“O silêncio é um conselheiro, nunca decepciona”
(Côn. Manuel)
Jesus antes de chegar à grande oração do Pai Nosso, nos aconselhou: “Guardai-vos de praticar vossa religião diante dos homens para atrair os seus olhares” (Mt 6, 1). Em sua metodologia evangelizadora, diz o Senhor: “Quando orardes… entra no teu quarto fecha a porta e ora a teu Pai que está no Céu” (Mt 6, 5ss). O silêncio nos oferece todos os ingredientes para sabermos quem somos. Quem se apropria deste grande amigo, encontra segurança. Silêncio não é calar para agradar. Não é remoer uma frustração ou um ontem mal resolvido. Não é um ressentimento de um hoje que espera para dar o bote. Silêncio é a graça de pensar com calma. Refletir com maturidade. Abrir os caminhos da consciência. Valoriza os corredores dos sentimentos. Acalmar o coração. Com ele me encontro como gente. O silêncio nunca decepciona, é um conselheiro. Nele temos a maior resposta. É um grande terapeuta. Sua linha mestra nos dirige na mais persuasiva convincente sinfonia de dizeres tão acertados, que nem Beethoven, com seu grande dom para com a pauta musical, conseguiu ultrapassa-lo. Por isso, “o silêncio é um dos argumentos mais difíceis de rebater”, nos alerta Josh Billings. Esse grande amigo nas viagens da vida nos avisa: Nunca uses da brutalidade, da grosseria, ou de qualquer outro artefato para te defenderes. Oferece sempre como prêmio e grande maestria o silêncio de tua resposta. O santuário da consciência agradece.
Todos nós conhecemos as palavras do Evangelho de Lucas: “E Maria guardava todas estas coisas em seu coração” (Lc 2, 19). Na poltrona do silêncio, o diálogo nos convida a um elucidativo momento fugindo de todos os ruídos. Tudo que nos entope, levando-nos a uma obstrução, arrastando-nos a um entulho, parece dissolver-se quando a visita leve e suave do silêncio chega. Quantos esclarecimentos, dúvidas, novas luzes, nos abraçam neste momento proeminente da vida. Parafraseando Henry Thoreau somos levados a dizer: “O silêncio é a comunhão de uma alma consciente consigo mesma”. Este grande amigo envolve-nos numa confiança que só nossos sentimentos, consciência e coração, testemunham como ouvintes. Eis, pois, a grande maturidade do silêncio. O grande escritor Goethe, sem medo algum, nos acalenta de esperança quando diz: “É no silêncio que se educa o talento e na torrente do mundo o caráter”.
No agitado da modernidade pelos ventos da correria, defrontando-se com a velocidade da tecnologia, nosso mundo tornou-se uma pequena aldeia ajustando-se à conformidade dos rumores, ao bulício da vida. Esta dádiva, o silêncio, provavelmente, não combina com a realidade tão badalada embutida no mais eloqüente barulho e pressa que nos é acedido. Contudo, o silêncio para quem vivencia a verdade de seu valor, nos leva aos mais altos índices dos melhores diálogos que o ser humano possa ter. Já nos alenta Confúcio: “O silêncio é um amigo que nunca trai”. Quando tudo parece refutação, a angústia chega ao auge; quando as palavras se esgotam, o que se busca não se encontra, o silêncio se torna a melhor réplica. José Rodrigues Miguéis assevera: “Já tenho escrito que o meu silêncio é feito de gritos abafados. Mas a vida é apenas um arrendamento provisório, um parênteses entre dois insondáveis infinitos”. É isso mesmo, o silêncio sempre nos conduz a um bom caminho, a uma conclusão certa, um resultado que não machuque e, sobretudo, não deteriora a pergunta ferida. Deepak Chopra nos ensina: “Pratique o silêncio e você adquirirá um conhecimento silencioso. Neste conhecimento está um sistema computacional que é muito mais minucioso, preciso, poderoso do que qualquer coisa que esteja contida nas fronteiras do pensamento racional”. Faça do silêncio seu melhor amigo, sua melhor resposta e sua grande presença na realidade do teu Eu. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC – MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP