A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Ao celebrar a Solenidade da Santíssima Trindade, contemplaremos a ação de Deus Uno e Trino que é amor, família, comunidade e nos convida a participar deste Mistério pleno de amor. Trata-se, portanto, de uma impressionante e incomparável história de amor.
Na primeira Leitura (Ex 34,4b-6.8-9), Deus se manifesta a Moisés estabelecendo uma Aliança, revelando Sua verdadeira face, com desproporcional misericórdia, que é infinita, ilimitada: Deus Se revela cheio de amor, bondade, ternura e de fidelidade incondicional, clemente, compassivo, lento para a ira e rico em misericórdia.
Espera que o Povo que lhe pertence corresponda com escuta atenta, comunhão e intimidade através da oração, da escuta de Sua Palavra, tão somente assim, ouvindo Sua voz, teremos a vida pautada pelos Seus valores, e poderemos vencer os desafios. É preciso, quotidianamente, subir ao Monte da Aliança para fortalecer esta comunhão.
Reflitamos:
– Experimentamos a presença do Deus de amor, bondade, ternura, misericórdia, fidelidade e comunhão em nossa vida de fé?
– De que modo vivemos esta Aliança de amor com Deus?
Na segunda Leitura (2 Cor 13,11-13), o Apóstolo Paulo nos apresenta Deus que é comunhão, família, envolvendo-nos nesta dinâmica de amor, o que aparece claramente em suas palavras, que se tornaram uma das fórmulas litúrgicas de saudação, no início da Missa: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor e do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”.
Diante das dificuldades, tensões e conflitos vividos, o Apóstolo pede para que os membros da comunidade sejam alegres e não desistam na busca da perfeição, fortalecendo os vínculos fraternos, com mesmos sentimentos, vivendo em harmonia, uma vez que pertencem à família Trinitária.
Devido à esta pertença, o relacionamento dos membros deverá refletir o amor, a ternura, a misericórdia, a bondade, o perdão e o serviço.
Reflitamos:
– Sentimo-nos como membros da comunidade pertencentes à família Trinitária?
– Somos e vivemos como família de Deus?
– Os relacionamentos de nossa comunidade refletem o que acima foi mencionado?
– De que modo acolhemos e vivemos a saudação acima citada (graça, amor e comunhão)?
Na passagem do Evangelho (Jo 3,16-18), contemplamos o amor de Deus por nós, enviando Seu filho único ao mundo, que em pleno cumprimento do Plano do Pai, fez de Sua vida total doação, até a morte, e morte de Cruz, a fim de que tenhamos vida plena e definitiva. Verdadeiramente uma história de amor que revela a imensidão do coração de Deus, que tanto nos ama.
O Evangelista é abismado na contemplação do amor de um Deus que não hesitou em enviar ao mundo o Seu Filho Único, a fim de oferecer à humanidade a salvação, vida plena e definitiva.
A passagem está contida na conversa de Jesus com Nicodemos apresentada em três etapas ou fases, tratando-se da terceira, na qual Jesus descreve o Projeto de salvação divina, que Ele realiza por Sua morte na Cruz, e com Sua exultação:
“Esse Homem que vai ser levantado na Cruz, veio ao mundo, encarnou-Se na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto numa Cruz. A Cruz é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega” (1).
De fato, a Cruz é “a expressão suprema do amor de Deus pelos homens” (2). A vinda do Filho único ao encontro dos homens é o cumprimento de dois objetivos:
– libertar a humanidade da escravidão, da alienação, da morte. A morte de Jesus na cruz revela que a vida definitiva, encontramos na obediência aos planos do Pai e no dom total da própria vida;
– veio porque o Pai nos ama e quer a nossa salvação: veio oferecer vida definitiva, ensinando-nos a amar sem medida, e comunicando-nos o Espírito, que nos transforma em novas criaturas.
Deste modo temos responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna, pois podemos aceitar a proposta de Jesus, com adesão a Ele e recebendo Seu Espírito, vivendo no amor e na doação; ou ficarmos escravos de esquemas de egoísmo e autossuficiência, que excluem a possibilidade de salvação.
Em resumo, Deus enviou o Seu Filho único ao mundo, porque ama a humanidade, e esta oferta nunca é retirada, e continua aberta e à espera de nossa resposta:
“Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação” (3).
Reflitamos:
– Nossa comunidade dá testemunho do amor Trinitário?
– Como acolho a Proposta de Deus?
– Como nossas famílias vivem o amor Trinitário?
Finalizemos com esta afirmação de Santo Agostinho: “Deus é tão inexaurível que quando encontrado ainda falta tudo para encontrá-Lo”.
De fato, todo aprofundamento da ideia de Deus equivale a um novo nascimento, porque o Mistério de Deus não é um Mistério de solidão, mas de convivência, criatividade, conhecimento, amor, doação e recebimento, e por isto, somos o que somos, como vemos no Missal Dominical:
“Quem quer viver com Deus não se encontra diante de uma conclusão, mas sempre diante de um início novo como cada dia”.
(1) (2) (3) www.Dehonianos.org/portal
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em
http://peotacilio.blogspot.com/2020/06/santissima-trindade-misterio-de-amor-e.htm
“Assim como o Pai Me enviou, também
Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo”
Com a Solenidade de Pentecostes, celebraremos o nascimento da Igreja e acolhida do Espírito Santo para acompanhá-la, conduzi-la e assisti-la em sua missão.
O Espírito Santo é o Dom dado por Deus a todos que creem, comunicando vida, renovação, transformação, possibilitando o nascimento do Homem Novo e a formação da Comunidade Eclesial – a Igreja.
Com sua presença a Igreja testemunha a vida e a vitória do Ressuscitado, nisto consiste a missão da comunidade: assim o realizar com a presença e ação do Espírito Santo, que é a fonte de todos os dons, que devem ser postos a serviço de todos e não para benefício pessoal, como nos asseguram as Leituras proclamadas: At 2,1-11; Sl 103; 1 Cor 12, 3-b-7.12-13; Jo 20,19-23.
Lucas, na primeira Leitura, nos apresenta a comunidade que nasce do Ressuscitado, que é assistida pelo Espírito e chamada a testemunhar a todos os povos o Projeto Libertador do Pai.
A Festa de Pentecostes que antes era uma festa agrícola (colheita da cevada e do trigo), a colheita dos primeiros frutos, ganhou novo sentido, tornou-se a festa histórica da celebração da Aliança, da acolhida do dom da Lei no Sinai e a constituição do Povo de Deus. Mas, o mais belo e verdadeiro sentido que nos leva a celebrar é a acolhida do Espírito Santo, como já mencionamos.
A primeira Leitura ainda nos permite contemplar o grande Pentecostes cinquenta dias após a Páscoa. O Espírito é apresentado em forma de língua de fogo, que consiste na linguagem do amor. Verdadeiramente a língua do Espírito é o amor que torna possível a comunhão universal.
Caberá à comunidade construir a anti-Babel, a humanidade nova, que pauta a existência pela ação do Espírito que reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.
Reflitamos:
– Somos uma comunidade do Ressuscitado?
– Nossa comunidade é marcada por relações de amor e partilha?
– Empenhamo-nos em aprender a língua do Espírito, a linguagem do Amor?
– Qual é o espaço do Espírito Santo em nossas comunidades?
– Temos sido renovados pelo Espírito, orientando e animando nossa vida por Sua ação e manifestação?
– Somos uma comunidade que vive a unidade na diversidade, com liberdade e respeito?
Na segunda Leitura da Carta de Paulo aos Coríntios, o Apóstolo nos fala de uma uma comunidade viva, fervorosa, mas com partidos, divisões e rivalidades entre os seus membros, e até mesmo certa hierarquia de categoria de cristãos.
