“A inveja incomoda a competência do invejoso”
(Côn. Manuel)
As Sagradas Escrituras oferecem grandes reflexões para quem quer usufruir de oportunidades pensantes na vida. Uma delas é o momento em que Jesus se encontra diante de Pilatos. O capítulo 27 de Mateus é proeminente, sobretudo, quando relata o sentimento do Governador: “Pois ele sabia que o tinham entregue por inveja” (Mt 27, 18). O texto bíblico pode ser ainda lido e rezado em Marcos 15, 2-15; Lc 23, 2-5.13-25; Jo 18, 28 – 19,16. Aqui temos um nítido e absoluto efeito colateral da inveja. O que Pilatos quer expor é que: “As acusações que os sumos sacerdotes e os anciãos aduziam contra ele (Jesus)” (Mt 27, 12), nada mais era que a ação do império da inveja sendo levado a sério em todas as circunstâncias. Este grande mal não escolhe a pessoa. O que mais almeja é vê-la aprisionada aos desejos alheios, gerando todas as possíveis conquistas, para que ela não tenha como buscar o que deseja com suas próprias forças. Pilatos tentou salvar o Mestre: “Em cada festa, costumava o governador soltar para a multidão um prisioneiro” (Mt 27, 16 – 18), mas não conseguiu livrar Jesus. Eis, pois, que a inveja quando entra nos sentimentos da pessoa se encarrega de organizar todos os sintomas possíveis, com a finalidade de martirizar, machucar e incorporar os conceitos, para falsamente, se lisonjear com o prazeroso dever de exercitar a maldade latente numa idéia de que sempre vai conseguir vitória, triunfar e levar vantagem sobre o que quer. Daqui emergem palavras, comentários e sentimentos, que quando atingem o mais alto da pessoa, a consciência, querem obter o êxito a qualquer custo.
Mais do que um sentimento, a inveja, é algo, que aos poucos vai deformando a pessoa. Ninguém gosta de ser identificado como fariseu ou doutor da lei. A ação da inveja pode estar entre os que estão perto ou longe. Cada passo que damos buscando nosso objetivo com dignidade, trabalho, esforço, pode estar sendo observado por quem almeja e não consegue. Esta é a triste realidade de quem cai nas garras da inveja. Seu eu fica deformado, suas palavras, engordam pensamentos destrutivos do porque ele (ela) e não eu. Sua ânsia acalenta a notícia de que o outro (a) não conseguirá. O sorriso, embutido dentro de uma raiva, sobe ao pódio para aplaudir a considerada vitória do eu consegui. Nesta metodologia chegamos às palavras de Francisco Quevedo: “A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come”. Vejam a maldade dos sumos sacerdotes e anciãos ao “incitarem as multidões para soltar Barrabás e fizessem perecer Jesus” (Mt 27, 20). Sabemos que a inveja não parou nos fariseus e anciãos. Na sociedade atual este malefício está ocupando o coração de muita gente, abrindo valas de grandes superfícies fazendo nascer lesões na vida pessoal e espiritual, passando até mesmo despercebida como pecado, consumindo quem a hospeda. Financiar a inveja, em si mesmo, só lucra quem nunca quer atingir com esforço próprio; quem alberga uma ambição do mais refinado nível de incompetência.
Este ruinoso sentimento gosta de nos comover com freqüência. Sua vitória é a de: “nos tirar a paz de espírito a saúde do corpo e destruir-nos como um câncer” (Pv 14, 30). Por isso: “não devemos ser orgulhosos nem ter inveja uns dos outros (Gl 5,26)”. O texto bíblico é muito claro quando solenemente revela: “a inveja é condenada pelo Senhor, é denominada como fruto da carne (Gl 5, 21)”. Geralmente tem sua origem em disputas insensatas originando “insultos e desconfianças maldosas” (1Tm 6.4), atingindo sempre o campo profissional ou pessoal (Ecl 4, 4). Seu contrataque preferido é o ciúme e ama se mostrar com um falso testemunho. Miguel Cervantes nos alerta: “A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas”. A inveja quer ver o outro descer os degraus e ter a certeza que chegou ao último. Neste ensejo, ela, se sente dona do pedaço. Seu terreno é intocável. No baú, reserva os mais belos enigmas de criativos pensamentos para se defender. Quer ter uma razão, argumentada, num alto preço, investindo na derrota do outro. Fala-nos Niceto Zamora: “Os ataques da inveja são os únicos em que o agressor, se pudesse, preferia fazer o papel da vítima”. Monitorando sua pedagogia de ação, a inveja torna a pessoa agressiva. Seu veneno é tão sutil que quando atinge a pessoa todo o corpo dói. Terminamos com o alerta Alberto da Brescia: “O invejoso se queima por dentro e por fora”. Não engrosses a fila dos invejosos. Lute por seus objetivos com fé, amor, lealdade e, sobretudo, com honra. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP
É crescente a ladainha de murmurações que apontam para o declínio ético-moral e suas terríveis consequências na sociedade brasileira. Constatar essas decadências, em um quadro de análises pertinentes, com o propósito de buscar saídas e soluções é uma necessidade urgente. Mas, isso pouco ajuda quando os lamentos colorem de modo cinzento e triste a marcha cotidiana da sociedade. A chama da esperança se apaga, mata-se a vida, a baixa autoestima toma conta do povo que perde a capacidade de reagir, importante fator para sair da crise.
