A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.

Chegaram gloriosamente à pátria celeste: Pedro pela cruz e Paulo pela espada.
Com a passagem da primeira Leitura (At 12,1-11), refletimos sobre a missão e o testemunho do Apóstolo Pedro, e renovamos a certeza de que Deus cuida daqueles que chamou, ama e envia.
Pedro foi chamado por Jesus Cristo e com Ele conviveu, e do Divino Mestre, recebeu todos os ensinamentos, bem como lhe foram confiadas as chaves do Reino dos Céus para ligar e desligar, para conduzir o rebanho do Senhor.
Deste modo, com a passagem, mais que uma descrição histórica, temos uma catequese de como Deus cuida de Sua Igreja, de modo que as portas do inferno não prevalecerão contra ela, como bem foi dito no Evangelho pelo Senhor. É como um selo da autenticidade da missão dos Discípulos Missionários do Senhor.
O caminho feito por Pedro, em muito se assemelha ao d’Aquele pelo qual teve o coração seduzido: Jesus Cristo.
Bem disse o Senhor – “Bem aventurados sois vós quando vos injuriarem, caluniarem, perseguirem e disserem todo nome por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12), e ainda: “Não temais pequeno rebanho do meu Pai, porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Lc 12,32).
Os discípulos de Jesus devem testemunhar com sinceridade e coragem os valores que acreditam, contra todas as dificuldades, incompreensões, perseguições e calúnias.
Também contemplamos uma comunidade solidária e solícita na oração; unida na alegria e na dor; na perseguição e na vitória, e vemos como é necessária a Oração da comunidade em favor daqueles que dela cuidam, e hoje de modo especial, elevamos orações pelo nosso Papa Francisco, sucessor de Pedro.
A passagem da segunda Leitura (2Tm 4,5-8;17-18), como que um Testamento de Paulo, um discurso final, uma avaliação de todo seu apostolado, é uma luz que se acende para o encorajamento da comunidade, e que será muito propício para o reavivamento de seu ardor evangelizador e ânimo pastoral.
Paulo não conviveu com o Senhor, mas teve aquele encontro com o Ressuscitado que reorientou todo o seu existir. Não propriamente uma conversão, porque ele era zeloso no cumprimento da Lei Divina, mas aquela experiência a caminho de Damasco transformou todos os seus planos e projetos, tornando-o Doutor das Nações, o grande missionário evangelizador em suas impressionantes viagens missionárias.
Ele se apresenta como um “atleta” de Cristo, empenhado no bom combate da fé, suportando o martírio; ora silencioso, ora extremado, culminado em sua morte pela espada.
Na passagem, temos o lamento desiludido de um homem cansado, como é próprio da condição humana. Mas tem algo mais: sabe em quem confiou, sabe que Deus jamais o desamparou. Entenda-se lamento desiludido, não como decepção, mas como a extrema confiança da missão que abraçou e se dedicou.
Assim pode acontecer conosco, podemos até nos decepcionarmos nos espaços internos da Igreja ou fora dela, mas jamais com Deus. E, por isto, jamais desistir da missão.
Se há algo que nos entristeça, há muitíssimo mais que nos alegra. Mistério da Cruz, Mistério Pascal que deve ser vivido com toda fé, esperança e caridade.
Mesmo no cárcere, escrevendo a Timóteo, Paulo encontra palavras de ânimo, de exortação.
Acolhamos estas palavras, sobretudo nos momentos difíceis por que possamos passar, na obscuridade dos fatos, nos quais Deus mais do que nunca Se revela com todo Seu esplendor, com todo Seu amor.
Paulo testemunha de quem confia no Senhor, e nunca se sente só, jamais se sente desamparado. Ele mesmo disse aos Filipenses (Fl 4,13) –“Tudo posso n’Aquele que me fortalece”.
Na passagem do Evangelho (Mt 16,13-19), temos a interrogação de Jesus sobre a Sua identidade.
Não se trata de conferir índice de ibope, mas a compreensão da Sua verdadeira identidade para que configure Seus discípulos a Ele.
Que saibam a quem seguem, e a quem vão testemunhar. Respostas superficiais e inconsequentes não agradam o Coração do Senhor. Pedro pela revelação divina dá a verdadeira resposta: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Por isto, assim como negara três vezes na paixão e morte do Redentor, por três vezes teve que responder a inquietante interrogação de Nosso Senhor: “Simão, filho de Jonas, tu me amas mais do que estes?”.
Como já mencionei, a Pedro são confiadas as chaves. Não para ser guardião nas portas dos céus, mas para conduzir, organizar, orientar o rebanho do Senhor a Ele confiado. Esta é a sua missão. Esta é a missão de nosso Papa Francisco, por quem não devemos poupar Orações.
Reflitamos:
– Qual é o lugar que Jesus ocupa em nossa existência?
– O que os Apóstolos Pedro e Paulo tem a nos ensinar?
– Por que estamos na Igreja?
– Somos uma comunidade estruturada para amar e servir, como comunidade do Ressuscitado?
– Temos consciência da dimensão profética e missionária da Igreja?
– De que modo procuramos entender e rezar pela missão de nosso Papa?
Empenhemos mais intensamente e apaixonadamente no bom combate da fé, com o coração por Jesus mais que seduzido; e também nos empenhemos para alcançar a merecida Coroa da Glória, para os justos reservada.
Cremos que as duas colunas alcançaram, e nós como pedras vivas da Igreja pelo Batismo, desejemos e façamos por também merecer e alcançar.

A Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos interroga a respeito de Jesus:
Quem é Ele para nós?
Quais são as consequências de Sua proposta para nossa vida?
Qual é o impacto de Sua Vida em nós?
Para segui-Lo, é preciso fazer da própria vida um dom generoso, conhecer sua Pessoa, aderir à Sua proposta, segui-Lo com coragem, doar-se totalmente, viver com intensidade o amor, amando como Ele nos amou. Inevitavelmente, o seguimento de Jesus é um caminho que passa pelo amor vivido na radicalidade da Cruz.
A passagem da primeira leitura (Zc 12,10-11; 13,1) nos fala da figura de um Profeta trespassado, que a Igreja mais tarde identificou como o próprio Jesus Cristo, como vemos no Evangelho (Jo 19,34).
O Profeta manifesta total confiança e abertura à vontade de Deus, e o sacrifício deste mártir inocente é fonte de transformação dos corações, de modo que a sua contemplação levará o Povo de Deus a um processo de arrependimento e purificação.
A mensagem nos revela que o sofrimento profético não é em vão, e ainda, que Deus está do lado dos inocentes, perseguidos e massacrados.
Não podemos nos instalar por causa dos medos, cumprindo, com coragem e ousadia, nossos compromissos proféticos, vivendo assim o nosso Batismo, e também, que não se pode ter para com os Profetas atitudes de desprezo, arrogância, frieza e indiferença.
O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (Gl 3,26-29) exorta para que sejamos revestidos de Jesus Cristo, colocando-nos neste caminho de amor e doação da própria vida, tornando-nos herdeiros de vida em plenitude.
A comunidade que adere ao Senhor, e d’Ele se reveste, é marcada pela liberdade e igualdade. Deste modo, é preciso que se destruam quaisquer muros que possam existir ou quaisquer atitudes que fragilizem ou restrinjam a verdadeira liberdade que o Espírito nos concede, não uma liberdade qualquer, que diminua ou escravize o outro; que lhe roube espaço e identidade.
Na passagem do Evangelho (Lc 9,18-24), Jesus começa a etapa decisiva rumo a Jerusalém. O caminho é árduo, marcado pela entrega da vida pelo Reino de Deus. A morte de Cruz está no horizonte bem próximo de Sua existência.
Os discípulos se quiserem segui-Lo poderão ter o mesmo fim, e por isto Jesus quer saber o que pensam a Seu respeito. Ele não é um Messias que vai reinar sem passar pela Cruz, pois ela precede à glória a ser alcançada. A Cruz será o Seu Trono, como Rei e Senhor.
Tomar a cruz para segui-Lo implica não pautar a vida pelo prestígio, poder, domínio, acúmulo. É preciso renunciar ao egoísmo e orgulho, e em total confiança em Deus, nutrido pela força da Oração, pôr-se decididamente a caminho, assumindo a cruz quotidiana com a força da Oração.
A interrogação de Jesus chega até nós: “… E vós, quem dizeis que Eu sou?”
É preciso dar resposta à Sua pergunta:
Quem é Jesus para a comunidade que participo?
Quem é Jesus para mim?
Dependendo da resposta, a intensidade do nosso compromisso, engajamento, entrega e doação pela causa do Reino; dependendo dela, a coragem para assumirmos a cruz quotidiana, e sempre a caminho, edificarmos a Igreja e confessarmos o Seu nome.
Sejamos também questionados por estas palavras:
“Se fosse mais viva em nós a consciência de estarmos ‘revestidos de Cristo, de sermos filhos como o Filho ‘ (Gl 3,26-27), compreender-nos-íamos melhor a nós mesmos.
Compreenderíamos a nossa vida como liberdade: liberdade de colocar sobre os nossos ombros a nossa cruz e a cruz dos nossos irmãos, de perdermos também a nossa vida como resposta de amor Àquele que nos ama e dá a vida por nós” .(1)
E, tão somente assim, solidificamos nossa fé, renovamos nossa esperança e crescemos na caridade, que amplia e dá sentido à liberdade e à igualdade, para seguirmos, com confiança e serenidade, no carregar da cruz, até que possamos merecer a glória eterna.
Sejamos interpelados pelo Amor d’Aquele que foi trespassado em nosso favor, pela nossa redenção, para que vivamos na liberdade do Espírito, comprometidos com o Reino de Deus.
(1) Leccionário Comentado – Tempo Comum – pág. 773.

“Assim como o Pai Me enviou, também
Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo”
Com a Solenidade de Pentecostes, celebramos o nascimento da Igreja e acolhida do Espírito Santo para acompanhá-la, conduzi-la e assisti-la em sua missão.
O Espírito Santo é o Dom dado por Deus a todos que creem, comunicando vida, renovação, transformação, possibilitando o nascimento do Homem Novo e a formação da Comunidade Eclesial – a Igreja.
Com a Sua presença a Igreja testemunha a vida e a vitória do Ressuscitado, nisto consiste a missão da comunidade: realizar com a presença e ação do Espírito Santo, que é a fonte de todos os dons, colocando-os a serviço de todos e não para benefício pessoal.
Lucas, na passagem da primeira Leitura (At 2,1-11), nos apresenta a comunidade que nasce do Ressuscitado, que é assistida pelo Espírito Santo e chamada a testemunhar a todos os povos o Projeto Libertador do Pai.
A Festa de Pentecostes que antes era uma festa agrícola (colheita da cevada e do trigo), a colheita dos primeiros frutos, ganhou novo sentido, tornou-se a festa histórica da celebração da Aliança, da acolhida do dom da Lei no Sinai e a Constituição do Povo de Deus. Mas, o mais belo e verdadeiro sentido é a celebração da acolhida do Espírito Santo.
Contemplemos o grande Pentecostes cinquenta dias após a Páscoa. O Espírito é apresentado em forma de língua de fogo, que consiste na linguagem do amor. Verdadeiramente a linguagem do Espírito é o amor que torna possível a comunhão universal.
Caberá à comunidade construir a anti-Babel, a humanidade nova, que pauta a existência pela ação do Espírito Santo que reside no coração de todos como Lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.
Reflitamos:
– Somos uma comunidade do Ressuscitado?
– Nossa comunidade é marcada por relações de amor e partilha?
– Empenhamo-nos em aprender a língua do Espírito, a linguagem do Amor?
– Qual é o espaço do Espírito Santo em nossas comunidades?
– Temos sido renovados pelo Espírito, orientando e animando nossa vida por Sua ação e manifestação?
– Somos uma comunidade que vive a unidade na diversidade, com liberdade e respeito?
Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 12, 3-b-7.12-13), o Apóstolo nos fala de uma comunidade viva, fervorosa, mas com partidos, divisões e rivalidades entre os seus membros, e até mesmo certa hierarquia de categoria de cristãos.
Também aponta à importância da diversidade dos carismas. Porém, um só é o Senhor, um só é o Espírito do qual todos os dons procedem.
Insiste na unidade da comunidade como um corpo, onde todos têm sua importância, sua participação, cientes de que é a ação do Espírito que dá vida ao Corpo de Cristo, fomenta a coesão, dinamiza a fraternidade e é fonte da verdadeira unidade.
Afasta-se com isto toda possibilidade de prepotência e autoritarismo dentro da Igreja:
“O dom do Espírito habilita o crente batizado a colocar as suas qualidades e aptidões ao serviço do crescimento e da vitalidade da Igreja.
Ninguém é inútil e estéril na Igreja quando se deixa guiar pelo Espírito de Deus que atua para o bem de todos.
O único obstáculo à ação vivificadora do Espírito é a tendência a considerar os seus dons como um direito de propriedade e não um compromisso ao serviço e à partilha recíproca”. (1)
Reflitamos:
– Verdadeiramente, o Espírito Santo é o grande Protagonista da ação evangelizadora da Igreja?
– Colocamos com alegria os dons que possuímos a serviço do bem da comunidade e não a serviço próprio?
Na passagem do Evangelho (Jo 20,19-23), o Evangelista nos apresenta a manifestação do Ressuscitado e a Sua presença que enriquece a Igreja reunida com o dom da paz, da alegria e do Espírito Santo para gerar relações de perdão que cria a humanidade nova.
Deste modo, a comunidade deve romper os medos, as incertezas, as inseguranças, pois o Ressuscitado entra, mesmo que as portas estejam fechadas. Nada pode impedir a Sua ação, coloca-se no centro, pois somente Ele deve ser o centro de nossa vida e de nossa comunidade.
E ainda mais: não adoramos um Deus em que as Chagas Dolorosas tiveram a última palavra, mas adoramos ao Deus das Chagas Vitoriosas do Ressuscitado. A vida venceu a morte, e n’Ele e com Ele somos mais que vencedores (Rm 8,37-39).
Contemplemos as maravilhas de Deus, que são inesgotáveis e indizíveis:
– podemos contar com a ação e o sopro do Espírito Santo, com Sua força e defesa em nossa missão evangelizadora;
– a presença do sopro rejuvenescedor do Espírito Santo, que não permite o envelhecimento e a perda da vitalidade da Igreja por Cristo fundada, e por amor, continuamente, na Eucaristia alimentada;
– confia-nos a continuidade da graça da missão do Ressuscitado, com a força do Espírito, como Suas autênticas testemunhas;
– a graça de participarmos dos Mistérios Sagrados da Igreja, que aos poucos se nos revelam como maravilhoso Mistério incandescente; Mistério da presença da Chama viva de Amor revelada pelo Espírito Santo de Deus.
Embora não tenhamos visto Jesus Ressuscitado, nem O tenhamos tocado, n’Ele cremos, Sua Palavra anunciamos, em Sua Vida e presença em nosso meio acreditamos, a força e a vida nova do Espírito continuamente experimentamos e testemunhamos.
Celebremos, exultantes, a Solenidade de Pentecostes, de modo que a alegria divina transbordará em nosso coração, e nosso coração será inflamado do Seu Amor;
Alegremo-nos e exultemos no Senhor Ressuscitado, que nos comunica o Seu Espírito para maior fidelidade ao Projeto de vida e de Amor do Pai.
(1) Lecionário comentado – Tempo da Páscoa – p.660

A promessa do Paráclito
A Liturgia do 6º Domingo da Páscoa (Ano C) tem como mensagem a promessa de Deus que se cumpre sempre.
Não estamos sozinhos na caminhada cristã. O Senhor nos acompanha, com a presença e a ação do Espírito Santo, nos possibilitando a atenção aos apelos da realidade na qual nos inserimos.
A passagem da primeira Leitura (At 15,1-2.22-29), retrata o “Concílio de Jerusalém” e nos fala a ação do Espírito Santo, presente para o discernimento do que é, de fato, essencial ou acessório na caminhada da Igreja. Foi o primeiro grande conflito enfrentado pela Igreja.
