Os santos mais populares de junho
Em junho, aqui no Brasil, celebramos vários santos, mas destacaremos apenas quatro deles, os mais populares: Santo Antônio de Pádua, ou de Lisboa, celebrado dia 13/06; São João Batista, primo de Jesus, filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, que possui duas celebrações na Igreja: dia de seu batismo, celebrado dia 24/06, e dia de seu martírio, celebrado em 29/08: “O maior dos nascidos de mulher” (Lc 7, 28), segundo o próprio Jesus. E, por último, num dia só destacamos São Pedro, primeiro papa, e São Paulo, apóstolo dos gentios, celebrados no dia 29/06, data do martírio deles.
Santo Antônio
Podemos invocar o mesmo santo como Santo Antônio de Lisboa ou Santo Antônio de Pádua, se consideramos a cidade onde ele nasceu (em 1195), ou morreu (em 1221), respectivamente. Recebeu no batismo o nome de Fernando de Bulhões. Vocacionado à missão religiosa, ingressou na Ordem dos Agostinianos. Estudou profundamente as Sagradas Escrituras e a Patrística. Era professor de Bíblia e orador de grande fama. Passou a se chamar Antônio quando entrou para a Ordem dos Frades Menores, ainda no tempo do santo fundador, São Francisco. De saúde frágil, morreu cedo, após intensa vida de pregador e de dedicação aos pobres, o que fez dele um dos santos mais populares da Igreja.
Considerado como o “Santo casamenteiro”, Santo Antônio é parte integrante do catolicismo popular brasileiro. Muitas moças, no imenso desejo de se casar, colocam a imagem do santo de cabeça para baixo, dentro de uma vasilha – incômoda posição – e dizem que só vão desvirá-lo quando conseguirem um marido ou noivo. Sua imagem é dada de presente àqueles que se casam ou a alguém que se pretende ver casado. Vejamos, aqui, alguns versos populares cantados ao santo no interior do nordeste brasileiro:
Para casar:
“Santo Antônio, me case já,
Enquanto sou moça e viva,
Porque milho plantado tarde
Não dá palha nem espiga”.
Depois de casada:
“Santo Antônio pequenino,
Amansador de burro bravo,
Vem amansar minha sogra,
Que é levada do diabo”.
Santo Antônio viveu apenas 36 anos, depois de fazer muito bem aos pobres, e também depois de haver exercido importantes cargos em sua ordem religiosa.
São João Batista
Esse pregador judeu, do início do século I, é mencionado pelos quatro evangelistas, e considerado o “precursor do Messias”. Pode ser considerado o santo mais popular de junho, e de seu nome é que provém o adjetivo “juninas” para as festas do mês, quando se celebravam as novenas, festas e fogueiras “joaninas”. Suas festas, no norte e nordeste de Minas, e subindo-se para o nordeste e norte do Brasil, só se equiparam às festas natalinas.
O nome “João”, que em hebraico significa “Deus é propício”, era e ainda é um nome muito comum. Ele foi apelidado de “Batista” porque batizou muitos judeus no rio Jordão, incluindo o próprio Jesus, e pregava a penitência e a conversão para uma vida mais justa e mais conforme às leis de Deus. Os cristãos usaram o batismo joanino e deram a ele um novo significado, para que marcasse a entrada da pessoa na nova religião iniciada pelo Messias, Jesus de Nazaré.
João Batista levava vida austera, de intensas penitências. Segundo Mateus (3,4), ele trajava vestes de pele de camelo, um cinto de couro, e alimentava-se de gafanhotos – uma espécie de fruto adocicado, também chamado de Pão-de-são-joão ou figueira do Egito – e mel silvestre.
João também possuía discípulos, como Jesus, e os ensinou a orar (Lc 11,1). Como relata o capítulo 11 de Mateus, quando João Batista foi preso, ele enviou dois de seus discípulos até Jesus para que se certificassem de que Jesus era mesmo o Messias. Com essa certeza, o Batista poderia morrer tranquilo, sabendo que estava no mundo aquele a quem anunciara.
São Pedro
Os evangelhos nos dizem que São Pedro era de Betsaida, na Galileia. Era pescador e formava dupla de pesca com seu irmão André, que se tornou também apóstolo de Jesus. Seu primeiro nome era Simão, nome muito comum entre os judeus: Shimon; Shimon bar Jonas (Simão, filho de Jonas ou de João).
Simão, ou Simão Pedro, é citado 182 vezes no Segundo Testamento da Bíblia. Só os evangelistas o citam 113 vezes: Mateus: 24; Marcos: 23; Lucas: 27, e João: 39 vezes. Ele é um personagem espontâneo, de iniciativas rápidas, pensamento ligeiro, por isso toma a iniciativa de muitas respostas que Jesus faz aos Doze.
Pedro, colocado por Jesus como a grande referência do grupo apostólico, compartilha com Saulo de Tarso, o convertido apóstolo Paulo, o centro do livro dos “Atos dos Apóstolos”. Muitas pessoas pensam que esse livro fala de todos os apóstolos de Jesus, mas fala dos grandes esteios da fé, que são Pedro e Paulo. Os outros apóstolos são quase detalhe no livro.
Segundo a tradição cristã, Pedro morreu em Roma, onde foi crucificado, por volta do ano 67 da era cristã. A seu pedido, por se julgar indigno de morrer como seu Mestre e Senhor, foi crucificado de cabeça para baixo.
São Pedro é considerado pela Igreja como o primeiro papa, do qual o papa Francisco é o 266º sucessor.
São Paulo
Nascido na cidade de Tarso, Saulo foi um fervoroso judeu. Recebeu esmerada educação do grande rabino Gamaliel, como nos conta o próprio Saulo, convertido em Paulo (Atos 22,3). Sua conversão se dá quando se dirige a Damasco, capital da Síria, para capturar e prender cristãos. Para isso possuía autorização escrita do sinédrio de Jerusalém. Mas no caminho Jesus lhe aparece, e a história de Saulo passa a ter outro sentido.
São dele várias cartas do Segundo Testamento bíblico. Praticamente, a doutrina presente em seus escritos dá um fortíssimo embasamento à fé cristã, e muito da teologia católica tem nos ensinamentos de Paulo sua estruturação.
Pedro e Paulo representam a figura do Papa: o primeiro representa a Igreja institucional e hierárquica, e necessária; o segundo representa o carisma, a evangelização dos gentios, daqueles que ainda não fazem parte do rebanho. Eles são as duas faces de uma mesma Igreja, cujo corpo é misteriosamente o do próprio Jesus.
Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas
p.ismar@pucminas.br