Batizar-se e se tornar discípulo do Filho amado (Batismo Ano C)

Batizar-se e se tornar discípulo do Filho amado

“Tu és o meu Filho amado,

em Ti ponho o meu benquerer” (Lc 3,22)

Com a Liturgia da Festa do Batismo do Senhor (ano C), refletimos sobre a revelação de Jesus Cristo, o Filho Amado de Deus que veio ao mundo para salvar a humanidade, vivendo a nossa condição humana, igual a nós, exceto no pecado, assumindo nossa fragilidade e humanidade, para que, assim, nos libertasse do egoísmo e do próprio pecado, concedendo-nos vida em plenitude.

Temos, também, a graça de refletir e renovar os compromissos batismais, para que sejamos, verdadeiramente, sacerdotes, profetas e reis.

O Batismo do Senhor é apresentado de diferentes modos pelos Evangelistas São Marcos e São Lucas, que apenas fazem menção ao Batismo; São Mateus narra o Batismo de Jesus com mais pormenores, e São João, por sua vez, o evoca na ocasião em que Jesus chama os primeiros discípulos.

Cada um apresenta de modo próprio, mas são unânimes em reconhecer que, no momento do Batismo, Jesus é testemunha de uma manifestação divina, e assim é designado como “Filho muito Amado” enviado pelo Pai.

Esta teofania é o começo do Evangelho, uma vez que Jesus é investido solenemente na Sua Missão, pelo Pai e pelo Espírito Santo: Jesus tendo Se manifestado aos homens na realidade de nossa natureza, exteriormente semelhante a nós, para que sejamos renovados interiormente pela graça do Batismo, e, por Sua infinita misericórdia, através do perdão de nossos pecados.

Poderíamos falar de uma “ordenação messiânica”, ou seja, “Ele é Aquele que os Profetas, especialmente Isaías, anunciaram como o Servo que Deus constituiu como Aliança de um povo, Luz das nações, ‘o Soberano das nações’, ‘o Pastor que apascenta Seu rebanho’ e reúne as ovelhas dispersas.

Quem acredita n’Ele torna-se ‘filho de Deus, porque n’Ele ‘apareceu a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens’. Consequentemente, não se pode separar o Batismo de Jesus do Batismo recebido pelos seus discípulos” (1).

A primeira Leitura (Is 42,1-4.6-7), trata-se de uma pequena passagem do “Livro da Consolação”, nome dado convencionalmente pelos biblistas, e refletimos sobre o primeiro Cântico do Servo Sofredor, que se refere a um excepcional enviado de Deus: manso e humilde de coração, infinitamente misericordioso com todos, com força interior invencível, e é constituído Luz das nações e Aliança de Deus com o Seu Povo.

Retrata a fase final do Exílio, um período muito difícil vivido pelo Povo de Deus, e o Profeta anuncia a reconstrução de Jerusalém, uma cidade que a guerra reduziu às cinzas, mas Deus, na Sua infinita bondade, vai fazer voltar a reinar a alegria e a paz sem fim.

Na figura do Servo mencionado pelo Profeta, vemos um instrumento através do qual Deus age no mundo para comunicar a salvação à humanidade:

“É alguém que Deus escolheu entre muitos, a quem chamou e a quem confiou uma missão – trazer a justiça, propor a todas as nações uma nova ordem social da qual desaparecerão as trevas que alienam e impedem de caminhar e oferecer a todos os homens a liberdade e a paz… O Servo contará com a ajuda do Espírito de Deus, que lhe dará a força de assumir a missão e de concretizá-la” (2).

Este Messias pacífico “estabelecerá a justiça sobre a Terra”, por isto os cristãos viram prefigurados neste Cântico a própria Pessoa de Jesus Cristo, o ungido do Senhor, o “Filho Amado de Deus”, como ouviremos no Evangelho, em Ti ponho o meu benquerer” (Lc 3,22).

Ele, Jesus, veio realizar esta missão, e os Seus discípulos darão continuidade a esta, não por iniciativa pessoal, mas certos de que a vocação profética é dom de Deus, e não uma iniciativa humana. É Deus quem escolhe, chama, capacita e envia para a missão e nos comunica o Seu  Espírito que nos fortalece, anima, ilumina…

A passagem da segunda Leitura do Livro dos Atos dos Apóstolos (At 10,34-38); a parte inicial do Querigma, em que nos é apresentado Jesus, Aquele que “passou pelo mundo fazendo o bem”, trazendo a libertação aos oprimidos, curando todos os que se encontravam oprimidos pelo demônio e através de Seus gestos de bondade, de misericórdia, de perdão, de solidariedade e de amor, podemos ver o Projeto libertador de Deus se realizando.

Na segunda parte, nos fala da Salvação que se destina a todos os povos da terra, com o Batismo de Cornélio, pois se trata do primeiro pagão admitido ao cristianismo por um dos Doze Apóstolos, revelando, assim, que Deus não faz acepção de pessoas, de modo que não há como disseminar discriminações por qualquer motivo.

Comprometidos com Jesus e com Sua missão, desde o nosso Batismo, também somos chamados o mesmo fazer, como discípulos missionários Seus.

Na passagem do Evangelho (Lc 3,15-16.21-22)temos a realização da promessa profética, e Jesus é apresentado como o Filho de Deus, o Servo de Javé, enviado pelo Pai, sobre o qual repousa o Espírito Santo, com uma missão muito concreta a ser realizada.

Temos o encontro de Jesus com João Batista, às margens do rio Jordão, e Jesus recebe o Batismo de João (de purificação, arrependimento e perdão dos pecados), não porque necessitasse do mesmo, mas para revelar a Sua missão específica e a Sua verdadeira identidade: Jesus é o Messias anunciado pelos Profetas que Deus enviou para libertar o Seu Povo, comunicando vida plena e definitiva.

Jesus, ao receber o Batismo de João, Se solidarizou com o homem limitado e pecador, assumindo a sua condição e colocando-Se ao seu lado para sair desta situação. E neste sentido, Jesus cumpriu plenamente o Projeto do Pai.

O Que Deus espera de nós é que correspondamos ao Seu Amor, acolhendo e assumindo a Salvação que Jesus veio trazer, e este compromisso tem início com o nosso Batismo.

Inaugura-se um novo tempo para nós, para caminharmos com Jesus “que vai seguir, com toda a liberdade, o caminho de Jerusalém e nós iremos acompanhar, ao longo Ano Litúrgico, os Seus ensinamentos e redescobrir os sinais que Ele realiza.”

Deste modo, o Batismo de Jesus revela o início de Sua missão, e o nosso Batismo é a continuidade desta missão.

Vivamos o Batismo seguindo os passos de Jesus, vivendo em comunhão entre nós, tendo d’Ele mesmos sentimentos, como disse Paulo (Fl 2,5), vivendo na humildade, despojamento e obediência incondicional a Deus, com a força do Espírito.

Retomemos o Prefácio da Missa do Batismo do Senhor:

“Nas águas do rio Jordão, realizastes prodígios admiráveis, para manifestar o Mistério do novo Batismo: do Céu fizestes ouvir uma voz, para que o mundo acreditasse que o Vosso Verbo estava no meio dos homens; pelo Espírito Santo, que desceu em figura de pomba, consagrastes Cristo Vosso Servo com o óleo da alegria, para que os homens O reconhecessem como o Messias enviado a anunciar a Boa-Nova aos pobres…”.

Oremos:

“Deus eterno e onipotente, que proclamastes solenemente Cristo como Vosso Amado Filho quando era batizado nas águas do rio Jordão e o Espírito Santo descia sobre Ele, concedei aos Vossos filhos adotivos, renascidos pela água e pelo Espírito Santo, a graça de permanecerem sempre no Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém

(1) Missal Quotidiano Dominical e Ferial – p. 224

(2) www.Dehonianos.org/portal

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