A entrada dos pagãos ao cristianismo fez surgir uma polêmica questão: impor ou não aos pagãos a Lei de Moisés. A Salvação vem da circuncisão e pela observância da Lei judaica ou unicamente por meio de Cristo. Conclui-se que, é pela Graça do Senhor que se chega à Salvação.
Aprende-se com a assistência do Espírito o que deve ser mantido ou superado na Igreja. É o Espírito que age, ilumina e fortalece. Deste modo, a Igreja não pode perder a audácia, a imaginação, a liberdade, o desprendimento necessário e a vigilante escuta do Espírito, no enfrentamento dos desafios que o mundo apresenta.
A passagem da segunda Leitura (Ap 21,10-14;22-23) nos apresenta a meta final da Igreja: a Jerusalém Celeste, a cidade nova da plena comunhão com Deus, onde se possui vida plena e felicidade sem fim.
Trata-se de uma cidade sem mediações, pois viveremos sempre na presença de Deus e O encontraremos face a face. Deus e o Cordeiro serão a luz que iluminará esta comunidade de vida plena.
Esta Cidade será construída sobre o testemunho dos Apóstolos. Suas portas estarão abertas para a acolhida de todos que aderirem ao Cordeiro e O testemunharem. A construção desta Cidade começa aqui nesta terra, quando se renovam compromissos de amor, justiça e paz.
O autor do Apocalipse comunica uma mensagem de esperança, em meio aos sofrimentos, perseguições, martírios. A Igreja deve permanecer fiel em sua missão, pois a humanidade precisa deste testemunho.
Na passagem do Evangelho (Jo 14,23-29), Jesus nos fala da Sua ida para o Pai e a vinda do Paráclito, o Espírito Santo que assistirá a caminhada da Igreja.
Jesus é o Caminho que nos leva ao Pai. Ele está ao nosso lado e nos promete a presença do Paráclito, o Defensor.
O Paráclito assegura a fidelidade e a dinâmica no caminhar de fé, superando todo temor, garantindo a serenidade necessária; acompanha-nos no testemunho de uma vida marcada pela doação, entrega e amor.
Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas também o Espírito Santo habitará neles para ensinar, recordar e iluminar. A ação do Espírito se manifesta de muitos modos.
Quando somos bons ouvintes, consequentemente somos bons praticantes, e Ele, em nós, faz a Sua morada e nos tornamos hospedeiros do mais belo Hóspede, o Espírito Santo, e prisioneiros do mais belo Amor, Cristo Ressuscitado, em incondicional fidelidade a Deus Pai.
A morte de Jesus na Cruz, por Amor ao Pai e Amor à humanidade, leva a uma ausência que não é definitiva. A Ressurreição e o envio do Espírito são garantias de que Sua vida e missão não se constituíram em fracasso, mas na nossa vitória, na nossa redenção, trazendo-nos a paz que nasce da Cruz.
Concluo afirmando que a Igreja deve colocar-se em constante atitude de acolhida ao Espírito para responder aos apelos e desafios deste mundo, iluminando a realidade com a Luz do Espírito Santo, que afasta todo e qualquer sentimento de orfandade, para que venhamos a dar os passos necessários na construção de um novo céu e uma nova terra, a Jerusalém Celeste.
Entretanto, somente nutridos pela Eucaristia, edificaremos a Igreja, como sinal e instrumento do Reino, procurando estabelecer e fortalecer relações de amor, perdão, doação, serviço e solidariedade.
Celebrar a Eucaristia é vislumbrar um pedaço do céu que se abre sobre a terra, em que os raios da glória da Jerusalém Celeste atravessam as nuvens da história e vêm iluminar nossos caminhos, como bem falou o Papa São João Paulo II.
Em cada Eucaristia, a Palavra de Deus ganha vitalidade e esplendor para nos revigorar.
Como discípulos missionários do Senhor, assistidos pelo Paráclito, renovemos no coração a chama do primeiro amor, ouvindo e guardando Sua Palavra, amando e sempre aprendendo amar.
Que abertos ao Espírito Santo, atentos à Sua voz,
Acolhendo o Seu Sopro de vida, luz e força,
Renovemos nossa fidelidade ao Senhor Ressuscitado,
Para que multipliquemos e renovemos compromissos,
Já aqui na terra, de justiça, de fraternidade, de amor e de paz.
Esperando a vinda da Cidade Santa,
A Jerusalém Celeste, o novo céu e a nova terra,
A Face de Deus contemplemos, com os irmãos,
Em comunhão de amor e vida plena para sempre vivamos.
Não estamos sós.
A promessa do Paráclito O Senhor nos fez:
O Espírito Santo nos foi enviado!
Amém. Aleluia
Amar como Jesus Ama: desafio e missão
“Vede como eles se amam” (Tertuliano)
A Liturgia do 5º domingo da Páscoa (Ano C) nos convida a aprofundar a vivência do essencial do cristianismo: a prática do Mandamento do Amor – “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (já anunciado no Livro do Levítico 19,18-34 e Dt 10,19).
A vida cristã tem esta marca que garante sua autenticidade: a capacidade de amar até o extremo, no dom total da própria vida.
A passagem da primeira Leitura (At 14,21b-27) retrata o fim da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé.
A missão do anúncio e do testemunho do Ressuscitado tem traços fundamentais que podem ser assim sintetizados:
– O entusiasmo necessário para vencer os perigos e as dificuldades para o anúncio da boa nova;
– Ter palavras de consolação para fortalecer a fé da comunidade confiada;
– O necessário apoio mútuo; a Oração e a consciência de que a missão não é obra puramente humana, mas de iniciativa divina, tendo Deus como autor autêntico da conversão, sob a ação e iluminação do Espírito Santo.
