Durante os oito anos de seu episcopado, essa foi a primeira Missa presidida por Dom Otacílio com os Gestores Municipais eleitos.
Sua Homilia:
Amados irmãos e irmãs aqui presentes na catedral, bem como aqueles que nos acompanham pelos meios de comunicação social, minha saudação e votos de um feliz Ano-Novo!
Iniciamos este novo ano com o coração aberto para acolher a todos. Quero, de modo especial, saudar e acolher na pessoa do nosso Prefeito Municipal, Evandro Lot, todos os Vereadores desta cidade, além dos Secretários, Secretárias e demais autoridades que aqui se encontram. É muito importante esta comunhão e presença em nosso encontro eucarístico.
Hoje, ao celebrarmos esta Eucaristia, aproveito a oportunidade para elevar a Deus nossas orações, não apenas por estas autoridades, pelo Prefeito e Vereadores de Guanhães, mas também pelos eleitos das 30 cidades que compõem a nossa Diocese.
Na minha mensagem ao povo de Deus, recordei dois versículos das Sagradas Escrituras que são de grande importância. A nossa oração vai além do credo ou da profissão de fé que cada um possa ter, e respeito profundamente as diferenças e as diversas expressões religiosas, reconhecendo o papel delas em promover o bem, a fraternidade e a paz.
Minhas orações se unem às de tantos outros hoje, para que se realize o que São Paulo escreveu a Timóteo, e que também devemos guardar em nossos corações:
“Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral, para que possamos levar uma vida calma e tranquila, com toda piedade. E dignidade.” (cf. 1 Tm 2,1-2).
Esse ensinamento, extraído da Primeira Carta a Timóteo, é uma inspiração para todos nós.
Como Bispo, coloco-me à frente no compromisso de rezar por todas as autoridades de nossas cidades: Prefeitos, Prefeitas, Vereadores, Vereadoras, Secretários e Secretárias.
Contem sempre com minhas orações e com a palavra da Igreja para que sejam, antes de tudo, promotores da boa política, conforme nos ensina o Papa Francisco: ela deve promover o bem comum, a vida, a fraternidade e a paz.
São Paulo VI também nos deixou um legado precioso ao afirmar que a política é uma forma elevada e exigente de serviço aos outros. Em sua exortação “Octogesima Adveniens”, de 1971, ele destacou a política como “uma maneira exigente, ainda que não a única, de viver o compromisso ao serviço dos outros”.
Essa visão foi mais tarde enriquecida pela ideia de que a boa política é uma forma sublime do exercício da caridade. Assim, ela se torna uma expressão viva do amor cristão, um testemunho concreto da caridade em ação.
A todos vocês, autoridades aqui presentes, faço um convite especial: aprofundem-se nos ensinamentos da Igreja e nos documentos do Papa Francisco, como a “Fratelli Tutti” e a “Laudato Si’”. Esses textos são fundamentais para quem se dedica à missão de dirigir uma cidade ou uma nação. Eles estão disponíveis e acessíveis em diversas plataformas digitais.
Caros irmãos e irmãs, com essa reflexão e essa dedicação à boa política, tenho certeza de que estaremos alinhados com a mensagem do Dia Mundial da Paz, celebrado desde 1968. Que possamos, juntos, construir um mundo mais justo, fraterno e em paz.
O Papa Francisco, neste dia, nos oferece uma mensagem profundamente inspiradora, que merece ser lida, conhecida e amplamente divulgada.
Ela pode ser considerada como um verdadeiro plano de governo para aqueles que tomam decisões em uma cidade, município, país ou em qualquer esfera de atuação.
A mensagem tem como tema “Perdoa-nos as nossas ofensas, concede-nos a tua paz!”.
Entre outras reflexões, o Papa faz votos de esperança e conclama todas as pessoas de boa vontade a superarem as realidades da miséria, da violência e da desigualdade social.
Com sua imensa sensibilidade diante dos clamores que sobem aos céus, ele nos lembra que todos somos devedores uns aos outros do amor e do compromisso.
O Papa Francisco também nos sensibiliza para a necessidade de uma ecologia integral, convidando-nos a cuidar da nossa casa comum — o planeta que habitamos. Isso inclui zelar por nossas cidades, bairros e até mesmo pelos pequenos espaços que ocupamos, como nossos quintais. Ele nos alerta que, por menor que seja a nossa ação, ela sempre terá um impacto, seja ele positivo ou negativo, no todo.
Nesse contexto, as autoridades têm um papel fundamental: criar uma cultura de promoção da vida, defesa da dignidade humana e cuidado com a casa comum. Contudo, o Papa também nos recorda que essa missão não é exclusiva das autoridades. Todos nós somos responsáveis.
Nenhum político, por mais capacitado e bem-intencionado que seja, pode resolver sozinho os desafios do mundo. É essencial a colaboração de cada cidadão, em espírito de corresponsabilidade.
A construção de uma sociedade mais justa, pacífica e solidária requer o esforço coletivo, o compromisso de cada um em fazer o bem, independentemente da magnitude de sua contribuição.
Que essa mensagem nos inspire a renovar o nosso compromisso com o bem comum e a cuidar do nosso planeta, começando por nossas ações diárias e por nossa comunidade.
O Papa Francisco faz três apelos importantes ao mundo: a redução ou o perdão total da dívida internacional, com a superação das desigualdades; promoção de uma cultura da vida — rejeitando a pena de morte; e promover a paz por meio da redução dos gastos com armas – esses recursos, ele sugere, poderiam ser redirecionados para políticas de desenvolvimento sustentável, educação, saúde, lazer e qualidade de vida.
O Papa demonstra uma sensibilidade única ao afirmar que a paz significa vida digna, e não apenas para alguns, mas para todos; e nos convida a cultivar a paz não apenas com grandes gestos, mas também com pequenos atos diários, como um sorriso, a honestidade, a amizade, o carinho e a atenção ao próximo. Segundo o Papa, a paz começa com um coração desarmado, livre do ódio, e disposto ao perdão e à solidariedade.
Espero que essas palavras toquem o coração das nossas autoridades e do nosso povo, enchendo-os de esperança. Essa mesma esperança que é o tema do Jubileu que estamos celebrando: “Somos peregrinos da esperança.” Em 2025, com a celebração do Jubileu em todo o mundo, esperamos dar passos significativos rumo a um mundo melhor.
A Liturgia de hoje nos oferece uma mensagem profundamente conectada a esses ideais. No Dia Mundial da Paz, a Igreja também celebra a Solenidade de Maria, Mãe de Deus.
Contemplando a imagem de Maria, somos lembrados de sua presença verdadeira em nosso meio, de sua intercessão nos céus, acompanhando-nos neste e em todos os anos.
Que Nossa Senhora proteja e guie os prefeitos, vereadores e todos os que têm a responsabilidade de servir ao povo durante seus mandatos.
Maria é, verdadeiramente, a Mãe de Deus e nossa mãe. Por meio dela, a divindade se encarnou.
Hoje, rogamos as bênçãos de Deus, como nos inspira a primeira leitura, e confiamos na proteção de Nossa Senhora.
Na Missa de ontem, recordei que o Ano Jubilar de 2025 nos convida a ter:
Um povo peregrino é um povo a caminho. Por isso, hoje acrescento mais um apelo: que não apenas os lábios e pés dos pastores, mas os corações e ações de todos nós estejam comprometidos com a missão de construir um mundo mais justo, fraterno e solidário.
Destaco algo de extrema importância que me tocou ao ouvir o Evangelho proclamado hoje, o mesmo de ontem, pois a liturgia permanece a mesma. No entanto, a Palavra de Deus nunca é repetitiva; ela sempre traz algo novo para o nosso coração.
No início do Evangelho, há uma expressão simples que pode passar despercebida, mas que é muito significativa: “Os pastores foram às pressas a Belém.” Lá encontraram Maria, José e o recém-nascido Jesus. Depois, ao testemunharem o que viram e ouvirem, ficaram maravilhados.
Essa palavra — “às pressas” — é cheia de significado. Vivemos em um mundo de pressa constante. Temos pressa para tudo: pressa para acessar a internet, para chegar ao destino, para resolver problemas, e até para tomar decisões importantes. Se algo demora, muitas vezes perdemos a paciência e desistimos. Essa cultura do imediatismo pode ser perigosa. Mas quero ressaltar aqui o lado positivo dessa “pressa”.