Um processo avassalador que compromete a cidadania e atrasa ainda mais a indicação de soluções e novas respostas. O que se vê, infelizmente, é o deprimente jogo da compra de influências, com dinheiro de origem duvidosa, tornando ainda mais submissos aqueles que já não têm credibilidade e força moral. Os projetos e as propostas, até as que tratam das inadiáveis reformas, quando pensados sob a lógica estreita da mesquinharia, surgem acompanhados de suspeitas, pois parecem manter a mesma dinâmica: desconsiderar os mais pobres e manter privilégios. Assim, perdem a força para sustentar uma sociedade justa e fraterna.
Aqueles que deveriam representar o povo se deixam seduzir pelo dinheiro, submetendo-se cegamente a esquemas e propósitos contrários ao bem comum. Negociam os interesses de uma nação inteira, a exemplo da passagem bíblica sobre a venda de José do Egito, como escravo, por seus irmãos. Sem piedade, defendem, votam e adotam procedimentos e legislações que não corrigem os descompassos. Contrariam o que deveria ser o compromisso de quem representa o povo, inviabilizando as dinâmicas de uma cultura que possibilite a construção de um Brasil novo e diferente. Somente uma nação que preze a civilidade, o equilíbrio e seja caracterizada por uma cidadania qualificada será capaz de superar os descalabros da corrupção e a violência, absurdamente crescente.
Mas o processo vicioso é que vem conduzindo a sociedade à interminável ladainha de lamentos e a reações inconsistentes, sem a força inventiva e sem o altruísmo necessários ao surgimento de iniciativas grandes e pequenas, nos âmbitos privados e públicos, com força para dar novos rumos ao Brasil. Desse modo, instala-se um clima do “salve-se quem puder”, que alimenta conflitos, exercícios governamentais medíocres, desempenhos norteados exclusivamente por interesses próprios.
A reação necessária com força para deter os abusos de poder, os golpes, o cala-boca imposto à sociedade por medidas e funcionamentos inadequados à necessária correção de rumos, é muito mais exigente do que apenas garantir eleições. As respostas e saídas para as estruturantes correções que precisam ser feitas estão muito além de quaisquer índices da economia e sua desejada retomada, ou da simples substituição de nomes e de cadeiras nos governos e nas casas legislativas. Nada disso tem a força transformadora que a sociedade brasileira precisa.
As soluções apontadas até agora, as saídas encaminhadas, as prospecções realizadas não apresentarão os resultados desejados enquanto cada cidadão não compreender que as grandes modificações e transformações devem começar na consciência de cada um. As pessoas pedem mudanças, mas não querem mudar. É preciso recordar a fonte de referência anterior aos interesses e seduções que submetem a pessoa ao dinheiro, ao egoísmo e à ganância. Urge chamar a atenção de todos para que compreendam o sentido profundo de sua origem e de seu destino, ou seja: o coração de Deus. Do Criador, o ser humano é imagem e semelhança. A semente de cada indivíduo é divina, de Deus se recebe o dom de viver.
Por Deus se entra na experiência humana da vida com o desafio de transfigurar o humano, adquirindo as feições amorosas e ternas do Deus da Vida. Vive-se para transfigurar o humano, dando a ele, nos gestos, palavras e atitudes, a expressão própria do glorioso e luminoso que está no Divino, de onde se vem e para onde se vai. Um entendimento na contramão da desfiguração crescente e decadente do humano, que reflete no rol das violências, dos roubos, das indiferenças, das incompetências configuradas na administração de processos, em que medíocres comandam, mesquinhos se agarram a lugares, obscurecidos continuam acomodados em sua nulidade, interesseiros e amigos do dinheiro não enxergam novos caminhos.
Assim, a clareza da própria origem divina, com o exercício permanente da consciência afetiva de que Deus é a referência insubstituível para a modulação ético-moral do próprio coração, configurando atitudes cidadãs, é o único ponto de partida possível, caminho e horizonte para transfigurar o ser humano. Quaisquer outras opções resultarão na perda da única fonte inesgotável do amor verdadeiro, no distanciamento do sustento que, em graça e consciência, garante o cumprimento, pelo ser humano, da tarefa de divinizar-se no amor de Deus. Esse é o único caminho para se transfigurar e não se desfigurar.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Fechando o mês de julho com chave de ouro, pudemos desfrutar de mais um “Festival da Música Cristã”, que além de reconhecer e valorizar os talentos musicais, estimula novos talentos, a criação e difusão da música cristã, como também a integração das igrejas cristãs na missão de evangelizar por meio da arte.
