempo do acolhimento do trabalho em nós do vinhateiro divino!” (2)
(1) Missal Dominical – Editora Paulus – pp.1092-1093
Citação (2) e fonte de pesquisa da Homilia: www.dehonianos.org
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em http://peotacilio.blogspot.com/2020/01/somente-o-senhor-pode-nos-dar-o-vinho_19.html