A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Reflexão à luz da passagem da Carta do Apóstolo Paulo a Timóteo (1 Tm 1, 1-2.12-14).
Retomo os dois primeiros versículos:
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé: a graça, a misericórdia e a paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor”.
Sobre estes versículos, o Lecionário Comentado nos enriquece com estas palavras:
“Ao filho Timóteo, que ele gerou na fé e com o qual partilha o ministério, Paulo augura que possa experimentar a ‘graça’, ou seja a presença do Espírito, infundido pelo Pai e pelo Filho; a ‘misericórdia’, isto, é o perdão de Deus (só nas Cartas a Timóteo é que Paulo augura também a misericórdia); a ‘’paz’, ou seja, a reconciliação com Deus, consigo mesmo, com o seu serviço, com os irmãos e com o mundo” (1)
Esta saudação Paulina pode ser repetida por nós a quantos pudermos: “Graça, misericórdia e paz”, pois todos precisamos da graça que nos vem pelo Espírito que em nós habita; da misericórdia, porque imperfeitos que somos, pecadores consequentemente o somos, e colocamos nossa miséria nas mãos de Deus que nos ama e nos perdoa e nos faz uma nova criatura, e por fim, somos plenificados pela paz, pelo “shalon”, plenitude de bens e dons, pela gloriosa presença do Ressuscitado em nosso meio, que conosco caminha, desde aquela aurora, em que se manifestou o Sol Nascente a Maria Madalena e aos primeiros Apóstolos.
Que também possamos ouvir de nossos irmãos e irmãs a mesma saudação: “graça, misericórdia e paz”, para que nossa vida cristã esteja inteiramente situada entre a experiência da misericórdia de Deus por nós, que somos pecadores, e a solicitude misericordiosa pelos nossos irmãos e irmãs, como expressão de quem foi amado e perdoado por Deus, que espera o mesmo de cada um de nós em relação ao nosso próximo.
(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – p.322

“O amor não faz nenhum mal contra o próximo.
Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.” (Rm 13,10)
Com a Liturgia do 23º Domingo do Tempo comum (Ano A), refletimos sobre a nossa responsabilidade para com nosso próximo.
É inadmissível ao discípulo missionário do Senhor ficar indiferente de tudo que possa ameaçar a vida e felicidade do outro, de modo que é preciso viver a corresponsabilidade.
Na passagem da primeira Leitura (Ez 33,7-9), o Profeta Ezequiel é apresentado como uma sentinela, colocado por Deus, sempre atento ao Projeto Divino, alertando a comunidade para os perigos que a cerca.
“O Profeta é um homem do seu tempo, mergulhado na realidade e nos desafios da sociedade em que está integrado; conhece o mundo e é capaz de ler, numa perspectiva crítica, os problemas, os dramas e as infidelidades dos seus contemporâneos.” (1)
O Profeta recebe de Deus o mandato da missão, e torna-se um sinal vivo do Amor de Deus pelo Seu povo:
“Deus que o chama, que o envia em missão, que lhe dá a coragem de testemunhar, que apoia nos momentos de crise, de desilusão e de solidão… O Profeta/sentinela é a prova de que Deus, cada dia, continua a oferecer ao Seu Povo caminhos de salvação e vida. O Profeta/sentinela demonstra sem margem para dúvidas, que Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.” (2)
Reflitamos:
– Como vivemos a missão profética que recebemos no dia de nosso Batismo?
– Qual o tempo que dedicamos para o encontro com Deus na Oração, para falar com Ele, ouvir e meditar a Sua Palavra?
– Quais são as situações do mundo em que vivemos, que, à luz da fé, exige que vivamos a missão profética?
Na passagem da segunda Leitura (Rm 13,8-10), o Apóstolo Paulo nos exorta a colocar no centro da vida cristã o Mandamento do Amor, uma dívida que jamais será plenamente saldada.
Em nossa experiência cristã somente o amor é essencial, e as demais coisas são secundárias.
É preciso orientar a vida pelo Mandamento do Amor, porque cristianismo sem amor se torna uma mentira, e como cristãos jamais podemos deixar de amar nossos irmãos.
“O amor está no centro de toda a nossa experiência religiosa. No Mandamento do Amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos Mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor. A ideia de que toda a Lei se resume no amor não é uma ‘invenção’ de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica (Mt 22,34-40).” (3)
A comunidade tem sempre à frente um desafio: multiplicar as marcas do amor, diminuindo, ou melhor ainda, eliminar toda marca de insensibilidade, egoísmo, confronto, ciúme, inveja, opressão, indiferença, ódio.