Também aponta à importância da diversidade dos carismas. Porém, um só é o Senhor, um só é o Espírito do qual todos os dons procedem.
Insiste na unidade da comunidade como um corpo, onde todos têm sua importância, sua participação, cientes de que é a ação do Espírito que dá vida ao corpo de Cristo, fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e é fonte da verdadeira unidade.
Afasta-se com isto toda possibilidade de prepotência e autoritarismo dentro da Igreja.
“O dom do Espírito habilita o crente batizado a colocar as suas qualidades e aptidões ao serviço do crescimento e da vitalidade da Igreja.
Ninguém é inútil e estéril na Igreja quando se deixa guiar pelo Espírito de Deus que atua para o bem de todos.
O único obstáculo à ação vivificadora do Espírito é a tendência a considerar os seus dons como um direito de propriedade e não um compromisso ao serviço e à partilha recíproca” (1)
Reflitamos:
– Verdadeiramente, o Espírito Santo é o grande Protagonista da ação evangelizadora da Igreja?
– Colocamos com alegria os dons que possuímos a serviço do bem da comunidade e não a serviço próprio?
O Evangelista João nos apresenta a manifestação do Ressuscitado e a Sua presença que enriquece a Igreja reunida com o dom da paz, da alegria e do Espírito Santo para gerar relações de perdão que cria a humanidade nova.
Mais uma vez voltamos à mensagem fundamental: a comunidade deve romper os medos, as incertezas, as inseguranças, pois o Ressuscitado entra, mesmo que as portas estejam fechadas. Nada pode impedir Sua ação, coloca-se no centro, pois somente Ele deve ser o centro de nossa vida e de nossa comunidade.
E ainda mais: não adoramos um Deus em que as Chagas Dolorosas tiveram a última palavra, mas adoramos ao Deus das Chagas Vitoriosas do Ressuscitado. A vida venceu a morte, e n’Ele e com Ele somos mais que vencedores.
Ó maravilha indescritível saber que podemos contar com a ação e o sopro do Espírito Santo!
Ó maravilha incontida saber que podemos contar com a força e a defesa do Espírito Santo em nossa missão evangelizadora!
Ó maravilha inesgotável do sopro rejuvenescedor do Espírito Santo; que não permite o envelhecimento e a perda da vitalidade da Igreja por Cristo fundada, e por amor continuamente na Eucaristia alimentada!
Ó maravilha imerecida de continuar a missão do Ressuscitado com a força do Espírito; de sermos Suas autênticas testemunhas.
Ó maravilha poder participar dos Mistérios sagrados da Igreja, que aos poucos se nos revelam como maravilhoso Mistério incandescente; Mistério da presença da Chama viva de Amor revelada pelo Espírito Santo de Deus: não vimos Jesus Ressuscitado, não O tocamos, mas n’Ele cremos, Sua Palavra anunciamos, em Sua Vida e presença em nosso meio acreditamos, a força e a vida nova do Espírito continuamente experimentamos.
Ó maravilha a Solenidade de Pentecostes que celebramos!
Ó alegria transbordante que vemos jorrar em nossos corações!
Alegremo-nos e exultemos no Senhor Ressuscitado que nos comunica o Seu Espírito para maior fidelidade ao Projeto de vida e de Amor do Pai.
(1) Lecionário comentado – Tempo da Páscoa – pág. 660.
Dom Otacilio F. Lacerda
No dia 24 de maio de 2020, na Festa da Ascensão do Senhor, como de praxe, celebramos também o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais, e fomos agraciados com a mensagem do Papa Francisco, que tem como inspiração bíblica a passagem do Livro do Êxodo “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2), e tendo como título “A vida se faz ‘história’”.
O Papa nos convida a valorizar as histórias boas, as que edificam e não aquelas que destroem; aquelas que ajudam a reencontrar a as raízes e a força para prosseguirmos juntos.
Na primeira parte, fala-nos da necessidade de tecermos histórias: o homem é um ente narrador, e desde pequenos, temos fome de histórias, assim como de alimento (romance, fábula, filme, canção, uma simples notícia).
Como um ente narrador, porque em devir: descobre-se e enriquece-se com as tramas dos seus dias.
No entanto, alerta para o fato que, desde o início, a nossa narração está ameaçada: na história, serpeja o mal.
Na segunda, parte fala-nos das histórias que nem sempre são boas, portanto há o necessário cuidado.
Assim, já encontramos nas primeiras páginas do Livro de Gênesis – “Se comeres, tornar-te-ás como Deus” (cf. Gn 3, 4); e ainda – “Se possuíres…, tornar-te-ás…, conseguirás…”.
Hoje é o que se chama de “storytelling” – histórias para fins instrumentais; que por vezes nos narcotizam, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir.
Tornam-nos desejosos de bisbilhotices e envolvidos em intrigas, fomentadores de violência, falsidade e ódio.
Em nada contribuem para a solidificação dos laços sociais e o tecido cultural, pois se produzem histórias devastadoras e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência.
No entanto, estas histórias utilizadas para proveito próprio ou ao serviço do poder têm vida curta. Ao contrário, uma história boa é capaz de transpor os confins do espaço e do tempo: à distância de séculos, permanece atual, porque nutre a vida.
Chama-nos a atenção para outro conceito (o deepfake): numa época em que se revela cada vez mais sofisticada a falsificação, atingindo níveis exponenciais, precisamos de sapiência para patrocinar e criar narrações belas, verdadeiras e boas.
É preciso coragem para rejeitar as histórias falsas e depravadas, e valorizar as histórias boas; bem como precisamos de paciência e discernimento para descobrir histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras lacerações de hoje; que tragam à luz a verdade daquilo que somos, mesmo na heroicidade oculta do dia a dia.
Na terceira parte, fala-nos da História das histórias: a Sagrada Escritura, e nela, encontramos tantas vicissitudes, povos, pessoas…
Ela nos revela um Deus que é simultaneamente criador e narrador, como vemos desde as primeiras páginas e perpassando todos os demais Livros da Sagrada Escritura:
“A Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus.
Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu”.
Destaca o Livro do Êxodo, em que se fundamenta a mensagem:
“Para que possas contar e fixar na memória do teu filho e do filho do teu filho (…) os meus sinais que Eu realizei no meio deles. E vós conhecereis que Eu sou o Senhor”» (Ex 10, 2).
Fundamental foi a experiência do Êxodo, pois nos ensinou que o conhecimento de Deus se transmite sobretudo contando, de geração em geração, como Ele continua a tornar-Se presente – “O Deus da vida comunica-Se, narrando a vida”.
Fundamental são os Evangelhos (narrações) que nos apresentam Jesus, que falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias.
Deste modo, a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida, de tal forma que a narração entra na vida de quem a escuta e a transforma.
Na quarta parte, fala-nos de “uma história que se renova”:
A história de Cristo não é um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o homem, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer homem, carne e história.
Sendo assim, não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas, e cada história humana tem uma dignidade incancelável, e por isto, a humanidade merece narrações que estejam à sua altura, àquela altura vertiginosa e fascinante a que Jesus a elevou.
Citando Paulo – “Vós «sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações” (2 Cor 3, 3), recorda-nos que o Espírito santo, o amor de Deus escreve em nós.
Urge reler as histórias de tantas pessoas que deixaram belos exemplos e que nos inspiram, como apêndices do Evangelho: as Confissões de Agostinho, o Relato do Peregrino de Inácio, a História de uma alma de Teresinha do Menino Jesus, os Noivos prometidos (Promessi sposi) de Alexandre Manzoni, os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoevskij… e inumeráveis outras histórias.
“Cada um de nós conhece várias histórias que perfumam de Evangelho: testemunham o Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas, feitas viver em todos os tempos, com todas as linguagens, por todos os meios”.
Na parte final, fala-nos da “história que nos renova”:
Juntamente com a Sagrada Escritura, o conhecimento das histórias dos Santos e outros textos que souberam ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, e contar com o Espírito Santo para narrar a Deus nossa história, sob seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros:
“A Ele podemos narrar as histórias que vivemos, levar as pessoas, confiar situações. Com Ele, podemos recompor o tecido da vida, cosendo as rupturas e os rasgões. Quanto nós, todos, precisamos disso!”
Envolvidos pelo amor de Deus escrevemos nossa história, não como mero figurante no palco do mundo, porque a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança:
“Mesmo quando narramos o mal, podemos aprender a deixar o espaço à redenção; podemos reconhecer, no meio do mal, também o dinamismo do bem e dar-lhe espaço”.
Convida-nos a confiar a uma Mulher, que teceu a humanidade de Deus no seio, e o fez conjuntamente tudo o que Lhe acontecia: ela soube guardar e meditar tudo em seu coração (cf. Lc 2, 19).
Maria pode nos ajudar a “desatar os nós da vida com a força suave do amor”, e a ela eleva esta oração:
“Ó Maria, mulher e mãe, Vós tecestes no seio a Palavra divina, Vós narrastes com a vossa vida as magníficas obras de Deus.
Ouvi as nossas histórias, guardai-as no vosso coração e fazei vossas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensinai-nos a reconhecer o fio bom que guia a história.
Olhai o cúmulo de nós em que se emaranhou a nossa vida, paralisando a nossa memória. Pelas vossas mãos delicadas, todos os nós podem ser desatados.
Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspirai-nos também a nós. Ajudai-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indicai-nos o caminho para as percorrermos juntos”.
Para ler a mensagem na integra, acesse:
Postado por Dom Otacilio F. de Lacerda em:
http://peotacilio.blogspot.com/2020/05/sintese-da-mensagem-para-o-54-dia.html
“O Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de
receber, porque não O vê nem O conhece”
No 6º Domingo da Páscoa (ano A), a Liturgia nos convida a contemplar a proximidade e paternidade de Deus, que não nos deixa órfãos.
A presença divina é sempre discreta, mas de eficácia tranquilizadora na história da Igreja. O que Jesus disse aos discípulos, num contexto de despedida, tornou-se uma verdade para sempre – “Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós” (Jo 14,18).
Na passagem da primeira Leitura (At 8,5-8.14-17), vemos a ação da comunidade cristã testemunhando a Boa Nova de Jesus, numa presença libertadora e salvadora da vida humana.
A mensagem é explícita: O Espírito Santo somente se manifestará e atuará se a comunidade se propuser a viver uma fé integrada, numa família de irmãos que se reúnem em comunhão com o Pai e o Filho:
“Para que uma comunidade se constitua como Igreja, não basta uma aceitação superficial da Palavra, nem manifestações humanas (por muito impressionantes que sejam).
Ao mesmo tempo, é preciso que qualquer comunidade cristã tenha consciência de que não é uma célula autônoma, mas que é convidada a viver a sua fé integrada na Igreja universal, em comunhão com a Igreja universal.
Toda a comunidade que quer fazer parte da família de Jesus deve, portanto, acolher a autoridade e buscar o reconhecimento dos pastores da Igreja universal. Só então se manifestará nela o Espírito, a vida de Deus” (1)
A passagem da segunda Leitura (1Pd 3,15-18) é uma exortação para que a comunidade permaneça confiante, apesar das hostilidades e dificuldades encontradas. É ocasião favorável para o testemunho sereno da fé, num autêntico amor, até mesmo pelos seus perseguidores, assim como o próprio Cristo, que fez da Sua vida um dom de Amor a todos:
“Os cristãos devem, também, estar sempre dispostos a apresentar as razões da sua fé e da sua esperança – isto é, a dar testemunho daquilo em que acreditam (vers. 15b).
No entanto, devem fazê-lo sem agressividade, com delicadeza, com modéstia, com respeito, com boa consciência, mostrando o seu amor por todos, mesmo pelos seus perseguidores.
Dessa forma, os perseguidores ficarão desarmados e sem argumentos; e todos perceberão mais facilmente de que lado está a verdade e a justiça (vers. 16).
Os cristãos devem, ainda, em qualquer circunstância – mesmo diante do ódio e da hostilidade dos perseguidores – preferir fazer o bem do que fazer o mal (vers. 17)”. (2)
A comunidade dos que creem em Deus deve pautar a vida pela lógica de Jesus e não pela lógica do mundo, fazendo a doação da vida, por amor, alcançando assim, a glória da Ressurreição. Deve manter viva a confiança, a alegria, a fidelidade, a esperança…
No Evangelho (Jo 14,15-21), numa ceia de despedida, Jesus assegura aos discípulos, inquietos e assustados com Sua eminente partida para junto do Pai, a vinda do Paráclito.
Sua missão será conduzir a comunidade em direção à verdade, à comunhão cada vez mais profunda, íntima e intensa com Ele. Tão somente assim a comunidade se tornará a morada de Deus no mundo, no fiel testemunho da Salvação oferecida por Deus à humanidade.
Vivendo o Mandamento do Amor, permanecerão com Ele, e junto do Pai enviará o Defensor, o Paráclito:
“Se me amais, guardareis os meus Mandamentos, e Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: O Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não O vê nem O conhece” (Jo 14, 15.17a).
Após a missão de Jesus, caberá ao Paráclito assistir a comunidade que dará continuidade a esta:
“Enquanto esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os, protegeu-os, defendeu-os; mas, a partir de agora, será o Espírito que ensinará e cuidará da comunidade de Jesus.
O Espírito desempenhará, neste contexto, um duplo papel: em termos internos, conservará a memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando os discípulos a interpretar esses ensinamentos à luz dos novos desafios; por outro, dará segurança aos discípulos, guiá-los-á e defendê-los-á quando eles tiverem de enfrentar a oposição e a hostilidade do mundo.
Em qualquer dos casos, o Espírito conduzirá essa comunidade em marcha pela história, ao encontro da verdade, da liberdade plena, da vida definitiva”. (3)
Renovemos a alegria de continuar a missão de Jesus, contando com a força e presença do Paráclito, do Espírito Santo, que conduz, ilumina, orienta, fortalece a Igreja, como tão bem vamos celebrar, em breve, na Festa de Pentecostes.
Também hoje a Evangelização coloca à nossa frente desafios, provações, inquietações. Não podemos estacionar, menos ainda recuar no testemunho da fé. Dar razão da esperança é preciso, pois Deus habita em nós e na Sua Igreja.
A razão de nossa esperança passa necessariamente pela qualidade do testemunho do nosso amor, que torna válida, frutuosa a nossa fé, fecundando o mundo novo, como instrumento da realização do Reino por Jesus inaugurado.
(1) (2) (3) www.Dehonianos.org/portal
Dom Otacilio F. Lacerda
A travessia é possível!
Temos o Sopro do Espírito
Retomo um trecho do “Tratado sobre a Trindade” (séc IV), do Bispo Santo Hilário, cuja memória celebramos, com toda a Igreja, no dia 13 de janeiro.
“… Apesar de ser esta a única manifestação da minha vontade, é preciso suplicar o auxílio de Vossa misericórdia. Desfraldando as velas da nossa fé e do nosso testemunho, vinde enchê-las com o Sopro do Vosso Espírito, e orientai-nos no caminho da pregação que iniciamos. Pois não nos faltará Aquele que prometeu: Pedi e vos será dado. Procurai e achareis. Batei e a porta vos será aberta (Mt 7,7).”
Primeiramente, ressalto a sua súplica, o auxílio da misericórdia divina. O que seria de nossa miséria humana sem a misericórdia divina. Cada vez mais a humanidade precisa reconhecer sua condição de criatura diante do Criador que é fonte de bondade, ternura e misericórdia. Um mundo que prescinda de Deus e de Sua misericórdia mergulha num abismo absurdo de escuridão e da falta de sentido para a vida.
