237º Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos: Entrevista ao Padre Bruno, reitor do Santuário

A peregrinação é um dos sinais que pertencem à vida da Igreja, mas também é o ícone da vida de cada pessoa, crente ou não crente. Muitas vezes somos errantes, ou seja, caminhamos, mas não temos um destino, e é isso que distingue o peregrino. O peregrino tem um destino à sua frente, e a vida não pode ser a de um andarilho que não tem direção nem significado. A vida precisa ter um significado, precisa ter uma direção, e é por isso que se torna uma peregrinação.

Em nossa Diocese, uma festa que provoca grande peregrinação é o Jubileu do Bom Jesus em Conceição do Mato Dentro. É a festa mais antiga da Diocese de Guanhães. Começou em 1787, com ordem do Papa Pio VI. É uma festa – o Jubileu – que ultrapassa dois séculos, tem raiz bíblica (Lv 25, 11; Lc 4, 18), trata-se de um tempo de perdão e de ação de graças e nos faz lembrar a festa judaica de Sucót, a festa das Tendas ou dos Tabernáculos (Lv 23, 33-36.39-43).

Quando os judeus, na Festa das Tendas, saem de suas casas confortáveis e passam a residir na tenda, estão exercitando a humildade, estão relembrando o quanto a nossa morada na terra é passageira. Os romeiros do Bom Jesus nem sentem o desconforto das barracas, o desnível do chão, o frio, o trabalho que dá para tomar banho. Tudo isso é nada diante da alegria de rever os companheiros de jubileu e, sobretudo, a graça de estar aos pés do Bom Jesus e receber as bênçãos d’Ele.

Atentos a isso, no Jubileu de 2023 um grupo de missionários do Senhor Bom Jesus se organizaram e realizaram um trabalho especial, agradável e inspirador: foram de barraca em barraca, cadastrando as romarias, conhecendo um pouco mais o romeiro do Senhor Bom Jesus, escutando as histórias, surpreendendo-se e inspirando-se com a fé de cada romeiro.

Um grupo de pouco mais de 27 pessoas que visitaram mais de 190 famílias, casais, solteiros, idosos, crianças, gente de longe e gente de perto que ano a ano se põem acampados nessa colina, amanhecendo e anoitecendo ao redor do Senhor Bom Jesus, Deus da Vida, da Misericórdia e da Esperança.

O Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos agradece a cada um que recebeu esses missionários em suas barracas e esse ano segue no trabalho de melhorar – ainda que devagarinho, aos pouquinhos – mas melhorar sempre mais a cada Jubileu a infraestrutura para melhor receber a você, romeiro/romeira.

Irmã Ana Lúcia

Irmã Ana Lúcia

ENTREVISTA

A irmã Ana Lúcia de Oliveira, Clarissa Franciscana Missionária do Santíssimo Sacramento, entrevista o reitor do Santuário, Pe Bruno Costa Ribeiro, recém chegado à Conceição do Mato Dentro, para o programa Hora da Família da Rádio Vida Nova FM 91,5 de Guanhães.

Neste ano, estamos celebrando o 237º jubileu do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, com 11 dias de peregrinação, oração, agradecimento e reflexão. Nós colocamos aos pés do “Senhor Bom Jesus, Mestre da oração”, pedindo-lhe que nos ensine a rezar e sermos irmãos.

Recordando um pouco da história e devoção ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos, que se dá a partir de dois milagres atribuídos à imagem encontrada pelo escravo, Antônio Angola, em 1734, na área onde está situado o santuário. Em uma época de seca forte que assolou a região, durante uma procissão com a imagem, choveu satisfazendo a necessidade dos moradores. Um outro fato foi a cura de uma doença grave do português José Correia. Tais milagres fortaleceram a fé do povo. Desde 1787, de 13 a 24 de junho, a cidade de Conceição do Mato Dentro se transforma com a vinda de milhares de romeiros, intensa movimentação de fiéis e comerciantes que se instalam na “colina do Santuário” durante a festa, para agradecer ou implorar graças ao Bom Jesus.

Irmã Ana Lúcia: Padre Bruno, este é o primeiro ano em que você, como pároco assume a coordenação do Jubileu. Você poderia partilhar conosco como foi pensar nesta organização?

Padre Bruno

Padre Bruno

Pe Bruno: O jubileu tem vida própria! É a maior e mais antiga festa da cidade e da Diocese de Guanhães e é realizada desde o ano de 1787, no período de 13 a 24 de junho. Nessa época, a cidade se transforma com a vinda de milhares de romeiros.

