Os Evangelhos demonstram bem como os discípulos deram um significado autêntico para a morte de Jesus. Os seguidores do Mestre transformaram aquela tragédia em esperança de vida nova.
Um país que registra aproximadamente 280 mil mortes em 4 anos pode comemorar o quê? Homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial estão entre os crimes mais violentos no Brasil. Os dados assustam: em 2015, a cada 9 minutos uma pessoa foi assassinada. E quase nada tem sido feito para superar estatísticas tão lamentáveis.
Certamente, entre os mortos se encontram, em sua maioria, jovens, negros, pobres. Uma ferocidade programada para exterminar pessoas, submetê-las às drogas, ao crime, ao desemprego, à desonra, à clandestinidade, enfim, à exclusão social. Mortes que ocorrem cotidianamente sem chamar a atenção da sociedade. O poder público continua sem apresentar aos cidadãos medidas eficazes para combater tamanha selvageria.
No próximo dia 2 de novembro, a Igreja Católica celebra o Dia de Finados. Cristãos católicos lembram com saudade a morte e ressurreição de familiares e amigos queridos. Este é um dia de celebração. A alegria da ressurreição supera a dor da perda. Mas não há como negar. A saudade de alguém amado entristece um pouco. A vontade de abraçar, de dizer que ama, de receber carinho, falam mais alto neste momento. Enfrentar a morte exige fé, compromisso diário com a vida, com a história.
Os Evangelhos demonstram bem como os discípulos deram um significado autêntico para a morte de Jesus. Os seguidores do Mestre transformaram aquela tragédia em esperança de vida nova. Quantos foram afetados pela mensagem que surgiu depois da morte do Senhor. Muitos se converteram na certeza de que Deus não abandona ninguém. O fim pode ser um tempo novo. Como escreve São Paulo aos Coríntios: “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” (1 Cor 13, 12). Daí decorre o ato de fé dos cristãos.
Mas quem não se angustia ao ver tantos/as filhos/as de Deus massacrados pela violência? Como apresentar uma mensagem de fé a tantos/as que já não têm mais como esperar? Famílias que convivem com a fatalidade há tempos já perderam a fé. Resta a resposta dada por Pedro a Jesus: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” (João 6, 68). As palavras da vida eterna podem nos livrar da morte, da injustiça, da opressão.
Luís Carlos Pinto
Imagem: reprodução/ internet