A passagem da segunda Leitura (Ap 21, 1-5a) nos apresenta a missão de construirmos um novo céu e uma nova terra, que é a meta última de nossa história.
A visão do autor – “Jerusalém que desce do céu” – retrata a realidade de que o novo céu e a nova terra têm origem divina e possibilita nossa resposta, nossa participação.
Discípulos do Ressuscitado, esperamos e nos comprometemos com a Jerusalém Celeste tornando o mundo mais fraterno, mais justo e solidário, a meta da harmonia e da felicidade sem fim. Não haverá mais dor, luto, morte e sofrimento.
A partir desta fé inaugura-se um relacionamento que transforma a si mesmo e todos os que estão em sua volta, culminando até na renovação de todas as estruturas geradoras de lágrimas, dor, sofrimento e luto.
O amor e a alegria de sermos partícipes na construção do Reino devem estar presentes em nossas comunidades. Isto ocorre quando os ministérios diversos são postos a serviço da comunidade, e não nos servimos dela para qualquer outro objetivo. A grandiosidade está no servir à comunidade e não o contrário.
Somente no amor vivido é que reconhecerão que somos discípulos do Ressuscitado, e esta passa a ser para sempre a nossa identidade, de modo que nossa identidade não é uma filosofia, tão pouco a prática de ritos em si mesmo, mas a intensidade e profundidade do como e do quanto amamos.
A Ressurreição de Jesus Cristo nos convoca a nossa própria renovação, bem como de todas as estruturas do mundo, para que seja a expressão de uma Aliança que deu certo. Ter nos amado e nos amado até o fim, não foi em vão.
Esta missão é explicitada na passagem do Evangelho (Jo 13,31-33a.34-35) em que, num contexto de despedida dos Seus discípulos, Jesus deixa o Novo Mandamento do Amor.
Trata-se de um momento muito solene, e não havia possibilidade para conversas inúteis, porque se aproximava o fim, e era preciso recordar aos discípulos o mais fundamental na proposta cristã: o Mandamento do Amor.
A medida do amor fraterno é Ele próprio, o Amor de Cristo – “como Eu vos amei” (Jo 13,34). Portanto, o amor não consiste numa ideia, e tão pouco pode ser reduzido a qualquer sentimento, mas um autêntico movimento de entrega que faz o outro viver, porque gera vida.
Amemos como Jesus nos ama, porque isto é a exigência fundamental para aquele que n’Ele crê. O Mandamento do Amor é a expressão máxima da vida cristã.
A comunidade será para o mundo um sinal do Deus vivo e que ama a humanidade.
Ser discípulo é testemunhar o Amor de Deus na fidelidade, acolhida, serviço, entusiasmo, generosidade, partilha…
“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” Segundo Tertuliano, autor sagrado, os primeiros cristãos tomaram tão a sério estas Palavras do Senhor, que os pagãos exclamavam admirados «Vede como eles se amam!» (cf. Jo 15, 12.13.17; 1 Jo 2, 8; Mt 22, 39; Jo 17, 23; Act 4, 32).
Reflitamos:
– De que modo vivemos o Novo Mandamento do Amor que o Senhor nos ordenou?
– Somos uma comunidade onde o amor é o nosso distintivo?
– Nossas relações dentro da comunidade são marcadas pelo amor fraterno?
– Somos uma comunidade missionária, indo ao encontro daqueles que não conhecem ainda a Boa Nova do Ressuscitado?
– Quais são os sinais que expressam nossos compromissos na construção de um novo céu e uma nova terra?
– Ao virem nossas comunidades, as relações entre os que dela participam e outras manifestações, os que dela não participam dirão – “vede como eles se amam”?
Eis o desafio, eis a nossa missão. Um longo caminho já fizemos, sem nos esquecermos de que somos a Igreja do Ressuscitado, uma Igreja santa e pecadora, somos convidados a viver a religião do amor, a amar como Deus ama, como aprendemos com o Filho, iluminados e inflamados pelo Fogo do Espírito.
Quando não perdemos a meta da Jerusalém Celeste, não nos perdemos também no caminho.
É tempo de amar como Jesus ama; somente assim nossa vida terá sentido e a alegria Pascal transbordará verdadeiramente em nosso coração. Aleluia!
Dom Otacilio F. Lacerda

“Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas,
e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece
e Eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas.”
(Jo 10, 14-15)
Com a Liturgia do 4º Domingo da Páscoa (ano B), celebramos o dia do Bom Pastor, que é Jesus Cristo, como vemos evocado pelo Profeta Ezequiel (Ez 34).
Na passagem da primeira Leitura (At 4, 8-12), os discípulos são testemunhas do Ressuscitado, com o selo do Espírito Santo, que garante o êxito no aparente fracasso da Cruz por Jesus proposto, de modo que nada pode calar nem parar a missão da Igreja, porque o Espírito Santo está com ela, e é Ele quem anima nessa missão e dá coragem para o enfrentamento das oposições pelas forças de opressão que recusam esta Proposta.
É missão da Igreja comunicar ao mundo a Salvação que vem somente de Jesus, cabe aos discípulos levar esta Proposta libertadora a todos.
Jesus é a pedra base deste Projeto de vida nova e plena, e os discípulos são testemunhas desta salvação que Ele vem nos oferecer.
Há muito que ser feito ainda para que a Boa-Nova do Reino seja anunciada e vejamos sinais de uma nova realidade, porque ainda vemos genocídios, atos bárbaros de terrorismo, guerras religiosas, o avassalador capitalismo selvagem e suas vítimas multiplicadas.