São mais de 200 anos. A missão do reitor é como a de um maestro numa orquestra: ele não toca nenhum instrumento no momento da apresentação, mas acompanha cada um dos instrumentistas. E são os devotos do Bom Jesus que aqui residem que me orientam, neste primeiro ano, como é que “a banda toca por aqui”, quanto aos preparativos para esse grandioso Jubileu.

Todo aquele que já viveu em Conceição do Mato Dentro, sentiu a relevância do Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos para a cidade. A romaria religiosa que esse ano está completando 237 anos soube, ao longo desse tempo, acolher e incluir novos significados e hoje o Jubileu tem importância fundamental para além da manifestação de fé e devoção dos fiéis ao Bom Jesus de Matosinhos.

A cidade se prepara, em meses que antecede junho, para receber as pessoas dos mais diferentes lugares e conseguir suprir suas necessidades de hospedagem, alimentação e demais interesses turísticos. As lideranças da Paróquia e do Santuário juntamente com o Poder Público através das variadas secretarias, a segurança pública (Polícia Militar, Civil e Guarda Municipal) e a Iniciativa Privada (Anglo e outras empresas) unem esforços em prol do Jubileu.

Irmã Ana Lúcia: Você gostaria de explicar para quem nos acompanha o que o motivou a sugerir tema deste ano?

Pe Bruno: Os temas são inspirados no ano da oração, convocado em 2024 pelo Papa Francisco, em preparação para o ano Jubilar de 2025 e na CF 2024 que, por sua vez, foi inspirada na Fratelli Tutti. O reitor e o conselho paroquial em sintonia com o bispo diocesano elaboram o tema e todos tem participação com sugestões dos temas de cada dia.

O tema geral do 237º Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos é: “Senhor Bom Jesus, Mestre da Oração, ensina-nos a rezar e sermos irmãos”. Somos convidados a contemplar o Senhor Bom Jesus, Mestre da oração com uma súplica: Ensina-nos a rezar e sermos irmãos. Este mesmo pedido foi feito a Jesus por seus discípulos em Lucas 11, 1: “Senhor, ensina-nos a rezar como João ensinou aos seus discípulos” e eles fazem este pedido após Jesus terminar o seu momento de oração no monte. Também nós, fazemos este pedido a Jesus: “ensina-nos a rezar” mas, sobretudo, ter uma vida coerente de oração por a cada dia o tema nos apontará uma vivência coerente com nossa vida de oração e de fé. Aliás, as cartas apostólicas presente em nossas Bíblia insistem nesta coerência entre fé e vida, entre oração e ação. E nos ajuda a entender que um dos frutos da vida de oração é o serviço, acolher e não condenar, discriminar ou preconceito, a ser solidário e amar, a promover a justiça, a esperança, a fraternidade etc.

Irmã Ana Lúcia: Em preparação ao Ano Santo que é celebrado a cada 25 anos, o Papa Francisco nos convida neste ano a fazer um caminho dedicado à oração rumo ao Jubileu de 2025. Também convida toda a Igreja a um tempo de grande compromisso, em preparação para a abertura da Porta Santa. Teria algum documento para orientar a igreja nesta preparação?

Pe Bruno: O Papa Francisco, pela Bula “Spes non confundit”, proclama o Jubileu Ordinário de 2025, tendo como mensagem central a esperança. Para viver o “tempo de graça” até a abertura da Porta Santa, o Pontífice pede aos fiéis que “intensifiquem” a oração. Por isso, dá início a este ano, dedicado a intensificar a oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo.

O anúncio do Ano da Oração foi feito no final do Angelus do domingo, 21 de janeiro, o quinto domingo da Palavra de Deus. Após a catequese, o Papa lembrou aos fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro que “os próximos meses nos levarão à abertura da Porta Santa, com a qual iniciaremos o Jubileu. “Peço a vocês que intensifiquem a oração para viver esse tempo de graça.”, disse o Papa.

Para isso, o Papa Francisco dá início a este ano especial durante o qual as dioceses do mundo se esforçarão para redescobrir a centralidade da oração. O Ano da Oração sucede o ano dedicado à reflexão sobre os documentos e ao estudo dos frutos do Concílio Vaticano II, 2023.

Em preparação para o Ano Santo de 2025, as dioceses são convidadas a promover momentos de oração individual e comunitária. A proposta é de “peregrinações de oração” rumo ao Jubileu ou itinerários de escolas de oração com etapas mensais ou semanais, presididas pelos bispos, para envolver todo o Povo de Deus.

