Finados: dia de recolhimento, oração e contemplação de nossa realidade penúltima, a morte; fortalecimento na fé sobre nossa realidade última, a Vida Eterna!
Quantas vezes nós, padres, somos chamados para rezar pelos falecidos e familiares. Muitas vezes anônimos e desconhecidos de nossas comunidades; distantes de nossos altares! Quantas vezes são crianças revelando a dura realidade da dor que a morte provoca! Quantas vezes amigos, parentes, agentes!
Não há hora, dia, cansaço, compromissos, nem chuva ou sol que justifique nossa ausência. Ainda que de modo breve, uma breve mensagem da Palavra de Deus, um refrão, um canto, a água que nos lembra o Batismo e comunica a presença divina. O olhar, o abraço, a terna acolhida.
A morte deixa um vazio; um silêncio; uma abertura para que a Palavra naquela hora seja semeada; plantada. Uma ferida, uma chaga a ser curada, com o bálsamo da oração, da esperança anunciada, pela Palavra proclamada.
Nós Presbíteros temos uma importância indescritível na vida daquela família ao redor do caixão, daquele corpo estendido, revelando a limitação da existência humana, levando-nos a reconhecer nossa limitação/finitude.
Padres enamorados por Cristo, Homens da Palavra e do Pão; arautos da Páscoa Morte/Ressurreição, sabem que a solidariedade vivida é caminho de salvação; que a solidariedade naquele momento é o desabrochar das forças para a vida continuar e a cruz retomar, para que um dia possamos com aquele e com tantos outros que nos antecederam novamente nos encontrar; e a face divina, com os anjos e santos contemplar.
Uma paciente terminal assim disse: “Abraço a morte, Ela não é eterna. Quando nos encontramos com Deus, nos tornamos belos”.
Momento privilegiado de acolhida e fortalecimento, para não deixar o medo, do coração conta tomar. Quem sabe momento para renovação da chama do primeiro amor, retorno à vida da Comunidade, participação perseverante no banquete da Eucaristia?
Nas Exéquias (celebração de encomendação dos fiéis falecidos), ou numa Missa de sétimo dia, nós, padres, temos uma oportunidade imperdível de acolhida, carinho e solidariedade.
É verdade que muitas vezes parecem não compreender nossos ritos, são participantes da “ocasião”, que sejam! Eis momento de graça, de favorável acolhida. Manifestar a beleza de ser Igreja, de não estarmos nunca sós: nem na vida, nem na morte.
Também o acompanhamento pela comunidade depois da esperança celebrada é indispensável. Paulo disse que não podemos perder nenhuma oportunidade de evangelizar.
Esta é uma entre tantas oportunidades que não podemos perder. Sou testemunha e admirador de diversos padres e fiéis leigos que jamais se omitem neste momento.
A Igreja tem rituais maravilhosos; Leituras Bíblicas apropriadas; prefácios profundamente bíblicos e teológicos; bênçãos riquíssimas; textos incontáveis…
Há muitos tesouros a serem oferecidos, e é necessário que sejamos sinais do Bom Pastor junto ao povo sofrido! Sinais de amor, solidariedade e compaixão; anunciadores da Boa Nova da Ressurreição!
PS: Artigo escrito para o jornal “Folha Diocesana” – Guarulhos – edição nº150 (novembro/2010).
Dom Otacilio F. Lacerda – do seu blog:
https://peotacilio.blogspot.com/2019/11/o-ministerio-do-padre-na-hora-mais.html