– Por que muitos se afastam da felicidade?
Inevitavelmente, o afastamento de Deus é a perda da própria felicidade, do sentido mais profundo do existir que dEle procede e para Ele retorna.
Por isto no Sermão da Montanha (Mt 5,1-12) Ele nos apresentou o Projeto da autentica felicidade, que não coincide com a felicidade que o mundo oferece. E, diz textualmente que se permanecermos nEle teremos a felicidade plena (Jo 15).
Dando um passo em suas palavras – “desfraldando as velas de nossa fé e testemunho”. Usando uma metáfora, a vida é como um barco em permanente travessia. Viver movidos pela fé que não dispensa o testemunho, aliás, para que tenhamos sua autenticidade que sejam apresentadas as obras, o testemunho, a coerência, os fatos. A esterilidade da fé é diretamente proporcional à ausência do testemunho.
É tempo de darmos testemunho de nossa fé, que aliada às outras duas virtudes (esperança e caridade) serão imperativos de uma vida marcada por um salutar testemunho de santidade e santificação.
Santificamo-nos quando santificamos o outro, bem como nos santificamos quando o outro e seus apelos e clamores não ficam sem nossa resposta solidária (fome de: pão, amor, alegria, paz, respeito, dignidade).
Bem diferente do senso comum de santidade que muitas vezes se confunde no distanciamento do mundo, e deste modo acontece lamentavelmente a omissão de compromissos inadiáveis com o próximo, no qual consiste a verdadeira adoração a Deus.
A súplica necessária vem em seguida: “vinde encher com o Sopro do Teu Espírito” as velas da fé e do testemunho.
– O que seria de nossa fé e testemunho sem o Sopro do Espírito?
– Quantas vezes nos sentimos cansados nesta longa travessia e o Sopro do Espírito preenche todo o nosso ser?
E, assim, de súplica em súplica, o Sopro do Espírito enche a vela de nossa fé nos levando bem mais longe, até que um dia alcancemos a margem da eternidade.
É por causa do Sopro do Espírito que a vela de nosso testemunho segue levantada, garantindo travessia segura, não obstante os desafios quotidianos, inquietações, provações.
É por causa deste mesmo Sopro que damos testemunho de nossa fé com coragem e mansidão, cultivando, no mais profundo de nosso ser, a certeza de que nunca estamos sós.
É por causa deste mesmo Sopro que não recuamos, não submergimos nos mares das dificuldades inerentes à condição humana.
É por causa deste vital Sopro do Espírito que acordamos e fazemos de cada aurora a esperança de que um novo mundo há de acontecer. Cremos no novo céu, impelidos pelo Sopro do Espírito. Cremos que com o Sopro do Espírito nossa barca, apesar das agitações, seguirá até o seu porto final.
É por causa desta presença que não perdemos a consciência de onde viemos, por onde nos movemos e somos e para onde rumamos.
A vida é uma longa travessia que somente alcançará o seu êxito se não prescindirmos do Sopro do Espírito.
É preciso ter fé, é preciso testemunhar,
mas sempre com o Sopro do Divino Espírito.
Supliquemos e Ele nos será concedido! Amém!
P Dom Otacilio F. Lacerda
Sejamos cristãos alegres, corajosos, convictos a caminho do céu, vivendo no tempo presente a nossa fé em Jesus Cristo, que nos conduz ao Pai, com a força, presença e ação do Seu Espírito.
No 5º Domingo da Páscoa (ano A), a Liturgia nos convida a refletir sobre a missão da Igreja, que nasce de Jesus na fidelidade ao Pai, é vivificada com a presença e ação do Espírito Santo, continuando o caminho que é o próprio Jesus: Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).
Na passagem da primeira Leitura (At 6,1-7), Lucas nos fala do testemunho da Igreja de Jerusalém nos apresentando alguns aspectos que dão identidade a ela: uma comunidade santa, embora formada por pecadores, num contínuo processo de conversão, procurando viver a fidelidade apesar das falhas e dificuldades.
Possui uma organização hierárquica com a responsabilidade de conduzir e orientar a direção da comunidade, favorecendo o diálogo e a participação consciente, ativa e frutuosa.
Uma comunidade de servidores que colocam em comum os dons de Deus recebidos.
Finalmente, uma comunidade criada, animada e dinamizada pelo Espírito Santo, para que dê testemunho de Jesus Cristo Ressuscitado.
Na passagem da segunda Leitura (1 Pd 2,4-9), nos é apresentado o fundamento, a Pedra Angular, a Pedra principal da Igreja que é Jesus Cristo, no qual os cristãos são pedras vivas.
Como Igreja se constitui um povo sacerdotal, com a missão de viver uma obediência incondicional aos planos do Pai, no amor aos irmãos, e nisto consiste o verdadeiro culto agradável a Deus.
Deste modo, a Igreja precisa crescer na fé para alcançar a Salvação, vencendo todas as dificuldades, hostilidades, incompreensões e perseguições, consciente de sua missão no testemunho do Ressuscitado, com a força vivificante do Espírito Santo, infundida no coração dos discípulos.
Como comunidade da Nova Aliança, a Igreja precisa oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus e, como Povo de Sacerdotes, ofertar uma vida santa, vivida na entrega a Deus e no dom da vida aos irmãos, com amor total e incondicional, superando todo medo em total fidelidade e confiança em Deus.
A comunidade não pode se contentar com um “verniz” cristão que a torne indiferente a todos os problemas que cercam a vida humana.
Sendo Cristo o fundamento da Igreja, e o amor o distintivo dos cristãos, a missão da Igreja será colocar-se em todos os âmbitos, profeticamente, como instrumento da vida plena e definitiva.
Na passagem do Evangelho (Jo 14,1-12), a comunidade continua a missão de Jesus, no anúncio e testemunho do Evangelho, como homens novos, com vida em plenitude, porque integrados à Família Trinitária: Pai, Filho e Espírito Santo.
A passagem retrata um contexto de despedida de Jesus, e com isto Ele quer deixar no coração dos discípulos uma palavra de confiança e esperança, para que não se desviem e nem abandonem a caminhada com Ele iniciada: Ele vai para o Pai e garante a todos que O seguirem o mesmo destino, ou seja, a glória da eternidade.
A comunidade, acolhendo o Espírito que Ele enviará do Pai, viverá na obediência e fidelidade a Deus, em total entrega de amor e serviço ao outro.
No entanto, para fazer parte de Sua família é preciso que os discípulos vivam esta total obediência a Deus, trilhando o Caminho que é o próprio Jesus que ama até o fim, porque de fato, cristãos são os que se põem a caminho. Não se pode viver uma fé instalada, acomodada, e tão pouco conceber possíveis recuos, pois “a fé começa pelos pés”.
Sejamos cristãos alegres, corajosos, convictos a caminho do céu, vivendo no tempo presente a nossa fé em Jesus Cristo, que nos conduz ao Pai, com a força, presença e ação do Seu Espírito.
Celebrando mais um Domingo neste Itinerário Pascal, renovemos em nosso coração, o Amor de Deus infundido em nós pela ação do Espírito, para continuarmos com os pés firmes neste Bom Caminho que nos conduz aos céus, à comunhão plena e eterna de Amor: Céu.
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
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No IV Domingo da Páscoa (Ano A), o Dia do Bom Pastor, que é o próprio Jesus e também Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
A Liturgia nos apresenta, na primeira Leitura, uma passagem dos Atos dos Apóstolos (At 2, 14a.36-41), um discurso catequético sobre a atitude correta para que se acolha a proposta de Salvação que Deus nos faz, por meio de Jesus Cristo.