Esta dívida do amor nos pede sempre algo novo para com o próximo:
“Podemos, todos os dias, realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão… mas é preciso, neste campo, ir sempre mais além.
Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.” (4)
Na passagem do Evangelho (Mt 18,15-20), Jesus nos ensina que o caminho para a correção fraterna não passa pela humilhação ou condenação de quem tenha falhado.
É imperativo o diálogo fraterno, leal, amigo, precedido e acompanhado da vivência do Mandamento do Amor, que é nosso distintivo como discípulos do Senhor.
Toda comunidade tem suas tensões e problemas de convivência, e Jesus nos apresenta os caminhos que precisamos percorrer para a superação.
Sejamos Profetas/sentinelas do Reino, envolvidos e acolhidos pela Misericórdia divina, vivenciando-a concretamente em gestos de acolhida e perdão, para que nossas comunidades sejam mais fraternas e credíveis da presença do Senhor Ressuscitado.
Aprendamos o caminho que Jesus nos propõe: ser misericordioso como Deus é misericordioso, buscando nossa perfeição e santificação e também de nosso irmão e irmã. E para tanto, a vivência do Mandamento do Amor é a máxima expressão de nossa fé no Senhor, e de nosso compromisso como discípulos missionários do Reino que Ele inaugurou.
O caminho é longo! Iluminados pela Palavra divina e revigorados pelo Pão da Eucaristia, continuemos passo a passo, sem jamais desistir.
(1) (2) (3) (4) – cf. www.Dehonianos.org/portal

– “Purificai-nos, Senhor, de todo fermento de malícia e perversidade, para vivermos a Páscoa de Cristo com os pães ázimos da sinceridade e da verdade;
– Ajudai-nos a vencer neste dia o pecado da discórdia e da inveja, e tornai-nos mais atentos às necessidades de nossos irmãos e irmãs”.
Para aprofundamento sejamos enriquecidos pelo Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V):
“Caríssimos filhos, a natureza humana foi assumida tão intimamente pelo Filho de Deus, que o único e mesmo Cristo está não apenas neste Homem, primogênito de toda a criatura, mas também em todos os Seus santos […]
É Ele (Jesus) que une à Sua Paixão não apenas a gloriosa fortaleza dos mártires, mas também a fé de todos aqueles que renasceram nas Águas Batismais.
É nisto que consiste celebrar dignamente a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor.
A nossa participação no Corpo e no Sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos n’Aquele que recebemos. Mortos, sepultados e ressuscitados n’Ele, que O tenhamos sempre em nós tanto no espírito como no corpo”.
Malícia, perversidade, discórdia, inveja, e tantas outras formas de pecado, mancham nossa veste batismal, e ninguém pode dizer que não está livre, tanto que elevamos a Deus súplicas, para que Ele nos ajude a vencer tais tentações. Também suplicamos a Sua Misericórdia para nossa necessária purificação.
Sinceridade, verdade, solicitude para com os irmãos e irmãs, são mais do que desejáveis para nós que temos uma fé Pascal.
Rezar com a Igreja nos enriquece quotidianamente, e em cada Eucaristia ser nutrido pelo pão ázimo do amor e da verdade, porque isenta de todo fermento de maldade, que impossibilitaria que, n’Ele inserido, nova criatura fôssemos.
Somos fortalecidos ao receber a Eucaristia, pois somos nutridos com o mais belo Pão, que foi fermentado sim, mas com o mais puro Amor, no Sangue, copiosamente, na Cruz derramado.
Bem como, somos inebriados quando do Cálice participamos e bebemos da mais pura e necessária Bebida.
Comungando do Pão Consagrado, bebendo do Vinho consagrado, Corpo e Sangue do Senhor, n’Ele somos transformados e no mundo cada gesto de amor, partilha, perdão, compreensão, solidariedade, Sua ação e presença, testemunhadas.
É preciso sempre gerar e formar Cristo em nós, para gerá-Lo e formá-Lo no coração do outro.
Cada Eucaristia é e será sempre um novo e eterno acontecimento, sem nenhum mérito de nossa parte, mas pura expressão do Amor Divino.
Ontem, hoje e sempre, a Deus, honra, glória, poder e louvor, acompanhado do mais sincero e autêntico agradecimento. Amém.
