Em Aparecida, São Paulo 18 integrantes da diocese de Guanhães (bispo, padres e leigos) refletiram sobre o tema do 5o Encontro Nacional da Pascom e puderam aprofundar a compreensão e o serviço da comunicação no campo da Liturgia da Igreja.
Esse evento de cunho nacional promovido pela CNBB propôs associar comunicação à liturgia. “O tema propõe formar os agentes numa dimensão da Igreja que é fundamental: a liturgia é a comunicação do mistério. O comunicador cristão tem que comunicar Jesus Cristo e esse é o conteúdo da sua comunicação. “Estamos aqui para isso, estudar juntos, para partilharmos as experiências que cada regional, cada comunidade, cada diocese está fazendo na pastoral da comunicação, e alertar os agentes sobre a transversalidade da pastoral da comunicação em todas as outras pastorais. A Pascom deve estar presente em todas as pastorais”, explicou Dom Darci – arcebispo de Diamantina/MG, presidente da Comissão episcopal Pastoral para Comunicação da CNBB – iniciando os trabalhos.
Padre Bruno, um dos membros da pastoral da comunicação e da pastoral litúrgica diocesana, que esteve em Aparecida nesta ocasião, concedeu uma entrevista à Equipe do Jornal FOLHA DIOCESANA. Acompanhe a entrevista, abaixo, que será publicado na Folha do mês de agosto.
O comunicador cristão tem que comunicar Jesus Cristo e esse é o conteúdo da sua comunicação.
Folha Diocesana: “A liturgia é a comunicação do mistério”. Como podemos entender a relação entre comunicação e liturgia?
Padre Bruno: É preciso ir por partes.Liturgia significa serviço. Pode ser entendido como serviço “do povo” ou “em favor do povo”. Não é uma palavra que surgiu num ambiente religioso. Por exemplo, no Coliseu existiam pessoas – liturgos, por assim dizer – que “serviam o povo” que estava ali para assistir os espetáculos com gladiadores e feras. Num sentido religioso, liturgia é ação de Deus em favor do povo quando celebram o mistério da vida, paixão morte e ressurreição de Jesus. Portanto, num sentido religioso podemos definir liturgia de duas formas: 1) Ação de Deus em favor do povo, 2) celebração do mistério da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus.Comunicação pode ser entendida como comunhão que se estabelece entre duas pessoas. Não é uma imposição – de um que fala e outro que passivamente escuta – mas interação como num diálogo.Conjugando essas duas palavras podemos entender a liturgia como ação de Deus e do ser humano que se encontram e estabelecem comunhão, se comunicam através de uma ação.
Folha Diocesana: E o que seria comunicação na liturgia?
Padre Bruno: Não é aplicação de técnicas da comunicação na liturgia. A assembleia não é uma plateia. Plateia apenas assiste a um espetáculo, assembleia celebra o mistério. É por essa confusão que se vê muito ruído no ambiente litúrgico quando a liturgia deve expressar sacramentalmente o mistério pascal.Não precisa inventar nem engessar. Muitas vezes tudo gira em torno do próprio ego: esse frenesi e barulho.Os áudios visuais muitas vezes quebram o rito que pode ser entendido como ritmo da celebração. Esses recursos devem ser utilizados com muito bom senso. Aliás, na liturgia precisa-se de muito bom senso prevalecendo a sobriedade para que o mistério celebrado não fique oculto com tanta “criatividade desnecessária”.
Folha Diocesana: “O comunicador cristão tem que comunicar Jesus Cristo e esse é o conteúdo da sua comunicação”. O que entender desse argumento de Dom Darci?
Padre Bruno:: Um comunicador cristão é uma espécie de porta-voz da igreja. Não deve anunciar suas convicções e seus “achismos” – pois do contrário acabará apenas como um “emissor de opinião” que se intitula “comunicador cristão”. Se diz cristão, mas só critica a igreja de Jesus Cristo. Muitas vezes o objetivo disso é confundir a mente das pessoas, atrapalhando a comunhão. Quem faz isso atua como um divisor diabolon (divisor em grego). É preciso uma atitude de humildade: mesmo que eu não aceite alguma proposta da igreja, eu acolho e comunico aquilo que ela nos oferece sem contaminar com minhas opiniões contrárias. Somos porta-vozes da igreja. Por exemplo: ser padre não é uma roupa que eu tiro e ponho, minha opinião própria não interessa quando estou pregando. Isto por que quando eu falo, as pessoas entendem ser em nome da igreja.
