“Quando se lança mão de mentiras, de difamações, de trambiques para ganhar o que se deseja, de fato, se está perpetuando a velha sociedade opressora em nome de ideais libertários”. (Frei Betto, 2002).
Remexendo meus “guardados”, encontrei um recorte do jornal O Estado de Minas de 18 de novembro de 2002 e ora compartilho com você. Parece que foi escrito recentemente.
“A moral tem implicações políticas e econômicas. Na Idade Média, a Igreja condenava os juros. Hoje, se tal censura perdurasse, nenhum católico poderia se banqueiro ou agiota. Mas, por ironia do destino, o próprio Vaticano possui o Banco do Espírito Santo…
A ética protestante sempre recomendou a seus fiéis afinco no trabalho e modéstia nos gastos, incentivando a poupança. Alguns autores acreditam que tal ética foi decisiva para enriquecer países de forte tradição protestante, como a Alemanha, a Suíça e os EUA.
No capitalismo, a moral predominante na sociedade é ambígua e contraditória, pois o valor maior para o sistema é a acumulação do capital. Assim, na ‘moral’ desse sistema a propriedade privada é um valor acima da existência humana.
Para a doutrina da Igreja, se um homem tem fome ele tem o direito de fazer uso da propriedade alheia. ‘Maior e mais divino é o bem do povo que o bem particular’, lembra São Tomás de Aquino (De Regimine Principum – Sobre o governo dos príncipes – 1,1 Cap. 9).
A lógica do capital destrói os valores morais e corrói a ética. O mesmo comerciante que chama a polícia para o garoto que lhe furtou a lata de sardinhas aumenta os preços de modo exorbitante e sonega o fisco.
Foi feita uma pesquisa nos EUA para saber em que fase da vida a pessoa consome mais. Verificou-se que é quando ela se casa. Um casamento sempre desencadeia consumo, desde as alianças à nova casa, passando pela roupa dos convidados aos presentes. Resultado: ‘façamos com que as pessoas se casem várias vezes’. Não é de se estranhar que as novelas considerem caretice a fidelidade e incentivem tanto a rotatividade conjugal.
Na política burguesa, a luta pelo poder faz com que o fim justifique os meios. Porém, a história demonstra que o meio utilizado influi no caráter do fim a ser obtido.
Muito se discute, ao longo dos tempos, sobre a ligação entre moral e política. Há quem defenda que a política deve ser autônoma ou independente em relação à moral. Tal proposta é atribuída ao famoso politicólogo italiano Maquiavel (1469-1527). Daí por que se chama maquiavélica toda atitude política que ignora os preceitos morais. De fato, foi Maquiavel quem sugeriu aos poderosos o princípio de que ‘o fim justifica os meios’, em seu famoso livro O Príncipe.
O grande desafio da política libertadora é basear-se na ética. Não se pode construir o homem e a mulher novos usando métodos velhos. Quando se lança mão de mentiras, de difamações, de trambiques para ganhar o que se deseja, de fato, se está perpetuando a velha sociedade opressora em nome de ideais libertários. Isso é o que o Evangelho chama de colocar vinho novo em odres velhos.
A ética enraíza-se no coração humano. Não é só uma questão de comportamento político. Ela adquire força quando se encarna na vivência pessoal. O opressor age movido por interesses; o libertador, por princípios. Assim, jamais um militante da justiça pode aceitar desviar verbas, fraudar processos eleitorais, mentir para o povo ou fazer uso do que é coletivo para benefício pessoal. ‘Aquele que é fiel nas pequenas coisas – adverte Jesus – é também fiel nas grandes, e aquele que é injusto no pouco, também o é no muito’(Lucas 16, 10-12)”.
E a infidelidade, a opressão, a corrupção estão crescendo assustadoramente. Não podemos nos calar diante de uma política que oprime e mata-nos! Estejamos atentos e atentas aos candidatos que disputam nosso precioso voto.
Mariza C.Pimenta Dupim. Guanhães.