Amar como Jesus Ama: desafio e missão – Homilia – V Domingo da Páscoa – Ano C

Amar como Jesus Ama: desafio e missão

“Vede como eles se amam” (Tertuliano)

A Liturgia do 5º domingo da Páscoa (Ano C) nos convida a aprofundar a vivência do essencial do cristianismo: a prática do Mandamento do Amor – “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (já anunciado no Livro do Levítico 19,18-34 e Dt 10,19).

A vida cristã tem esta marca que garante sua autenticidade: a capacidade de amar até o extremo, no dom total da própria vida.

A passagem da primeira Leitura (At 14,21b-27) retrata o fim da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé.

A missão do anúncio e do testemunho do Ressuscitado tem traços fundamentais que podem ser assim sintetizados:

– O entusiasmo necessário para vencer os perigos e as dificuldades para o anúncio da boa nova;

– Ter palavras de consolação para fortalecer a fé da comunidade confiada;

– O necessário apoio mútuo; a Oração e a consciência de que a missão não é obra puramente humana, mas de iniciativa divina, tendo Deus como autor autêntico da conversão, sob a ação e iluminação do Espírito Santo.

A passagem da segunda Leitura (Ap 21, 1-5a) nos apresenta a missão de construirmos um novo céu e uma nova terra, que é a meta última de nossa história.

A visão do autor – “Jerusalém que desce do céu” – retrata a realidade de que o novo céu e a nova terra têm origem divina e possibilita nossa resposta, nossa participação.

Discípulos do Ressuscitado, esperamos e nos comprometemos com a Jerusalém Celeste tornando o mundo mais fraterno, mais justo e solidário, a meta da harmonia e da felicidade sem fim. Não haverá mais dor, luto, morte e sofrimento.

A partir desta fé inaugura-se um relacionamento que transforma a si mesmo e todos os que estão em sua volta, culminando até na renovação de todas as estruturas geradoras de lágrimas, dor, sofrimento e luto.

O amor e a alegria de sermos partícipes na construção do Reino devem estar presentes em nossas comunidades. Isto ocorre quando os ministérios diversos são postos a serviço da comunidade, e não nos servimos dela para qualquer outro objetivo. A grandiosidade está no servir à comunidade e não o contrário.

Somente no amor vivido é que reconhecerão que somos discípulos do Ressuscitado, e esta passa a ser para sempre a nossa identidade, de modo que nossa identidade não é uma filosofia, tão pouco a prática de ritos em si mesmo, mas a intensidade e profundidade do como e do quanto amamos.

A Ressurreição de Jesus Cristo nos convoca a nossa própria renovação, bem como de todas as estruturas do mundo, para que seja a expressão de uma Aliança que deu certo. Ter nos amado e nos amado até o fim, não foi em vão.

Esta missão é explicitada na passagem do Evangelho (Jo 13,31-33a.34-35) em que, num contexto de despedida dos Seus discípulos, Jesus deixa o Novo Mandamento do Amor.

Trata-se de um momento muito solene, e não havia possibilidade para conversas inúteis, porque se aproximava o fim, e era preciso recordar aos discípulos o mais fundamental na proposta cristã: o Mandamento do Amor.

A medida do amor fraterno é Ele próprio, o Amor de Cristo – “como Eu vos amei” (Jo 13,34). Portanto, o amor não consiste numa ideia, e tão pouco pode ser reduzido a qualquer sentimento, mas um autêntico movimento de entrega que faz o outro viver, porque gera vida.

Amemos como Jesus nos ama, porque isto é a exigência fundamental para aquele que n’Ele crê.  O Mandamento do Amor é a expressão máxima da vida cristã.

A comunidade será para o mundo um sinal do Deus vivo e que ama a humanidade.

Ser discípulo é testemunhar o Amor de Deus na fidelidade, acolhida, serviço, entusiasmo, generosidade, partilha…

“Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.” Segundo Tertuliano, autor sagrado, os primeiros cristãos tomaram tão a sério estas Palavras do Senhor, que os pagãos exclamavam admirados «Vede como eles se amam!» (cf. Jo 15, 12.13.17; 1 Jo 2, 8; Mt 22, 39; Jo 17, 23; Act 4, 32).

Reflitamos:

– De que modo vivemos o Novo Mandamento do Amor que o Senhor nos ordenou?

– Somos uma comunidade onde o amor é o nosso distintivo?

– Nossas relações dentro da comunidade são marcadas pelo amor fraterno?

– Somos uma comunidade missionária, indo ao encontro daqueles que não conhecem ainda a Boa Nova do Ressuscitado?

– Quais são os sinais que expressam nossos compromissos na construção de um novo céu e uma nova terra?

– Ao virem nossas comunidades, as relações entre os que dela participam e outras manifestações, os que dela não participam dirão – “vede como eles se amam”?

Eis o desafio, eis a nossa missão. Um longo caminho já fizemos, sem nos esquecermos de que somos a Igreja do Ressuscitado, uma Igreja santa e pecadora, somos convidados a viver a religião do amor, a amar como Deus ama, como aprendemos com o Filho, iluminados e inflamados pelo Fogo do Espírito.

Quando não perdemos a meta da Jerusalém Celeste, não nos perdemos também no caminho.

É tempo de amar como Jesus ama; somente assim nossa vida terá sentido e a alegria Pascal transbordará verdadeiramente em nosso coração. Aleluia!

 Dom Otacilio F. Lacerda

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