A Palavra do Bispo

Mensagens e publicações do bispo diocesano, Dom Otacilio Ferreira de Lacerda.

Presbítero: homem da imersão e da emersão…

 

Imerso no Amor para fazer emergir a vida…”

Em todo tempo, mas de modo especial na Quaresma, vivemos, como Igreja, o Tempo da graça e reconciliação; tempo de revisão e revigoramento de nossa fé na fidelidade ao Senhor, configurados a Ele, com renúncias necessárias, para carregarmos a nossa cruz de cada dia, rumo à Páscoa.

Eis o Itinerário que Presbíteros e fiéis são chamados a percorrer, tendo como meta a Ressurreição, pois se com Ele vivemos e morremos, com Ele também Ressuscitaremos.

Retomando as palavras do Papa Bento XVI, na Mensagem Quaresmal 2011, detenhamo-nos nesta afirmação:

“A Transfiguração é o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus…”.

Indubitavelmente, não poucos são os “boatos da vida quotidiana”, que podem nos afastar dos fatos que clamam a nossa solicitude, na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, no exercício de nosso ministério.

Convém ressaltar, que boatos aqui não são meramente fofocas, como se possa pensar, mas ruídos que interferem na escuta dos clamores do rebanho por Deus confiado.

Por “boatos”, também podemos entender a ditadura do relativismo, que o Papa tanto denunciou, onde as verdades se tornam transitórias, valores se tornam relativos, esvaziando de sentido os princípios, que deveriam nortear a existência da humanidade.

No início do Itinerário Quaresmal com o Senhor, vimos que “boatos” podem ser as propostas satânicas, que nos desviam do Projeto Divino, na realização de nossa vocação, quer Presbíteros ou não.

São as tentações que Jesus venceu no deserto: ter, ser, poder – abundância, prestígio e domínio, respectivamente.

Ceder a elas nos afastaria da graça de sermos instrumentos de Deus na construção do Reino, pois como bem disse o Bispo Santo Irineu (séc. I): “a nossa glória é perseverar e permanecer no serviço de Deus”.

Evidentemente, muitos outros “boatos” podem seduzir e enfraquecer a missão. Portanto, é sempre bom lembrar que somos anunciadores da Boa-Nova e não ouvintes e multiplicadores de “boatos”, que esvaziam o existir, destruindo a vida em todos os níveis.

Sem ouvidos a “boatos”, com distanciamentos necessários dos mesmos, o Papa nos convida para a imersão na presença de Deus.

Quanto mais mergulharmos nos Mistérios de Deus, mais místicos o seremos, mais encarnada e densa de conteúdo será nossa espiritualidade, no compromisso com os empobrecidos desfigurados pelo caminho.

Como Presbíteros, com toda a comunidade, urge que nos coloquemos na presença de Deus, para que nosso coração seja configurado ao coração do Cristo Bom Pastor, no cuidado do rebanho.

A imersão no Amor Divino é diretamente proporcional à emersão que somos chamados a realizar com toda a comunidade.

Imersos no Amor para fazer emergir a vida, vir à tona uma nova existência, uma nova Igreja, um Planeta mais bem cuidado e, consequentemente, mais amado.

Mais do que nunca, o Presbítero precisa ser o homem da imersão cotidiana e constante; o homem da Oração, do silêncio, da contemplação.

Um homem que permita que a luz divina ilumine a caverna escura de sua existência, enfim, um homem imerso neste mar de misericórdia e luz; somente assim poderá ajudar a comunidade a fazer e viver a mesma experiência e realidade.

Uma das exigências que o povo tem para conosco, mais do que perceptível, é que sejamos homens imersos no Mistério do Amor de Deus, pois só assim conseguiremos ajudá-lo a encontrar luz também para sua existência.

O Povo de Deus não quer respostas prontas, mas quer ter a certeza de que o Presbítero é um homem que a Deus encontrou na pessoa de Jesus Cristo, por Ele vive uma paixão que se renova em cada instante de sua vida, deixando-se guiar pela luz do Santo Espírito. Que seja um homem de Deus e do povo, sem separação, distanciamentos e dicotomias.

Reflitamos:

– Em que consiste o Ministério Presbiteral, à luz da transfiguração do Senhor?
– O que podemos compreender por “distanciar-se dos boatos da vida quotidiana”?

