Palavras do Papa na recitação do Ângelus, 17/03/2010
Às 12 horas de hoje, o Santo Padre Francisco apareceu na janela do estudo no Palácio Apostólico Vaticano para recitar o Ângelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.
Estas são as palavras do Papa ao introduzir a oração mariana:
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste segundo domingo da Quaresma, a liturgia nos faz contemplar o acontecimento da Transfiguração, em que Jesus concede aos discípulos Pedro, Tiago e João a antecipação da glória da ressurreição: um pedaço do céu na terra. O evangelista Lucas (ver 9,28-36) nos mostra Jesus transfigurado na montanha, que é o lugar da luz, um símbolo fascinante da experiência singular reservada aos três discípulos. Eles sobem com o Mestre na montanha, vêem-no mergulhar em oração e, em certo ponto, “seu rosto mudou de aparência” (v. 29). Acostumados a vê-lo diariamente na simples aparência de sua humanidade, diante desse novo esplendor, que também envolve toda a sua pessoa, eles permanecem maravilhados. E ao lado de Jesus aparecem Moisés e Elias, que conversam com ele sobre seu próximo “êxodo”, isto é, sua Páscoa da morte e ressurreição. É uma antecipação da Páscoa. Então Pedro exclama: “Mestre, é bom estarmos aqui” (v. 33). Ele gostaria que aquele momento de graça nunca terminasse!
A Transfiguração ocorre em um momento muito preciso na missão de Cristo, isto é, depois que Ele confiou aos discípulos que deve “sofrer muito, […] ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (v. 21). Jesus sabe que eles não aceitam essa realidade – a realidade da cruz, a realidade da morte de Jesus -, e assim ele quer prepará-los para suportar o escândalo da paixão e morte da cruz, para que eles saibam que é assim que o Pai leva. o celestial trará seu Filho à glória, ressuscitando-o dos mortos. E este também será o caminho dos discípulos: ninguém vem para a vida eterna a não ser seguindo Jesus, trazendo sua própria cruz para a vida terrena. Cada um de nós tem sua própria cruz. O Senhor nos mostra o fim desta jornada que é a ressurreição, a beleza, carregando nossa própria cruz.
Portanto, a Transfiguração de Cristo nos mostra a perspectiva cristã do sofrimento. O sofrimento não é um sadomasoquismo: é uma passagem necessária, mas transitória. O ponto de chegada a que somos chamados é tão luminoso quanto o rosto de Cristo transfigurado: nele está a salvação, a bem-aventurança, a luz, o amor de Deus sem limites. Mostrando a sua glória desta forma, Jesus assegura-nos que a cruz, as provações, as dificuldades em que lutamos têm a sua solução e a sua superação na Páscoa. Portanto, nesta Quaresma, nós também subimos a montanha com Jesus! Mas como? Com oração. Subimos ao monte com a oração: oração silenciosa, oração do coração, oração sempre buscando o Senhor. Nós permanecemos alguns momentos em memória, todos os dias um pouco, nós fixamos o olhar interior em seu rosto e deixamos sua luz penetrar e irradiar em nossa vida.
De fato, o evangelista Lucas insiste que Jesus foi transfigurado “enquanto orava” (v. 29). Ele havia imergido em uma conversa íntima com o Pai, no qual também a Lei e os Profetas – Moisés e Elias – ressoaram, e enquanto ele aderiu a si mesmo à vontade de salvação do Pai, incluindo a cruz, a glória de Deus o invadiu revelando também fora. Assim é, irmãos e irmãs: a oração em Cristo e no Espírito Santo transforma a pessoa a partir de dentro e pode iluminar os outros e o mundo circundante. Quantas vezes encontramos pessoas que iluminam, que emitem luz de seus olhos, que têm aquele olhar luminoso! Eles rezam, e a oração faz isso: nos faz luminosos com a luz do Espírito Santo.
Continuamos nossa jornada da Quaresma com alegria. Damos espaço à oração e à Palavra de Deus, que a liturgia nos oferece abundantemente nestes dias. A Virgem Maria nos ensina a permanecer com Jesus mesmo quando não a compreendemos e não a compreendemos. Porque somente permanecendo com Ele, veremos a sua glória.
[Texto original: italiano]
Saudação aos fiéis na Praça São Pedro, depois do Ângelus
Caros irmãos e irmãs
Nos dias de hoje, para a dor das guerras e conflitos que continuam a afligir toda a humanidade, acrescentou-se isso às vítimas do horrível ataque a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. Eu rezo pelos mortos e feridos e suas famílias. Estou perto dos nossos irmãos muçulmanos e de toda essa comunidade. Renovo o convite para unir-me com oração e gestos de paz para combater o ódio e a violência. Vamos orar juntos, em silêncio, pelos nossos irmãos muçulmanos que foram mortos.
Dirijo uma saudação cordial a todos os presentes aqui: fiéis de Roma e de muitas partes do mundo. Saúdo os peregrinos da Polónia, os de Valência, em Espanha, e os de Cajazeiras, no Brasil, e Benguela, de Angola. Quantos angolanos!
Saúdo os grupos paroquiais vindos de Verona, Quarto di Napoli e Castel del Piano em Perugia; os estudantes de Corleone, os coroinhas de Brembo em Dalmine e a associação “Uno a Cento” de Pádua.
Desejo a todos um bom domingo. Por favor, não esqueça de orar por mim. Bom almoço e adeus!
[Texto original: italiano]
Fonte: http://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2019/03/17/0218/00429.html