“O que é isso? Um ensinamento novo, dado com autoridade…
Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!”
Com a Liturgia do 4º Domingo do Tempo Comum (ano B), refletimos sobre o Projeto de liberdade e vida plena que Deus tem para a humanidade, que se contrapõe aos projetos marcados pelo egoísmo, escravidão de toda forma e morte.
Tendo iniciado um novo Ano Litúrgico, à luz do Evangelho de São Marcos, somos convidados a seguir, cada vez mais de perto e decididamente, o Senhor, que nos chamou e nos enviou a viver a vida nova que nos foi concedida pela graça do Batismo.
Na passagem da primeira Leitura (Dt 18,15-20), temos a experiência profética de Moisés, e, com isto, vemos que o Profeta é alguém escolhido por Deus, por Ele chamado e enviado para comunicar a Sua Palavra viva à humanidade e ser sinal da presença divina.
A missão do Profeta, um escolhido de Deus, consiste, portanto, em transmitir a mensagem de Deus, e se faz necessário ouvir os Profetas que verdadeiramente falam em nome de Deus, em todo o tempo, uma vez que haveremos de prestar contas se fecharmos os ouvidos e o coração ao Seu Projeto, comunicado por estas vozes que jamais se calaram, e jamais se calarão.
Sendo escolhido por Deus, ninguém é Profeta por escolha própria, tornando-se apenas um instrumento nas mãos de Deus, vivendo em total fidelidade a Deus e absoluto empenho no cumprir desta missão.
Por isto, o Profeta precisa estar exclusivamente a serviço de Deus, e jamais conduzir sua vida por esquemas pessoais, interesseiros e egoístas.
Oportuna são as palavras do Missal:
“O profetismo, conhecido em todo o Oriente Antigo, apresenta na Bíblia aspectos originais de que Moisés e Elias continuam a ser modelos. Como dantes, também hoje continua a haver Profetas. O critério da sua autenticidade é a Palavra sempre viva de Deus e o seu vínculo a Jesus Cristo”. (1)
Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 7, 32-35), o Apóstolo Paulo continua falando sobre as verdadeiras prioridades que devem marcar a vida daquele que abraçou a fé, não se deixando desviar pelas realidades transitórias, afinal, o tempo está abreviado e a figura deste mundo passa.
É nítida a pretensão do Apóstolo de apresentar, a quem professa a fé no Senhor, uma proposta de vida com equilíbrio, sabendo discernir entre as coisas que passam e as que são eternas, que consiste num aprendizado permanente na definição das escolhas, numa vida marcada pela generosidade, alegria e doação.
Seja qual for nossa vocação e condição de vida, devemos nos unir ao Senhor com um coração indiviso.
Na passagem do Evangelho (Mc 1,21-28), vemos a ação de Jesus, o Filho de Deus, que vem cumprir o Projeto de libertação.
Depois de apresentar o chamamento dos discípulos, o Evangelista apresenta uma jornada ministerial do Senhor, com Sua autoridade revelada no ensino e diante dos “espíritos impuros”.
Com Sua Palavra e ação, Jesus renova aqueles que O acolhem e acreditam em Sua Palavra, tornando-os verdadeiramente livres do egoísmo, do pecado e da própria morte.
A ação de Jesus faz suscitar a interrogação daqueles que O viram ensinar e expulsar os demônios: “Que vem a ser isto? Uma nova doutrina e com que autoridade!”. Também nós devemos nos perguntar “quem é Jesus para nós?”
Jesus veio nos libertar de tudo o que nos faça “prisioneiros” e nos roube a vida e a alegria de viver. Com Sua Palavra e ação, Jesus nos revela que Deus não desistiu da humanidade, e quer conduzi-la à vida plena e feliz.
Seus seguidores não poderão cruzar os braços, continuando a Sua missão na luta contra os “demônios” de tantos nomes, que roubam a vida e a liberdade das pessoas.
Ser discípulo consistirá em percorrer o mesmo caminho que Ele percorreu, lutando até o fim, em total doação da vida para que tenhamos um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo e mais fraterno; sendo assim é inconcebível que os discípulos cruzem os braços, de olhos voltados para o céu.
Há um mundo a ser transformado e, como Igreja em saída (como tem insistido o Papa Francisco), não podemos ficar fechados em nossas sacristias, mas assumir corajosamente, com a força do Espírito, com sabedoria e criatividade, a dimensão missionária, elemento constitutivo da Igreja, presença nas mais diversas realidades, em incansável empenho para a transformação das realidades: familiar, social, política, econômica, cultural, do trabalho e da comunicação.
O discípulo de Jesus, com Sua Palavra e presença, luta na libertação de todos os demônios que desfiguram as pessoas, para que estabeleçamos relações mais fraternas.
Nem sempre isto se dá de modo tranquilo, porque pode gerar conflitos, divisões, sofrimentos, incompreensões, perseguições, mas vale a pena, porque é fiel Aquele que prometeu jamais nos desamparar, jamais nos deixar órfãos na missão por Ele confiada, afinal nos comunicou o Seu Espírito, que nos assiste em todos os momentos.
O discípulo de Jesus é alguém que embarcou nesta aventura de amor que dá sentido à vida, o que nos torna cúmplices e instrumentos nas mãos de Deus, para que construamos um mundo novo, de homens e mulheres livres e felizes.
Com o coração seduzido e inflamado por Aquele que voltou para nós o Seu olhar de amor e nos chamou pelo nome, não há como voltar atrás.
Quem pelo Senhor sentiu-se amado, já não pode mais viver sem o Seu Amor, a Sua Palavra e presença.
(1) Missal Quotidiano, dominical e ferial – Paulus – Lisboa – p. 1177
Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em :
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