A Palavra do Bispo
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.
Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.

“Entremos na Alegria do Pai”
Com a Liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum (Ano C), somos convidados a contemplar a face misericordiosa de Deus, que se revela num Amor infinito e incondicional pela humanidade, de modo especial pelos pecadores e excluídos.
A primeira Leitura (Ex 32,7-11.13-14) retrata um momento fundamental na História do Povo de Deus. Moisés está no Monte Sinai, e lá Deus Se manifesta com Ele dialoga, mais ainda, ora e intercede pelo povo que, infringindo os termos da Aliança, faz um bezerro de ouro para ser adorado.
A mensagem fundamental é o retratar do compromisso de amor e comunhão de Israel com Deus, sem o que cairá em nova escravidão, da qual Javé os libertou. Sem fidelidade e adoração a Javé não há vida, liberdade e felicidade.
Ressalta-se a intercessão de Moisés e a ação misericordiosa de Deus, que se expressa em ternura e bondade. O Amor infinito de Deus pelo Seu Povo sempre fala mais alto que Sua vontade de castigar por causa dos desvios e infidelidades cometidas. A lealdade e o infinito Amor de Deus são notáveis e incontestáveis.
A atitude de Moisés é questionadora: face à indignação de Deus, intercede pelo Povo e não deixa que a ambição pessoal se sobreponha ao interesse do Povo – “deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua; de ti farei uma grande nação”. Moisés não aceitou a proposta, mas intercede em favor do povo. Moisés nada pede para si e questiona a tantos que sacrificam tudo pelo status, poder e acúmulo de bens…
Questionemo-nos:
– Quais são as infidelidades que cometemos contra Deus?
– Como corresponder melhor ao infinito e incondicional Amor de Deus por nós?
– Quais lições temos a aprender com Moisés nesta passagem bíblica?
A segunda Leitura é uma passagem da Carta de Paulo a Timóteo (1 Tm 1,12-17) que retrata o ministério do Apóstolo e os efeitos da misericórdia de Deus em sua vida.
A Carta aborda três temas:
– A organização da comunidade;
– Como viver a fé e combater as heresias;
– A vida cristã dos fiéis.
O Apóstolo vê seu ministério como ação da misericórdia e da magnanimidade divinas. Com isto, somos convidados a tomar consciência do Amor que Deus a todos oferece, sem exceção, sejam quais forem as faltas cometidas. É este Deus misericordioso que Paulo conheceu e testemunhou, e que também devemos conhecer e testemunhar.
Como o Apóstolo, viver a gratidão para com o Amor de Deus, que é irrestrito e incondicional, e questionar qual o amor que vivemos para com Deus e para com o nosso próximo.
A passagem do Evangelho (Lc 15, 1-32) é apresentada no contexto do caminho de Jerusalém, onde Jesus consumará a Sua missão, Paixão, morte e Ressurreição.
As três Parábolas comunicam ao Amor de Deus derramado sobre os pecadores, sendo a segunda e terceira exclusivas do Evangelista Lucas, e não por acaso, o Evangelho de Lucas é chamado de “Evangelho da ternura divina”, como bem cita o Missal Dominical:
“Lucas, o evangelista da ternura divina multiplica as narrativas que mostram Jesus em busca dos mais abandonados, dos pobres, dos pecadores, realçando assim o próprio fundamento da nossa religião, que é a atitude dos que são arrebatados pelo abismo do Amor de Deus”. (1)
As Parábolas são apresentadas num contexto muito concreto, em que Jesus é questionado pelos fariseus e escribas pelo fato de andar e comer com os pecadores.
Elas revelam a misericórdia divina, que tem uma lógica diferenciada dos fariseus e escribas (lógica da intolerância e exclusão), pois a misericórdia divina faz novas as criaturas.
Normalmente, são conhecidas como Parábolas da “ovelha perdida”, “moeda perdida” e “filho pródigo”, mas poderiam ser apresentadas de outra forma: a misericórdia e alegria de Deus pelos pecadores que se convertem.
Deus jamais rejeita e marginaliza, ama-nos com Amor de Pai, e esta há de ser a atitude dos discípulos para com os pecadores: amor que vai ao encontro, acolhe e perdoa:
“Não existe verdadeira experiência humana sem intercâmbio, diálogo, confidência, verdadeiro amor recíproco. Só o amor é capaz de transformar, mas com uma condição: que seja gratuito e livre” (2)
Um amor que reintegra e celebra com alegria a volta daquele que estava perdido, morto, e encontrado voltou a viver.
As Parábolas expressam a ação divina que abomina o pecado, mas ama o pecador. A comunidade é chamada a ser testemunha da misericórdia divina e jamais compactuar com o pecado.
Amar como Deus ama, um amor incompreendido e que nos dá vertigem.
Os seguidores de Jesus, que se põem a caminho com Ele, farão sempre uma caminhada de penitência e conversão, sem recriminar e excluir, mas acolhendo os pequenos, pecadores, e também se deixando ser acolhido pelo Amor de Deus.
Amados, acolhidos e perdoados por Deus tornamo-nos acolhedores e sinais do Seu Amor e do Seu perdão, que recria e faz novas todas as coisas. Verdadeiramente, a misericórdia divina vivida nos faz novas criaturas.
As Parábolas revelam que o Amor divino vai até o fim. Como não transbordar de alegria diante deste Amor que nos ama e nos ama até o fim?
Entremos na alegria de Deus, revelada a nós por Jesus, acolhendo e nos deixando conduzir pela ação do Espírito Santo.
Redimidos pelo Amor Trinitário, preenchidos deste Amor, seremos dele comunicadores, transbordando o mesmo Amor para com o outro, na alegria do perdão dado e recebido.
Reflitamos:
– Sinto este Amor incondicional, irrestrito e eterno de Deus?
– De que modo rejeitar o pecado e não o pecador?
– O que as Parábolas da misericórdia divina nos ensinam?
– Como vivemos a fidelidade e correspondência ao Amor divino?
– Entramos na alegria de Deus, na festa dos reconciliados, dos que estavam perdidos e foram encontrados, dos que estavam mortos e voltaram a viver?
– Em que nos assemelhamos aos fariseus e escribas e sua lógica de recriminação e exclusão?
– Sentimo-nos acolhidos, amados e perdoados por Deus?
– Somos instrumentos de acolhida, amor e perdão divinos?
Finalizando, “Cristo nos revelou um Deus como desejamos. Um Deus que é Amor e misericórdia.“ (3)
(1) (2) (3) – Missal Dominical pág. 1236.
+ Otacilio Ferreira de Lacerda,
Bispo Diocesano de Guanhães.
Amor e ardor na fidelidade ao Senhor! (Homilia 23º Domingo Tempo Comum – ano C)A Liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a refletir sobre as exigências para seguir Jesus.
Constatamos que não se trata de um caminho marcado por facilidades. Ao contrário, o caminho da Cruz exige renúncia, coragem, desapegos, desprendimentos como veremos à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).
Caminhemos com o Senhor rumo a Jerusalém. Seguir o Senhor, não é falta de opção, ao contrário, é a melhor e a mais decisiva opção que fazemos em nossa vida.
Trata-se da mais radical, pois deve ser feita na raiz de nosso coração, na raiz de nossa vida, de modo que nossa vida é redimensionada e deverá ser pautada pela Sabedoria Divina que nos é revelada, de modo especial na Sagrada Escritura.
Esta escolha implica fortalecimento do coração com o Amor Divino, e a nossa mente com sua mais bela e desejada Sabedoria (Sab. 9,13-18).
O amor é essencial para que se fortifique novo modo de se relacionar rompendo barreiras, superando preconceitos, numa relação de irmãos e irmãs em Cristo como nos fala o Apóstolo à Filemon ( Fm 9b-10.12-17).
A Sabedoria Divina possibilita-nos o conhecimento da vontade de Deus, acompanha-nos em nossos discernimentos para viver a Sua vontade com paciência, constância e prudência.
Assim conclui-se que só por amor e com Sabedoria Divina trilharemos o caminho da cruz que, por mais paradoxal que possa parecer, é o caminho da felicidade.
Neste caminho três exigências para que sejamos cristãos, de fato:
Deste modo, compreenderemos e veremos confirmada a Palavra do Senhor: “Quem perder sua vida por causa de mim, ganhá-la-á” (Lc 9,22-25).
Como vemos nas Parábolas do Evangelho, aquele que se coloca a caminho com o Senhor, precisa da “sabedoria do arquiteto” e a “prudência de um rei”, para um seguimento que não seja entusiasmo momentâneo.
Sejamos realistas como o arquiteto e prudentes como o rei evitando ilusões fáceis, não reduzindo o cristianismo apenas ao “cultivo de boa vontade”.
Sábios e criativos, saberemos enfrentar os riscos que o compromisso cristão nos apresenta a cada momento, contando com a Fonte da Sabedoria, a presença do Espírito.
Por isto, concluamos com compromisso de mais tempo dedicado à oração e leitura da Palavra Divina, pedindo ao Senhor, uma vez por Ele amados e seduzidos, que jamais O desapontemos no caminhar da fé.
Tenhamos a maturidade de suportar os riscos de nossa fé cristã, com a certeza de que na fidelidade vivida na construção do Reino, nutridos provisoriamente no Banquete da Vida, um dia no Banquete Eterno a Coroa da Glória nos será alcançada.
Se quisermos seguir Jesus… Por onde iremos?
Pelo caminho da facilidade ou da felicidade?
O que é necessário para que sigamos o Senhor?
Sem cruz não há fidelidade no seguimento ao Senhor!
Sem despojamento, desprendimento e
renúncia não há discipulado!
Como discípulos missionários do Senhor,
amemos com o Amor do Amado.
Eis a fonte, princípio e meta de um autêntico,
frutuoso e desejado discipulado!
+ Dom Otacilio Ferreira de Lacerda