Assim como foi com Pedro, hoje a Igreja precisa ter um anúncio corajoso e coerente, acompanhado do testemunho, confiante na presença do Espírito de Jesus Ressuscitado, e assim, nos momentos de crise, desânimo ou frustração, tomar consciência desta presença amorosa, que renova a nossa esperança para o necessário testemunho da fé n’Ele.
Com a passagem da segunda Leitura (1Jo 3,1-2), refletimos sobre nossa filiação divina e a exigência, portanto, de viver conforme esta filiação: uma vida cristã autêntica, marcada pela vivência dos Mandamentos divinos, em esforço contínuo na procura da perfeita coerência entre o que se crê e o que se vive.
Refletimos sobre a bondade, a ternura e a misericórdia e o amor que Deus tem para conosco, e a possibilidade de alcançarmos a vida eterna, contemplando a face de Deus: para alcançar a meta da vida definitiva, é preciso escutar o chamamento de Deus, acolhendo o dom que Ele nos oferece, e vivendo de acordo com a vida nova proposta.
Na passagem do Evangelho (Jo 10,11-18), temos a apresentação de Jesus como o Bom Pastor, num contexto de polêmica entre Jesus e alguns líderes judaicos (principalmente os fariseus):
“Jesus denuncia a forma como esses líderes tratam o povo: eles estão apenas interessados em proteger os seus interesses pessoais e usam o povo em benefício próprio: são, pois ‘ladrões e salteadores’ (Jo 10,1.8.10) que se apossam de algo que não lhes pertence e roubam ao seu povo qualquer possibilidade de vida e de libertação”. (1)
Jesus, ao contrário dos líderes de Seu tempo, é um Pastor diferente e único: ama e entrega Sua vida por amor ao rebanho, generosamente.
As ovelhas somos nós, que experimentamos este amor destinado a todos universalmente e incondicionalmente. Este amor nos faz semelhante a Deus, pois, quando amamos, nos assemelhamos a Deus, porque Deus é amor.
Jesus, o Bom Pastor, conhece a cada um de nós, conhece e nos chama pelo nome. Conhece nossos medos, angústias e frustrações. Cuida de cada um de nós com admirável e indizível amor.
Jesus é o Bom Pastor do rebanho porque “Ele não está apenas interessado em cumprir o contrato, mas em fazer com que as ovelhas tenham vida e se sintam felizes. A Sua prioridade é o bem das ovelhas que lhe foram confiadas. Por isso, Ele arrisca tudo em benefício do rebanho e está até, disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama. N’Ele as ovelhas podem confiar, pois sabem que Ele não defende interesses pessoais, mas os interesses de Seu rebanho” (2).
Nosso Pastor por excelência é Jesus Cristo, mas precisamos ter cuidado com outros “pastores”, que nos arrastam e condicionam nossas escolhas.
Reflitamos:
– O que nos conduz e condiciona as nossas opções?
– Jesus Cristo é de fato o nosso Bom Pastor?
– conhecemos e somos atentos à voz do Bom Pastor?
A Liturgia do Bom Pastor é propícia para rezarmos a Jesus, o Bom Pastor, para que nos envie pastores segundo o Seu coração; que sejam Seus imitadores, em absoluta e incondicional fidelidade, com mesmos pensamentos e sentimentos.
Rezemos pelo Papa e por todos aqueles que conduzem a Igreja, para que, conduzidos pelo Espírito, sejam para o rebanho a Voz do Bom Pastor, e também para que o rebanho não se perca por falta de pastores, ouvindo Sua Voz e procurando viver no zelo e fidelidade ao Senhor:
“A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua messe” (Lc 10, 2).
Renovemos a alegria de pertencermos ao rebanho do Senhor, pois Ele nos conduz aos verdes prados e água cristalina, pois Deus nos ama e quer sempre o melhor para nós. Entretanto, Ele também quer o melhor de nós, pois nos ofereceu, por amor, o que de melhor possuía: Seu próprio Filho, que do Pai nos enviou o Espírito, para que órfãos e abandonados não ficássemos, e amados nos sintamos e para sempre o sejamos.
Atentos ao apelo do Papa, construamos uma Igreja em saída, ao encontro das ovelhas feridas e distantes, que ainda não tiveram a graça de ouvir a Palavra do Bom Pastor e de Sua Igreja:
“Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor.” (Jo 10, 16)
Que a Voz do Bom Pastor, a Voz do Amado, penetre nossos ouvidos e alcance as entranhas de nosso coração, para que jamais nos afastemos de Seu rebanho.
(1) (2) www.Dehonianos.org/portal
“Ele está no meio de nós!” Aleluia!
Com a Liturgia do terceiro Domingo da Páscoa (Ano B), refletimos sobre o modo de testemunhar o Cristo Ressuscitado; a dinâmica da Vida Nova que brota da experiência da Ressurreição na vida dos discípulos; e o testemunho de que Ele está Vivo.
Jesus Ressuscitado é o centro da comunidade reunida; sempre presente no caminho e na missão do discípulo, e é necessário coragem para testemunhar e anunciar a Palavra do Ressuscitado.
É o que vemos na primeira leitura (At 3,13-15.17-19): o realizar desta missão se dará pelo testemunho dado diante do mundo, com a pregação e ações concretas. Com estas atitudes, poderão ter aceitação, rejeição e até mesmo sofrer perseguição.
