Vivemos, há certo tempo, um período de músicas de gosto (muito) duvidoso; são letras e sons passageiros. Tocam praticamente 24 horas por alguns meses, depois caem no esquecimento. Rapidamente viram peça de museu digital, afinal, o bom tempo dos LPs e fitas K7 ficou para trás. Agora, tudo é eletrônico. Nessa onda, um nome surgiu, se destacou e está, com frequência, lançando novas composições. É a cantora Anitta. Seis anos atrás, ela lançou seu primeiro trabalho na internet. Apenas o vídeo oficial, nesse período, foi visto mais de 100 milhões de vezes, equivalente à população do Egito. Um ano depois, o segundo material lançado registrou aumento de 50% em acessos, alcançando 150 milhões de visualizações, a soma das populações russas e uruguaias. Em 24 meses, 250 milhões de cliques para Anitta, número superior ao povo brasileiro.
Você deve estar pensando: o jornal da Diocese de Guanhães trazendo um artigo sobre Anitta? Calma! Não pretendo escrever sobre as “músicas”, nem cirurgia plástica ou a vida pessoal de Larissa de Macedo Machado (nome de nossa personagem). A proposta é outra e é – na nossa ótica – mais interessante.
Aos sete anos de idade, a garota católica era membro de uma equipe de liturgia; com 11, usava a mesada para estudar inglês e ganhou uma bolsa de estudos para fazer dança de salão; aos 16, estudante de curso técnico de administração, quando estudou marketing e foi estagiária da Vale. O que a maioria de nós fazia aos sete, 11, 16, 25 anos (idade da cantora)? O que a maioria da galera da geração atual faz? Naturalmente poucos ou poucas terão os mesmos resultados de Anitta, contudo a estrela é um exemplo de empreendedorismo.
Cantores, atores e atletas têm empresários, pessoas influentes, responsáveis por gerenciar suas carreiras, cuidar da imagem, regular qualquer coisa a respeito da celebridade. Anitta é empresária de Anitta. Mas, enganam-se quem pensa nela apenas como uma voz atrás dos microfones. Ela é garota propaganda de marca de automóveis, tem seus próprios negócios cuida, através de sua empresa, de astros e estrelas. Tirando os trabalhos de gosto duvidoso, não há como negar: trata-se de uma jovem empreendedora.
Meses atrás, um fato (na época, curioso) chamou minha atenção. Anitta foi convidada para palestrar em Harvard, nos Estados Unidos, uma das principais universidades do planeta, onde graduou em direito o ex-presidente norte-americano, Barack Obama. Meu susto e estranheza, confesso, movidos por desconhecimento e preconceito, deram lugar a uma surpresa muito agradável e uma lição: não mais julgar o conteúdo apenas pela embalagem ou vice-versa. A brasileira, dentro de uma das maiores instituições de ensino do mundo, não só deu show (trocadilho inevitável), como falou aos estudantes em inglês fluente. Reforço: as músicas dela não me agradam nem um pouco, contudo, sou admirador da visão empreendedora e do profissionalismo de Anitta.
Juliano Nunes, jornalista