Folha Diocesana: “Alertar os agentes sobre a transversalidade da pastoral da comunicação em todas as outras pastorais. A Pascom deve estar presente em todas as pastorais”. Fale-nos sobre essa outra afirmação do arcebispo.
Padre Bruno: A Pascom não é a pastoral da fotografia na missa. Nós, enquanto povo de Deus, precisamos trabalhar de forma integrada. Alguns pensam que devem se preocupar apenas com sua pastoral, seu grupo e nada mais. No entanto somos igreja, vivemos em comunhão. A Pascom, por exemplo, deve transitar nas variadas pastorais mostrando o que de bom cada uma é e cada uma faz e para isso precisa da colaboração dos membros destas pastorais. Quando alguém conhece um pouco melhor uma pastoral, isso poderá motivá-lo a ingressar nela e atuar de forma mais ativa no trabalho evangelizador da igreja.
A Pascom não é a pastoral da fotografia na missa
Folha Diocesana: Quais assuntos mais foram tratados?
Padre Bruno: Alguns temas foram abordados em forma de seminários e cada agente da Pascom se dividiu conforme seu interesse, nos temas, mas como assuntos em comum houve ainda sobre “Comunicação e Anúncio da Palavra” em que o padre Luiz Baronto da catedral da Sé em São Paulo trabalhou sobre a homilia, um momento forte do anúncio da Palavra de Deus e deve estar baseada na vida do povo e na liturgia do dia, no dizer do padre palestrante deve-se pensar “esta liturgia e este povo” na preparação da homilia. Também o silêncio sagrado é importante, pois na liturgia é Deus que nos fala e não sabemos fazer o devido silêncio. Algumas pessoas confundem o silêncio com falta de preparo, mas é algo importante dentro da liturgia. Bento 16 já havia alertado para isso.
“A homilia é um momento forte do anúncio da Palavra de Deus”
Um outro tema foi “Comunicação e Linguagem Visual” apresentado por padre Thiago Faccini. O espaço litúrgico nos ajuda na comunicação com Deus pela liturgia, nos inspira à oração. Aqui também precisa-se de bom senso e menos criatividade, do contrário fazemos de nossas igrejas e principalmente os presbitérios, um verdadeiro circo. E ainda Moisés Sbardelotto trabalhou sobre o tema das novas tecnologias e o processo de “Ubiquização” em que vivemos. Ubique significa estar em todo lugar a todo tempo; pela mídia digital temos acesso as a várias coisas e podemos nos comunicar em vários lugares.
Folha Diocesana: A igreja tem alguma opinião sobre a transmissão de missas pela Televisão e Rádio?
Padre Bruno: Nos textos do Concílio Vaticano II temos uma sóbria orientação sobre a transmissão de rádio e televisão:
“As transmissões por rádio e televisão das funções sagradas, particularmente em se tratando da santa missa, façam-se com discrição e decoro, sob a direção e responsabilidade de pessoa idônea, escolhida para tal ofício pelos bispos (SC, n 20)”. Minha opinião vem da realidade de nossa diocese: somos rural. A maioria dos paroquianos vivem na zona rural e nossa voz não os alcança. Pela televisão ou pelo rádio nosso povo tem condições de acompanhar a liturgia semanal, rezar, alimentar sua fé. Não é à toa,que em certos horários só se vê celebração católica e outras formas de culto religioso como também outros programas religiosos. Penso que a TV e o rádio chegam onde o espaço e tempo não me permitem chegar.
Vimos a partir da palavra do padre Luiz Baronto “a homilia é um momento forte do anúncio da Palavra de Deus” e pode alimentar a fé do nosso povo mantendo a comunhão apesar da distância.
“A TV e o rádio chegam onde o espaço e tempo não me permitem chegar”
Folha Diocesana: Deixe para nós uma última fala
Padre Bruno: Convido aos demais agentes de pastoral a se integrar a Pastoral da Comunicação. Precisamos mostrar o que de bom nossas pastorais estão fazendo, tornar evidente. Essa atitude não é “desejo de parecer” mas é evangelizar. Padre Ivanor Macieski, da diocese de Joinville, usou uma bela expressão: “quem comunica evangeliza” parafraseando o dito de Abelardo Barbosa, o “Chacrinha”. Nossa comunicação também é evangelização e pode despertar outros para a missão.
“Quem comunica evangeliza!”