O Batismo do Senhor é apresentado de diferentes modos: os Evangelhos de São Marcos e São Lucas apenas fazem menção ao Batismo; São Mateus narra o Batismo de Jesus com mais pormenores, e São João, por sua vez, o evoca na ocasião em que Jesus chama os primeiros discípulos.
Cada um apresenta de modo próprio, mas são unânimes em reconhecer que, no momento do Batismo, Jesus é testemunha de uma manifestação divina, e assim é designado como “Filho muito Amado” enviado pelo Pai.
Esta teofania é o começo do Evangelho, uma vez que Jesus é investido solenemente na Sua Missão, pelo Pai e pelo Espírito Santo: Jesus tendo Se manifestado aos homens na realidade de nossa natureza, exteriormente semelhante a nós, para que sejamos renovados interiormente pela graça do Batismo, e, por Sua infinita misericórdia, através do perdão de nossos pecados.
Poderíamos falar de uma “ordenação messiânica”, ou seja, “Ele é Aquele que os Profetas, especialmente Isaías, anunciaram como o Servo que Deus constituiu como Aliança de um povo, Luz das nações, ‘o Soberano das nações’, ‘o Pastor que apascenta Seu rebanho’ e reúne as ovelhas dispersas.
Quem acredita n’Ele torna-se ‘filho de Deus, porque n’Ele ‘apareceu a graça de Deus que traz a salvação para todos os homens’. Consequentemente, não se pode separar o Batismo de Jesus do Batismo recebido pelos seus discípulos” (1).
Por isto, a Liturgia da Festa do Batismo do Senhor nos apresenta, na primeira Leitura (Is 42,1-4.6-7), o primeiro Cântico do Servo Sofredor, que se refere a um excepcional enviado de Deus: manso e humilde de coração, infinitamente misericordioso com todos, com força interior invencível, e é constituído Luz das nações e Aliança de Deus com o Seu Povo.
Este Messias pacífico “estabelecerá a justiça sobre a Terra”, por isto os cristãos viram prefigurados neste Cântico a própria pessoa de Jesus Cristo, o ungido do Senhor, o “Filho Amado de Deus”, como ouviremos no Evangelho (Mt 3,13-17).
Quanto ao fato de ser batizado por João, evidentemente que o Filho Amado do Pai não tinha necessidade de sujeitar-Se a um rito de purificação; no entanto, Jesus procurou o Batismo e João O batizou, ouvindo as Palavras de Jesus – “Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça” (Mt 3, 14-15).
Recebendo o Batismo de João, Jesus Se fez solidário com os pecadores mostrando, assim, o caminho para a realização da vontade de Deus, que Ele cumprirá plenamente, e todos os que n’Ele forem batizados, o mesmo haverão de fazer.
Providencial retomar o Prefácio da Missa do Batismo do Senhor:
“Nas águas do rio Jordão, realizastes prodígios admiráveis, para manifestar o Mistério do novo Batismo: do Céu fizestes ouvir uma voz, para que o mundo acreditasse que o Vosso Verbo estava no meio dos homens; pelo Espírito Santo, que desceu em figura de pomba, consagrastes Cristo Vosso Servo com o óleo da alegria, para que os homens O reconhecessem como o Messias enviado a anunciar a Boa-Nova aos pobres…”.
Concluamos com a Oração da Coleta da Missa do Batismo do Senhor:
“Deus eterno e onipotente, que proclamastes solenemente Cristo como Vosso Amado Filho quando era batizado nas águas do rio Jordão e o Espírito Santo descia sobre Ele, concedei aos Vossos filhos adotivos, renascidos pela água e pelo Espírito Santo, a graça de permanecerem sempre no Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém”
(1) Missal Quotidiano Dominical e Ferial – p. 224
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda http://peotacilio.blogspot.com/2020/01/ser-batizado-e-ouvir-voz-do-filho-amado_9.html?m=0