A cidade, seus clamores e a missão Presbiteral – Dom Otacilio F. de Lacerda

As grandes cidades enfrentam os inúmeros problemas de nosso tempo, principalmente porque vivemos em mudança de época, muito mais do que uma época de mudanças.

Diante disto, uma questão fundamental: qual a missão do presbítero na cidade, bem como das comunidades que lhes são confiadas?

Não é uma resposta simples de ser dada, porém não podemos ceder à falta de coragem de buscar e de nos abrirmos ao Espírito para novas e necessárias respostas.

Na realidade, por vezes, árida e sórdida da cidade é missão do Presbítero primeiramente construir comunidades verdadeiramente eucarísticas, que se nutram do Pão da Palavra e da Eucaristia, o que consequentemente possibilitará que ele e todos façam uma profunda experiência de comunhão e amizade com o Senhor, em intimidade e apaixonamento visível pela Palavra que anuncia e denuncia, pelos exemplos, sinais no mundo de vitalidade e profecia.

O encontro com o Senhor não é apenas o conhecimento d’Ele e de Suas ideias, mas a configuração da vida a Ele e ao conteúdo de Seu ensinamento e vivência, alcançando a maturidade paulina:

“Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.” (Gl 2,20), e ainda: “Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo.” (Fl 2,5).

Em decorrência desta espiritualidade eucarística, o Presbítero ajudará a comunidade no processo de santificação e de solidificação da família, a fim de que esta seja como uma escola dos valores cristãos, dos valores humanos e universais, e nela se formem excelentes cristãos e também excelentes cidadãos.

Colocando-se solidariamente ao lado dos mais empobrecidos, em alegre acolhida do outro, em constante processo de conversão pessoal, comunitária e social, o presbítero não deve se restringir aos espaços internos da comunidade, pois a evangelização desconhece limites e fronteiras.

Neste sentido, não pode ele se omitir no anúncio do Verbo nos diversos meios de comunicação social, rádio TV, jornal, Internet, enfim, nos novos areópagos…

Numa cidade, muitas vezes marcada pelo sofrimento, com famintos, dependentes químicos, moradores de rua, prostituição infantil, vítimas do tráfico e da violência, falta de condição digna de moradia… Diante de tantos rostos empalidecidos, com rugas precoces pelo sofrimento, o Presbítero deve ser aquele que com a comunidade, em frutuosa pastoral de conjunto e em comunhão com toda a Igreja, faz resplandecer o rosto de Cristo.

O Presbítero deve contribuir para que a comunidade, uma vez saciada a sede pela água cristalina da Palavra, nutrida pelo Pão Eucarístico e inebriada pelo Vinho Novo da Eucaristia, viva a nova e eterna aliança sendo um “oásis no deserto da cidade”, não como refúgio do bom combate da fé (2Tm 4), mas como lugar de revigoramento, favorecendo atitudes de serviço, anúncio, diálogo e testemunho de que o Reino de Deus se encontra em nosso meio.

Sem a pretensão de esgotar as respostas, vejo o presbítero na cidade como aquele que realiza a missão pelo amor que é Cristo Jesus.

E, na estreita relação de amor com Ele, tornará a Igreja mais crível e um novo mundo, mais do que desejável, possível. Um mundo marcado pela verdade e abundância de vida, porque fundado em relações de amor e justiça que faz brotar a paz.

É missão do Presbítero não permitir que a sordidez da cidade devore o rebanho, colocando nossa vida totalmente a serviço dele, tornando mais bela a cidade, até que um dia possamos entrar na Cidade Celestial.

A Palavra do Pastor
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