A tarde já começava a dar sinais de chegada em Betsaida, perto do Mar da Galileia. Era a terra de Pedro, André e Felipe, três do Doze escolhidos pelo Nazareno. Uma grande multidão acompanhava o pregador itinerante de Nazaré: Yeoshua de Nazaré, o Carpinteiro. Os apóstolos estavam preocupados com uma coisa: como dariam de comer àquela gente toda!
Por que eles tinham que dar de comer àquele povo? Acaso era aquilo um banquete para o qual a multidão havia sido convidada? Ou cada um veio como pôde? O evangelho não fala disso. Apenas mostra a pseudo preocupação que Jesus passou aos Doze.
A comida de que tinham notícia haver ali era escassa. Apenas cinco pães de cevada e dois peixes para alimentar cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças (Mc 6, 38; Lc 9, 13-14; Jo 6, 5-15). Um menino, que nem era contado como gente, serviu de ponto de partida daquele sinal que Jesus realizou nas terras de Betsaida. O menino era o dono dos cinco pães e dos dois peixes. Pães de cevada eram comida de pobre. E os peixes eram miúdos, comidos com pão. Sanduíche de pão com peixe.
Certamente muitas daquelas pessoas tinham o seu lanche, a sua merenda, como diziam no meu tempo de infância. As mulheres certamente estavam com a bolsa de comida. Os meninos maiores também carregavam algo. Outros talvez estivessem desprovidos desse alimento terreno.
Jesus mandou que o povo se organizasse em grupos no gramado. Certamente formou um grupo com os Doze e com o menino. Sentaram-se na grama. Antes de comer, Jesus abençoou o pão e os peixes. Deus graças ao Pai por aquele alimento, como faz um piedoso judeu antes de se alimentar.
E foi a bênção divina que fez daqueles pães e daqueles peixes um alimento farto. Todos abriram seus embornais e seus corações. E houve partilha. Houve alegria. Sobrou comida! O pouco, com Deus, é muito! Os Doze aprenderiam essa lição!
Por que, depois de comerem fartamente, ainda sobraram doze cestos cheios de sobras de pão? Por que salientar tal sobra? Porque o que Jesus faz é eficiente e completo. Perfeito. Não falta nada. Jesus não faz algo regrado, como às vezes nós fazemos. Sua medida é calcada, sacudida, transbordante (Lc 6, 38. Os Doze talvez ainda não soubessem que, em breve, deveriam ser eles os protagonistas daquela festa do pão junto ao povo.
Poderíamos, aqui, fazer alguma analogia de Yeoshua de Nazaré com Yossef, filho de Jacó e despenseiro do faraó, aquele que fez farturas nos silos do Egito, e pôde alimentar os egípcios e os filhos de Jacó em tempos de escassez e fome? Yeoshua é, ele próprio, a misericórdia divina, o pão do céu que alimenta quem dele se aproxima. É ele verdadeira comida e verdadeira bebida! É ele o Maná duradouro para os 12 meses de cada ano. Pão da vida eterna.
De vez em quando saio, de manhãzinha ou à tarde, na direção do sol, como um jovem enamorado e insensato. Vou ao Teu encontro, alimentando-me apenas com o pão da Tua presença e o vinho de Tuas palavras. E ao findar o dia, como se comesse pão e peixes com fartura, volto para casa, saciado, o coração em festa, esperando um novo dia para Te ver novamente. Amém!
Pe. Ismar Dias de Matos (16 de maio de 2016)