“Vós sabeis em que tempo estamos, pois já é hora de despertar.
Com efeito, agora a Salvação está mais perto de nós
do que quando abraçamos a fé.” ( Rm 13,11)
No 1º Domingo do Advento do Ano Litúrgico (ano A), somos exortados para uma frutuosa preparação para o Natal:
“O apelo à vigilância, atentos ao Senhor que veio, vem e virá: “Nas Leituras deste primeiro domingo do Ano Litúrgico predominam dois temas: a vinda do Senhor e o tema da Vigilância.
Mais do que dois temas, trata-se antes, de dois ‘movimentos’: O Senhor vem – vamos a Seu encontro; Deus vem ao homem, mas só O encontra quem se coloca ao encontro d’Ele, quem está pronto” .(1)
Numa atitude de vigilância, como cristãos, precisamos superar todo comodismo, passividade, desleixo, sem nos acomodarmos numa rotina sem brilho e sem luz.
A passagem da primeira Leitura (Is 2,1-5) é um dos oráculos mais profundos e mais belos do Antigo Testamento: trata-se de uma visão em que os povos se encontram no Monte Sião (Jerusalém), em harmonia e paz sem fim.
Somente o encontro com Deus e com Sua Palavra possibilita a harmonia, o progresso, o entendimento entre os povos, traduzido em vida em abundância e paz universal.
Monte Sião é o contrário de Babel, pois esta segunda se caracteriza pelo confronto dos homens com Deus, o orgulho, a autossuficiência, o conflito, a confusão, a falta de entendimento, a dispersão e tudo que destrói a paz e relação de amizade com Deus.
Urge que nos ponhamos a caminho, ao encontro de Deus e Sua proposta de vida, amor e paz, e este sonho se realizará perfeitamente e plenamente em Jesus.
Na passagem da segunda Leitura (Rm 13,11-14), o Apóstolo Paulo nos exorta para que despertemos de nosso sono, ou seja, passemos das trevas para a luz. Deixemos de lado todo egoísmo, injustiça, mentira e pecado, e nos empenhemos numa vida marcada pela partilha, justiça, verdade e graça.
Na acolhida e espera do Senhor que vem, contra toda possibilidade de divisão, é preciso, congregados pelo Evangelho, viver na vigilância e no amor mútuo.
Como batizados, esperar o Senhor que vem é o abandono das obras das trevas, para que, como pessoa, família, Igreja e sociedade, vivamos na luz.
Para isto, é preciso que sejamos sempre despertados de nosso sono: na aurora da chegada do Senhor a noite de nossa existência será totalmente iluminada.
Importante lembrar que “Santo Agostinho compara seu estado na vigília da conversão a um sono semidesperto, em que metade de sua vontade, acordada e ao lado de Deus, mandava que a outra metade despertasse e se decidisse.
Sono profundo ou sono semidesperto, não somente o estado de quem está em pecado ou vive esquecido de Deus, mas também a tibieza, a incoerência, a indecisão: um cristianismo ‘implícito’ que seria melhor chamar de cristianismo apagado…
Foram precisamente as últimas palavras de Paulo que acabamos de ouvir que levaram Agostinho a dar o último passo para a conversão. Encontrava-se num jardim em Milão, no ápice daquela luta entre ‘as duas vontades’, quando ouviu uma voz misteriosa que cantava: ‘Pega e lê’.
Pegou a Bíblia e abriu-a, leu as palavras de Paulo que diziam para que se despertasse do sono, e dessa forma encontrou luz e paz no coração, Havia, enfim, tomado sua decisão diante de Deus” (2).
A passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 24,37-44), reforça a atitude de vigilância na fé que o cristão deve ter, em compromisso irrenunciável e inadiável com o Reino.
A vinda do Senhor é certa, é preciso estar vigilante, preparado e ativo, e isto implica em abertura e disponibilidade para o Reino de Deus, eterno e universal, marcado por relações de verdade, vida, graça, justiça, santidade e paz, como tão bem expressa o Prefácio da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo.
Para isto, o Evangelista nos apresenta três quadros: o ócio, o trabalho e a não vigilância, ou seja, a despreocupação com a vida e a existência; ou o contrário, os compromissos e trabalhos para a subsistência; e por fim a ausência da vigilância, que leva à perda do encontro com o Senhor que vem. (v.37-39; 40-41; 43-44, respectivamente).
Somente a atitude de vigilância nos prepara para o verdadeiro Natal: a passagem das trevas para a luz, do pecado para a graça, do distanciamento para a comunhão e intimidade com Deus, do ódio para o amor.
Recuperemos a dimensão Pascal do Natal para celebrar o Nascimento de Jesus, o Sol Nascente, a Luz sem ocaso, que nos veio visitar e sempre vem nos visitar.
Nossa espera é memória e presença. Memória porque Aquele que esperamos, Jesus, já veio (por isto a preparação necessária para o Natal), e presença, porque cremos e sentimos que Jesus está desde agora conosco; presente de modo salutar e real na Santíssima Eucaristia, que não apenas celebramos, mas comungamos, porque é o Deus Conosco, o Deus que Se faz Pão, Comida e Bebida para nos Alimentar e nos Salvar.
Que o Tempo do Advento seja a nossa ida com alegria ao encontro de Alguém que caminha conosco, e mais do que caminhar ao nosso lado, Se faz morada em nós pelo Espírito Santo.
(1) O Verbo se fez carne – (Pe. Raniero Cantalamessa) p. 17.
(2) Idem pp. 18-19