De modo especial, dedicaremos o mês de setembro à Sagrada Escritura. Procuremos valorizá-la cada vez mais em nossas comunidades, sobretudo ao celebrarmos o Banquete da Eucaristia; bem como nos momentos de profunda intimidade pessoal com Deus e sua Leitura Orante, que tão bem faz a quem neste caminho se propõe.
Neste sentido, é sempre oportuno lembrar o Objetivo Geral apresentado pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023):
“EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”.
Com o aprofundamento das Diretrizes podemos ultrapassar as fronteiras da Igreja, dada a sua importância, como valioso instrumento para que, à luz da Palavra de Deus, possamos todos nos empenhar na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.
No entanto, seu estudo, além de necessário e enriquecedor, é também um forte apelo de conversão e renovado compromisso com Jesus, para que sejamos uma Igreja testemunha, e para tanto, que antes se faça discípula, deixando-se iluminar pela fonte da Palavra Divina, ricamente anunciada e proclamada nas Missas e Celebrações.
Uma Igreja verdadeiramente Eucarística, que se nutre da Palavra Divina, renova e empenha toda sua força e vida, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para assim evangelizar e se evangelizar, na mais perfeita expressão e concretização da caridade.
As Diretrizes insistem no sentido de formarmos uma paróquia, comunidade de comunidades, comunidades eclesiais missionárias, superando todo anonimato, superficialismo na fé, individualismo.
Como nos propõem as novas Diretrizes, sejam nossas comunidades como que uma casa com quatro pilares indispensáveis: a Palavra, o Pão, a Caridade e a Ação Missionária,
Renova-se o compromisso com a vida, em todos os seus aspectos, da concepção ao seu declínio natural, acompanhado também do apelo do cuidado da vida do planeta em que habitamos, nossa Casa Comum, na superação de toda falta de consciência ecológica, por atitudes comprometidas de sustentabilidade.
Sem dúvida, na evangelização, somente teremos êxito se:
– atentos aos clamores do povo de Deus;
– fidelidade a Deus e à Sua Palavra;
– não olvidarmos as Diretrizes que a Igreja nos apresenta.
Que as palavras do Apóstolo Paulo ecoem sempre em nossos corações na graça da missão evangelizadora:“Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16).
Vivendo o terceiro ano Vocacional, reflitamos sobre a graça da missão realizada pelos cristãos leigos e leigas na obra da evangelização à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).
Para que tenhamos na Igreja, alegres e convictas testemunhas do Ressuscitado, são necessárias renúncias até de si mesmo, acompanhados de separação, radicalidade e realismo.
Tudo isto se faz na vivência dos desapegos de toda a ordem, na radicalidade própria do amor que sabe elencar o que é prioritário, num realismo inadiável, de modo que, sem renúncias, jamais haverá fidelidade no seguimento ao Senhor.
A fé cristã será, portanto, movida pela virtude da esperança enraizada no chão da caridade que é o próprio coração do homem e da mulher.
Somente assim, cristãos leigos e leigas serão discípulos missionários do Reino, sem medo, mas com muita alegria, procurando ter do Senhor Jesus os mesmos sentimentos, em total e incondicional fidelidade, com a presença e ação do Espírito Santo (Fl 2,5).
Cumpra-se, portanto, a Palavra Divina, para que na fidelidade ao Senhor progridamos: “Aqueles que perseverarem no amor ficarão junto de Deus, porque a graça e a misericórdia são para Seus eleitos”, já nos dizia o autor do Livro da Sabedoria (Sb 3,9).
Como Igreja sinodal, ponhamo-nos todos a caminho, firmados nos pilares da Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Missão, vivendo a graça do batismo recebido, com o coração ardente e os pés a caminho.

Uma reflexão sobre o ministério e a vida do presbítero, à luz dos parágrafos 191-204, do Documento de Aparecida (2007), a fim de que seja discípulo missionário de Jesus, o Bom Pastor.
1 – Deve cuidar de sua formação permanente em suas quatro dimensões: humana, espiritual, intelectual e pastoral.
2 – Precisa cultivar uma vida espiritual centrada na escuta da Palavra e na celebração diária da Eucaristia; fundada na caridade pastoral, que se nutre da experiência pessoal com Deus e na comunhão com os irmãos presbíteros, nas relações fraternas com o bispo e leigos.
3 – Ser um homem de oração, maduro em sua opção de vida por Deus; perseverando com o Sacramento da Confissão, devoção à Santíssima Virgem, mortificação e entrega apaixonada por sua missão pastoral.