– Como Presbíteros, o que é “imergir na presença de Deus”?

Homem do deserto e do oásis revigorante e saciador; homem do céu e da terra simultaneamente; homem da montanha e da planície corajosamente; homem da imersão e da emersão incansavelmente… Numa palavra: homem itinerante e Pascal.

PS: Texto escrito quando exercia o Ministério Presbiteral na Diocese de Guarulhos-SP

Presbíteros testemunhas da mansidão e da doçura

 

 

Ajudai, Senhor, a fim de que todos os presbíteros mantenham a mansidão e a doçura, virtudes tipicamente cristãs, para com todos (cf. Mt 11,29), como assim fizestes para conosco, cansados e abatidos, como ovelhas sem pastor que estávamos.

Concedei-lhes a graça de serem inclinados à mansidão; acompanhado do autodomínio das paixões e desejos, afastando toda e qualquer forma de egoísmo, vivendo a graça do ministério na comunhão e sinodalidade.

Concedei-lhes progredir na paciência, constância e coragem, renúncia e sacrifício, desenvolvendo sentimentos de bondade inaugurando e fortalecendo relações fraternas de comunhão e solidariedade, como assim fizeram os santos no bom combate da fé. sem jamais fomentarem a discórdia, violência, e propagação do ódio e rancor.

Concedei-lhes a doçura que educa para a compreensão, à clemência, à humildade, à plena e contínua comunhão com Deus; assim como a mansidão, como sua mais alta e delicada expressão, porque, esquecendo-se de si mesmos, vivam e trabalhem para os outros. Amém.

Fonte: Missal Cotidiano, Editora Paulus, 1997, p.1483 – passagem bíblica: Tt 3,1-7.

 

O Presbítero e os meios de comunicação social

Sobre a missão dos Presbíteros nos meios de comunicação social, sobretudo neste tempo que estamos vivendo, em que se multiplica a sua atuação nos mesmos, oportuno retomar a Mensagem para o 44º dia Mundial das Comunicações Sociais, do Papa Bento XVI, no ano de 2010, dada a pertinência e atualidade do Tema: “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra”.

Acena para a crescente importância dos modernos meios de comunicação que fazem parte, desde há muito tempo, como instrumentos na ação evangelizadora.

A missão sacerdotal tem como tarefa primária anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de Salvação mediante os Sacramentos, citando a passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 10,11.13-15), sobre esta “altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal – “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. […] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?”

Novamente citando o Apóstolo – “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16), vê no mundo digital a abertura de perspectivas e concretizações notáveis para a evangelização aconteça, de modo que o sacerdote se ocupará pastoralmente disto, colocando todos os media ao serviço da Palavra.

No entanto, é pedido aos presbíteros a capacidade de “…estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas ‘vozes’ que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos ‘media’ tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese”.

O sacerdote na pastoral digital, como consagrado deve fazer transparecer seu coração de consagrado e revelando a todos e à humanidade desorientada de hoje, que “Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros” (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: «L’Osservatore Romano» (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].

A missão do consagrado nos meios de comunicação, no complexo “ciberespaço”, é “aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era «digital», os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral”.

Reafirma a necessidade, como Igreja, colaborar na promoção de uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana, no exercício da “diaconia da cultura” no atual “continente digital”.

Um desafio para a pastoral no mundo digital: a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contato com crentes de todas as religiões, com não crentes e pessoas de todas as culturas.

Citando o Profeta Isaías (Is 56,7), indaga se não é ocaso da necessidade de prever que a internet possa dar espaço – como o “pátio dos gentios” do Templo de Jerusalém – também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido.

Neste sentido os novos media oferecem aos presbíteros:

– perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta;

– possibilidade ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar.

No entanto, não se pode esquecer a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos, sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.

Conclui renovando o convite para que os Sacerdotes aproveitem com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna, tornando-se apaixonados anunciadores da Boa Nova na “ágora” moderna criada pelos meios atuais de comunicação.