A pregação dos Apóstolos é um convite ao arrependimento, à conversão, à fé em Jesus Cristo, acolhendo Sua Pessoa e a Boa-Nova do Reino por Ele iniciado.
A conversão implica na superação do egoísmo, do orgulho, do comodismo, da autossuficiência, do individualismo, da indiferença…
O testemunho dos discípulos será a grande manifestação da Vida do Ressuscitado. Somente com uma vida marcada pela doação e entrega total, trilhamos o caminho para o alcance da Vida Eterna. Eis o autêntico caminho da vida cristã.
Reflitamos:
– A minha vida e meus gestos testemunham o Cristo Vivo, Ressuscitado?
– Quais os sinais que manifestam a presença do Ressuscitado na minha comunidade?
– Quais são os apelos de conversão que ressoam fortemente no mais profundo de mim e da minha comunidade?
Na passagem da segunda leitura (1 Jo 2,1-5a), refletimos sobre a comunidade que reconhece a sua fragilidade e não se desespera, pois bem sabe que tem o Defensor, o Advogado, o Paráclito.
Os membros da Comunidade cultivam uma intimidade profunda com Deus, na escuta, acolhimento e vivência de Sua Palavra, reconhecendo a condição da realidade pecadora inerente à criatura humana, sem jamais desistir do caminho da Salvação, num permanente amadurecimento e crescimento da coerência entre a fé e a vida.
A comunidade deve estar sempre atenta para o não abandono do amor fraterno, por isso a necessária vigilância para uma vida de santidade se faz necessária, com renúncia ao pecado e aberta à proposta de Salvação que Deus nos oferece.
Reflitamos:
– Qual é a profundidade do meu relacionamento com Deus?
– Como cultivo minha amizade e familiaridade com Deus?
– Como sinto Sua proximidade no dia a dia?
– Sinto a presença do Espírito que assiste, acompanha, orienta e fortalece a vida da Igreja?
– Qual é a coerência que há entre a fé que professo e a minha vida?
Na passagem do Evangelho (Lc 24,35-48), os discípulos, na escuta da Palavra e na partilha do Pão, sentem e reconhecem a presença do Ressuscitado.
Somente no amor e na fraternidade, a comunidade é capaz de enxergar e tornar visível a presença do Ressuscitado.
A Ressurreição é a prova de que Deus dá razão a Jesus e que Seu Amor é mais forte que a morte.
A comunidade crê n’Aquele que foi rebaixado pelos injustos, desceu à mansão dos mortos, foi reerguido por Deus, mostrado glorioso aos que n’Ele acreditam.
Na intimidade Eucarística, Ele nos dirige Sua Palavra e nos dá o Seu Corpo e Sangue: Verdadeira Comida e Verdadeira Bebida.
Crer na Ressurreição é a grande força que move a ação da comunidade, pois ela é, na exata medida, a vitória do Projeto de Jesus.
A Ressurreição é um fato real, mas não pode ser provado cientificamente. A comunidade teve que percorrer um longo e difícil caminho para o reconhecimento da presença de Jesus Vivo e Ressuscitado. Foi inevitável a dúvida, a incerteza, o medo, a fragilidade… até que pudesse passar da incredulidade à fé.
Somos uma comundiade com a presença do Ressuscitado que nos traz a verdadeira paz; comunica-nos o “shalom”: harmonia, serenidade, confiança, a vida plena.
A comunidade deve crescer no amor mútuo, na fraternidade, tornando visível a presença do Ressuscitado.
A ação do discípulo é a continuidade da missão do próprio Jesus. Ele continua a obra redentora do Salvador, d’Aquele que foi morto e Ressuscitado.
Reflitamos:
– Qual é o caminho para a descoberta e o encontro com o Ressuscitado?
– Temos sentido a presença do Ressuscitado através da Palavra Proclamada, ouvida, acolhida e vivida?
– Jesus Ressuscitado tem a centralidade em nossa comunidade?
Observando os Mandamentos divinos, Deus Se torna uma Verdade em nós. Portanto, amemos a Deus e acreditemos no Filho amado! Escutemo-Lo, pois Ele venceu o mundo! A vida venceu a morte. Contemos com a presença e ação do Espírito Santo. Amém Aleluia!
Dom Otacilio F. Lacerda

A Liturgia do 2º Domingo da Páscoa (ano C), também chamado de Domingo da Misericórdia, nos convida a refletir sobre o papel da comunidade cristã como lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo Ressuscitado (na Palavra proclamada, no amor vivido, no pão partilhado e no corajoso testemunho dado).
Na passagem da primeira leitura (At 5,12-16), temos a confirmação da missão salvadora continuada pela comunidade, apresentando a proposta redentora da humanidade a partir de Jesus Cristo.
A pequena passagem enfatiza a atividade miraculosa dos Apóstolos, pois ela é continuadora da missão do Ressuscitado com o mesmo poder – “pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo”.
Os sinais feitos pela comunidade revelam a presença libertadora e salvadora de Deus, que deseja vida plena para todos. Os gestos de amor, de partilha e de reconciliação são os maiores e belos sinais que uma comunidade que crê pode realizar.
Reflitamos:
– Como testemunhamos a força do Ressuscitado dentro e fora da Igreja?
– Quais são os sinais do Ressuscitado em nossa comunidade?
A segunda leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19), escrita num contexto de dramática perseguição aos cristãos pelo Império romano, é um convite à perseverança na fé.
Do Ressuscitado, o Vencedor, vem a força para a comunidade continuar o seu caminho e testemunho.