3 – Ter a consciência de que é um dom para a comunidade, pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo e não “delegado” ou “representante da comunidade”.
4 – Procurar conhecer a cultura atual, para semear nela a semente do Evangelho.
5 – Viver o celibato, assumindo com maturidade a própria afetividade, com serenidade e alegria, no caminho comunitário.
6 – Ter consciência de suas limitações, no exercício de seu ministério e realização de sua vocação.
7 – Valorizar a Pastoral Orgânica, com inserção na vida do presbitério.
8 – Edificar uma paróquia, comunidade de discípulos missionários, com seus organismos e conselhos (comunitários, paroquiais, econômicos), superando toda e qualquer forma de burocracia.
9 – Preocupar-se com as famílias (“Igrejas domésticas”), pois a família cristã é a primeira e mais básica comunidade eclesial, em que se vive e se transmite os valores fundamentais da vida cristã.
10 – Ser, à imagem do Bom Pastor, um homem de misericórdia e compaixão; próximo a seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades.
11 – Esforçar-se, permanentemente, para ser um homem cheio de misericórdia, sobretudo na administração do Sacramento da Reconciliação.
12 – Renovar a chama do primeiro amor, pois tão somente um sacerdote apaixonado pelo Senhor poderá renovar uma paróquia; e sendo ardoroso missionário, viverá o constante desejo de buscar os mais afastados e não se contentará com a simples administração.
13 – Ter humildade para viver como presbíteros-discípulos, com profunda experiência de Deus, configurado ao Coração do Bom Pastor.
14 – Viver com docilidade às orientações do Espírito, nutrindo-se da oração, mas de modo especialíssimo da Palavra de Deus e da Eucaristia.
15 – Ser presbítero-missionário: movido pela caridade pastoral que o leva a cuidar do rebanho a ele confiado, procurando os mais distantes, na comunhão com os bispos, presbitério, diáconos, religiosos e cristãos leigos e leigas.
16 – Ser um presbítero-servidor da vida: atento às necessidades dos mais pobres; comprometido na defesa dos direitos dos mais fracos e comprometido com a promoção da cultura da solidariedade.
17 – Ser por excelência promotor e animador da diversidade missionária e ministerial.
Elevemos a Deus orações por todos os presbíteros, para que cada vez mais vivam a graça do ministério, dom divino e resposta humana, perfeitamente configurados a Jesus Cristo, o Bom Pastor, autênticos discípulos missionários do Senhor com todo o rebanho que é chamado a cuidar com ardor, zelo, alegria e amor, como tão bem expressou o apóstolo São Pedro:
“Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele, não como por coação, mas de livre vontade, como Deus quer, nem por torpe ganância, mas por devoção, nem como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o Supremo Pastor, recebereis a coroa imarcescível da glória!” (1 Pd 5,2-4).

À Luz das leituras bíblicas (Rm 2,1-11 e Lc 11,42-46), vejamos quais são as luzes que aparecem para o Ministério Presbiteral.
Diante dos “ais” que Jesus dirigiu aos fariseus e mestres da lei, concluímos que o Presbítero, e todo aquele que se propõe a seguir o Senhor, têm diante de si algumas imprescindíveis exigências:
– Superar todo formalismo religioso:
A prática de rituais, a soma de momentos de oração, contabilizada ou por obrigação realizada, não é suficiente. É preciso a prática do amor e da justiça.
Nada é agradável ao Senhor se não for precedido e movido pelo amor, princípio de todo nosso agir, essência e identidade divina e daqueles que a Ele querem se consagrar…
Ninguém deve se colocar a serviço do Senhor procurando as honras, os primeiros lugares, os títulos por si mesmos, privilégios, fama ou coisas semelhantes, pois são atitudes abominadas pelo Senhor!
O que importa é o humilde e dedicado serviço; fazer para Deus e não para ser visto, nem para ser elogiado; mover-se pela pura e simples gratuidade, pela absoluta humildade, numa indescritível alegria em servir…
Celebrar com o mesmo ardor numa catedral lotada, como numa capela com uma dezena de pessoas; na capela de uma periferia ou de uma área de missão (tive a graça de três anos de Missão em Rondônia – 2000 a 2002).
A Eucaristia é o grande mistério, merecendo, portanto, todo o empenho, entrega, zelo, dedicação e esmerada espiritualidade.
Se não nos empenharmos em belas Eucaristias, em que nos empenharemos? Que a vida seja expressão da Eucaristia que celebramos!