A História de todos os homens e de todos os tempos mostra que sempre se associou a ideia de culto à música. Desde os antigos pagãos até às religiões mais modernas, se viu na música algo de muito natural nas manifestações religiosas e ao mesmo tempo algo de tão acima do espírito humano, que colabora para o contato com a divindade.
O homem é religioso e a música facilita o seu contato com o Divino. No Antigo Testamento, como também no Novo Testamento, verifica-se em muitas passagens que a música é a expressão mais natural e espontânea para as emoções mais sublimes. É também a “linguagem mais adequada” das manifestações religiosas. Talvez por isso o Apóstolo aconselhe os fiéis que se reúnem em assembleia para aguardar a vinda do Senhor a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. Cl 3, 16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2, 46).
Para Santo Agostinho, “Cantar é próprio de quem ama” (Sermo 336). Enquanto Babel representa a “confusão” – fruto da ânsia em autoafirmação mediante o poder, a arrogância e a soberba (Gn 11,1-9) –, Pentecostes significa comunhão de todos que se entendem a partir de Cristo; é linguagem da unidade e do amor. Por meio do Festival da Música Cristã, a Pastoral da Comunicação na Diocese de Guanhães, unida à Rádio Vida Nova, Paróquias da diocese e tantos outros parceiros, junta comunicação e arte promovendo “a música” que se torna “a linguagem” em que todos se entendem (At 2,8): católicos e evangélicos unidos para o louvor a Deus, aguardando a vinda do Senhor; superando a ideologia doutrinária. “A doutrina une, enquanto a ideologia divide”, disse o papa Francisco na homilia de 19 de maio deste ano, “advertindo contra aqueles que transformam a doutrina em ideologia”, os fanáticos.
Aproveitamos para parabenizar nosso bispo, Dom Jeremias Antônio de Jesus, que celebrou o quinto ano de atividade na missão de pastorear o povo de Deus no território da Diocese de Guanhães.
Padre Bruno Costa Ribeiro,
no editorial de Agosto da Folha Diocesana
No ano de 2.012 aconteceu o primeiro Festival da Música Cristã da Diocese de Guanhães. Uma ideia que nasceu de uma conversa na garagem da casa paroquial entre o Pe. Saint-Clair e o Músico-Cantor Robertinho Zier. Era o desejo do novo! Um incentivo aos artistas anônimos que traziam no coração muita fé e o desejo de expressar a sua gratidão e o seu amor ao Deus Uno e Trino através de Louvores e Ações de Graças, fosse cantando, tocando um instrumento ou simplesmente compondo um poema. Eu ainda não tinha chegado nessas terras! Dom Marcelo Romano, então Administrador Diocesano, autorizou a realização do Festival.
Os anos passaram e, com a Graça do Bom Deus, chegamos à sexta edição do Festival! Com isso novos músicos, cantores e instrumentistas foram surgindo. O Festival foi tomando corpo e passou a ser um dos eventos mais aguardados na região. Músicos e cantores de muitos lugares, de perto e de longe, das Minas Gerais e dos outros estados, têm marcado a sua presença ao longo destes seis anos. E a cada ano uma novidade. Os mais diferentes gêneros musicais vão marcando a sua presença na música Gospel, de modo que os expectadores e os ouvintes que acompanham pelas ondas do rádio têm a oportunidade de conhecer o diferente. É um acento Soul ou Rock, Rap ou Samba, Axé ou MPB, Pop ou Forró. É a música moderna e contemporânea a serviço dos Louvores a Deus! Certamente, nosso Deus está muito feliz vendo tantos filhos Seus colocando em prática um dom tão precioso dado por Ele, que é cantar ou tocar um instrumento. Desejo ver também, quem sabe no próximo ano, um lírico ou um erudito, uma early music ou uma música étnica. Novos talentos virão por aí! Fiquemos na torcida, motivando e incentivando o novo!
O Festival da Música Cristã traz outro elemento igualmente importante, que é o Ecumenismo. As mais diversas Igrejas Cristãs se fazem presentes para prestigiar os seus talentos que vêm cheios de fervor e fé para louvar a Deus e o Seu Filho Jesus Cristo. Os nossos irmãos Pastores e seus fiéis evangélicos já deixaram e continuam deixando registrada a sua marca. São sempre bem-vindos! Seja a música e o louvor a nos unir cada vez mais, de modo especial neste ano que fazemos memória dos 500 anos da Reforma Protestante; oportunidade que temos para rever a história, refletindo os erros e os acertos, sempre em busca da unidade.
No Festival da Música Cristã o grande vencedor é o Deus Trindade e a Bem-Aventurada Virgem, Mãe de Jesus Cristo! Vencedores são todos os que se apresentaram no espaço da nossa Igreja Catedral! Vitoriosa é a música, como instrumento de louvor! Sabemos que muitos ficam tristes porque não foram contemplados com a vitória. Todos que se apresentaram são vencedores! Deus viu o seu esforço e sua dedicação! Parabéns! Parabéns e gratidão à Pascom, à Radio Vida Nova FM, aos Patrocinadores e Organizadores, às Paróquias e seus Párocos e à nossa Querida Diocese de Guanhães! Deus abençoe a todos!