Irmã Ana Lúcia: É interessante Padre Bruno, o Papa nos lembra que a oração deve ser para o cristão “o respiro da vida espiritual”, capaz de nunca ser interrompida. E hoje em dia, temos muitos métodos para nos ajudar no exercício da oração. Seria possível você mencionar algum deles? Penso também Padre Bruno, que a oração deve abrir os nossos corações para perceber a necessidade do próximo não é verdade?

Pe Bruno: A Oficina de Oração e vida, criada pelo Frei Inácio Larañaga, nos ensina a conjugar a vida de oração com a vida fraterna. Com toda certeza não existe uma vida de oração autentica sem uma vida fraterna coerente. É isso que os temas do 237º Jubileu do Bom Jesus de Matosinhos em Conceição do Mato Dentro nos ajudará a entender e viver.

Em nossa Paróquia iniciamos neste ano, como gesto concreto do Ano da Oração, as Oficinas de Oração e Vida. A intenção é espalhar por toda a diocese de modo que seja um gesto concreto diocesano e a Paróquia N. Sra da Conceição terá grande contributo nisso.

Irmã Ana Lúcia: O perdão e a indulgência ainda são os principais significados do Jubileu?

Pe Bruno: O Jubileu ainda mantém sua característica por mais de dois séculos, algumas coisas foram incrementadas ao longo da história do Jubileu. Em 1787 o papa Pio VI concede a indulgência plenária a todos os devotos que participassem piedosamente do Santo Jubileu e para lucrar qualquer indulgência é necessário confessar-se.

Acredito que essa ainda é a experiência que pode ser vivida no Jubileu de 2024, ou seja, a experiência do perdão e a experiência da misericórdia. Vários padres das paróquias que compõem a diocese de Guanhães e mesmo de outras dioceses ou congregações pausam seus trabalhos pastorais em suas respectivas paróquias e se fazem presentes colaborando com esse tempo forte (Kairós) de reconciliação que é o Jubileu. Tempo esperado com ânsia por muitos fiéis e devotos, de perto e de longe.

Irmã Ana Lúcia: Padre Bruno, não existe um passo a passo de como rezar, mas, algumas dicas de como melhor dialogar com Deus, seria possível? Você teria alguma?

Pe Bruno: O terço é uma excelente proposta para darmos início a uma vida de oração, pois entre tantos outros ensinamentos, aprendemos a ter disciplina em dedicar um tempo para o diálogo com Deus. O terço associado à Palavra de Deus se torna um momento forte de oração, pois inspirados no que diz São Jerônimo: “quem não conhece a Bíblia não conhece o Cristo”. É importante ter conhecimento de que a Igreja venera sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, por isso mesmo a Santa Missa e a Adoração ao Santíssimo Sacramento nos farão muito bem em nossa vida de oração, de modo que a Eucaristia será o ápice. A adoração ao Santíssimo Sacramento é ocasião para fazermos experiência do Cristo no Horto das Oliveiras e que chama os seus amigos para passar um tempo com ele e ser companhia num momento de angústia. Também nós devemos convidar o Cristo para ser nossa companhia nos momentos de angústia.

Com a vida de oração, vamos saboreando nossa experiência de Deus que não se constata pelo que senti ou não – até mesmo porque a experiência dos discípulos de Emaús nos aponta que nem sempre nosso coração vai “abrasar” (Lc 24, 13-35), nem sempre tal experiência está acompanhada de algum sentimento. Experimentar Cristo na oração não significa sentir alguma coisa, mas deixar-se moldar por ele. Se caminhamos diferente (conversão), então nós experimentamos (encontramos) o Cristo. Se dissermos que fizemos alguma experiência com Cristo por ter sentido algo diferente mas o nosso modo de agir não está de acordo com o Cristo, então o que experimentamos foi um momento de euforia ou histeria.

Irmã Ana Lúcia: Padre Bruno, agradeço a sua valiosa contribuição nesta entrevista e gostaria que você dissesse qual o gesto concreto deste ano da oração, que a nossa paróquia estará assumindo.

Pe Bruno: Em todo ano temático ou mesmo em algum mês temático e tempo forte da liturgia, somos chamados a assumir um gesto concreto. Para esse ano da oração somos convidados a cultivar uma vida de oração que é tão importante para a vida cristã. No intuito de ajudar os fiéis, a paróquia N. Sra da Conceição implantou a Oficina de Oração e Vida que pretende espalhar por toda a diocese como proposta de gesto concreto para esse tempo forte que estamos vivendo. Não deixem de realizar a Oficina de Oração e Vida em alguma oportunidade que tiverem.

Sejam todos bem-vindos ao Jubileu do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Conceição do Mato Dentro!

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