– A pureza interior e a coerência necessária:
Deus pede que nosso exterior revele aquilo que somos. Não podemos fazer da vida um palco; tão pouco do Presbitério. Não somos atores do Senhor, mas servos! Inúteis servos. Não nos cabem máscaras, representações…
Devemos viver o que pregamos, encurtando toda a distância entre o discurso e a prática.
As roupas eclesiásticas que usamos hão de ser belas; como bela é a vida que testemunhamos.
Se ainda não forem tão belas, supostamente simples, despojadas, de sandálias, não podem ser disfarce, mas devem revelar o santo ideal da pobreza que queremos expressar.
Quer com a melhor batina ou casula, quer com os trajes mais humildes, devemos ser a imagem perfeita do Cristo; outro Cristo: Servo pobre, obediente e fiel, que fez do Reino a Sua grande riqueza…
Ele que tinha condição divina, a nada Se apegou, como nos falou o Apóstolo Paulo, de tudo Se esvaziou, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2,1-11).
Haveremos de o mesmo fazer; os Seus mesmos sentimentos ter e viver…
– Não sermos peso sobre o povo:
O povo deve ser amado, ajudado no seu desenvolvimento integral, e para que assim acontece, o Presbítero deve deixar-se envolver e ser ao mesmo tempo testemunha misericórdia divina.
Quando misericordiosos, poderão ouvir de Jesus estas palavras:
“Vinde a mim porque Sou manso e humilde de coração…
Vinde a mim vós que estais cansados e fatigados, porque
Meu fardo é leve e meu jugo é suave!” (Mt 11,28-30).
Urge que estas atitudes estejam presentes na vida do Presbítero, para que sejam sempre iluminados e iluminadores, afastando toda treva que teima em subsistir, como nos falou o Abade São Columbano (séc. VII):
“Que Tu, Cristo, dulcíssimo Salvador nosso,
Te dignes acender nossas lâmpadas,
de modo a refulgirem para sempre em
Teu templo, receberem perene luz de Ti,
que és a luz perene, para iluminar nossas trevas
e afugentar de nós as trevas no mundo”.
E, com o Abade São Máximo (séc. VII), concluímos:
“Só Ele (Jesus), qual lâmpada,
desfaz a escuridão da ignorância,
repele o negrume da maldade e do vício”
Quando vivemos a misericórdia, o Amor de Deus arde em nós e Sua luz ilumina todo o mundo. Para sermos luz Deus nos criou:
“Vós sois a luz do mundo!
Vós sois o sal da terra”
(cf. Mt 5,13-16).

“É próprio de quem ama queixar-se de não ser amado e,
ao mesmo tempo, temer que, excedendo-se
na acusação, venha a magoar”
Sejamos enriquecidos pela Homilia sobre a Segunda Carta aos Coríntios, do Bispo São João Crisóstomo (Séc. IV), que nos fala do transbordamento da alegria em toda a tribulação, na fidelidade a Jesus Cristo.
“Paulo de novo fala sobre a caridade, refreando a dureza da advertência. Depois de tê-los censurado e repreendido porque, amados, não haviam correspondido ao seu amor, mas haviam-se separado de seu afeto para se ligar a homens perniciosos, de novo suaviza a acerba repreensão, dizendo:
Acolhei-nos em vossos corações, como quem diz: ‘Amai-nos’. Não é pesada a graça que pede, e é de maior vantagem para quem dá, do que para quem recebe. Não disse ‘Amai’, mas algo que transpira compaixão: ‘Acolhei-nos em vossos corações’.
Quem foi que nos arrancou de vossos corações? Quem nos expulsou? Qual a causa de tanta estreiteza em vós? Acima dissera: Tendes vossos corações apertados; aqui declara abertamente o mesmo: Acolhei-nos em vossos corações. Assim, com isso os atrai de novo a si. Não é de somenos importância, quando se solicita o amor, que o amado entenda ser sua afeição de grande valia para quem ama.
Já o disse: Estais em nossos corações para a vida e para a morte. A força máxima do amor está em que, mesmo desprezado, quer morrer e viver juntamente com eles. Ora, não de qualquer modo estais em nossos corações, mas como declarei. Pode acontecer que alguém ame, mas fuja dos perigos. Conosco não é assim.
Estou repleto de consolação. Que consolação? Aquela que me vem de vós. Convertidos a melhores sentimentos, por vossas obras me consolais. É próprio de quem ama, queixar-se de não ser amado e, ao mesmo tempo, temer que, excedendo-se na acusação, venha a magoar. Por isto acrescenta: Estou repleto de consolação, transborda minha alegria. Como se dissesse: ‘Senti grande tristeza por vós; contudo me enchestes de satisfação e me consolastes; não só tirastes a causa da tristeza, mas me cobristes com muito maior alegria’.