Os pastores foram às pressas a Belém não porque estavam ansiosos, mas porque tinham prontidão no coração. Essa pressa revela disposição, abertura ao mistério de Deus e uma resposta imediata ao chamado divino. É uma urgência santa, uma pressa de fazer o bem, de contemplar o Verbo Encarnado, o Mistério que foi revelado no tempo oportuno.
Essa lição nos convida a refletir: será que temos a mesma prontidão para buscar as coisas divinas? Temos pressa para fazer o bem ou, pelo contrário, adiamos as boas ações?
Não podemos cair na lentidão espiritual, no adiamento do que é justo e necessário. O bem não tem amanhã, o bem só tem uma palavra: HOJE.
Dou um exemplo prático: uma pessoa está com fome. Se dissermos: “Amanhã eu ajudo” ou “Semana que vem vou fazer algo por ela”, pode ser tarde demais. O bem precisa ser feito no momento presente.
Por isso, olhando para nossas autoridades — prefeitos, vereadores e todos os que servem à nossa sociedade —, como bispo, faço um apelo: tenham pressa de fazer o bem.
Não adiem, não posterguem o que pode transformar a vida das pessoas. Tenham celeridade na promoção da justiça, na defesa dos mais vulneráveis e na construção de uma cidade melhor para todos.
Que essa pressa santa nos inspire a agir com prontidão e generosidade, buscando sempre a vontade de Deus e servindo ao próximo com amor e dedicação.
Mas é preciso ressaltar: uma pressa sem atropelos, respeitando os processos necessários. Muitas vezes, as pessoas cobram do bispo uma decisão imediata, mas as coisas não funcionam assim.
Creio que no poder público também é assim. O bem precisa ser feito, mas não de qualquer jeito, porque, se mal planejado, o bem pode acabar se tornando um mal.
Ao mesmo tempo, não podemos ser lentos ou deixar o tempo passar, pois, quatro anos passam depressa. Por isso, não percam tempo. Esta é a mensagem que quero que vocês guardem no coração: não deixem para amanhã o bem que podem fazer hoje. Vocês foram eleitos não para daqui a cinco anos, mas para agir no presente.
Nossa cidade tem sua história, suas belezas e riquezas, mas também seus limites. Assim como o Bispo não faz tudo na diocese, ele passa e deixa desafios. Quem veio antes deixou desafios, e agora é hora de arregaçar as mangas, continuar e avançar, para que possamos construir uma cidade mais justa e fraterna, um lugar bom de se viver.
Costumam me perguntar se gosto muito de Guanhães, e eu respondo, “com todos os seus limites, sim, eu amo minha cidade.” Porque não faz sentido morar em uma cidade e não amá-la.
Da mesma forma, não faz sentido estar em uma diocese com a mente em outro lugar. Se estamos aqui, somos cidadãos daqui, e é com essa cidade que devemos nos comprometer. Se amanhã for outra cidade, será outro compromisso, mas o “agora” exige nossa dedicação ao bem a ser feito, à justiça a ser promovida e ao bem comum a ser buscado.
Deixo essa mensagem no coração das autoridades, especialmente na pessoa do Senhor Prefeito, e estendo-a a todos os Prefeitos e demais líderes de nossa região.
Que saibamos construir não muros que separam, mas pontes que conectam. Não me refiro apenas a pontes físicas, que também são importantes, mas às pontes do respeito, da proximidade, da solidariedade e da fraternidade.
Autoridades não são constituídas para gerar ou fomentar divisões, mas para serem construtores de pontes e não de muros. Sejamos próximos no bem que precisa ser feito, e distantes — muito distantes e tardios — no mal, que jamais deve ser realizado.
O tempo passa rapidamente, e nós, cidadãos, esperamos muito de vocês. “A esperança não decepciona”. Por isso, não nos decepcionem. Cumpram as promessas feitas, e estou certo de que o rebanho que me foi confiado terá mais alegria e vida.
Contem sempre com nossas orações, como Paulo nos exortou no início desta mensagem. Feliz Ano-Novo, com muito trabalho.
Não adianta esperar que coisas bonitas caiam do céu por acaso. O bem é fruto de suor, esforço e dedicação. Com muito trabalho e combate, a vitória virá.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado!
Diante dessa mensagem e da Palavra de Deus, vamos agora professar nossa fé: “Creio em Deus Pai…”
(PS: Editada para postagem).