Jesus é o “Filho do Homem”, o Senhor da história. Ele esteve morto, voltou à vida, e agora é o Senhor da vida que derrotou a morte (Ap 1,18), de modo que os cristãos não têm nada a temer.
A comunidade testemunhando o Ressuscitado vencerá todo medo e perseguição, e esta é a grande mensagem de João em seu livro, que não foi escrito para intimidar aquele que crê, muito ao contrário, escrito para encorajar no bom combate da fé. Um livro para ser lido e compreendido somente por quem tem fé e deseja testemunhar o Ressuscitado até o fim.
Na realização da missão evangelizadora, é preciso passar do pessimismo à esperança. O mundo precisa de mensagem de esperança e de compromisso com uma nova realidade, um novo céu e uma nova terra.
Reflitamos:
– Quais são as dificuldades que encontramos no testemunho da fé?
– Quais são as mensagens de esperança que temos a oferecer para o mundo?
– Onde e quando renovamos nossas forças para não sucumbirmos diante das dificuldades que possamos encontrar na vivência da fé?
Na passagem do Evangelho (Jo 20,19-31), Jesus Se manifesta vivo e ressuscitado, e Se apresenta como o centro da comunidade cristã, comunicando a paz (plenitude de bens), comunicando o Espírito para que os Apóstolos continuem a Sua missão.
A mensagem explicita a centralidade de Cristo na comunidade e esta por sua vez, é a testemunha credível da vida do Ressuscitado no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o Pão de Jesus partilhado e os compromissos com a justiça e a vida nova renovados.
O Ressuscitado rompendo as portas fechadas, onde os Apóstolos se encontram por medo dos judeus, disse-lhes: “A paz esteja convosco”. Nada mais pode impedir a ação do Ressuscitado.
É o primeiro dia da semana, é o tempo da nova criação alcançada pelo Ressuscitado, por isto guardamos o domingo como o Dia do Senhor, para adorá-Lo e encontrá-Lo, de modo especial na comunidade, quando a Palavra é proclamada e o Pão é partilhado: Cristo presente na comunidade de modo especialíssimo na Palavra e na Eucaristia.
Na primeira parte, Jesus saúda com o “shalom”: harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, plenitude dos dons à comunidade, de modo que a ela nada falta, pois o Ressuscitado Se faz presente.
E, a comunidade será portadora desta Boa Nova, empenhada na tríplice harmonia dos seres humanos com o Criador, com a própria criatura e com o cosmos.
Os Apóstolos são instrumentos da paz, da vida nova, da comunhão a ser vivida com Deus e com o próximo: shalom!
Quando reaprende a amar, a comunidade capacita-se para a missão de paz, e então se torna sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.
A não vivência ou a recusa do amor impede que a paz aconteça… Paz que nos é dada como dom divino, compromisso humano inadiável…
Acolhendo o “sopro da misericórdia divina”, a comunidade não terá o que temer, porque não é enviada sozinha, mas com a força e a vida nova que nos vem do Santo Espírito – “E Jesus soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo”.
A segunda parte é o itinerário da profissão de fé feito por Tomé, ausente na primeira vez em que Jesus apareceu aos Apóstolos, e depois, quando presente, faz a grande profissão de fé: ”Meu Senhor e meu Deus”.
Tomé é proclamado bem-aventurado porque viu e tocou as Chagas gloriosas do Ressuscitado, e Jesus nos diz que felizes são aqueles que creram sem nunca terem visto, nem tocado (Jo, 20-29).
Tomé toca exatamente onde nascemos e nos nutrimos: no coração de Jesus, do qual jorrou Sangue e Água: Batismo e Eucaristia.
Esta é uma mensagem essencialmente catequética que nos convida a renovar hoje e sempre a nossa fé: somos felizes porque cremos sem nunca ter visto nem tocado.
A experiência vivida por Tomé não foi exclusiva das primeiras testemunhas do Ressuscitado, e pode ser vivida por todos os cristãos de todos os tempos.
Hoje, somos convidados a fazer esta mesma experiência.
Reflitamos:
– Creio na presença de Jesus Ressuscitado na vida da Igreja?
– Sinto a presença e ação do Ressuscitado em minha vida?
– Jesus Ressuscitado possui centralidade em minha vida?
– Jesus Ressuscitado ocupa o lugar central em minha comunidade?
– Como vivo a missão, por Ele, a mim confiada?
– Tenho acolhido o sopro do Espírito na missão vivida?
– O que tenho feito para que a paz, mais que sonho e desejo, se torne realidade?
– O Domingo é, de fato, para mim o Dia do Senhor, do encontro com o Ressuscitado, para escutá-Lo na comunidade, reconhecê-Lo e comungá-Lo quando Ele Se dá no Pão partilhado, na Eucaristia?
– Como tenho prolongado, em minha vida quotidiana, a ação e vida do Ressuscitado, a Eucaristia celebrada?
Com a Ressurreição do Senhor, nosso coração transborda de alegria.
Oremos:
“Ó Pai, que no Dia do Senhor
Reunis o Vosso Povo para celebrar
Aquele que é o Primeiro e o Último,
O Vivente que venceu a morte,
Dai-nos a força do Vosso Espírito,
Para que, quebrados os vínculos do mal,
Vos tributemos o livre serviço
Da nossa obediência e do nosso amor,
Para reinarmos com Cristo na glória eterna.
Amém”.
“A paz esteja convosco”. Aleluia!
Ninguém pode impedir a ação do Ressuscitado:
Alegremo-nos! Aleluia!
Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal