A Campanha da Fraternidade na Igreja do Brasil
A Campanha da Fraternidade, organizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), segue como uma oportunidade ímpar de debater e buscar soluções para os problemas estruturais da nossa sociedade. De sua criação, em 1964, quando no calor dos debates teológicos e pastorais, acontecia o Concílio Vaticano II, convocado pelo papa João XXIII, a igreja retoma consciência de ser povo de Deus em marcha na história. Reassume sua missão humanizadora. Busca não somente dialogar com mulheres e homens inseridos em suas histórias, mas assume suas alegrias, tristezas e esperanças. Enfim, uma igreja no mundo. Uma igreja que se fez povo, para seu povo.
“Fomos com o padre Eugênio visitar o açude público Pataxó… Lá chegando pelas 10 horas, vimos um formigueiro humano de cassacos carregando barro em caminhões e em costas de jumentos. Uma turma nos reconheceu… Um deles, parecendo ser o líder, foi dizendo: “Seu vigário, tire nós dessa escravidão, pelo amor de Deus”.
O emocionante relato do padre Expedito Sobral de Medeiros é considerado o marco inicial para a criação da Campanha da Fraternidade. Com o apoio da Juventude Agrária Católica (JAC), em 1958, cada militante da JAC doou um dia de salário aos flagelados, como gesto de solidariedade, ocorrido na Semana Santa, daquele ano. A seca, provocada por anos sem chuva, castigava o povo do sertão. Iniciativas na esfera social foram criadas no desejo de expandir pelo Nordeste ações caritativas no desejo de diminuir tantos sofrimentos.
Lembre-se: Você também é igreja foi o lema da primeira Campanha da Fraternidade, 1964, realizada durante as contagiantes conclusões de renovação eclesial expostas pelos primeiros documentos aprovados pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).
Pe. Antonio C. Frizzo
Dioc. de Guarulhos – CNBB-Sul I
Por uma democracia que integre a todos
Com base nos estudos realizados por padres e teólogos – Gervásio F. de Queiroga, José A. Vanzellla, Luiz C. Dias e Anésio Ferla -, a terceira fase da Campanha da Fraternidade, que se iniciou no ano 1985 e seguirá pelo ano de 2020, traz ao cenário eclesial as graves situações existenciais do povo brasileiro. Oportuno destacar os temas sociais expostos nessa etapa.
No ano de 1985, a CF apresenta a sofrida situação da fome no país. O lema Pão para quem tem fome motivou nossas comunidades a assumirem suas responsabilidades diante do “tormento da fome e miséria no mundo e no Brasil”, alertou, na ocasião, o papa João Paulo II, em sua mensagem de abertura à quaresma. “A Quaresma, a Páscoa e a Eucaristia lembram-nos que, se alguém, possuindo bens deste mundo, vê o seu irmão necessitado e lhe fecha o coração, como permanecerá nele o amor de Deus? Por isso, exortam a dizer ‘não’ ao comodismo e ‘sim’ ao amor”, alerta o papa naquele ano.
Nas esteiras dos movimentos políticos e sociais que exigiram uma nova Constituição Federal, após o fim do regime militar (1964-1985), as reivindicações populares, não só ecoaram como pautaram significativamente os temas abordados em diferentes Campanhas. Buscava-se perceber, analisar e implementar políticas públicas que apontassem pistas pela superação da desigualdade, da violência e fortalecimento das instituições democráticas.
Oportuno realçar: fraternidade e o negro (1988), mulher e sua dignidade (1990), sistema de encarceramento (1997) e direitos das pessoas idosas (2003). Outros temas foram reeditados em diferentes ocasiões sociais: Amazônia e meio ambiente, realidade do mundo do trabalho, superação da violência, tráfico humano, saúde para todos, migrações, moradia e povos indígenas.
Pe. Antonio C. Frizzo
Guarulhos, SP – CNBB-Sul I