Professar a fé em Cristo, o Bom Pastor, requer conversão, para que se viva o Batismo como vida nova: adesão, seguimento, acolhida do Espírito Santo para deixar recriar, vivificar e se transformar por esta presença divina em nós.
A conversão (metanoia) é consequência de ter sentido “pontadas no coração”, a aflição e o remorso por ter feito algo contrário à justiça.
A “metanoia” implica na atitude que conduz ao arrependimento. É o primeiro passo para a mudança de vida:
“É a atitude de quem reconhece a verdade das acusações que lhe são imputadas, de quem admite os seus erros e limitações e de quem está verdadeiramente disposto a reequacionar a vida, a corrigir os esquemas errados que têm orientado, até aí, a sua existência […]
Significa a mudança radical da mente, dos comportamentos, dos valores, de forma a que o coração do crente se volte de novo para Deus […]
É a renúncia ao egoísmo e a autossuficiência, e o aceitar a proposta de Salvação que Deus faz através de Jesus. Implica o acolher Jesus como o Salvador e segui-Lo, no caminho do amor, da entrega, do dom da vida.” (1)
Por isto, dirigem a pergunta a Pedro e aos outros Apóstolos: “O que havemos de fazer, irmãos?” (At 2,37).
Ao que Pedro responde – “Convertei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos vossos pecados. E vós recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2, 38).
Receber o Batismo implica no desejo de conversão, desejo de receber o Espírito Santo: optando por Cristo, acolhendo-O no coração, de modo que a vida daquele que crê ganha um dinamismo divino, e a cada instante é recriado, vivificado e transformado.
Deus, que deseja nossa mudança, acredita no bom propósito de nossa conversão. É preciso tomar consciência dos caminhos errados que possam ter sido trilhados, da ausência de sentido em certas opções que se tenha feito…
A “metanoia” nos pede atitude corajosa, porque é mais fácil viver comodamente instalados, na autossuficiência, do que com humildade reconhecer os erros, “dar o braço a torcer”.
A “metanoia” exige a eliminação dos preconceitos mais diversos, de esquemas mentais; admissão das falhas, limites e incoerências que marcam a condição humana. E trata-se de um processo ininterrupto.
Na passagem da segunda Leitura (1 Pd 2, 20b-25), Pedro nos diz como deve agir aquele que segue o Bom Pastor, respondendo à injustiça com o amor, ao mal com o bem.
O contexto vivido pela comunidade na década de 80 era de perseguição, dificuldades, hostilidade por parte daqueles que defendiam a ordem romana:
“O autor da carta conhece perfeitamente a situação de debilidade em que estas comunidades estão e prevê que, num futuro próximo, o ambiente se vá tornar menos favorável ainda.
Recorda, pois, aos destinatários da carta, o exemplo de Cristo, que sofreu e morreu, antes de chegar à Ressurreição. É um convite à esperança: apesar dos sofrimentos que têm de suportar, os crentes estão destinados a triunfar com Cristo; por isso, devem viver com alegria e coragem o seu compromisso batismal.” (2)
Jesus é o modelo para os que creem, conduz e guarda a todos que n’Ele confiam. O cristão segue e testemunha a fidelidade a este Jesus que sofreu sem culpa e que suportou os sofrimentos com Amor, rejeitando absolutamente o recurso da violência, com total mansidão, porque tão somente o amor gera a vida nova e transforma o mundo:
‘Ele sofreu (v. 21) sem ter feito mal nenhum (v. 22); maltratado pelos inimigos, não respondeu com agressão e vingança (v. 23); pelo dom da Sua vida, eliminou o pecado que afastava os homens de Deus e uns dos outros (vs. 24); por isso, Ele é o Pastor que conduz e guarda os crentes (v. 25)’” (3)
A passagem do Evangelho nos diz que Jesus é o Bom Pastor que conduz a humanidade às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas de onde brota vida em plenitude (Jo 10,1-10).
A imagem do Bom Pastor, que nos remete ao Livro do Profeta Ezequiel (Ez 34), é a mensagem catequética de que a promessa de Deus se cumpriu em Jesus Cristo. O Bom Pastor, esperado e prometido por Deus, agora presente no meio da humanidade.
Esta presença é recusada pelas autoridades de Seu tempo (cf. c. 9), quando Jesus cura o cego de nascença.
As autoridades religiosas não somente preferiram continuar nas trevas da autossuficiência, como também impediram o Povo que lhes foi confiado de descobrir a luz libertadora que Jesus tinha para oferecer:
“Jesus não usa meias Palavras: os dirigentes judeus são ladrões e bandidos (cf. Jo 10,1), que se servem das suas prerrogativas para explorar o povo (ladrões) e usam a violência para o manter sob a sua escravidão (bandidos).
Aproximam-se do Povo de Deus de forma abusiva e ilegítima, porque Deus não lhes confiou essa missão (“não entram pela porta”): foram eles que a usurparam. O seu objetivo não é o bem das “ovelhas”, mas o seu próprio interesse”. (4)
Diferentemente, Jesus estabelece com as pessoas uma relação pessoal de Amor e proximidade. Suas ovelhas reconhecem a Sua voz e O seguem, porque encontram segurança, liberdade e vida definitiva.
Jesus não somente caminha diante das ovelhas, mas Se fez o próprio Caminho (Jo 14, 6).
Estabelece uma relação de respeito à dignidade de cada um, à sua individualidade. Relaciona-Se de forma humana, tolerante, amorosa e que também deve ser vivida pelo Seu rebanho, no cumprimento do Mandamento do Amor a Deus e ao próximo, de tal modo que se possa dizer: “tal Cristo, tal Pastor…”, numa coerência entre o crer, pregar e viver.
O rebanho reconhece a Sua voz e não se deixa seduzir pelo “canto da sereia”.
Jesus também diz que Ele é a “Porta”, e quem por ela entrar será salvo. Passar por esta “Porta” é encontrar a liberdade desejada e a vida em plenitude, numa total e incondicional adesão a Ele e seguimento até o fim, acolhendo e vivendo a Sua proposta, numa vida marcada pela doação, entrega e serviço por amor.
Ao celebrarmos o Dia do Bom Pastor, renovemos a alegria de pertencermos ao rebanho do Senhor, com maior solicitude e fidelidade à Sua Voz para que nos empenhemos no caminho da santidade a serviço no mundo e na Igreja.
Oremos:
“Deus eterno e Todo-Poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza do Pastor. Por N. S. J. C. Amém”.
(1) (2) (3) (4) www.Dehonianos.org/portal
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
http://peotacilio.blogspot.com/2020/05/a-fraqueza-do-rebanho-e-fortaleza-do.html
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O rosto do Deus Pastor
Contemplemos o rosto do Deus Pastor:
“O caminho da vida é longo e repleto de insídias, assemelha-se, por vezes a um’ vale escuro’. Eis então que aparece um outro rosto de Deus, mais frequente e familiar aos homens do Antigo Testamento e da Bíblia, profundamente abrangente também para nós hoje: é o rosto do Deus Pastor.
O Senhor guia-nos, assiste-nos no fatigante caminho da vida, conduz-nos para verdes prados, para águas refrescantes, reza o salmista/orante (Sl 23), exprimindo a sua firme confiança na atuação de Javé em seu favor”. (1)
Insídias, armadilhas, ciladas, ou dito de outra forma, nós a serem desatados, caminhos obscuros a serem percorridos, em meio às incertezas e inquietações próprias do existir, fazem parte do enredo da vida de cada um.
É no viver este enredo, no desfazer dos nós, enfrentando situações adversas e aparentemente intransponíveis que, com a graça de Deus e com o Amor do Deus Pastor, não sucumbimos nem entregamos os pontos.
Deus Bom Pastor nos ilumina com Sua Palavra, a Sagrada Escritura, e nos sacia e nos revigora com o Corpo e Sangue presentes na Eucaristia, real presença de Deus que Se faz Verdadeira Comida e Verdadeira Bebida.
