A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
O significado e o valor do presépio.
No dia 01 de dezembro de 2019, o Papa Francisco nos agraciou com a Carta Apostólica “Admirabile signum”, sobre o significado e o valor do presépio.
Ele inicia ressaltando a importância do presépio na vida do povo, na religiosidade popular, e a necessidade de redescobrir e revitalizar o sentido do presépio na espiritualidade cristã.
O presépio é como um Evangelho vivo, que transvaza das páginas da Sagrada Escritura, e sua origem deve-se a São Francisco de Assis.
“Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6, 51).
Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária”.
O presépio nos comove, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez:
“O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado”.
Daqui decorre a importância de armar o presépio em nossas casas, pois nos ajuda a reviver a história sucedida em Belém, e nos convida a ir à fonte que são os Evangelhos, que nos permitem conhecer e meditar aquele Acontecimento.
A representação no Presépio:
– ajuda a imaginar as várias cenas;
– estimula os afetos;
– convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais.
Desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a “sentir’, a “tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na Sua Encarnação: – “tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf. Mt 25, 31-46)”.
Em alguns parágrafos, o Papa apresenta vários sinais do Presépio, como o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite; as montanhas, os riachos, as ovelhas, os pastores, Maria, José, o Menino Jesus, os reis magos e o simbolismo dos três presentes (o ouro honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada que experimentará a morte e a sepultura).
O Presépio tem uma mensagem clara: “não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efêmeras de felicidade…”.
Deste modo, nascendo no Presépio “o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado”.
Quanto à figura do Menino Jesus, Deus assim Se nos apresenta, para fazer-Se acolher nos nossos braços:
“Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o Seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do Seu amor, que se manifesta num sorriso e nas Suas mãos estendidas para quem quer que seja”.
O Presépio nos revela o modo de agir de Deus, que quase cria vertigens, pois parece impossível que Ele renuncie à Sua glória para Se fazer homem como nós, afirma o Papa:
“Que surpresa ver Deus adotar os nossos próprios comportamentos: dorme, mama ao peito da mãe, chora e brinca, como todas as crianças.
Como sempre, Deus gera perplexidade, é imprevisível, aparece continuamente fora dos nossos esquemas. Assim o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida”.
Nossos olhos fixos na cena no Presépio, leva-nos a refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador:
“Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova para as pessoas que encontra, testemunhando a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; e fá-lo com ações concretas de misericórdia… O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre”.
Finaliza acenando para o Presépio, que faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé e que nos educa para:
– contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós;
– sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos os filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria;
– sentir que nisto se encontra a felicidade.
Conclui com um convite, para que, na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixando que, do encanto, nasça uma prece humilde: “o nosso ‘obrigado’ a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos”.
Se desejar, acesse e leia na integra:
Advento, Tempo favorável de preparação da vinda do Senhor, de esperar Sua chegada, reacendendo e mantendo acesa a chama da caridade, e assim o Natal, de fato, aconteça.
Sejamos enriquecidos pela Comentário do Missal Dominical, intensificando nossa preparação para a vinda do Verbo.
“O ritmo da vida atual, cada vez mais agitado, as engrenagens de um sistema que pretende planejar todos os momentos do homem, mesmo o que há de mais privado, reduzem cada vez mais os limites do imprevisto. Tudo deve ser passado pelo computador, classificado, neutralizado, assegurado. Mas para o cristão, Cristo continua a ser um acontecimento revolucionador: quando irrompe em sua vida, impõe uma mudança radical que quebra e transforma a rotina cotidiana. Cristo não pode ser programado; deve ser esperado. Devemos deixar em nossa vida um espaço para Sua presença. A vigilância cristã permite ler em profundidade os fatos para neles descobrir a vinda do Senhor. Exige coração suficientemente missionário para ver essa vinda nos encontros com os outros”.