+ Dom Jeremias Antonio de Jesus
Bispo Diocesano

Padre Saint Clair, um dos criadores e incentivador do Festival.

Dom Jeremias, bispo diocesano de Guanhães.
“O silêncio é um conselheiro, nunca decepciona”
(Côn. Manuel)
Jesus antes de chegar à grande oração do Pai Nosso, nos aconselhou: “Guardai-vos de praticar vossa religião diante dos homens para atrair os seus olhares” (Mt 6, 1). Em sua metodologia evangelizadora, diz o Senhor: “Quando orardes… entra no teu quarto fecha a porta e ora a teu Pai que está no Céu” (Mt 6, 5ss). O silêncio nos oferece todos os ingredientes para sabermos quem somos. Quem se apropria deste grande amigo, encontra segurança. Silêncio não é calar para agradar. Não é remoer uma frustração ou um ontem mal resolvido. Não é um ressentimento de um hoje que espera para dar o bote. Silêncio é a graça de pensar com calma. Refletir com maturidade. Abrir os caminhos da consciência. Valoriza os corredores dos sentimentos. Acalmar o coração. Com ele me encontro como gente. O silêncio nunca decepciona, é um conselheiro. Nele temos a maior resposta. É um grande terapeuta. Sua linha mestra nos dirige na mais persuasiva convincente sinfonia de dizeres tão acertados, que nem Beethoven, com seu grande dom para com a pauta musical, conseguiu ultrapassa-lo. Por isso, “o silêncio é um dos argumentos mais difíceis de rebater”, nos alerta Josh Billings. Esse grande amigo nas viagens da vida nos avisa: Nunca uses da brutalidade, da grosseria, ou de qualquer outro artefato para te defenderes. Oferece sempre como prêmio e grande maestria o silêncio de tua resposta. O santuário da consciência agradece.
Todos nós conhecemos as palavras do Evangelho de Lucas: “E Maria guardava todas estas coisas em seu coração” (Lc 2, 19). Na poltrona do silêncio, o diálogo nos convida a um elucidativo momento fugindo de todos os ruídos. Tudo que nos entope, levando-nos a uma obstrução, arrastando-nos a um entulho, parece dissolver-se quando a visita leve e suave do silêncio chega. Quantos esclarecimentos, dúvidas, novas luzes, nos abraçam neste momento proeminente da vida. Parafraseando Henry Thoreau somos levados a dizer: “O silêncio é a comunhão de uma alma consciente consigo mesma”. Este grande amigo envolve-nos numa confiança que só nossos sentimentos, consciência e coração, testemunham como ouvintes. Eis, pois, a grande maturidade do silêncio. O grande escritor Goethe, sem medo algum, nos acalenta de esperança quando diz: “É no silêncio que se educa o talento e na torrente do mundo o caráter”.
No agitado da modernidade pelos ventos da correria, defrontando-se com a velocidade da tecnologia, nosso mundo tornou-se uma pequena aldeia ajustando-se à conformidade dos rumores, ao bulício da vida. Esta dádiva, o silêncio, provavelmente, não combina com a realidade tão badalada embutida no mais eloqüente barulho e pressa que nos é acedido. Contudo, o silêncio para quem vivencia a verdade de seu valor, nos leva aos mais altos índices dos melhores diálogos que o ser humano possa ter. Já nos alenta Confúcio: “O silêncio é um amigo que nunca trai”. Quando tudo parece refutação, a angústia chega ao auge; quando as palavras se esgotam, o que se busca não se encontra, o silêncio se torna a melhor réplica. José Rodrigues Miguéis assevera: “Já tenho escrito que o meu silêncio é feito de gritos abafados. Mas a vida é apenas um arrendamento provisório, um parênteses entre dois insondáveis infinitos”. É isso mesmo, o silêncio sempre nos conduz a um bom caminho, a uma conclusão certa, um resultado que não machuque e, sobretudo, não deteriora a pergunta ferida. Deepak Chopra nos ensina: “Pratique o silêncio e você adquirirá um conhecimento silencioso. Neste conhecimento está um sistema computacional que é muito mais minucioso, preciso, poderoso do que qualquer coisa que esteja contida nas fronteiras do pensamento racional”. Faça do silêncio seu melhor amigo, sua melhor resposta e sua grande presença na realidade do teu Eu. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP

De 13 a 24 de junho acontece em Conceição do Mato Dentro, Diocese de Guanhães, o 230º Jubileu do Bom Jesus de Matozinhos. Novamente a colina onde está o Santuário estará coberta com centenas de barracas, tendas onde habitarão milhares de romeiros que acorrem anualmente ao Bom Jesus. As ruas estarão repletas de visitantes, vendedores ambulantes, barraqueiros… uma transformação total! O coração da Diocese passa a bater em Conceição; para ali acorrem padres e bispo com um só desejo: ajudar o povo de Deus a encontrar a Palavra, a Eucaristia, a Misericórdia… a Paz!
Essa festa que ultrapassa dois séculos faz-me lembrar a festa judaica de Sucót, a festa das Tendas ou dos Tabernáculos, que acontece em Tishrei, o sétimo mês do calendário hebreu, e está prevista no Levítico (23, 33-36.39-43). Durante oito dias nossos irmãos judeus saem de suas casas e passam a viver nas tendas construídas ao redor da moradia, recordando o tempo da longa travessia do deserto, ocasião em que habitavam em tendas pobres que mostravam o céu. Celebram também, em Sucót, a festa da colheita, e agradecem a Deus os frutos da terra, plantados e colhidos com seu trabalho; agradecem também pela água necessária nos campos, no uso doméstico e no bem-estar em geral. No fim dessa festa, como nos relata o evangelista João, o Bom Jesus disse à assembleia de fiéis: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba; aquele que crê em mim, do seu interior brotarão rios de água viva” (Jo 7, 37-38).
Os romeiros do Bom Jesus, como os judeus na festa das Tendas (sucót), não celebram simplesmente, de maneira rotineira, uma festa do calendário litúrgico, mas colhem, durante as liturgias, as incontáveis bênçãos do céu que se abre sobre os peregrinos e transborda com grande fartura sobre cada um.
O Jubileu do Bom Jesus é a festa mais antiga da Diocese de Guanhães. Começou em 1787, com ordem do Papa Pio VI. Essa festa tem raiz bíblica (Lv 25, 11; Lc 4, 18), e trata-se de um tempo de perdão das dívidas, perdão dos pecados, redistribuição das terras, etc. Tempo de ação de graças!
Quando os judeus, na Festa das Tendas, saem de suas casas confortáveis e passam a residir na tenda, estão a exercitar a humildade, estão a relembrar o quanto a nossa morada na terra é passageira. Os romeiros do Bom Jesus nem sentem o desconforto das barracas, o desnível do chão, o frio, o trabalho que dá para tomar banho. Tudo isso é nada diante da alegria de rever os companheiros de jubileu e, sobretudo, a graça de estar aos pés do Bom Jesus e receber as bênçãos d’Ele.
Durante os oito dias da Festa de Sucót, as ruas de Jerusalém ficam mais iluminadas do que em dias normais. O comércio e todos os setores da cidade entram em clima de festa, na espera das copiosas bênçãos que hão de se derramar do Altíssimo. Durante os onze dias do jubileu do Bom Jesus, as ruas de Conceição do Mato, sobretudo as do entorno do Santuário, se transformam para acolher tanta gente, vinda de tantos lugares diferentes. No último dia, o dia da bênção solene do Jubileu, as incontáveis velas formam um mar de luzes na colina do santuário, feito um extraordinário pentecostes. O cheiro maravilhoso do incenso recorda a presença de Deus Misericordioso a abençoar seus filhos e filhas, lembrando-nos que Ele habitou entre nós. Deus realmente armou sua tenda entre nós (João 1, 1-18).
Pe. Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas, em Belo Horizonte. E-mail: p. ismar@pucminas.br
“O maior homem do mundo é aquele que se coloca de joelhos diante do seu criador”
(Côn. Manuel)
A origem da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo remonta ao século XIII. Ela foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes, arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, que exigiam uma festa da Eucaristia no Ano Litúrgico. Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas em Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, em 1209, começou a ter ‘visões’, (que retratavam um disco lunar dentro do qual havia uma parte escura. Isto foi interpretado como sendo uma ausência de uma festa eucarística no calendário litúrgico para agradecer o sacramento da Eucaristia). Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de Liège, que 31 anos depois, por três anos, será o Papa Urbano IV (1261-1264), e tornará mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer. Diante deste quadro o Conselho Episcopal Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) após refletir sobre a realidade do Brasil em sua última reunião, dias 30 e 31 de maio, está convidado a todos para um momento de oração pelo Brasil, a ser realizada em todas as comunidades, paróquias, dioceses e regionais do país, no dia 15 de junho, data em que a Igreja celebra o Corpus Christi.
A ‘Fête Dieu’ começou na paróquia de Saint Martin em Liège, em 1230, com autorização do arcediago para procissão eucarística só dentro da igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia. Em 1247, aconteceu a 1ª procissão eucarística pelas ruas de Liège, já como festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica. A festa mundial de Corpus Christi foi decretada em 1264, 6 anos após a morte de irmã Juliana em 1258, com 66 anos. Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo Papa Clemente VIII. O decreto de Urbano IV teve pouca repercussão, porque o Papa morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas, como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada antes de 1270. O ofício divino, seus hinos, a seqüência ‘Lauda Sion Salvatorem’ são de Santo Tomás de Aquino (1223-1274), que estudou em Colônia com Santo Alberto Magno. Corpus Christi tomou seu caráter universal definitivo, 50 anos depois de Urbano IV, a partir do século XIV, quando o Papa Clemente V, em 1313, confirmou a Bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial. Em 1317, o Papa João XXII publicou esse Corpus Júris com o dever de levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.
O Concílio de Trento (1545-1563), por causa dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos que negavam a presença real de Cristo na Eucaristia, fortaleceu o decreto da instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Em 1983, o novo Código de Direito Canônico – cânon 944 – mantém a obrigação de se manifestar ‘o testemunho público de veneração para com a Santíssima Eucaristia’ e ‘onde for possível, haja procissão pelas vias públicas’, mas os bispos escolham a melhor maneira de fazer isso, garantindo a participação do povo e a dignidade da manifestação. A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: ‘Este é o meu corpo…este é o meu sangue… Fazei isto em memória de mim’ (Lc 19,22). Porque a Eucaristia foi celebrada pela primeira vez na Quinta-Feira Santa. O Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o domingo depois de Pentecostes. Com esta nossa pesquisa queremos demonstrar que o “maior homem do mundo é aquele que se coloca de joelhos diante do seu criador”. Quem conhece o repertório das canções, que evangelizam, do Pe. Zezinho encontra este pensamento, vale dizer: “por um pedaço de pão e um pouco de vinho”, que para nós cristãos é Jesus Cristo presente sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. São vários os textos bíblicos que testemunham a instituição da Eucaristia. Temos: Mt 26, 26-29; Mc 14,22-25; 1Cor 11, 23-26. A Igreja sentiu necessidade de realçar a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. Seja um apaixonado da Eucaristia. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof. do Seminário de Diamantina e PUC
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina (ALAD)
Membra da Academia Marial de Aparecida – SP
“Palavras são como o pêndulo do relógio, sempre trazem um novo tempo”
Tenho refletido nas palavras da Sagrada Escritura, a Bíblia, quando dizem: “Quando vos entregarem, não vos preocupeis em como ou o que falar” (Mt 10, 19) e ainda: “… não se preocupem com a forma pela qual se defenderão, ou o que dirão” (Lc 12,11-12) e, com segurança testemunha: “Permaneça em vós o que ouviste desde o princípio” (1Jo 2, 24). Ao ler o livro de Arcângelo R. Buzzi, Filosofia para Principiantes, deparei-me com este pensamento: “a linguagem sinaliza a realidade”. Acredito que aqui se concentra uma realidade que não é difícil se encontrar no nosso dia a dia. Ao decompor em suas partes a palavra sinalizar, observei que ela tem o objetivo de exercer a função de sinal. Comparando palavra e sinal, vi que, tanto uma como a outra, são necessárias ao ser humano. Andando por nossas estradas e ruas, vemos que existem, curvas e contracurvas, voltas e mais voltas. Na comunicação também é assim. Se devermos ter prudência nas estradas e ruas da vida, na comunicação não é diferente. Em qualquer estrada que transitamos, sempre encontramos a faixa contínua e a faixa pontilhada. A comunicação também tem estas faixas. A faixa continua diz que não devo ultrapassar, pois o perigo pode ser eminente. Quando falamos devemos ter em mente a faixa contínua. Não ofereça perigo para você e para os outros. Não ultrapasses acreditando que tudo vai dar certo. O perigo pode visitar sua consciência, sentimentos e coração. Quando pensamos que temos a maturidade da comunicação rodados na ‘quilometragem da vida’, cuidado, o perigo não escolhe seu ilustre visitante. Surpresas podem acontecer.
Nosso Arcebispo Metropolitano e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação de CNBB, Dom Darci José Nicioli, CSsR fez um pronunciamento / carta para motivar e bem celebrar com alegria o 51.º Dia Mundial das Comunicações. Diz Dom Darci José: “O Papa nos fala para comunicar a esperança e a confiança em nosso tempo. Eu sou filho de uma tradição da Vida Religiosa que tem as marcas de um intrépido comunicador do século 18, Santo Afonso Maria de Ligório. Ele era cuidadoso e considerava de fundamental importância a formação dos seus missionários. Formação humana e cristã. Eu creio que esse permanece sendo um ensinamento de grande valor: só conseguiremos comunicar a esperança se trouxemos uma expressão clara das razões mais profundas dessa mesma esperança! Por isso, nos cabe a tarefa, como comunicadores, de nos empenhar sempre, no estudo da Sagrada Escritura, do Magistério da Igreja e das belas expressões dos valores humanos presentes na literatura laica”. Com voz profética o Arcebispo de Diamantina assegura: “O painel diário montado pelas Grande Mídia, agora ampliado pelas Redes Sociais, nos leva a crer, facilmente, que no mundo só existem canalhas, ladrões, pilantras e hipócritas. A realidade não é esta. Precisamos denunciar essa fraude. Há uma riqueza humana enorme e majoritária sendo vilipendiada pela Mídia e quase ignorada nas principais manchetes … nós, comunicadores, precisamos prestar mais atenção nessas pessoas de bem ainda que não tenhamos delas declarações bombásticas e nem gestos de celebridades”.
Eis, pois, que nossa exposição quer visibilizar a faixa pontilhada legalizada na ultrapassagem da comunicação. É uma analogia, mas vale. Tenho visibilidade e, conseqüentemente, posso chegar ao destino do que quero comunicar. Quem já não ouviu a ‘celebre’ frase: “tenho que dirigir para mim e para os outros”. E eu. Será que inspiro toda a confiança ao outro? Nenhum motorista tem confiança no outro. Por quê? O que o outro tem de tão inteligente ou de perigo que me faz estar de alerta na confiança e na prudência? O outro também pensa isto de mim? Pois é. Quando comunicamos, nossa linguagem ‘pontilhada’, oferece condições para expressarmos nossas vontades. Mas, quem está na minha frente? Até com esta dose de liberdade, preciso ter prudência. Por que as coisas têm de ser assim? Será que a comunicação não está em suas mãos? Isto pode ser visto nas seguintes pessoas: as de estopim curto; as que não levam desaforo para casa e, sobretudo, as que sempre querem ter razão. A linguagem destas pessoas, a qualquer hora, pode ser contínua e pontilhada. Cuidado!
Quem já não encontrou buracos na estrada e, automaticamente, desvia a direção com a finalidade de evitar um acidente de menor ou maior proporção? Por muito eficazes que sejam os sinais, os buracos atestam mais nossa capacidade de dirigir e, como consequência, nossa atenção. Os (as) fofoqueiros (as) da vida são como as estradas com buracos. São o perigo sempre vigente. A ilustre e solene vibração com que passam um comentário, uma notícia, um acontecimento ou um fato, com a seriedade de seus conhecimentos, vislumbra a inteligência e sua astúcia. Frases, como estas, identificam estas pessoas: “estou passando as coisas como eu ouvi”; “não estou acrescentando nada”; “a pessoa que me contou é de confiança” e… tantas outras frases. Cuidado! Não atrase a viagem de sua vida ouvindo estas pessoas. Elas gostam de ver o “pneu” furado nos outros. O desejo delas é chegar primeiro, nem que para isso tenham que pisar quem lhes rodeia. Aconselho. Ame sua consciência. Seja fiel aos seus sentimentos, respeite seu coração. Sinalize sua comunicação. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP
“O que faz? O que faz? O que é? Quem pode participar?”
Leigos e leigas formam a grande parcela de cristãos que são chamados a viver a missão da Igreja na família e no meio do mundo. É para aprofundar sua vocação e missão na Igreja que lhe é destinada e também para entender melhor a sua identidade, o que é ser leigo, que os cristãos leigos e leigas se organizam em Conselho.
Os Conselhos de Leigos são organismos que buscam integrar os leigos e leigas dos movimentos, das pastorais, associações, inclusive os leigos e leigas que integram a organismos eclesiais (Políticos, profissionais liberais, intelectuais), daqueles que vivem sua vida comunitária numa paróquia ou comunidade, e dos que vivem sua fé cristã inseridos nas atividades da sociedade.
Os Conselhos de Leigos devem constituir-se como “sinal de comunhão e unidade”, “espaço de serviço”. Portanto, já na sua criação deve-se ter presente a importância do “acolhimento” a todos os segmentos leigos. Os Conselhos de leigos devem ser espaço para se trabalhar nossas diferenças, na busca do que temos em comum para o benefício de toda a Igreja.
A criação de um Conselho de Leigos e Leigas se dá de diversas formas, seja pela iniciativa do bispo diocesano, ou ainda pela disposição dos próprios leigos e leigas, que sentem a necessidade de se articularem para assim cumprir com mais eficácia sua missão batismal. Fonte: CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil.
Na Diocese de Guanhães, a iniciativa de se articular a criação do CONSELHO DIOCESANO DE LEIGOS partiu de dom Jeremias Antônio de Jesus, bispo diocesano.
De 21 a 23 de abril próximo, leigos e leigas da diocese participarão da Assembleia Geral Ordinária, convocada pela presidência do CNLB-Regional Leste II, em Teófilo Otoni. A Assembleia e Encontro têm como tema “Leigos e Leigas nos tempos de Francisco” e o lema “Somos chamados a cuidar da Casa Comum” e possuem os seguintes objetivos: a) Celebrar a caminhada do CNLB Regional Leste II e; b) Aprofundar o estudo e propor formas de atuação na Igreja e na sociedade dentro da perspectiva da Ecologia integral: as relações com Deus, com o próximo e com a Terra.
(Continua nas próximas edições)
Equipe de Articulação para a criação do Conselho Diocesano dos Leigos da Diocese de Guanhães.
