Em uma região formada por tantos negros, como esta em que está a Diocese de Guanhães, talvez seja a hora de refletirmos sobre a importância de uma pastoral afro-brasileira que pense a cultura, os desafios, os problemas, do povo negro.
Dom José Maria Pires atuou em defesa dos direitos humanos, contra a discriminação e o racismo.
Na última sexta-feira, 20 de novembro, o país comemorou o Dia da Consciência Negra. Uma data merecidamente lembrada por alguns brasileiros. O negro contribuiu/ contribui para a formação da identidade cultural brasileira. Esse reconhecimento precisa ser despertado em todas as consciências, mandando para bem longe a discriminação, o preconceito, o racismo.
Mas a realidade não parece oportunizar muitas comemorações. Os números ainda mostram o abismo social cavado para os negros deste país. Em vídeo divulgado pelas redes sociais, o geógrafo Milton Santos (1926-2001), um dos maiores intelectuais deste país, alerta para o fato de ser necessário criar uma consciência nacional, muito mais do que negra, branca ou de outra cor.
Os dados do IBGE (2010) apontam os problemas e as perspectivas: Mulheres negras são as que se sentem mais inseguras. Em todos os ambientes ronda a sensação de insegurança, de violência, de morte; 1909 a 1910 foram os anos em que o país conheceu o primeiro e único presidente negro, Nilo Procópio Peçanha (1867-1924). No cenário político nacional o negro não tem ocupado cargos de governo; Negros são maioria no Bolsa Família. Em 10 casas beneficiadas com o programa de transferência de renda do governo federal, 7 são formadas por negros; Taxa de analfabetismo é duas vezes maior entre os negros. As chances de escolaridade entre os negros é bem menor, se comparadas às dos brancos; E o abismo não para por aqui. Na corte máxima do poder judiciário, apenas dois negros ocuparam cargos. Em 1931, o jurista Hermenegildo de Barros e, 72 anos depois, o jurista Joaquim Barbosa, tornando-se, inclusive, presidente do Supremo Tribunal Federal, em 2012; Mulheres negras são as mais atingidas pelo desemprego. O número mostra como são excluídas do mundo do trabalho; A renda dos negros é 40% menor que a dos brancos. A diferença ainda atinge níveis absurdos; Por último, em 2014, dos 1627 políticos-partidários eleitos, só 3% se declararam negros.
O extenso parágrafo mostra o tamanho do problema. Claro que poderíamos ampliar o abismo. Mas como o dia serviu às comemorações, fica a exposição mínima da situação. Em uma região formada por tantos negros, como esta em que está a Diocese de Guanhães, talvez seja a hora de refletirmos sobre a importância de uma pastoral afro-brasileira que pense a cultura, os desafios, os problemas, do povo negro. E, retomando a explicação do professor Milton Santos, mais do que uma consciência negra, devemos nos preocupar com uma consciência nacional e, no âmbito ético-religioso, evangélica e pastoral.
Luís Carlos Pinto
Professor da educação básica
Foto: reprodução/ internet