A atitude de Vigilância, com dimensões pascais (Morte e Ressurreição) nos prepara para o verdadeiro Natal com passagens múltiplas, em renovado compromisso com o Reino:
– Passagem das trevas para a luz;
– do pecado à graça;
– da distância dos relacionamentos à comunhão;
– do ódio ao amor;
– do egoísmo à partilha;
– das práticas injustas para práticas com equidade;
– da mentira à verdade…
Ao cristão jamais será permitido instalações em atitudes que não condizem com a fé cristã, como o comodismo, passividade, desleixo, rotina, desunião, desânimo, esfriamento no caminho da fé, perda da esperança (“hoppelesness” que alguns dizem hoje crescer entre nós), ausência de empenho no enfrentar dos desafios, insensatez, imprevidência, comer e beber sem medida; divertir-se tão apenas, arrivismo (ambições), desejos da concupiscência da carne (desejos em excesso)…
Ao Senhor supliquemos:
Acendei e reacendei sempre em nossos corações Vossa maviosa Chama; a chama da caridade, que nos impulsiona a viver como amados filhos de Deus, no amor ao nosso próximo. Amém.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
“Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar.
Com efeito, agora a Salvação está mais perto de nós
do que quando abraçamos a fé.” ( Rm 13,11)
No 1º Domingo do Advento do Ano Litúrgico (ano A), somos exortados para uma frutuosa preparação para o Natal:
“O apelo à vigilância, atentos ao Senhor que veio, vem e virá: “Nas Leituras deste primeiro domingo do Ano Litúrgico predominam dois temas: a vinda do Senhor e o tema da Vigilância.
Mais do que dois temas, trata-se antes, de dois ‘movimentos’: O Senhor vem – vamos a Seu encontro; Deus vem ao homem, mas só O encontra quem se coloca ao encontro d’Ele, quem está pronto” (1)
Numa atitude de vigilância, como cristãos, precisamos superar todo comodismo, passividade, desleixo, sem nos acomodarmos numa rotina sem brilho e sem luz.
A passagem da primeira Leitura (Is 2,1-5) é um dos oráculos mais profundos e mais belos do Antigo Testamento. Uma visão em que os povos se encontram no Monte Sião (Jerusalém), em harmonia e paz sem fim.
Somente o encontro com Deus e com Sua Palavra possibilita a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, traduzido em vida em abundância e paz universal.
Monte Sião é o reverso de Babel, pois esta segunda se caracteriza pelo confronto dos homens com Deus, o orgulho, a autossuficiência, o conflito, a confusão, a falta de entendimento, a dispersão e tudo que destrói a paz e relação de amizade com Deus.
Urge que nos ponhamos a caminho, ao encontro de Deus e Sua proposta de vida, amor e paz, e este sonho se realizará perfeitamente e plenamente em Jesus.
Na passagem da segunda Leitura (Rm 13,11-14), o Apóstolo Paulo nos exorta para que despertemos de nosso sono, ou seja, passemos das trevas para a luz. Deixemos de lado todo egoísmo, injustiça, mentira e pecado, e empenhemo-nos numa vida marcada pela partilha, justiça, verdade e graça.
Na acolhida e espera do Senhor que vem, contra toda possibilidade de divisão, é preciso, congregados pelo Evangelho, viver na vigilância e no amor mútuo.
Como batizados, esperar o Senhor que vem é o abandono das obras das trevas, para que, como pessoa, família, Igreja e sociedade, vivamos na luz.
Para isto, é preciso que sejamos sempre despertados de nosso sono: na aurora da chegada do Senhor a noite de nossa existência será iluminada.
Importante lembrar que “Santo Agostinho compara seu estado na vigília da conversão a um sono semidesperto, em que metade de sua vontade, acordada e ao lado de Deus, mandava que a outra metade despertasse e se decidisse.