“Eis aí a tua Mãe”
(Jo 19, 26)
Toda a Mariologia procede de um princípio fundamental baseado na Sagrada Escritura. O gesto mediante o qual Cristo confiou o discípulo à mãe e a mãe ao discípulo (Jo 19, 25-27) determinou uma relação estreitíssima entre Maria e a Igreja. A devoção e o culto mariano é um abandona-se aos planos de Deus, em Cristo, numa posição expressiva que indica relação com Maria. Por isso, a Igreja lhe dedica um culto todo especial, o da hiperdulia. A devoção a Maria favorece “a união imediata dos crentes com Cristo, ajudando a revelar, num certo modo, as supremas verdades da fé” (Lc 2, 19). A Igreja sempre nos ensinou que o culto que prestamos a Maria é um culto especial de veneração, hiperdulia. Sabemos que somente Deus é digno de culto e, somente a Ele são devidas as homenagens do homem e da mulher, como no-lo afirma São Paulo: “Só a Deus imortal, invisível e único sejam dadas honra e glória para todo o sempre. Amém” (1Tm 1,17). Todavia em homenagem ao mesmo Deus, honramos também os seus amigos mais queridos como os anjos e os santos. A esses, nós tributamos um culto de afetuosa servidão e devoção. Tal culto é chamado dulia, ou seja, simples serviço e veneração. É um testemunho da excelência dos santos, vale dizer, favor, serviço, benevolência, que lhes prestamos. Maria é “espelho” na qual se espelham de modo mais límpido “as grandes obras de Deus” (At 2,11). Daqui podemos entender que Maria, desde a sua adesão ao projeto de Deus, abraçou a obra do Filho e vem, insistentemente, derramando sobre a Igreja sua proteção maternal. Tanto Paulo como os evangelistas, procuram evidenciar a pessoa de Maria, não obstante o espaço a Ela dedicado.
Maria está presente nos momentos decisivos da vida de Jesus, desde a Encarnação até o da cruz. A função salvífica da sua maternidade divina e a santificação pessoal em Maria coincidem perfeitamente, de modo tal que a figura de Maria, em chave teológica, pode ser plenamente resumida na fórmula: Maria é a redimida de modo mais perfeito. Neste sentido, Maria na Igreja é venerada com um culto especialíssimo e mais solene do que se presta aos anjos e santos. É um culto de amorosa e filial reverência, que Jesus mesmo lhe prestou, por primeiro, aqui na terra, como no-lo afirma o evangelista Lucas: “Jesus voltou com José e Maria para Nazaré e lhes obedecia em tudo. Sua Mãe guardava todas as suas palavras em seu coração” (Lc 2,51). Através dos séculos, a Igreja, com amor sempre crescente, continuou a prestar-lhe esse culto que chamamos de hiperdulia, ou seja, de serviço e veneração preferencial. Desta proposição se deduzem os demais títulos marianos. Desde remota época a Igreja professa que Maria é sempre virgem. Esta verdade pertence ao patrimônio da fé. A Igreja, ao celebrar os mistérios da redenção, venera os santos, pela sua participação no mistério de Cristo. Entre estes santos sobressai de maneira única Maria, a Mãe de Deus e Nossa, pela direta ligação que tem com Jesus Cristo, seu Filho. Por isso, a dimensão do culto de hiperdulia na Igreja existe em virtude do lugar singular que a Virgem ocupa no coração dos cristãos. Além dos cultos de dulia e hiperdulia, temos o de Latria, que compete unicamente a Deus e que se manifesta, principalmente, no reconhecimento de Deus como Supremo Senhor, em atos de adoração e no sacrifício.
Com esta explicação é fácil entender o culto a Maria no mês de maio. Esta nossa devoção, aliás, muito brasileira, consagrou, desde antigos tempos, o mês de maio ao culto a Nossa Senhora, Mãe da Igreja. Esta prática de devoção sempre foi motivo para muita gente se aproximar de Deus. Em nossas paróquias vemos grupos de vizinhos que se juntam para rezar o terço. Como é bonita esta devoção. Com esta prática religiosa vemos com clareza o que diz Pe. Zezinho: “Quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus”. Nos estudos e reuniões de grupo, hoje tão em voga nas paróquias, não se poderia aproveitar o mês de maio para estudar, conhecer e imitar Nossa Senhora? Enfim, não se pode omitir a tradicional e consagrada prática do Rosário de Nossa Senhora, oração popular que convém a todos e sempre recomendada pelos Papas. No término desta reflexão, gostaria de fazer uma referência toda particular à coroação de Nossa Senhora. É costume em muitos lugares fazer o encerramento do mês de maio com a festa da Coroação de Nossa Senhora. Nossas paróquias conservam esta tradição com muito esmero e carinho. O que vemos é uma homenagem singela, muito querida das crianças, que em procissão cantam, levam flores e expressam sua gratidão pelo amor materno de Maria. Podemos aprender com as crianças. Que nossas homenagens a Maria sejam sempre formas de culto de veneração a Maria. Que nossas procissões, ladainhas, novenas e coroações procurem inserir Maria Santíssima no mistério de Cristo e da Igreja. Maria é a chave para captar o sentido das coisas de Deus. Através do SIM de Maria à proposta divina de se humanizar, a ligou definitivamente a toda a humanidade. Maria faz parte do patrimônio da Revelação. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP