“Foi elevado ao Céu e sentou-Se
à direita de Deus” (Mc 16,19)
A Solenidade da Ascensão aponta para o fim último de todos nós, a comunhão com Deus, o Céu.
As Leituras proclamadas nos convidam à superação da passividade alienante. É preciso ir para o meio do mundo, como sal, luz e fermento. Levar a humanidade a viver a comunhão querida por Deus, a fim de que todos sejamos um em Cristo Jesus.
Deste modo, é preciso assumir com coragem, no tempo presente, a missão por Deus a nós confiada: anunciar o Evangelho a todos os povos, empenhados decididamente no Projeto de Salvação Divina.
À Igreja portadora da plenitude de Cristo nada falta para cumprir esta missão.A ida de Jesus para o Céu, não é a afirmação de Sua partida e ausência, mas é a garantia de Sua eterna presença conosco até que Ele venha pela segunda vez, como afirmamos na Missa: “Anunciamos Senhor a Vossa morte e proclamamos a Vossa Ressurreição, vinde Senhor Jesus”.
A passagem da primeira Leitura (At 1,1-11) retrata uma comunidade que vive num contexto de crise, desilusão e frustração. O tempo vai passando e não vê realizar o Projeto Salvador. Quando será enfim realizado?
São Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, escreve em tons de catequese sólida, substancial, para que a comunidade não vacile na fé, não esmoreça na esperança e nem esfrie na caridade.
A construção do Reino exige empenho contínuo e nisto consiste o papel da comunidade formada por aqueles que creem e se afirmam cristãos.
Lucas escreve a Teófilo (aqueles que são amados por Deus = amigos de Deus) apresentando o Protagonista maior da Evangelização que é o Espírito Santo e conta com a participação e ação dos Apóstolos.
Ele apresenta a Ascensão quarenta dias depois da Ressurreição. Quarenta é um número simbólico, define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir com fidelidade e coragem as lições do Mestre.
Os sinais e palavras nos revelam mensagens maravilhosas:
– A elevação aos céus – trata-se do culminar de uma vida;
– A nuvem – sempre um sinal teofânico (manifestação de Deus);
– Olhar para o céu – acena para a segunda vinda de Cristo, que não devemos esperar de braços cruzados;
– Dois homens vestidos de branco – anunciam o mundo de Deus.
A Festa da Ascensão é, portanto, a urgência de não ficar apenas admirando, mas nos colocarmos constantemente a caminho, com renovados compromissos com o Projeto da Salvação.
Reflitamos:
– Tenho sido fiel à missão que o Senhor me confiou?
– O que gero com o meu testemunho nos diversos âmbitos em que vivo?
– Quais são meus compromissos solidários na transformação do mundo?
– Fico a olhar para o céu ou me comprometo com a transformação em todos os níveis?
A passagem da segunda Leitura (Ef 1,17-23) é uma Carta em que encontramos a síntese da teologia paulina. Paulo fala da comunidade como um corpo. Cristo é a cabeça e a Igreja é o corpo. Nisto consiste o “pleroma”, ou seja, na Igreja reside a plenitude, a totalidade de Cristo.
A Igreja é a habitação onde Cristo Se torna presente no mundo. Estando Cristo presente neste Corpo, Ele enche o mundo e atrai a Si o universo inteiro, até que Ele “seja tudo em todos” (Ef 1, 23).
A Ressurreição/Ascensão/Glorificação de Jesus é a garantia da nossa própria ressurreição/glorificação, por isto é preciso avançar no caminho superando as dificuldades.
Neste sentido, entendemos a conclusão do Evangelho proclamado (Mc 16,15-20). Possivelmente um acréscimo posterior à redação, escrito com o intuito de afastar todo medo da comunidade, para ajudá-la a superar a sua acomodação, instalação, afastando também toda perspectiva de recuo, desistência na árdua e maravilhosa missão do anúncio da Boa Nova.
Jesus voltando para o Pai, e ficando para sempre no meio dos Seus discípulos, confia a eles a continuidade da missão.
Deste modo, com a Ascensão podemos afirmar que Jesus cumpriu plenamente a Sua missão e reentrou na comunhão do Pai, e assim dá início a nossa missão.
Ele sentou-Se à direita do Pai para reinar sobre tudo e todos, através da missão dos discípulos.
Que a Solenidade da Ascensão seja a nossa tomada de consciência do quanto Deus em nós confia.
Reflitamos:
– Tenho consciência da universalidade da missão?
– Como discípulo, procuro aprender, assimilar e viver os ensinamentos de Jesus para que a missão tenha crédito e seja uma luz para o mundo?
– A vida dos discípulos não está livre da desilusão, sofrimento, frustração… Mas também está presente uma certeza que alimenta a coragem do que cremos: “Eu estarei convosco até o fim dos tempos”. Tenho viva esta certeza em meu coração?
– No seguimento de Jesus não podemos nos instalar. Ser cristão é ser pessoa do tempo, sem medo de novidades. Estou instalado, acomodado, de braços cruzados, ou fascinado por Cristo e pela missão confiada?
– Procuro a sabedoria e força do Espírito para corresponder à altura?
– Ser cristão é ser alguém que deixou se levar pelo grande sopro do Espírito; é saber que pode contar com Ele na missão.
– Quais são os medos que temos a enfrentar no desempenhar na missão evangelizadora?
– Sentimos a presença do Ressuscitado em nossa missão?
– Temos sentimentos de gratidão pela confiança de Deus em nós depositada para levar adiante a missão?
Celebrar a Solenidade da Ascensão do Senhor é afirmar uma bela verdade de nossa fé: A Ascensão do Senhor liga-se, necessariamente, à Sua Encarnação, e comunica o seu significado autêntico: O Filho de Deus tornou-Se como nós para nos tornar como Ele.
Mais claramente celebraremos esta presença na Festa de Pentecostes, quando o Espírito Santo nos for derramado, como dom de Amor do Pai, para continuarmos, fiéis na Missão do Cristo, na mais profunda e frutuosa vivência do Amor e da Vida Trinitária.
Como pessoas que creem, deixemos de olhar para o céu, não façamos do cristianismo uma “agência de serviços sociais”, não meçamos esforços para encontrar Cristo, tanto na Palavra como na Eucaristia e nos demais Sacramentos, para que então renovados, revigorados, nos empenhemos apaixonadamente por Cristo na construção do Reino de Deus com a presença e ação do Espírito Santo.
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda
http://peotacilio.blogspot.com/2020/05/ascensao-jesus-caminha-conosco.html