Quaresma, tempo favorável para penitência e privações, mas, sobretudo, tempo de conversão e regresso às fontes evangélicas, com início na Quarta-feira de Cinzas até o início da Missa de Quinta-feira Santa, Ceia do Senhor.
Na Quaresma, toda a Igreja é chamada à libertação das amarras do pecado e de tudo a que ele conduz; com o afastamento dos obstáculos que estorvam o caminho para Deus e para o encontro fraterno com os outros, com as necessárias renúncias.
“A Quaresma convida-nos a levar a sério o chamamento e as advertências de Deus, os ensinamentos e o exemplo de Cristo, a fé e a esperança no Reino futuro” (1)
É como um longo retiro espiritual, em que somos chamados a viver maior fidelidade e fervor no cumprimento dos compromissos religiosos, e nos exercícios quaresmais (oração, jejum e esmola).
Vejamos o que nos diz o Papa São Leão Magno (séc V) em seu Sermão 6 sobre a Quaresma:
“Porque, embora os homens renasçam para a vida nova principalmente pelo Batismo, todos necessitamos de nos renovar cada dia das manchas da nossa condição pecadora, e não há ninguém que não tenha que ser cada vez melhor na escala da perfeição, devemos esforçar-nos para que ninguém se encontre sob o efeito dos antigos vícios no dia da redenção. Por isso, nestes dias, é preciso por especial solicitude e devoção em cumprir as coisas que os cristãos devem realizar em todo o tempo” .
Deste modo, temos um caminho a seguir, e a Liturgia Dominical da Quaresma tem riqueza própria para ser devidamente celebrada e vivida:
“Cristo precede-nos e acompanha-nos. Ele venceu Satanás, superando as suas tentações (primeiro domingo dos três anos) e mostra a Sua glória para animar os Seus discípulos no árduo caminho da fé (segundo domingo dos três anos). Ele é a fonte de água viva, a luz que devolve a vista aos cegos e a vida aos mortos (Ano A). Messias crucificado, força e sabedoria de Deus, oferece a salvação aos que recorrem a Ele e, da Cruz, atrai todos os homens a Si (Ano B). Revela a paciência e a infinita misericórdia do Pai que, com os braços abertos, acolhe os Seus filhos pródigos e convida para a festa do regresso os filhos que ficaram em casa (Ano C)” (2).
Seja, portanto, a Quaresma, com sua riqueza, pelos textos sagrados na Liturgia proclamados, pelas orações próprias da Missa e Prefácios, como Bênção Solene e Orações sobre o Povo, Tempo favorável, para que nos empenhemos cada vez mais, nos progressos na “Escala da perfeição”, como tão bem expressou o Papa São Leão Magno.
Enriquecidos pela beleza da Liturgia, e procurando encarná-la em nosso quotidiano, nos mais diversos âmbitos, estaremos nos preparando, intensa e profundamente, para uma Páscoa de frutos abundantes.
(1) (2) – Missal Quotidiano Dominical e Ferial – Editora Paulus – Lisboa – 2012 – pp.269-270