Sono profundo ou sono semidesperto, não somente o estado de quem está em pecado ou vive esquecido de Deus, mas também a tibieza, a incoerência, a indecisão: um cristianismo ‘implícito’ que seria melhor chamar de cristianismo apagado…
Foram precisamente as últimas palavras de Paulo que acabamos de ouvir que levaram Agostinho a dar o último passo para a conversão. Encontrava-se num jardim em Milão, no ápice daquela luta entre ‘as duas vontades’, quando ouviu uma voz misteriosa que cantava: ‘Pega e lê’.
Pegou a Bíblia e abriu-a, leu as palavras de Paulo que diziam para que se despertasse do sono, e dessa forma encontrou luz e paz no coração, Havia, enfim, tomado sua decisão diante de Deus” (2)
A passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 24,37-44), reforça a atitude de vigilância na fé que o cristão deve ter, em compromisso irrenunciável e inadiável com o Reino. A vinda do Senhor é certa, é preciso estar vigilante, preparado e ativo.
Estar vigilante para a vinda do Senhor implica em abertura e disponibilidade para o Reino de Deus, eterno e universal, marcado por relações de verdade, vida, graça, justiça, santidade e paz, como tão bem expressou o Prefácio da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Para isto, o Evangelista nos apresenta três quadros: o ócio, o trabalho e a não vigilância, ou seja, a despreocupação com a vida e a existência; ou o contrário, os compromissos e trabalhos para a subsistência; e por fim a ausência da vigilância, que leva à perda do encontro com o Senhor que vem. (v.37-39; 40-41; 43-44, respectivamente).
Somente a atitude de vigilância nos prepara para o verdadeiro Natal: a passagem das trevas para a luz, do pecado para a graça, do distanciamento para a comunhão e intimidade com Deus, do ódio para o amor.
Recuperemos a dimensão Pascal do Natal para celebrar o Nascimento de Jesus, o Sol Nascente, a Luz sem ocaso, que nos veio visitar e sempre vem nos visitar.
Nossa espera é memória e presença. Memória porque Aquele que esperamos, Jesus, já veio (por isto a preparação necessária para o Natal), e presença, porque cremos e sentimos que Jesus está desde agora conosco; presente de modo salutar e real na Santíssima Eucaristia, que não apenas celebramos, mas comungamos, porque é o Deus Conosco, o Deus que Se faz Pão, Comida e Bebida para nos Alimentar e nos Salvar.
Que o Tempo do Advento seja a nossa ida com alegria ao encontro de Alguém que caminha conosco, e mais do que caminhar ao nosso lado, Se faz morada em nós.
(1) O Verbo se fez carne – (Pe. Raniero Cantalamessa) p. 17.
(2) Idem pp. 18-19.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
Finalizando mais um ano Litúrgico, somos convidados a refletir sobre a vinda futura do Senhor, sua segunda vinda gloriosa.
Deste modo, sejamos iluminados pela passagem da Segunda Carta do Apóstolo Paulo aos Tessalonicenses (2 Ts 3,7-12), que nos fala da vida futura e definitiva, a ser esperada sem preguiça e comodismo.
A comunidade não pode cruzar os braços, tão pouco “viver nas nuvens”, assim como não pode perder tempo com futilidades, e nada de útil fazer.
É forte a mensagem dirigida à comunidade: não há lugar para parasitas que vivam à custa dos demais, o que se caracterizaria em consumidores.
Há uma exortação à responsabilização de todos, porque o Reino de Deus começa aqui e agora e a todos compromete; portanto, jamais compreendido como uma evasão do mundo:
“…Jesus de Nazaré não traz uma plenitude totalmente pronta. Não em uma intervenção mágica que desresponsabiliza o homem. É verdade que chegou a plenitude prometida, mas espera ser completada. É um dom, mas simultaneamente uma conquista”. (1)
Na espera do Senhor que vem, façamos portando, uma revisão e avaliação do ano vivido, sobretudo nossos sagrados compromissos com o Reino, e renovemos nossa predisposição e forças para iniciarmos mais um ano, em maior e melhor correspondência aos desígnios divinos, a fim de que não apenas digamos, mas vivamos o que rezamos todos os dias – “Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu”.
