A Solenidade de todos os Santos abre nosso espírito e coração às consequências da Ressurreição. Para Jesus, ela foi ao terceiro dia, para nós, seus amigos, será mais tarde.
Com esta Solenidade celebramos todos os que amaram a Deus e aos irmãos, canonizados ou não. Quer nomes inscritos no calendário ou não, mas antes inscritos no Coração de Deus.
Fazemos sair do anonimato e vivemos aquilo que professamos toda vez que rezamos o Creio: “… Creio na comunhão dos Santos”. Esta Solenidade nos faz viver intensamente a realidade mais profunda e misteriosa da Igreja, que ainda peregrina na terra, saboreia e vive dos bens do céu.
Para que a santidade seja sólida, há um caminho a ser trilhado: o caminho das Bem-aventuranças, que é na exata medida, o caminho da santidade.
Jesus sobe ao monte para nos dar a Lei que já tinha dentro de Si, para inscrevê-la no coração da humanidade, para que esta encontre o verdadeiro caminho da felicidade, que é o caminho da santidade. Ele faz das Bem-aventuranças um programa de vida para Seus discípulos.
Santos são aqueles que percorreram o caminho das Bem-aventuranças, acolheram o Cristo e o Seu Reino e agora estão na glória celeste.
As Bem-aventuranças vividas nos fazem pobres, mansos, misericordiosos e pacificadores. Elas portam ao mesmo tempo o fascínio e a angústia. Firmados da esperança da eternidade, firmaram passos com coragem, firmeza, fidelidade, sem vacilar no imperativo do testemunho.
Assim nasceram e viveram os Santos: quanto mais perto da luz mais visíveis foram as sombras da existência. Vivendo na fragilidade da existência, abriram-se plenamente à graça divina, pois sabem que nada podemos e nada somos Sem Deus e sem a Sua força, graça, ternura, poder e bondade…
Por isto rezamos no Prefácio da Missa: “Peregrinos da cidade Santa, para ela caminhamos na fé e na alegria, ao vermos glorificados os ilustres filhos da Igreja que nos destes como exemplo para nossa fragilidade”.
Para vivermos a santidade temos de ser corajosos peregrinos do quotidiano, ou seja, pessoas em marcha, apaixonadas pelo Evangelho que não desviam do caminho da verdade e da liberdade, anunciando e testemunhando o que lhes faz viver, o que lhes motiva a viver: um amor por Deus, incondicional.
Com o Batismo, somos inseridos no caminho das Bem-aventuranças, e vivê-las implica em assumir riscos, alcançar a alegria, como fruto da liberdade, como podemos contemplar na passagem da primeira Leitura (Ap 7,2-4.9-14). Contemplamos a descrição de uma visão da condição celeste. Há esperança na provação.
Refletimos sobre a paradoxalidade do Cordeiro Imolado que é o vitorioso, o vencedor, revelando-nos que o caminho de morte dos que O seguem não é o caminho da derrota, mas daqueles que foram transformados e estão de pé diante d’Ele.
O autor de Apocalipse fala de 144.000 (12x12x1000) que significa o Novo Povo de Deus, que nasce dos doze Apóstolos de Cristo. Soma-se a multidão imensa que venceu a prova. A cor branca das túnicas reflete a glória celeste e as palmas nas mãos, o martírio, a vitória e a alegria.
Na passagem da segunda Leitura (1Jo 3,1-3) refletimos sobre o nosso futuro, que tem marca de eternidade e o nosso destino como criação divina: foi para a felicidade eterna que fomos criados. A maior glória é sermos semelhantes a Deus e um dia podermos contemplar Sua face.
“Deus é Amor” (1Jo 4,8.16) e nós podemos amar, “mas amamos, porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4,19). A santidade se mede pelo amor: quem mais ama é mais Santo; quem menos ama é menos Santo; quem não ama nada, não é Santo.
Santidade! Esse é o segredo que o cristão deve ter para aproximar muitas pessoas de Deus. Jamais santidade rima, em forma e conteúdo, com coisa esquisita, rara, estranha, alienada, medonha, impossível, inalcançável.
Deste modo, santidade não é algo exterior, não é caricaturesca, rígida, sombria ou até mesmo triste. Não! O Santo é uma pessoa com uma profunda vida interior, com uma grande unidade de vida, coerente, flexível, cheia de luz e de alegria.
Uma pessoa Santa é um ser humano bem normal no seu dia a dia, que leva dentro de si algo diferente – o Amor de Deus atuante e que faz novas todas as coisas – ou seja, uma pessoa que revela ao mundo inteiro a Face de Cristo.
PS: Fontes: www.presbiteros.com.br/, Liturgia Dominical – Ed. Vozes – Johan Konings, Missal Dominical.
Dom Otacilio F. Lacerda
http://peotacilio.blogspot.com/2019/11/bem-aventurancas-vividas-santidade.html