“… Como o Pai me enviou, também eu vos envio. E,
depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:
Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20, 21-22)
Uma reflexão à luz do Evangelho proclamado no segundo Domingo da Páscoa
(Jo 20,19-31), a fim de que acolhermos com alegria e fecundidade o envio do Espírito Santo para nos animar e nos conduzir na ação evangelizadora:
Com o Espírito Santo, renovamos nossa fidelidade a Jesus, que morreu na Cruz para fazer morrer o pecado e o mal, porque a luta entre o bem e o mal continua na terra e no coração de cada um de nós, e os ‘desejos da carne’ e ‘os desejos do espírito’ ainda não acabaram de lutar.
Com o Espírito Santo, neste combate que não dá tréguas, combatemos como homens livres e bem armados, porque o Defensor, pelo Senhor prometido, o Advogado, o Paráclito nos protege da sedução dos desejos que conduzem à morte.
Com o Espírito Santo, como as primeiras comunidades, somos uma comunidade de discípulos missionários, que persevera assiduamente na Doutrina dos Apóstolos, na Comunhão Fraterna, na Fração do Pão e na Oração, num só coração e numa só alma; de modo que podem exclamar ao nos vir: “Vejam como eles se amam”.
Com o Espírito Santo, somos curados, iluminados, fortalecidos, consolados, guiados, para sermos uma Igreja serva e servidora, sinal da Salvação para o mundo, participando da construção do Reino, para que todos tenham uma vida plena e feliz.
Com o Espírito Santo, testemunhamos o Senhor Jesus que está glorificado junto ao Pai; e como discípulos missionários, podemos compreender e viver Seus ensinamentos, transmitidos pelos Apóstolos e guardados fielmente pela Sua Igreja.
Com o Espírito Santo, somos impelidos, como Igreja, a sair dos muros do medo, e anunciar, com alegria e coragem, ao mundo inteiro, a Boa-Nova do Reino, com a necessária abertura do coração e do espírito à Escritura Sagrada, cuja luz nos orienta nas situações mais díspares e até inéditas.
Com o Espírito Santo, que em nós faz morada, renovamos nossa fidelidade ao Pai Misericordioso, que tanto nos ama, como sinais e testemunhas de Jesus Cristo, o Amado Filho, realizando a promessa e o penhor de participação na Sua Ressurreição, sem medo, covardia ou omissão.
Com o Espírito Santo, que nos abre as portas da misericórdia divina e reúne os crentes numa comunidade de pecadores perdoados e amados, somos mais entrelaçados pelos laços da fraternidade, formando e fortalecendo uma paróquia, comunidade de comunidades.
Com o Espírito Santo, Fonte inesgotável de juventude, realiza-se a comunicação de múltiplos carismas para o bem e benefício da Igreja e de todo o mundo, pois o Espírito sopra onde quer e renova todas as coisas: com a Morte e Ressurreição do Senhor, as coisas antigas passaram.
Com o Espírito Santo, continuamos a árdua e permanente Missão, pelo Senhor a nós confiada, construindo o Seu corpo na unidade, anunciando o Evangelho a toda a terra, pela força da pregação e do testemunho, a serviço da vida plena para todos.
Com o Espírito Santo, revigoramos nossas forças em cada Eucaristia, como um grande Pentecostes, fazendo Memória da Missão do Espírito Santo revelada por Jesus, precisamente, “quando chegou a hora de passar deste mundo para o Pai.”
Com o Espírito Santo, prometido por Deus há muito tempo, mergulhamos na amplitude do Mistério celebrado na Solenidade de Pentecostes, somos iluminados e aquecidos, pelo fogo do amor que consumiu e transformou repentinamente o coração dos Apóstolos; e impelidos e assistidos na divina missão.
Com o Espírito Santo, que jamais nos deixou órfãos, como prometera o Senhor, renovamos, hoje e sempre, a alegria de sermos discípulos missionários do Reino de Deus. Amém. Aleluia! Aleluia!
PS: Fonte inspiradora: Missal Quotidiano Dominical e Ferial – pp. 859 e 865
Dom Otacilio F. Lacerda
Enriquecidos pelos dons do Ressuscitado
Sejamos enriquecidos pelo Sermão de São Basílio de Selêucia (séc. V), que nos apresenta a indescritível benignidade de Cristo, que cumulou a Sua igreja de inumeráveis dons.
“Aquela inefável benignidade de Cristo para conosco cumulou a Sua Igreja de inumeráveis dons. Cristo, magnífico em Sua sabedoria e poderoso em Suas obras, resgatou-nos da antiga cegueira da lei e isentou a nossa natureza do protocolo que nos condenava com suas cláusulas.
Na cruz, triunfou sobre a serpente, origem de todos os males. Abateu o aguilhão da temível morte e renovou com a água, não com o fogo, aos que se encontravam extenuados pela antiguidade do pecado. Abriu as portas da Ressurreição.
Aos que estavam excluídos da cidadania de Israel, os converteu em cidadãos e familiares dos santos. Aos que eram alheios às promessas da aliança, confiou-lhes os mistérios celestiais. Aos que careciam de esperança, concedeu-lhes a torrente do Espírito, como dom de salvação.
Aos ímpios e sem Deus deste mundo, os converteu em templos da Trindade. Aos que em outro tempo estavam longe devido à conduta e não pelo lugar, pela mentalidade e não pela distância, pela religião e não pela região, os acolheu mediante o salutífero lenho, abraçando aos dignos de desprezo. (…)
Quando você tiver saído do erro, Ele te redimirá e terá compaixão de ti. Na realidade, na Cruz alcançou o triunfo sobre os pecados de todos nós, sepultou nas místicas águas do Batismo nossas vestes de injustiça e precipitou na profundeza do mar todos os nossos pecados.
Pensa na fonte do santo Batismo e proclama a graça, pois o Batismo é a suma de todos os bens, a expiação do mundo, a instauração da natureza, uma correção acelerada, uma medicina sempre disponível, uma esponja que limpa as consciências, um vestido que não envelhece com o tempo, entranhas que concebem virginalmente, um sepulcro que devolve a vida aos sepultados, uma caverna que engole os pecados, um elemento que é o mausoléu do diabo, é selo e baluarte dos selados, fonte que extingue a Geena, convite para a mesa do Senhor, graças dos mistérios antigos e novos vislumbrada já em Moisés, glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
No segundo domingo da Páscoa, celebrando “O Domingo da Misericórdia”, retomar este Sermão nos leva a contemplar quão infinita é a misericórdia divina e quão imenso é Seu amor para conosco.
Contemplemos o Ressuscitado glorioso, que se revela e nos da a graça de sentir Sua presença, comunicando-nos a Paz e o Seu Espírito, enviando-nos em missão.
Contemplemos o Seu amor por nós, o Mistério de Sua Paixão Morte e Ressurreição, e as graças que nos foram concedidas como tão bem expressou São Basílio de Selêucia.
Contemplar e viver a graça do Batismo, a graça que nos foi alcançada pela Morte e Ressurreição do Senhor, como templos do Espírito Santo, para viver a filiação divina.
Contemplar, viver e testemunhar a graça do Batismo, sendo sal da terra e luz do mundo; sacerdotes, profetas e reis…
Contemplar, viver, testemunhar e celebrar no altar do Senhor a graça de sermos discípulos missionários Seus, numa Igreja que não se fecha em suas portas, mas rompe as pedras e põe-se corajosamente em saída, como nos exorta permanentemente o Papa Francisco.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Dom Otacilio F. de Lacerda