A cada início de ano litúrgico, nós cristãos somos chamamos a viver o tempo do Advento como singular oportunidade de conversão: fazermos profunda avaliação de nosso jeito de caminhar, tanto no nível pessoal quanto coletivo. Isso ajuda na preparação para bem celebrarmos o Natal enquanto fonte de renovação da esperança e de fé para avançarmos na busca e conquista de vida nova na Igreja e na sociedade.
Assim, geralmente motivados pela novena do Natal, somos interpelados a abrir as portas de nossos corações e de nossas casas a Deus e aos companheiros e companheiras de caminhada (Ap 3, 20). Somente abertos ao amor gratuito de Deus, que vem ao nosso encontro, podemos assumir o dinamismo de amar uns aos outros, na vida em comunidade de fé e no compromisso de participar da construção de uma sociedade justa e fraterna.
Ao contemplarmos o mistério da proximidade amorosa de Deus no presépio, nos damos conta do modo como Jesus veio ao nosso encontro: Deus, movido por amor, se esvaziou de seu poder divino, se abaixou até nós, assumindo a nossa vida e tornando-se em tudo igual a nós (Cf. Fl 2, 7; Hb 4, 15). Acontece que, ao entrar em nossa história, viveu o contexto de profunda exclusão social. Esta triste realidade de marginalização acontece igualmente na vida dos mais pobres e vulneráveis de nosso tempo. A chegada do menino Jesus não encontrou espaço de generosa acolhida entre nós. Não houve solidariedade fraterna e lugar digno para receber a família de Nazaré: a mãe Maria, no estágio final de gravidez, e o pai José, peregrinos fora de sua pátria (Cf. Lc 2, 1-8). Percebemos imediatamente que quando não cuidamos da cultura da hospitalidade, da solidariedade fraterna e da sensibilidade humanitária para bem acolher o outro em suas necessidades, significa que ainda não entendemos o projeto salvífico de Deus revelado na vida de Jesus de Nazaré: somos todos filhos e filhas do Amor de Deus e, portanto, irmãos e irmãs vocacionados ao amor fraterno. Recebemos o dom da vida e estamos aqui para aprendermos a amar. Nossa origem coincide com o nosso destino: nascemos do Amor de Deus, no Amor divino existimos e para este Amor voltaremos.
Desse modo, a celebração do Natal revela e expressa, de modo muito singular, a beleza e o sentido maior da vida cristã vivida em comunidades de fé e partilha de vida: somos convidados a cuidar das relações humanas para que todos experimentem, na acolhida fraterna, a gratuidade do amor de Deus.
Desejamos a você, a sua família e a sua comunidade um abençoado Natal: que cuidem das relações humanas, amando uns aos outros, para que todos, por meio delas, experimentem-se amados por Deus. Deus viveu, em Jesus, a trágica experiência da exclusão social, mas para que ninguém, entre nós, seja excluído de nosso amor fraterno, da proteção da justiça e da mesa da cidadania. Temos que pensar nos meios concretos que garantem a dignidade humana de cada filho ou e filha de Deus.
Celebrar o Natal é assumir um compromisso concreto: acolher o amor de Deus que, em Jesus, vem ao nosso encontro e amarmos uns aos outros, cuidando para que cada pessoa, na Igreja e na sociedade, tenham vida e vida em abundância (Cf. Jo 10, 10).
Cultivar, no cotidiano, as seguintes posturas inspiradas em Jesus de Nazaré, o mestre a quem procuro seguir:
1. Nutrir-se da intimidade amorosa e luminosa de Deus, como único Absoluto;
2. Assumir como critério central de discernimento a justiça do Reino e a defesa da dignidade da vida;
3. Denunciar profeticamente toda forma de injustiça e exclusão social, agindo com compaixão, solicitude, firmeza e generosidade;
4. Participar da luta pela cidadania junto com os movimentos populares, ao lado dos/as excluídos/as e de mãos dadas com os mais pobres;
5. Colocar o coração e a inteligência a serviço da dignidade de cada pessoa, mas em primeiro lugar por quem dela está excluído;
6. Discernir e conquistar liberdade diante de tudo o que impede o “amar e servir” e a serenidade da consciência ética;
7. Testemunhar, com alegria, a liberdade do Evangelho.
Por Edward Guimarães
Edward Guimarães é leigo, catequista de adultos e membro do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, na Arquidiocese de Belo Horizonte. É o atual secretário executivo do Observatório de Evangelização PUC Minas e é professor de teologia do Instituto Regional de Pastoral Catequética – IRPAC da CNBB Leste 2.