LITURGIA DA PALAVRA
“Mestre, ensina-nos a rezar”
A Liturgia da Palavra do 17º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos convida à reflexão sobre o tema da Oração sincera, pura, dialogal, confiante e frutuosa, que nos coloca numa relação filial para com Deus e de irmãos entre nós.
A primeira Leitura (Gn 18,20-32) nos apresenta Abraão como alguém que sabe fazer da Oração um verdadeiro diálogo com Deus. Colocando-se diante d’Ele com ousadia e confiança, apresentando suas inquietações, dúvidas, anseios, procurando captar Sua vontade para a humanidade.
A passagem é uma catequese sobre o peso que o justo e o pecador têm diante de Deus; revela-nos a misericórdia divina que é maior do que a vontade de castigar. A vontade que Deus tem de salvar é infinitamente maior do que a vontade de perder: Deus está sempre pronto a nos salvar. É preciso que nos abramos à Sua vontade.
Abraão nos ensina que é possível dialogar com Deus numa forma familiar, confiante, insistente e ousada. Revela-nos um Deus que veio ao encontro da humanidade, entrou em sua tenda, sentou-se à sua mesa, criando vínculos de comunhão, e ainda mais, realizando os sonhos daquele que O acolhe.
Com o pai da fé, aprendemos que Deus é alguém com quem se pode dialogar, com amor e sem temor; com uma Oração que brota de um coração humilde, reverente, respeitoso, confiante, ousado e cheio de esperança.
Abraão não repete palavras vazias e gravadas, sem ressonância na própria vida, mas estabelece com Deus um diálogo espontâneo e sincero.
A segunda Leitura, embora não se relacione diretamente ao tema, nos apresenta Jesus Cristo e Sua centralidade na vida de quem crê. Por Ele podemos dirigir ao Pai a nossa Oração, em comunhão com o Espírito Santo, e seremos ouvidos.
Jesus, no Evangelho (Lc 11,1-13), também nos ensina a rezar, de modo que a Oração daquele que crê deve ser um diálogo confiante, como uma criança em relação ao pai.
Para Jesus a Oração é o espaço do encontro pessoal e íntimo com o Pai e o momento fundamental para o discernimento de Sua Vontade, de Seu Projeto a ser realizado.
A caminho de Jerusalém, nos ensina a força e a importância da Oração na vida dos Seus seguidores, assim como foi fundamental em todos os grandes momentos decisivos do próprio Jesus, como tão bem nos apresenta o Evangelista Lucas na Eleição dos Doze (Lc 6,12); antes do primeiro anúncio da Paixão (Lc 9,18); na Transfiguração (Lc 9,28-29); após o regresso dos discípulos da missão (Lc 10,21); na última Ceia (Lc 22,32); no Getsemani (Lc 22,40-46); na Cruz (Lc 23, 34-46).
Jesus nos ensina a Oração do Pai Nosso e nos coloca em atitude de diálogo com o Pai, como filhos, e ao mesmo tempo nos põe no caminho da realização do Seu Plano, na construção de um mundo novo, numa comunhão fraterna a ser construída quotidianamente.
Quanto ao conteúdo:
“Santificado seja o Vosso nome” – que Deus Se manifeste como Salvador aos olhos de todos, através de nossa conduta, marcada pela justiça, bondade e santidade;
“Venha o Vosso Reino” – que o mundo novo proposto por Jesus se torne uma realidade na vida da humanidade – Reino de amor, verdade, justiça e liberdade…
“O pão de cada dia” – Deus nos concede o essencial para vivermos. Oferece o pão material, mas acima de tudo o Pão espiritual. Com Deus nada nos falta. Ele nos dá o próprio Filho, o Pão da Vida que sacia a fome e a sede da humanidade: amor, alegria, perdão, comunhão, fraternidade…
“Perdão dos pecados” – sem a experiência da misericórdia divina, somos incapazes de perdoar e pedir perdão. Acolhidos pela misericórdia e por ela perdoados, para também acolher e perdoar o irmão que pecou contra nós.
“Não nos deixeis cair em tentação” – que nosso coração não seja seduzido por felicidades ilusórias e transitórias, mas que pautemos a nossa vida na busca da felicidade duradoura, eterna, a fim de que tenhamos vida plena e feliz.
A Oração do Pai Nosso, em síntese, pode ser assim apresentada:
Que Deus seja reconhecido como Deus: um Pai misericordioso e nos trata como filhos;
É um Projeto de Amor que Deus tem para a humanidade;
Três pedidos fundamentais: pão para viver; perdão para amar e liberdade para ficar de pé e pôr-se sempre a caminho.
Pode parecer estranha a afirmação, mas na Escola de Jesus aprendemos a rezar verdadeiramente, em forma e conteúdo. A Oração que Jesus ensina transforma a vida de quem a reza e põe em prática.
Não podemos repetir a Sua Oração, sem saborearmos Palavra por Palavra de seu conteúdo vital e irradiador de alegria e luz, que plenifica com a Sua vida e a Sua graça, porque feita sob a ação e presença do Espírito, dirigida confiantemente ao Pai.
Uma Oração verdadeira precisa ser essencialmente Trinitária, nos inserindo nesta comunhão intensa e profunda de Amor.
Com isto, a Oração é, em sua exata medida, um diálogo intenso, profundo com a Trindade Santa, que nos envolve pela presença e ternura divinas.
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
Bispo eleito da Diocese de Guanhães