Como é bom saber que Deus nos conduz para águas tranquilas, verdes pastagens, como tão bem expressou o Salmista, e com ele rezamos.
Da mesma fora, que a luz de Deus irradia mais forte, quanto mais escuro for o vale por que passamos.
Bem se diz que, no auge da noite, começa a brilhar a luz de um novo dia.
Que a Luz de Deus continue iluminando nossos caminhos, e continuemos experimentando a força da Palavra divina, que nos liberta de todas as amarras, ciladas e insídias.
Rezemos o Salmo 91, que nos coloca em total confiança em Deus, que jamais nos desampara, jamais deixa de voltar Seu Rosto de Amor para nós, porque estamos para sempre em Seu Coração.
É próprio do Amor de Deus carregar-nos em Seu Coração, Fornalha ardente de Amor.
Que seja próprio também a cada um de nós sentir e corresponder a este amor, testemunhando ao mundo a força inovadora deste amor, revelando a verdadeira face de Deus Pastor, um Deus de Amor.
(1) Lecionário Comentado p. 772.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
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Comprometidos com o Bom Pastor
Somente n’Ele está a nossa Salvação!
A fé e a razão no coração e na
mente das “ovelhas” do Bom Pastor…
O Missal Dominical nos propõe, para o Domingo do Bom Pastor, uma reflexão, que tem como título e fio condutor: “Somente no nome de Jesus Cristo está a nossa Salvação”,.
“O mediador único da Salvação é Jesus de Nazaré. Todos os outros títulos só servem para qualificar o Nome de Jesus, “Deus salva”. Deus salva a humanidade no homem Jesus, em quem Se encontram a total disponibilidade e fidelidade da criatura com a “benevolência” e o Amor do Criador e Pai.
A pessoa (o nome) do Homem-Deus, perfeito acabamento da salvação, traz em Si o apelo à plenitude de vida e de amor que todo homem deseja, e a resposta, isto é, o cumprimento. […]
A exigência da “Salvação” se faz sentir hoje com urgência em toda a nossa civilização. Depois dos otimismos exuberantes do século passado, que viam na ciência, então em seus primeiros passos, uma promessa de Salvação para todos os males do homem, nossos contemporâneos se tornaram mais cautelosos.
A ciência como, aliás, todas as realidades humanas, revelaram sua face ambígua. Ainda hoje existem os que esperam a salvação da ciência, da economia, da técnica, da projeção estatística e da “futurologia”. Mas seu número é cada vez mais escasso, seu otimismo cada vez mais condicionado.
Todos os humanismos ateus insistem unicamente no homem e em seu esforço por obter a salvação. Mas sua atitude termina em dois estados de espírito: a presunção ou o desespero.
A presunção de Prometeu, que escala os céus e desafia os deuses, arrebatando-lhes o fogo sagrado. O desespero de Sísifo, que considera inútil sua longa fadiga, vão seu esforço. E então se esgota num cinismo cético e pessimista, renunciando à esperança. […]
O cristão sabe que só há Salvação em Cristo. Ele é o único Salvador. Em nenhum outro e em nada mais há Salvação: nem na ciência nem na técnica, na economia ou na arte. Somente em Cristo. E não é uma Salvação parcial, puramente “espiritual”. Atinge o homem em sua, globalidade, liberta-o e o salva interiormente para que se possa libertar e salvar também em todas as outras dimensões de seu ser, individual e social.
Salvação do homem todo. Salvação de todos os homens. Salvação que tem sua garantia de êxito na Páscoa do Senhor. O Vaticano II diz que os sacerdotes, para iniciar o povo na vivência do Mistério Pascal de Cristo, devem aprender a procurá-lo na meditação fiel da Palavra de Deus, na participação ativa dos Mistérios da Igreja, no bispo e especialmente nos pobres, pequeninos, enfermos, pecadores e incrédulos”
Mais uma vez aparece a clara relação que deve existir entre a fé e a razão. Uma não pode prescindir da outra.
Jamais a Igreja negou a contribuição das ciências para responder os apelos, desafios, limites da condição humana; para superação de obstáculos, que roubam a beleza e a dignidade da vida.
Nada enriquecedor para o desenvolvimento da História, que Deus começou a escrever desde o Éden até a Jerusalém Celeste, que tanto desejamos, o ignorar da ciência.
Do mesmo modo, nada enriquecedor será a idolatria à ciência, do saber, prescindindo do Absoluto, do Princípio e Fim da História e da Humanidade: Jesus Cristo. Ele é, de fato, a nossa Salvação; somente em Seu Nome está a nossa Salvação.
Nisto consiste contemplarmos Jesus Cristo como o Bom Pastor, que dá a vida pelo Seu rebanho. O Bom Pastor não Se alegra com um rebanho sem vida.
Não tenho dúvida de que, como discípulos do Bom Pastor, devemos desenvolver todo saber técnico, científico, para tornar a vida mais bela, mais conforme os desígnios divinos.
Cada vez mais olhar para o Paraíso, não com olhares nostálgicos, mas com olhar de esperança e compromisso de um novo tempo, de um novo céu e nova terra: “Não tenhamos saudades do Paraíso, mas compromissos múltiplos e incansáveis com ele”.
Não sejamos discípulos de Prometeu, não mergulhemos no desespero “prometeico”, que nos condenaria à presunção. Não temos porque escalar os céus e desafiar a Deus, roubando-lhe o “fogo”.
Somos criaturas, Ele o Criador. A nós cabe, com Ele e por Ele, fazer mais bela a vida, como co-criadores, prolongando a Obra da Criação que foi iniciada, mas jamais concluída.
Está em nossas mãos recriar o mundo ou destruí-lo. Amar a vida, desde sua concepção até seu declínio, ou violá-la, maculá-la, fragilizá-la, vilipendiá-la. Estão em nossas mãos, mente e coração, o livre arbítrio e o sadio uso da razão.
Não sejamos discípulos de Sísifo, não mergulhemos no desespero “sísifico”, vendo o trabalho como algo enfadonho, como se nada do que é feito trouxesse resposta aos anseios humanos; seria a própria morte da esperança, uma vida sem horizontes e sem sentido.
Que neste Tempo Pascal, sob a luz e ação do Espírito, fonte da Divina Sabedoria, tenhamos sede do saber, mas tenhamos também a sede de uma fé mais concreta, sólida, edificante, frutuosa.
Razão e fé, em sábia e sadia relação, nos farão mais Pascais, mais autênticas testemunhas do Cristo Ressuscitado, pois somente n’Ele a nossa Salvação.
Urge que a Palavra de Deus continue a arder em nosso coração, que não sejamos lentos de inteligência para compreensão dos Mistérios de Deus, e que nossos olhos se abram, em cada Banquete Eucarístico, para ver a proximidade do outro, a proximidade do Reino.
Façamos também de cada Encontro Eucarístico, um encontro com o Senhor. Que Sua Palavra e em Sua Presença, Viva e verdadeira, na Eucaristia, nos façam mais eucarísticos. E, assim, sigamos “eucaristizando” o mundo, na mais bela e perfeita Comunhão das Mesas: da Palavra, da Eucaristia e do cotidiano. Aleluia!
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
http://peotacilio.blogspot.com/2020/05/comprometidos-com-o-bom-pastor.html
“… Como o Pai me enviou, também eu vos envio. E,
depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20, 21-22)
Uma reflexão à luz do Evangelho proclamado no segundo Domingo da Páscoa
(Jo 20,19-31), a fim de que acolhermos com alegria e fecundidade o envio do Espírito Santo para nos animar e nos conduzir na ação evangelizadora:
Com o Espírito Santo, renovamos nossa fidelidade a Jesus, que morreu na Cruz para fazer morrer o pecado e o mal, porque a luta entre o bem e o mal continua na terra e no coração de cada um de nós, e os ‘desejos da carne’ e ‘os desejos do espírito’ ainda não acabaram de lutar.
