Um itinerário de conversão a partir do “evangelho do filho pródigo

“Seu pai o avistou e foi tomado de compaixão (Lc 15, 20).” O popularmente conhecido “evangelho do filho pródigo” é um grande convite à conversão e confiança na misericórdia de Deus, uma vez que o centro do evangelho se encontra na ação e figura do pai que ama, perdoa e reintegra. A partir da estrutura do evangelho, é possível fazer um percurso que vai ao encontro do sacramento da penitência, no qual o homem caído se reconhece frágil e recorre à misericórdia de Deus para ser novamente reerguido.

O pecado é sempre uma queda dolorosa e humilhante, por mais que no início se revista da mais bela aparência. O filho mais novo, buscando a autonomia em sua vivência com o pai, decide se aventurar pelo mundo por si só. Ele escolhe não ficar com o pai, mas seguir por outro caminho. Este é o primeiro passo para o pecado: escolher ficar longe de Deus. E, como consequência lógica, o filho mais novo se vê em situação de necessidade pela vida que escolheu trilhar; a humilhação que sua escolha lhe causou foi tão grande que ele desejava matar sua fome com a comida dos porcos. Em outras palavras, podemos dizer que o pecado degrada o ser humano da forma mais sórdida possível, a ponto de ele nem ser mais reconhecido como humano. Diante dessa realidade, a conversão começa a acontecer.

“Então caiu em si (Lc 15, 17).” O primeiro passo para a conversão é o “cair em si”, isto é, reconhecer a situação em que nos encontramos e, a partir disso, buscar mudanças. O filho mais novo reconhece sua miséria e a fartura que é viver perto do pai, pois um dia já esteve com ele. Diante disso, decide pedir perdão ao pai pelo erro cometido. A partir daí, o processo de conversão leva o filho mais novo a experimentar o perdão. Na vida de fé de qualquer cristão acontece o mesmo: diante da infidelidade a Deus e do reconhecimento da infração cometida, somos conduzidos ao sacramento da penitência, que nos revela a face amorosa e misericordiosa de Deus. E assim como o filho mais novo “se pôs a caminho e voltou para o pai (Lc 15, 19)”, pela penitência, vamos em direção a Deus, que está a nos esperar.

Diante do pai, o filho mais novo reconhece sua falta e busca o perdão, mas a ação do filho é antecedida pela ação do pai, que o avistou quando ainda estava ao longe, “correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou (Lc 15, 20).” No sacramento da penitência, acontece a mesma coisa: o pecador, diante de Deus, reconhece seus pecados, e Deus, em seu infinito amor, já está a esperar o penitente para derramar sua graça superabundante e transformar seu coração. Antes do pecador tomar consciência de sua falta e decidir voltar, Deus já está ao longe, esperando sua volta. Ou seja, Deus está constantemente à nossa espera, pronto a nos dar seu perdão diante de um coração contrito e humilde.

Diante da confissão do filho, o pai lhe dá o que há de melhor, pois o Senhor “não age conosco segundo nossos pecados (Sl 103, 10).” Manda trazer a melhor túnica, colocar anel nos dedos e sandálias nos pés do filho, manda matar um novilho cevado e faz festa para comemorar o retorno daquele que estava perdido, pois “há mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão (Lc 15, 7).” Tudo isso mostra a benevolência de Deus para conosco, que sempre nos trata segundo seu amor, não segundo nosso merecimento. E, como nos lembra o apóstolo Paulo, “onde, porém, aumentou o pecado, superabundou a graça (Rm 5, 20).” Diante do nosso pecado, o amor de Deus sempre se mostra maior e mais potente.

No evangelho, o pai ocupa o papel central do enredo: é ele que espera o filho ao longe, é ele que, por primeiro, mostra seu gesto de amor ao filho, é ele quem devolve a dignidade ao filho, e é ele que toma a iniciativa da festa pela reintegração do filho em seu lar. O pai é a imagem de nosso Deus, que nos espera ao longe, sempre respeitando nossa liberdade, que pode nos conduzir até Ele ou não; é nosso Deus, que nos enche de carinho e proteção quando nos aproximamos Dele, por mais que estejamos todos enlameados; é Ele que nos dá seu perdão e devolve nossa dignidade, nos reerguendo, sem querer saber o porquê de nosso erro; e é Ele que faz festa pelo nosso retorno à sua presença, quando optamos por voltar a seguir seus passos.

Enfim, assim como o pai desempenhou um papel fundamental na vida do filho mais novo, Deus desempenha esse papel em nossa vida. E, para que seja possível colher os frutos da reconciliação, Deus só nos pede um coração contrito e humilde, disposto a recomeçar. E assim como o pai disse em referência ao filho mais novo, Deus nos diz quando retornamos a Ele: “precisa-se festejar e alegrar-se, porque […] estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado (Lc 15, 32).”

Seminarista : Evanilton Santos

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