Em seguida manifesta sua grandeza não apenas ao dizer: Minha alegria transborda; como também no que segue: Em toda tribulação nossa. Foi tão grande o prazer que me causastes que não poderia ser obscurecido pela grande aflição. Tão imenso que reduziu a nada todos os sofrimentos que nos acometeram e não nos permitiu que fôssemos abatidos pelo desgosto”.
A vida é tecida de acontecimentos que se entrelaçam e que nem sempre tão bons e agradáveis e facilmente contornáveis.
Da mesma forma, na fidelidade e no testemunho da fé, podemos passar por momentos difíceis, momentos em que sentimos como que se pode dizer “secura da alma”, “noite escura”, com suas provações e inquietações.
Nestes momentos, porém, é que temos que manter firme nossa fé, crendo contra toda falta de esperança, confiando plenamente no poder e na Palavra divina, com a força do Espírito Santo, que vem nos assistir, socorrendo nossa fraqueza, dando-nos firmeza em novos passos que precisam ser dados.
Deus que tanto nos ama espera esta resposta de amor, em total confiança e entrega a Ele, em Suas mãos, como tão bem expressou o Bispo: “É próprio de quem ama, queixar-se de não ser amado”.
Aprendamos com o Apóstolo que, mesmo incompreendido pela comunidade, jamais deixou de amá-la e exortá-la para que crescesse na fidelidade ao Senhor, na máxima expressão da caridade ativa e frutuosa, pois sabia a quem servia e de quem a Palavra anunciava e testemunhava, com todo ardor e coragem.

“Eu Te louvo, ó Pai…”
No 14º Domingo do Tempo Comum (ano A), a Liturgia nos apresenta, como mensagem central, um Deus que Se revela na simplicidade, humildade, pobreza e pequenez, que veio ao encontro da humanidade na pessoa de Jesus Cristo, anunciado pelos Profetas e esperado pelo Povo de Deus.
Paradoxalmente, Deus não Se revela no orgulho e na prepotência, como nos fala a primeira Leitura (Zc 9,9-10), vem como um Rei pobre, com humildade e simplicidade.
A passagem encontra-se no “Deutero-Zacarias”, a segunda parte do Livro, também conhecida como “Segundo Zacarias”, e retrata o período pós-exílio, e anuncia a intervenção e salvação de Deus, a glória futura da Salvação, com forte aceno messiânico: um Messias virá, será Rei, Pastor e o Servo do Senhor.
Um Rei humilde e pacífico virá com força para destruir a guerra e seus instrumentos de morte, e este será o próprio Jesus.
De fato, Deus sempre Se revela na humildade, pobreza e simplicidade: a fé cristã reconhece em Jesus a personagem profetizada por Zacarias (Mt 21,1-9).
Refletir esta passagem leva o Povo de Deus a perceber que em situações de desencanto, frustração e privação da liberdade, precisa redescobrir o Deus que vem ao seu encontro e restaura a esperança com uma nova lógica (desarmado, pacífico e humilde), em vez da lógica humana (força, guerra, morte, destruição).
Na passagem da segunda Leitura (Rm 8,9.11-13), o Apóstolo Paulo nos fala da vida segundo o Espírito, que consiste na acolhida e vivência das Propostas que Deus nos faz, que nos garante a vida nova e eterna; de modo que viver na carne significa viver instalado no orgulho, egoísmo e autossuficiência que gera morte. É a antítese explícita que nos acompanha: viver segundo a carne ou segundo o Espírito.
O Apóstolo nos apresenta o Projeto de Salvação de Deus, que nos vem por meio de Jesus e atua pelo Espírito Santo, de modo que os discípulos têm que viver como Jesus e assim alcançarão a Ressurreição. Somente o seguimento de Jesus nos garante a vida plena e definitiva.
É preciso que o discípulo se abra à ação renovadora e libertadora do Espírito recebida no dia do Batismo, consumindo a sua vida por causas maiores e, sobretudo, pela causa do Reino, vivendo do jeito de Jesus, seguindo com fidelidade Sua Palavra e trilhando Seus passos.
Na passagem do Evangelho (Mt 11,25-30), Jesus louva ao Pai pela Proposta de Salvação que Ele fez à humanidade, mas acolhida apenas pelo pobres e pequenos, que em sua pobreza e simplicidade, sempre disponíveis à novidade libertadora por Deus oferecida.
A Proposta de Jesus encontra acolhida entre os pobres e os marginalizados, os desiludidos com a religião oficial, que os discriminava e os oprimia, como jugo insuportável, porque pesado e desumanizante, pelas leis, entre outras coisas.
“É o que experimentamos em virtude do Batismo que faz de nós homens novos, porque infunde em nós o Espírito que é verdade, vida e força de Deus. É este o ‘jugo suave’ de que fala Jesus (Mt 11,29-30).
O jugo da lei colocado aos ombros dos homens, para submetê-los em vez de libertá-los, não é só aquele de que Jesus acusa os fariseus (os fardos – Mt 23,4), mas é também a proposta cristã quando, em vez de ser mensagem de libertação para quem anda oprimido e humilhado pelo peso do pecado e da morte, se transforma numa quantidade de preceitos e de normas que se devem respeitar perante um Deus juiz severo”. ( 1)
A passagem pode ser divida em três partes:
– O louvor a Deus por ter escondido o conhecimento aos pretensamente sábios e entendidos (vv. 25-26);
– A explicação do que foi escondido e a quem foi revelado (v. 27);
– O convite final: “Vinde a mim…”
Jesus oferece a libertação da escravidão da Lei, propondo a vida nova marcada pelo Mandamento do Amor a Deus e ao próximo. Somente um coração aberto a Deus e às Suas propostas pode garantir a vida em plenitude, assim como nos falou o Apóstolo Paulo – “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
Com Jesus temos, portanto, uma reviravolta de valores, em que a força, poder e riqueza cedem lugar para a vida marcada pela simplicidade, doação, humildade, partilha.
É preciso rever nossos julgamentos e comportamentos, ou seja, é preciso que sejamos pobres, simples, humildes, colocando nossa fragilidade nas mãos de Deus, contando com Sua Palavra e força que nos vem do Espírito.
Assim, viveremos na planície do quotidiano o Sermão da Montanha que Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o Reino dos céus…” (Mt 5,1-12).
Vivendo assim, estaremos dentro da lógica de Deus que oferece Salvação a todos. Que sejamos pobres em espírito para acolher esta Proposta, renovando concretos compromissos de solidariedade e amor para com os pequeninos, os preferidos de Deus:
“… o verdadeiro conhecimento do Pai, do Deus que é Amor, não pode acontecer senão mediante Jesus, ‘o Caminho’ que nos leva ao Pai”. (2)
Revendo nossas opções, viveremos a opção de Deus pelos pobres, humildes e oprimidos, tornando evidente que a Palavra da salvação é um insistente convite para que percorramos o caminho da humildade verdadeira, do Messias crucificado, ainda hoje “escândalo e loucura” para muitos, como falou o Apóstolo Paulo (1 Cor 1,23).
Oremos:
“Ó Deus, que Vos revelais aos pequeninos e concedeis aos mansos a herança do vosso Reino, tornai-nos pobres, livres e felizes, à imitação de Cristo, Vosso Filho, para levarmos com Ele o suave jugo da Cruz e anunciarmos aos homens a alegria que vem de Vós”. Amém. (3).
(1) (2) Lecionário Comentado – Editora Paulus – p. 660.
(3) Idem p. 661.

Chegaram gloriosamente à pátria celeste: Pedro pela cruz e Paulo pela espada.
Com a passagem da primeira Leitura (At 12,1-11), refletimos sobre a missão e o testemunho do Apóstolo Pedro, e renovamos a certeza de que Deus cuida daqueles que chamou, ama e envia.
Pedro foi chamado por Jesus Cristo e com Ele conviveu, e do Divino Mestre, recebeu todos os ensinamentos, bem como lhe foram confiadas as chaves do Reino dos Céus para ligar e desligar, para conduzir o rebanho do Senhor.
Deste modo, com a passagem, mais que uma descrição histórica, temos uma catequese de como Deus cuida de Sua Igreja, de modo que as portas do inferno não prevalecerão contra ela, como bem foi dito no Evangelho pelo Senhor. É como um selo da autenticidade da missão dos Discípulos Missionários do Senhor.
O caminho feito por Pedro, em muito se assemelha ao d’Aquele pelo qual teve o coração seduzido: Jesus Cristo.
Bem disse o Senhor – “Bem aventurados sois vós quando vos injuriarem, caluniarem, perseguirem e disserem todo nome por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,11-12), e ainda: “Não temais pequeno rebanho do meu Pai, porque a vosso Pai agradou dar-vos o Reino” (Lc 12,32).
Os discípulos de Jesus devem testemunhar com sinceridade e coragem os valores que acreditam, contra todas as dificuldades, incompreensões, perseguições e calúnias.
Também contemplamos uma comunidade solidária e solícita na oração; unida na alegria e na dor; na perseguição e na vitória, e vemos como é necessária a Oração da comunidade em favor daqueles que dela cuidam, e hoje de modo especial, elevamos orações pelo nosso Papa Francisco, sucessor de Pedro.
A passagem da segunda Leitura (2Tm 4,5-8;17-18), como que um Testamento de Paulo, um discurso final, uma avaliação de todo seu apostolado, é uma luz que se acende para o encorajamento da comunidade, e que será muito propício para o reavivamento de seu ardor evangelizador e ânimo pastoral.
Paulo não conviveu com o Senhor, mas teve aquele encontro com o Ressuscitado que reorientou todo o seu existir. Não propriamente uma conversão, porque ele era zeloso no cumprimento da Lei Divina, mas aquela experiência a caminho de Damasco transformou todos os seus planos e projetos, tornando-o Doutor das Nações, o grande missionário evangelizador em suas impressionantes viagens missionárias.
Ele se apresenta como um “atleta” de Cristo, empenhado no bom combate da fé, suportando o martírio; ora silencioso, ora extremado, culminado em sua morte pela espada.
Na passagem, temos o lamento desiludido de um homem cansado, como é próprio da condição humana. Mas tem algo mais: sabe em quem confiou, sabe que Deus jamais o desamparou. Entenda-se lamento desiludido, não como decepção, mas como a extrema confiança da missão que abraçou e se dedicou.
Assim pode acontecer conosco, podemos até nos decepcionarmos nos espaços internos da Igreja ou fora dela, mas jamais com Deus. E, por isto, jamais desistir da missão.
Se há algo que nos entristeça, há muitíssimo mais que nos alegra. Mistério da Cruz, Mistério Pascal que deve ser vivido com toda fé, esperança e caridade.
Mesmo no cárcere, escrevendo a Timóteo, Paulo encontra palavras de ânimo, de exortação.
Acolhamos estas palavras, sobretudo nos momentos difíceis por que possamos passar, na obscuridade dos fatos, nos quais Deus mais do que nunca Se revela com todo Seu esplendor, com todo Seu amor.
Paulo testemunha de quem confia no Senhor, e nunca se sente só, jamais se sente desamparado. Ele mesmo disse aos Filipenses (Fl 4,13) –“Tudo posso n’Aquele que me fortalece”.
Na passagem do Evangelho (Mt 16,13-19), temos a interrogação de Jesus sobre a Sua identidade.
Não se trata de conferir índice de ibope, mas a compreensão da Sua verdadeira identidade para que configure Seus discípulos a Ele.
Que saibam a quem seguem, e a quem vão testemunhar. Respostas superficiais e inconsequentes não agradam o Coração do Senhor. Pedro pela revelação divina dá a verdadeira resposta: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.
Por isto, assim como negara três vezes na paixão e morte do Redentor, por três vezes teve que responder a inquietante interrogação de Nosso Senhor: “Simão, filho de Jonas, tu me amas mais do que estes?”.
Como já mencionei, a Pedro são confiadas as chaves. Não para ser guardião nas portas dos céus, mas para conduzir, organizar, orientar o rebanho do Senhor a Ele confiado. Esta é a sua missão. Esta é a missão de nosso Papa Francisco, por quem não devemos poupar Orações.
Reflitamos:
– Qual é o lugar que Jesus ocupa em nossa existência?
– O que os Apóstolos Pedro e Paulo tem a nos ensinar?
– Por que estamos na Igreja?
– Somos uma comunidade estruturada para amar e servir, como comunidade do Ressuscitado?
– Temos consciência da dimensão profética e missionária da Igreja?
– De que modo procuramos entender e rezar pela missão de nosso Papa?
Empenhemos mais intensamente e apaixonadamente no bom combate da fé, com o coração por Jesus mais que seduzido; e também nos empenhemos para alcançar a merecida Coroa da Glória, para os justos reservada.
Cremos que as duas colunas alcançaram, e nós como pedras vivas da Igreja pelo Batismo, desejemos e façamos por também merecer e alcançar.