(1) – Missal Dominical – pp. 1295-1296.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em https://peotacilio.blogspot.com/
Ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo (ano C), a Liturgia nos convidará a refletir sobre o modo diferente de Sua realeza.
A realeza de Jesus se expressa numa vida marcada pelo amor vivido, no serviço, na doação de Sua vida e no perdão, concedido a quem se põe numa atitude sincera de arrependimento e conversão.
Com a Festa de Cristo Rei, celebramos a festa da soberania de Cristo sobre a comunidade que n’Ele professa a fé, em total e incondicional adesão, tornando-se, como Ele, servidora do Reino, para com Ele também reinar.
Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro de Samuel, que nos apresenta Davi, como o rei de Israel, e um tempo marcado pela felicidade, abundância e paz (2 Sm 5,1-3).
Tempos depois, o Povo de Deus viveria situações totalmente adversas, e, com isto, o anúncio profético da vinda de seu descendente, que devolveria a este a alegria, a vida e a paz: o próprio Jesus.
Na segunda Leitura, ouvimos a passagem da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 1, 12-20), que nos apresenta a soberania de Jesus Cristo sobre toda a criação, sendo Ele a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criatura (herdeiro principal), e também a fonte de vida plena para toda a humanidade, porque n’Ele, por Ele e para Ele, todas as coisas foram criadas.
Com isto, podemos afirmar que Jesus deve ter a centralidade em nossa vida, e n’Ele crer, implica numa nova conduta, novos pensamentos e sentimentos, porque a Ele totalmente configurados.
Na proclamação do Evangelho, ouvimos a passagem de Lucas (Lc 23, 35-43), com a realização da promessa que fora feita desde os tempos dos Profetas: Jesus é o Messias, o Rei, o enviado por Deus que vai transformar a realidade do povo, inaugurando o Reino de Deus, não edificado sobre a força, a violência, na lógica do extermínio, tão pouco na imposição, mas tem como pilares o amor, o perdão e o dom da vida.
A narrativa de Lucas nos apresenta Jesus crucificado entre dois malfeitores, e, diante de Si, um povo silencioso, perplexo, e sobre Sua Cruz a inscrição:
“Este é o rei dos judeus”: “Ele não está sentado num trono, mas pregado numa Cruz; não aparece rodeado de súditos fiéis que o incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que o insultam e dos soldados que O escarnecem. Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está pregado numa Cruz, indefeso, condenado a uma morte infamante… Não há aqui qualquer sinal que identifique Jesus com poder, com autoridade, com realeza terrena” (1).
É exatamente na Cruz que Jesus manifesta plenamente a Sua realeza. A Cruz é o Seu trono. Reinar com o Senhor implica também que os discípulos tenham a coragem de tomar a sua cruz quotidiana, com as renúncias necessárias, para segui-Lo com disponibilidade, fidelidade.
Reinar com Jesus é experimentar a força desarmada do amor, e tão somente assim se torna digna e frutuosa a celebração da Solenidade de Cristo, Rei e Senhor do Universo.
Finalizando, é preciso repensar nossa existência como discípulos missionários do Senhor.
Reflitamos:
– Como testemunhamos Jesus, um rei despojado de tudo e pregado numa Cruz?
– vivemos um discipulado despido de pretensões de honras, glórias, títulos, aplausos, reconhecimento, ibope, glamour?
Uma vez que proclamamos Jesus como nosso Rei e Senhor, reinemos com Ele, no amor, no perdão e na entrega da vida, em sincera e frutuosa doação em favor da vida plena e feliz para todos.
Reinemos com Jesus, fazendo d’Ele e de Sua Palavra o centro de nossa vida.
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
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Senhor, que jamais nos vangloriemos de participar ativamente da Igreja, possuir ministérios ou ter um serviço na comunidade eclesial de que fazemos parte, porque tudo é obra de Tua graça.
Senhor, que jamais, por pertencermos a uma comunidade que professa a fé em Ti, substituamos as relações de serviço por relações de poder, de domínio, de opressão, na busca da promoção pessoal, somada à desvalorização de outras pessoas.
Ensina-nos, Senhor, a viver uma religião autêntica, que consiste em adorar ao Deus vivo e verdadeiro, sem a promoção do culto a si próprio, buscando a satisfação dos próprios interesses, e jamais fazer do Altar um “palco de si mesmo”.
Assim, Senhor, estaremos vigilantes, participando do Teu Reino, numa vida expressa em doação, serviço e entrega por amor, e tão simplesmente por amor a Ti, servindo-Te na pessoa de quem mais precisa. Amém.
Fonte inspiradora: passagem do Evangelho Lucas 19, 45-48
Cristãos Leigos e Leigas
Senhor Jesus Cristo, Vivo e Ressuscitado, Vós nos apresentastes, o Sermão da Montanha, como um Projeto de vida plena e feliz a ser vivido na planície, com renúncias necessárias, em total adesão e fidelidade, carregando nossa cruz de cada dia, na prática das bem-aventuranças.
Senhor, que sejamos pobres em espírito, abertos e confiantes na onipotência da Misericórdia do Vosso Pai, para que, como templos do Espírito Santo, irradiemos luminosidade onde vivemos, e como sal da terra, cuidemos do planeta em que habitamos, nossa casa comum.
Que saibamos viver os sins e os nãos, com sabedoria e firmeza, quando formos chamados a dar razão de nossa esperança, no fecundo testemunho da fé, acompanhado de gestos concretos de partilha, comunhão, solidariedade, como sinais do Vosso Reino.
Que saibamos dizer não à cultura do descartável; à globalização da indiferença; à violência de mil rostos; à idolatria do poder e do dinheiro; à busca do sucesso, fama e glória a qualquer preço; ao autoritarismo; à omissão de sagrados compromissos com a dignidade e sacralidade da vida.
Mas, que saibamos dizer sim à beleza da vida; à alegria da evangelização, missão que nos confiastes de ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa; à vida de comunidade; à comunhão com os ministérios ordenados, numa fecunda espiritualidade de comunhão ao Vosso Evangelho; à graça dos Sacramentos; ao amor fraterno; à vocação universal de santidade.
Senhor, nós Vos adoramos e glorificamos, Vós que viveis e reinais com o Pai na mais bela e plena comunhão com o Espírito, por nos acolher como filhos e filhas pelo batismo, e pedimos que nos acompanhe com Vossa graça, para que Vos seguindo, com o nosso agir, a verdade, a justiça, o amor e a solidariedade floresçam e se espalhem em nosso mundo
Fazei que compreendamos melhor que a nossa missão é o sair de si, em doação generosa, dando sabor de Deus à vida, dissolvendo silenciosamente em favor da vida plena e feliz e cheia de luz, com um coração sábio para gerar luz, sabedoria, como Vós fizestes, na fidelidade ao Vosso Evangelho, Luz para todos os povos.
Senhor, afastai de nós todo o medo, firmai nossos passos, solidificai nossa fé, esperança e caridade, num vínculo a ser vivido até a glória eterna, unindo-nos aos que nos precederam, e que já se encontram no repouso eterno, contemplando Vossa face luminosa. E por fim, que tenhamos Vossa Mãe como companheira e figura da Igreja. Amém.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
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Vigilância ativa e perseverança na fé
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19)
Na proximidade do final do Ano Litúrgico, a Liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida a refletir sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva.
É preciso renascer em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus.
A primeira Leitura (Mal 4,1-2) retrata o período pós-exílio, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. O Profeta Malaquias (“o meu mensageiro”) convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade.
Seu anúncio sobre o Dia do Senhor é uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.
Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.
A segunda Leitura (2 Ts 3,7-12) nos fala da vida futura e definitiva, que deve ser esperada sem preguiça e comodismo. A comunidade não pode cruzar os braços, tão pouco “viver nas nuvens”, assim como não pode perder tempo com futilidades, e nada de útil fazer.
É forte a mensagem dirigida à comunidade: não há lugar para parasitas que vivam à custa dos demais, o que se caracterizaria em consumidores.
Há uma exortação à responsabilização de todos, porque o Reino de Deus começa aqui e agora e a todos compromete. Não é a evasão do mundo:
“…Jesus de Nazaré não traz uma plenitude totalmente pronta. Não em uma intervenção mágica que desresponsabiliza o homem. É verdade que chegou a plenitude prometida, mas espera ser completada. É um dom, mas simultaneamente uma conquista”. (1)
A passagem do Evangelho (Lc 21, 5-19) retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém. E no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.
Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.
Podemos falar em três tempos:
– O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;
– O tempo da missão da Igreja;
– O tempo da vinda do Filho do Homem.
Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (21,12).
Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.
“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (21,16-17). (2)
Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (21,19).
“A coragem de resistir sob a pressão do mundo (mesmo para nós hoje) é condição importante para sermos verdadeiros discípulos de Jesus, dispostos a segui-Lo até a Cruz. É aí que Cristo reina! Assim nos preparamos para a Solenidade de Cristo Rei” .(3)
Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (4), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.
Reflitamos:
– Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?
– Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?
– Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, qual confiança tenho em Deus para enfrentá-las?
– Qual esperança cultivo no coração?
– Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?
– Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico como expressão de uma vigilância ativa?
– Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?
Oremos renovando nosso compromisso diante de Deus para que permaneçamos firmes na fé, e um dia alcancemos a vida eterna:
“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.” (5)
+Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
Bispo Diocesano de Guanhães
(1) – Missal Dominical – pp. 1295-1296.
(2) (3) – Lecionário Comentado – p. 807.
(4) – Missal Dominical – p. 1296.
(5) – Lecionário Comentado – p. 809.
Disse o Senhor na passagem do Evangelho (Lc 21,5-19) proclamada no 33º Domingo do Tempo Comum (ano C): “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos e amigos. E eles matarão alguns de vós” (Lc 21, 16).
Retomo um trecho do Sermão do Papa e Doutor da Igreja, São Gregório Magno (séc. VI):
“Nós sofremos menos pelos males causados por estranhos, porém nos são mais cruéis os tormentos que sofremos da parte daqueles em cujo amor confiávamos; porque, além do tormento do corpo, sofremos o amor perdido, eis por que de Judas, Seu traidor, diz o Senhor pelo salmista:
‘Na verdade que, se o ultraje viesse de um inimigo meu, teria sofrido com paciência; e se a agressão partisse daqueles que me odeiam, poderia ter-me salvo deles; mas tu, meu companheiro, meu guia e meu amigo; com quem me entretinha em doces colóquios, que andávamos juntos na casa de Deus’.
E novamente: ‘Até o próprio amigo em quem eu confiava, que partilhava do meu pão, levantou contra mim o calcanhar’. Como se de seu traidor dissesse claramente: ‘sua traição me é tanto mais dolorosa quanto mais íntimo me parecia ser aquele de quem a sofri’”.
São Gregório retrata possíveis experiências que possamos já ter vivido. Podemos já sofrido por um amor perdido, como assim vivenciou Nosso Senhor, em relação à traição de Judas, a quem tanto amou, e não foi correspondido, e nem por isto deixou de amá-lo. Quem mais poderia amá-lo e nos amar tanto assim?
Quanto ainda temos que nos converter e amadurecer para amar, incondicionalmente, como Jesus nos ama?
Findando mais um Ano Litúrgico, ainda temos um longo aprendizado na prática do Mandamento Maior do amor a Deus, que se expressa no amor ao próximo, para que O coroemos e O glorifiquemos como Senhor de nossa vida e de todo o Universo.
(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – P.755
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
https://peotacilio.blogspot.com/2019/11/sofremos-o-amor-perdido-33dtcc.html