Após o período da Quaresma – Pensemos em gestos concretos – CF-2018!
Não são poucos os relatos de mulheres vítimas da violência em nossa sociedade. Não estou me referindo apenas, o que já seria bastante trágico, aos abusos sexuais, castigos físicos e psicológicos que atentam contra a dignidade da pessoa. Lembro-me de um caso que me deixou perplexo. Uma mulher era obrigada a se relacionar com o marido bêbado enquanto ele apontava-lhe uma arma. Sem conseguir contar às pessoas o que ocorria, a mulher viveu mais de 30 anos escravizada dentro da própria casa, refém do homem com quem ela tinha se casado.
Em recente conversa com os padres Saint-Clair Ferreira e Wanderlei Rodrigues, da paróquia de São João Evangelista, discutimos sobre os inúmeros casos de violência que afligem muitas mulheres. Dados que, infelizmente, não foram coletados pelos institutos de pesquisa. Por exemplo, o Datafolha divulgou, em março de 2017, que 16 milhões de mulheres, no país, já sofreram algum tipo de violência física ou verbal; 12 milhões foram ameaçadas verbalmente, 5 milhões receberam ameaça de apanhar, 4,6 milhões foram perseguidas, por exemplo, depois do fim de um relacionamento, 4,4 milhões levaram algum empurrão ou chute de pessoas conhecidas. Os agressores são, na maior parte das vezes, os homens. Segundo o instituto, 23 milhões de mulheres dizem ter sido vítimas de assédio; 20 milhões já foram alvo de comentários desrespeitosos na rua, 6,9 milhões, no trabalho; 5,2 milhões já sofreram assédio físico no transporte público e 2,8 milhões já foram abordadas agressivamente em festas noturnas.
Os dados são alarmantes e exigem de nós coragem de criarmos espaços de escutas dessas vítimas. No âmbito paroquial, por meio dos serviços pastorais, não há dúvida de que algo pode ser feito. Imagino as histórias que se mantêm no submundo, castigando física e emocionalmente tantas mulheres. A justiça brasileira já prevê punição para os agressores, mesmo assim as situações ainda permanecem às escondidas. A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Infelizmente as estatísticas apontam aumento crescente da violência.
Fico pensando que nos espaços onde vivemos, trabalhamos, passeamos com a família e nos divertimos, temos a missão de combater a cultura da violência. Tomemos cuidado com nossas palavras, gestos e ações. Não nos esqueçamos de que “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). Essa frase constitui um imperativo ético e pode ser compreendida como um projeto de vida em sociedade. No Evangelho estão os princípios fundamentais para uma convivência melhor. Eis a nossa esperança!
Luís Carlos Pinto