Com a Liturgia do 7º Domingo Comum (Ano A), aprofundamos sobre a vivência do Mandamento do Amor, inclusive aos inimigos.
Este Mandamento do Senhor é novo e revolucionário pela formulação, conteúdo e forte exigência.
Vejamos o que nos diz o Missal Dominical sobre o tema:
“É novo pelo seu universalismo, por sua extensão em sentido horizontal: não conhece restrições de classe, não leva em conta exceções, limitações, raça, religião; dirige-se ao homem na unidade e na igualdade da sua natureza. É novo pela medida, pela intensidade, por sua dimensão vertical.
A medida é dada pelo próprio modelo que nos é apresentado: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei assim amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34). A medida do nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós; ou melhor, o mesmo amor que o Pai tem por Cristo: porque “Como o Pai me amou, também eu vos amei” (Jo 15,9. Deus é amor (1Jo 4,16) e nisto se manifestou o seu amor: Ele nos amou primeiro e enviou seu Filho para expiar nossos pecados (1Jo 4,10).
É novo pelo motivo que nos propõe: amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus; exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação (Mt 4,46). Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não a nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem, amando-a.
É novo porque Cristo o eleva ao nível do próprio amor por Deus. Se a concepção judaica podia deixar crer que o amor fraterno se põe no mesmo plano dos outros mandamentos (Lv 19,18) a visão cristã lhe dá um lugar central, único. No Novo Testamento o amor do próximo está indissoluvelmente ligado ao preceito do amor de Deus.
A fé… lembra ao cristão os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bem-aventuranças; convida a ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, a maledicência, a violência; ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca passará” (RdC47)
Mas insiste ainda: “Ama teu inimigo… oferece a outra face… Não pagues o mal com o mal”. Quanto cristãos fizeram da palavra de Jesus a lei da sua vida! A história da Igreja está cheia de exemplos sublimes a este respeito: J. Gualberto, que perdoa, por amor de Cristo crucificado, o assassínio de seu irmão; pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos que superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas calúnias, difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho que tentou arruiná-los, etc…
Em nome da religião e de Cristo, os cristãos se dividiram, dilacerando assim o Corpo de Cristo. Viram no irmão um inimigo, se “excomungaram” reciprocamente, chamando-se hereges, queimando livros e imagens… Derramou-se sangue, explodiu ódio em guerras de religião. O orgulho, o desprezo e a falta de caridade caracterizaram as diatribes teológicas e os escritos apologéticos. Os inimigos de Deus, da Igreja, da religião foram combatidos com armas e com ódio. Travaram-se lutas, organizaram-se cruzadas.
Hoje, a Igreja superou, ou se encaminha para superar, muitas dessas limitações. Não há mais hereges, mas irmãos separados; não há mais adversários, mas interlocutores; não consideramos mais o que divide, mas antes de tudo o que une; não condenamos em bloco e a priori as grandes religiões não cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos permitem entrar em diálogo.
Mas a intolerância e a polêmica estão sempre de atalaia. Não estaremos acaso usando, dentro da própria Igreja, aquela agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos com os de fora da Igreja? Quantos cristãos engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar com “inimigos” aos próprios irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor e sem perdão!” (1)
Viver o Amor do Senhor, em seu universalismo e novidade. Um amor que ama sem medida, e que se estende até os inimigos. É esta maturidade cristã que somos chamados a alcançar, não obstante qualquer dificuldade.
Configurados a Cristo temos que ter d’Ele mesmos sentimentos (Fl 2,5). Deste modo, “amar como Jesus ama” precisa estar impresso, como selo, em nossa alma, nas mais profundas entranhas de nosso ser.
Amar em nossa medida com cálculos e retornos, condições e reciprocidade, não é o que nos fará sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16), e tão pouco viveremos as Bem-Aventuranças propostas por Jesus no Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12a).
Cremos que a felicidade que Deus tem a nos oferecer é diretamente proporcional à nossa capacidade amar, à nossa intensidade de amor, que não ama apenas os bons, mas ama até os inimigos.
Cremos, também, que Deus não nos ama porque somos bons, mas para que sejamos todos bons.
Linhas novas da História precisam de novos conteúdos, que sejam escritos com a tinta do Amor que nos vem do Santo Espírito.
(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus – pp.693-694.
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