Com o Espírito Santo, neste combate que não dá tréguas, combatemos como homens livres e bem armados, porque o Defensor, pelo Senhor prometido, o Advogado, o Paráclito nos protege da sedução dos desejos que conduzem à morte.
Com o Espírito Santo, como as primeiras comunidades, somos uma comunidade de discípulos missionários, que persevera assiduamente na Doutrina dos Apóstolos, na Comunhão Fraterna, na Fração do Pão e na Oração, num só coração e numa só alma; de modo que podem exclamar ao nos vir: “Vejam como eles se amam”.
Com o Espírito Santo, somos curados, iluminados, fortalecidos, consolados, guiados, para sermos uma Igreja serva e servidora, sinal da Salvação para o mundo, participando da construção do Reino, para que todos tenham uma vida plena e feliz.
Com o Espírito Santo, testemunhamos o Senhor Jesus que está glorificado junto ao Pai; e como discípulos missionários, podemos compreender e viver Seus ensinamentos, transmitidos pelos Apóstolos e guardados fielmente pela Sua Igreja.
Com o Espírito Santo, somos impelidos, como Igreja, a sair dos muros do medo, e anunciar, com alegria e coragem, ao mundo inteiro, a Boa-Nova do Reino, com a necessária abertura do coração e do espírito à Escritura Sagrada, cuja luz nos orienta nas situações mais díspares e até inéditas.
Com o Espírito Santo, que em nós faz morada, renovamos nossa fidelidade ao Pai Misericordioso, que tanto nos ama, como sinais e testemunhas de Jesus Cristo, o Amado Filho, realizando a promessa e o penhor de participação na Sua Ressurreição, sem medo, covardia ou omissão.
Com o Espírito Santo, que nos abre as portas da misericórdia divina e reúne os crentes numa comunidade de pecadores perdoados e amados, somos mais entrelaçados pelos laços da fraternidade, formando e fortalecendo uma paróquia, comunidade de comunidades.
Com o Espírito Santo, Fonte inesgotável de juventude, realiza-se a comunicação de múltiplos carismas para o bem e benefício da Igreja e de todo o mundo, pois o Espírito sopra onde quer e renova todas as coisas: com a Morte e Ressurreição do Senhor, as coisas antigas passaram.
Com o Espírito Santo, continuamos a árdua e permanente Missão, pelo Senhor a nós confiada, construindo o Seu corpo na unidade, anunciando o Evangelho a toda a terra, pela força da pregação e do testemunho, a serviço da vida plena para todos.
Com o Espírito Santo, revigoramos nossas forças em cada Eucaristia, como um grande Pentecostes, fazendo Memória da Missão do Espírito Santo revelada por Jesus, precisamente, “quando chegou a hora de passar deste mundo para o Pai.”
Com o Espírito Santo, prometido por Deus há muito tempo, mergulhamos na amplitude do Mistério celebrado na Solenidade de Pentecostes, somos iluminados e aquecidos, pelo fogo do amor que consumiu e transformou repentinamente o coração dos Apóstolos; e impelidos e assistidos na divina missão.
Com o Espírito Santo, que jamais nos deixou órfãos, como prometera o Senhor, renovamos, hoje e sempre, a alegria de sermos discípulos missionários do Reino de Deus. Amém. Aleluia! Aleluia!
PS: Fonte inspiradora: Missal Quotidiano Dominical e Ferial – pp. 859 e 865
Dom Otacilio F. Lacerda
Enriquecidos pelos dons do Ressuscitado
Sejamos enriquecidos pelo Sermão de São Basílio de Selêucia (séc. V), que nos apresenta a indescritível benignidade de Cristo, que cumulou a Sua igreja de inumeráveis dons.
“Aquela inefável benignidade de Cristo para conosco cumulou a Sua Igreja de inumeráveis dons. Cristo, magnífico em Sua sabedoria e poderoso em Suas obras, resgatou-nos da antiga cegueira da lei e isentou a nossa natureza do protocolo que nos condenava com suas cláusulas.
Na cruz, triunfou sobre a serpente, origem de todos os males. Abateu o aguilhão da temível morte e renovou com a água, não com o fogo, aos que se encontravam extenuados pela antiguidade do pecado. Abriu as portas da Ressurreição.
Aos que estavam excluídos da cidadania de Israel, os converteu em cidadãos e familiares dos santos. Aos que eram alheios às promessas da aliança, confiou-lhes os mistérios celestiais. Aos que careciam de esperança, concedeu-lhes a torrente do Espírito, como dom de salvação.
Aos ímpios e sem Deus deste mundo, os converteu em templos da Trindade. Aos que em outro tempo estavam longe devido à conduta e não pelo lugar, pela mentalidade e não pela distância, pela religião e não pela região, os acolheu mediante o salutífero lenho, abraçando aos dignos de desprezo. (…)
Quando você tiver saído do erro, Ele te redimirá e terá compaixão de ti. Na realidade, na Cruz alcançou o triunfo sobre os pecados de todos nós, sepultou nas místicas águas do Batismo nossas vestes de injustiça e precipitou na profundeza do mar todos os nossos pecados.
Pensa na fonte do santo Batismo e proclama a graça, pois o Batismo é a suma de todos os bens, a expiação do mundo, a instauração da natureza, uma correção acelerada, uma medicina sempre disponível, uma esponja que limpa as consciências, um vestido que não envelhece com o tempo, entranhas que concebem virginalmente, um sepulcro que devolve a vida aos sepultados, uma caverna que engole os pecados, um elemento que é o mausoléu do diabo, é selo e baluarte dos selados, fonte que extingue a Geena, convite para a mesa do Senhor, graças dos mistérios antigos e novos vislumbrada já em Moisés, glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
No segundo domingo da Páscoa, celebrando “O Domingo da Misericórdia”, retomar este Sermão nos leva a contemplar quão infinita é a misericórdia divina e quão imenso é Seu amor para conosco.
Contemplemos o Ressuscitado glorioso, que se revela e nos da a graça de sentir Sua presença, comunicando-nos a Paz e o Seu Espírito, enviando-nos em missão.
Contemplemos o Seu amor por nós, o Mistério de Sua Paixão Morte e Ressurreição, e as graças que nos foram concedidas como tão bem expressou São Basílio de Selêucia.
Contemplar e viver a graça do Batismo, a graça que nos foi alcançada pela Morte e Ressurreição do Senhor, como templos do Espírito Santo, para viver a filiação divina.
Contemplar, viver e testemunhar a graça do Batismo, sendo sal da terra e luz do mundo; sacerdotes, profetas e reis…
Contemplar, viver, testemunhar e celebrar no altar do Senhor a graça de sermos discípulos missionários Seus, numa Igreja que não se fecha em suas portas, mas rompe as pedras e põe-se corajosamente em saída, como nos exorta permanentemente o Papa Francisco.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Dom Otacilio F. de Lacerda
A fé que se torna missão”
Com a Liturgia do 2º Domingo da Páscoa (ano A), também chamado de “Domingo da Misericórdia”, à luz da Palavra de Deus, refletimos sobre o papel da comunidade cristã como lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo Ressuscitado: na Palavra proclamada, no pão partilhado, no amor vivido e no corajoso testemunho dado.
A comunidade de homens novos, que nasce da Cruz e da Ressurreição de Jesus, a Igreja, continuará a missão do Senhor: comunicar a vida nova que brota de Sua Ressurreição.
Na primeira leitura (At 2, 42-47), Lucas retrata os primeiros passos da comunidade cristã, assídua nos Ensinamentos dos Apóstolos, na Comunhão Fraterna, na Partilha do Pão e na Oração – quatro pilares básicos de uma autêntica comunidade, para que ela seja viva e frutuosa, na doação e serviço em favor dos irmãos, anunciando ao mundo a Salvação que Jesus veio trazer.