Se desejar, acesse e leia na integra:

http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/messages/communications/documents/hf_ben-xvi_mes_20100124_44th-world-communications-day.html

Cidades mais humana

 

 “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago”

(Lc 10,18)

É sempre oportuno e necessário refletir sobre a missão da Igreja, considerando que é tempo de evangelizar, como nos lembram as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil (2019-2023) (Documento 109 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB):

“EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”

Deste modo, é missão da Igreja lembrar a todos que não somos donos de nós mesmos, e somos todos responsáveis uns pelos outros, a fim de favorecer vida digna para todos; livre de toda forma de exclusão.

Isto pode acontecer quando os cristãos, de modo especial, em coerência com a Palavra Sagrada, que creem na fé que professam,  denunciam a servidão de homens e mulheres aos poderes econômicos e políticos de qualquer tipo; colaborando na edificação de um universo mais humano; colaborando para a libertação de atavismos (heranças) e hábitos, do legalismo frio e que rouba a beleza da vida, bem como sacralizações ilusórias que em nada colaboram para a sacralidade da vida humana, desde sua concepção até seu declínio natural.

Muito mais do que denunciar as alienações, é preciso que curemos as chagas que ferem a humanidade.

Como nos diz o Senhor no Evangelho de Lucas (Lc 10,17-24), somos capazes e se faz necessário fazer Satanás “cair do céu’”, tornando nossas cidades mais humanas.

Sejam fortalecidas todas as lutas contra as segregações de toda sorte; suprimidas todas as causas da opressão; reformadas as estruturas políticas, quando estas se mostram incapazes de resolver os problemas da sociedade moderna (moradia, ensino, cultura, lazer…).

Multipliquem-se todo trabalho e empenho, para que sejam aliviadas enfermidades; idosos acolhidos e amparados em direitos sociais já adquiridos e que sejam assegurados.

Vençamos toda forma de isolamento, bem como sejam repelidas todas as pressões ou situações que levem as pessoas ao vício e à injustiça, e à expressão máxima, que se vê aumentando dia pós dia, o suicídio.

Eis a missão da Igreja, como sal da terra e luz do mundo e fermento na massa, em total fidelidade ao Senhor, que nos enviou ao subir para o céu, nos comunicando a presença e a ação do Espírito que vem em socorro de nossa fraqueza, firmando nossos passos em santos propósitos, para que construamos cidades mais humanas e mais fraternas, onde Deus seja visto com maior nitidez aos nossos olhos, em sorrisos e pessoas felizes, com dignidade e encantamento pela vida.

Fonte inspiradora:

Evangelho de Lucas (Lc 10,17-24)

Comentário do Missal Quotidiano – Editora Paulus  – p.1346.

 

 

Ensina-me, Senhor, a perdoar como Vós perdoastes

 

                                                                          Somente assim retomo as rédeas da minha existência,

Sem ficar à deriva de sentimentos que fragilizam,

Porque corroem, destroem novos relacionamentos.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,

Pois tão somente assim reencontro a saúde;

Não tão apenas do corpo, mas da alma, em paz de espírito.

Serenidade alcançada, passos firmes sem vacilar.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,

Para não cultivar comportamentos negativos e impróprios,

Nem simular uma falsa paz, em que tudo parece bem,

Mas inquieto e consumido no mais profundo, tristemente.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes,

Compreendendo as causas profundas do coração

De quem me ofendeu: seus problemas, limitações,

E, de sua inconsequente atitude, primeiro perdedor.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes.

Derrama em mim as Vossas copiosas Bênçãos,

Mas antes sobre aqueles que me feriram

E, se preciso, minhas mãos a estes, para curar, estender.

Ensina-me, Senhor, a perdoar, como Vós perdoastes.

Quero tornar minhas Vossas dulcíssimas Palavras:

“Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem”.

Que, por Vós, amado e perdoados, amemos e perdoemos.

Amém!

“Graça, misericórdia e paz”

Reflexão à luz da passagem da Carta do Apóstolo Paulo a Timóteo (1 Tm 1, 1-2.12-14).

Retomo os dois primeiros versículos:

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus nossa esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé: a graça, a misericórdia e a paz de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Sobre estes versículos, o Lecionário Comentado nos enriquece com estas palavras:

“Ao filho Timóteo, que ele gerou na fé e com o qual partilha o ministério, Paulo augura que possa experimentar a ‘graça’, ou seja a presença do Espírito, infundido pelo Pai e pelo Filho; a ‘misericórdia’, isto, é o perdão de Deus (só nas Cartas a Timóteo é que Paulo augura também a misericórdia); a ‘’paz’, ou seja, a reconciliação com Deus, consigo mesmo, com o seu serviço, com os irmãos e com o mundo” (1)

Esta saudação Paulina pode ser repetida por nós a quantos pudermos: “Graça, misericórdia e paz”, pois todos precisamos da graça que nos vem pelo Espírito que em nós habita; da misericórdia, porque imperfeitos que somos, pecadores consequentemente o somos, e colocamos nossa miséria nas mãos de Deus que nos ama e nos perdoa e nos faz uma nova criatura, e por fim, somos plenificados pela paz, pelo “shalon”, plenitude de bens e dons, pela gloriosa presença do Ressuscitado em nosso meio, que conosco caminha, desde aquela aurora, em que se manifestou o Sol Nascente a Maria Madalena e aos primeiros Apóstolos.

Que também possamos ouvir de nossos irmãos e irmãs a mesma saudação: “graça, misericórdia e paz”, para que nossa vida cristã esteja inteiramente situada entre a experiência da misericórdia de Deus por nós, que somos pecadores, e a solicitude misericordiosa pelos nossos irmãos e irmãs, como expressão de quem foi amado e perdoado por Deus, que espera o mesmo de cada um de nós em relação ao nosso próximo.

(1) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – p.322

“A caridade é a plenitude da Lei”

“O amor não faz nenhum mal contra o próximo.

Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.” (Rm 13,10)

Com a Liturgia do 23º Domingo do Tempo comum (Ano A), refletimos sobre a nossa responsabilidade para com nosso próximo.

É inadmissível ao discípulo missionário do Senhor ficar indiferente de tudo que possa ameaçar a vida e felicidade do outro, de modo que é preciso viver a corresponsabilidade.

Na passagem da primeira Leitura (Ez 33,7-9), o Profeta Ezequiel é apresentado como uma sentinela, colocado por Deus, sempre atento ao Projeto Divino, alertando a comunidade para os perigos que a cerca.

“O Profeta é um homem do seu tempo, mergulhado na realidade e nos desafios da sociedade em que está integrado; conhece o mundo e é capaz de ler, numa perspectiva crítica, os problemas, os dramas e as infidelidades dos seus contemporâneos.” (1)

O Profeta recebe de Deus o mandato da missão, e torna-se um sinal vivo do Amor de Deus pelo Seu povo:

“Deus que o chama, que o envia em missão, que lhe dá a coragem de testemunhar, que apoia nos momentos de crise, de desilusão e de solidão… O Profeta/sentinela é a prova de que Deus, cada dia, continua a oferecer ao Seu Povo caminhos de salvação e vida. O Profeta/sentinela demonstra sem margem para dúvidas, que Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.” (2)

Reflitamos:

– Como vivemos a missão profética que recebemos no dia de nosso Batismo?

– Qual o tempo que dedicamos para o encontro com Deus na Oração, para falar com Ele, ouvir e meditar a Sua Palavra?

– Quais são as situações do mundo em que vivemos, que, à luz da fé, exige que vivamos a missão profética?

Na passagem da segunda Leitura (Rm 13,8-10), o Apóstolo Paulo nos exorta a colocar no centro da vida cristã o Mandamento do Amor, uma dívida que jamais será plenamente saldada.

Em nossa experiência cristã somente o amor é essencial, e as demais coisas são secundárias.

É preciso orientar a vida pelo Mandamento do Amor, porque cristianismo sem amor se torna uma mentira, e como cristãos jamais podemos deixar de amar nossos irmãos.

O amor está no centro de toda a nossa experiência religiosa. No Mandamento do Amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos Mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor. A ideia de que toda a Lei se resume no amor não é uma ‘invenção’ de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica (Mt 22,34-40).” (3)

A comunidade tem sempre à frente um desafio: multiplicar as marcas do amor, diminuindo, ou melhor ainda, eliminar toda marca de insensibilidade, egoísmo, confronto, ciúme, inveja, opressão, indiferença, ódio.

Esta dívida do amor nos pede sempre algo novo para com o próximo:

“Podemos, todos os dias, realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão… mas é preciso, neste campo, ir sempre mais além.

Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.” (4)

Na passagem do Evangelho (Mt 18,15-20), Jesus nos ensina que o caminho para a correção fraterna não passa pela humilhação ou condenação de quem tenha falhado.

É imperativo o diálogo fraterno, leal, amigo, precedido e acompanhado da vivência do Mandamento do Amor, que é nosso distintivo como discípulos do Senhor.

Toda comunidade tem suas tensões e problemas de convivência, e Jesus nos apresenta os caminhos que precisamos percorrer para a superação.

Sejamos Profetas/sentinelas do Reino, envolvidos e acolhidos pela Misericórdia divina, vivenciando-a concretamente em gestos de acolhida e perdão, para que nossas comunidades sejam mais fraternas e credíveis da presença do Senhor Ressuscitado.

Aprendamos o caminho que Jesus nos propõe: ser misericordioso como Deus é misericordioso, buscando nossa perfeição e santificação e também de nosso irmão e irmã. E para tanto, a vivência do Mandamento do Amor é a máxima expressão de nossa fé no Senhor, e de nosso compromisso como discípulos missionários do Reino que Ele inaugurou.

O caminho é longo! Iluminados pela Palavra divina e revigorados pelo Pão da Eucaristia, continuemos passo a passo, sem jamais desistir.

 

(1) (2) (3) (4) – cf. www.Dehonianos.org/portal

Pães ázimos de pureza e verdade

“Assim, celebremos a Festa, não com velho fermento,
nem com fermento da maldade ou da perversidade,
mas com os pães ázimos de pureza e verdade”
(1 Cor 5,8)

Reflexão à luz da passagem da Primeira Carta do Apóstolo Paulo aos Coríntios (1 Cor 5,1-8), que rezamos nas Laudes:

– “Purificai-nos, Senhor, de todo fermento de malícia e perversidade, para vivermos a Páscoa de Cristo com os pães ázimos da sinceridade e da verdade;

– Ajudai-nos a vencer neste dia o pecado da discórdia e da inveja, e tornai-nos mais atentos às necessidades de nossos irmãos e irmãs”.

Para aprofundamento sejamos enriquecidos pelo Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V):

Caríssimos filhos, a natureza humana foi assumida tão intimamente pelo Filho de Deus, que o único e mesmo Cristo está não apenas neste Homem, primogênito de toda a criatura, mas também em todos os Seus santos […]

É Ele (Jesus) que une à Sua Paixão não apenas a gloriosa fortaleza dos mártires, mas também a fé de todos aqueles que renasceram nas Águas Batismais.

É nisto que consiste celebrar dignamente a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor.

A nossa participação no Corpo e no Sangue de Cristo age de tal modo que nos transformamos n’Aquele que recebemos. Mortos, sepultados e ressuscitados n’Ele, que O tenhamos sempre em nós tanto no espírito como no corpo”.

Malícia, perversidade, discórdia, inveja, e tantas outras formas de pecado, mancham nossa veste batismal, e ninguém pode dizer que não está livre, tanto que elevamos a Deus súplicas, para que Ele nos ajude a vencer tais tentações. Também suplicamos a Sua Misericórdia para nossa necessária purificação.

Sinceridade, verdade, solicitude para com os irmãos e irmãs, são mais do que desejáveis para nós que temos uma fé Pascal.

Rezar com a Igreja nos enriquece quotidianamente, e em cada Eucaristia ser nutrido pelo pão ázimo do amor e da verdade, porque isenta de todo fermento de maldade, que impossibilitaria que, n’Ele inserido, nova criatura fôssemos.

Somos fortalecidos ao receber a Eucaristia, pois somos nutridos com o mais belo Pão, que foi fermentado sim, mas com o mais puro Amor, no Sangue, copiosamente, na Cruz derramado.

Bem como, somos inebriados quando do Cálice participamos e bebemos da mais pura e necessária Bebida.

Comungando do Pão Consagrado, bebendo do Vinho consagrado, Corpo e Sangue do Senhor, n’Ele somos transformados e no mundo cada gesto de amor, partilha, perdão, compreensão, solidariedade, Sua ação e presença, testemunhadas.

É preciso sempre gerar e formar Cristo em nós, para gerá-Lo e formá-Lo no coração do outro.

Cada Eucaristia é e será sempre um novo e eterno acontecimento, sem nenhum mérito de nossa parte, mas pura expressão do Amor Divino.

Ontem, hoje e sempre, a Deus, honra, glória, poder e louvor, acompanhado do mais sincero e autêntico agradecimento. Amém.

Urge que ampliemos os horizontes da evangelização!

De modo especial, dedicaremos o mês de setembro à Sagrada Escritura. Procuremos valorizá-la cada vez mais em nossas comunidades, sobretudo ao celebrarmos o Banquete da Eucaristia; bem como nos momentos de profunda intimidade pessoal com Deus e sua Leitura Orante, que tão bem faz a quem neste caminho se propõe.

Neste sentido, é sempre oportuno lembrar o Objetivo Geral apresentado pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023): 

“EVANGELIZAR no Brasil cada vez mais urbano, pelo anúncio da Palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Jesus Cristo, em comunidades eclesiais missionárias, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, cuidando da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus rumo à plenitude”.

Com o aprofundamento das Diretrizes podemos ultrapassar as fronteiras da Igreja, dada a sua importância, como valioso instrumento para que, à luz da Palavra de Deus, possamos todos nos empenhar na construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

No entanto, seu estudo, além de necessário e enriquecedor, é também um forte apelo de conversão e renovado compromisso com Jesus, para que sejamos uma Igreja testemunha, e para tanto, que antes se faça discípula, deixando-se iluminar pela fonte da Palavra Divina, ricamente anunciada e proclamada nas Missas e Celebrações.

Uma Igreja verdadeiramente Eucarística, que se nutre da Palavra Divina, renova e empenha toda sua força e vida, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para assim evangelizar e se evangelizar, na mais perfeita expressão e concretização da caridade.

As Diretrizes insistem no sentido de formarmos uma paróquia, comunidade de comunidades, comunidades eclesiais missionárias, superando todo anonimato, superficialismo na fé, individualismo.

Como nos propõem as novas Diretrizes, sejam nossas comunidades como que uma casa com quatro pilares indispensáveis: a Palavra, o Pão, a Caridade e a Ação Missionária,

Renova-se o compromisso com a vida, em todos os seus aspectos, da concepção ao seu declínio natural, acompanhado também do apelo do cuidado da vida do planeta em que habitamos, nossa Casa Comum, na superação de toda falta de consciência ecológica, por atitudes comprometidas de sustentabilidade.

Sem dúvida, na evangelização, somente teremos êxito se:

– atentos aos clamores do povo de Deus;

– fidelidade a Deus e à Sua Palavra;

– não olvidarmos as Diretrizes que a Igreja nos apresenta.

Que as palavras do Apóstolo Paulo ecoem sempre em nossos corações na graça da missão evangelizadora:“Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16).

Cristãos leigos e leigas perseverantes no amor

Vivendo o terceiro ano Vocacional, reflitamos sobre a graça da missão realizada pelos cristãos leigos e leigas na obra da evangelização à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 14,25-33).

Para que tenhamos na Igreja, alegres e convictas testemunhas do Ressuscitado, são necessárias renúncias até de si mesmo, acompanhados de separação, radicalidade e realismo.

Tudo isto se faz na vivência dos desapegos de toda a ordem, na radicalidade própria do amor que sabe elencar o que é prioritário, num realismo inadiável, de modo que, sem renúncias, jamais haverá fidelidade no seguimento ao Senhor.

A fé cristã será, portanto, movida pela virtude da esperança enraizada no chão da caridade que é o próprio coração do homem e da mulher.

Somente assim, cristãos leigos e leigas serão discípulos missionários do Reino, sem medo, mas com muita alegria, procurando ter do Senhor Jesus os mesmos sentimentos, em total e incondicional fidelidade, com a presença e ação do Espírito Santo (Fl 2,5).

Cumpra-se, portanto, a Palavra Divina, para que na fidelidade ao Senhor progridamos: “Aqueles que perseverarem no amor ficarão junto de Deus, porque a graça e a misericórdia são para Seus eleitos”, já nos dizia o autor do Livro da Sabedoria (Sb 3,9).

Como Igreja sinodal, ponhamo-nos todos a caminho, firmados nos pilares da Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Missão, vivendo a graça do batismo recebido, com o coração ardente e os pés a caminho.

A Palavra do Pastor
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