Nesta passagem, é como se Lucas nos oferecesse um “Raio-X” de nossas comunidades, percebendo sua estrutura, o que precisa ser reforçado, para que este retrato da comunidade não seja apenas saudosismo, mas um desafiador projeto a ser realizado, numa autêntica evangelização, no anúncio da Boa-Nova aos pobres, em empenho sincero de sua libertação, fazendo acontecer o urgente Ano da Graça do Senhor, como nos exorta o Evangelista Lucas (Lc 4, 16-21).
A comunidade precisa perseverar e cuidar destes pilares:
Ensinamentos dos Apóstolos:
Formação bíblica, teológica, doutrinal, Documentos da Igreja, Escola de Ministérios, subsídios diversos disponíveis, livros dos grupos de reflexão, plano de pastoral, e tantos outros meios pelos quais hoje podemos favorecer a formação doutrinal, aprofundamento da Palavra de Deus.
Comunhão Fraterna:
É muito mais que um abraço, um canto de paz na Missa ou culto dominical, é a solidariedade concreta com os empobrecidos, através de diversas Pastorais e Serviços dentro e fora das comunidades, como tão bem nos é proposto nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil – CNBB (2015-2019).
Eucaristia ou Fração do Pão:
A Celebração Dominical na qual Deus Se faz nosso Alimento e nos fortalece pela Sua Palavra. Quando celebramos nossa vida, com suas alegrias e tristezas, angústias e esperanças, em busca de novos horizontes para que o Reino de Deus aconteça.
A Eucaristia é, verdadeiramente, o ponto alto e a fonte de toda a nossa vida. A Eucaristia edifica a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia, como nos falou o Papa São João Paulo II.
Oração:
Individual, familiar e comunitária. Trinta minutos, ao menos por dia, como nos exortou um grande Bispo da Igreja do Brasil (D. Pedro Casaldáliga).
A Oração muito mais do que uma reza sistemática, rotineira, é um diálogo profundo com o Eterno que habita em cada um de nós. É colocar-se no colo de Deus, ser beijado e acariciado pelo mesmo e, se preciso, levar um “puxão de orelha” para nossa orientação… A Oração é diálogo no aparente silêncio de Deus.
Reflitamos:
– Como vivenciamos as dimensões acima apresentadas?
– Eucaristia celebrada e na vida prolongada. Como relacionamos a Eucaristia que celebramos com o nosso quotidiano?
A segunda leitura é uma passagem da Carta de São Pedro (1Pd 1,3-9), dirigida aos cristãos das cinco províncias romanas da Ásia menor.
A Carta tem como objetivo ajudar a manter firme a fé, esperança e a caridade. É preciso viver na solidariedade, alegria, coerência e fidelidade à adesão feita ao Cristo Ressuscitado: identificarmo-nos com Jesus, Aquele a quem amamos, sem O termos visto, pois Ele é o Cristo, que por amor se entregou ao Pai em favor de todos nós. Se assim também o fizermos, chegaremos, com Ele, à Ressurreição.
É preciso nas contrariedades manter a esperança, confiando no amor de Deus, que nos envolve e nos impulsiona, para que jamais recuemos no testemunho da fé, no revigoramento da caridade, nas virtudes divinas, que nos movem permanentemente.
Na passagem do Evangelho (Jo 20,19-31), Jesus Se manifesta vivo e ressuscitado, e Se apresenta como o centro da comunidade cristã, comunicando: a paz (plenitude de bens) e o Espírito, para que os Apóstolos continuem a Sua missão.
A mensagem explicita a centralidade de Cristo na comunidade e esta, por sua vez, é a testemunha credível da vida do Ressuscitado no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o Pão de Jesus partilhado e os compromissos com a justiça e a vida nova.
O Ressuscitado, rompendo as portas fechadas, onde os Apóstolos se encontram por medo dos judeus, disse-lhes: “A paz esteja convosco”. Nada mais pode impedir a ação do Ressuscitado.
É o primeiro dia da semana, é o tempo da nova criação alcançada pelo Ressuscitado, por isto guardamos o Domingo como o Dia do Senhor, para adorá-Lo e encontrá-Lo, de modo especial na comunidade: Cristo presente na comunidade de modo especialíssimo na Palavra e na Eucaristia.
Na primeira parte, Jesus saúda com o “shalom”: harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, plenitude dos dons à comunidade, de modo que a ela nada falta, pois o Ressuscitado Se faz presente.
E a comunidade será portadora desta Boa-Nova, empenhada na tríplice harmonia dos seres humanos com o Criador, com a própria criatura e com o cosmos.
Os Apóstolos são instrumentos da paz, da vida nova, da comunhão a ser vivida com Deus e com o próximo: shalom!
Quando reaprende a amar, a comunidade capacita-se para a missão de paz, e então se torna sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.
A não vivência ou a recusa do amor impede que a paz aconteça… Paz que nos é dada como dom divino, compromisso humano inadiável.
Acolhendo o “sopro da misericórdia divina”, a comunidade não terá o que temer, porque não é enviada sozinha, mas com a força e a vida nova que nos vem do Santo Espírito – “E Jesus soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo”
A segunda parte, é o itinerário feito por Tomé, ausente na primeira vez em que Jesus apareceu aos Apóstolos, e depois, quando presente, faz a grande profissão de fé: ”Meu Senhor e meu Deus”.
Tomé é proclamado bem-aventurado porque viu e tocou as Chagas gloriosas do Ressuscitado, e Jesus nos diz que felizes são aqueles que creram sem nunca terem visto, nem tocado (Jo, 20-29).
Tomé toca exatamente onde nascemos e nos nutrimos: no coração de Jesus, do qual jorrou Água e Sangue: Batismo e Eucaristia.
Esta é uma mensagem essencialmente catequética, que nos convida a renovar hoje e sempre a nossa fé: somos felizes porque cremos sem nunca termos visto nem tocado.
A experiência vivida por Tomé não foi exclusiva das primeiras testemunhas do Ressuscitado, e pode ser vivida por todos os cristãos de todos os tempos. Hoje, somos convidados a fazer esta mesma experiência.
Reflitamos:
– Creio na presença de Jesus Ressuscitado na vida da Igreja?
– Sinto a presença e ação do Ressuscitado em minha vida?
– Jesus Ressuscitado possui centralidade em minha vida?
– Jesus Ressuscitado ocupa o lugar central em minha comunidade?
– Como vivo a missão, por Ele, a mim confiada?
– Tenho acolhido o sopro do Espírito na missão vivida?
– O que tenho feito para que a paz, mais que sonho e desejo, se torne realidade?
– O Domingo é, de fato, para mim o Dia do Senhor, do encontro com o Ressuscitado, para escutá-Lo na comunidade, reconhecê-Lo e comungá-Lo quando Ele Se dá no Pão partilhado, na Eucaristia?
– Como tenho prolongado, em minha vida quotidiana, a ação e vida do Ressuscitado, a Eucaristia celebrada?
Urge que a fé na Ressurreição do Senhor, faça transbordar de alegria nosso coração.
Oremos:
“Ó Pai, que no Dia do Senhor reunis o Vosso Povo para celebrar
Aquele que é o Primeiro e o Último, o Vivente que venceu a morte,
Dai-nos a força do Vosso Espírito, para que, quebrados os vínculos do mal, Vos tributemos o livre serviço da nossa obediência e do nosso amor, para reinarmos com Cristo na glória eterna.
Amém. Aleluia!”
“A paz esteja convosco”
Ninguém pode impedir a ação do Ressuscitado!
Alegremo-nos! Aleluia!
Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal
Dom Otacilio F. Lacerda