A sociedade clama por renovação. É preciso encontrar respostas novas capazes de libertar as instituições políticas, culturais, empresariais, educacionais e também as religiosas dos engessamentos e dos funcionamentos que são pesados, custam muito e apresentam resultados insatisfatórios.
Esse é um fenômeno de ordem mundial e se explica pelas proporções das crises de todo tipo que se abatem sobre o conjunto da humanidade, criando cenários que comprovam ineficiências e incompetências. São preocupantes a indiferença e a falta de intuição para encontrar o caminho que pode fazer alcançar as metas das inovações e das respostas eficazes.
Na sociedade brasileira, verifica-se a falta de credibilidade nas instituições de referência, o que pode ser explicado por fatores diversos como a caducidade do parlamento, na esfera federal, e das instâncias de representatividade popular nos contextos estaduais e municipais. O funcionamento é viciado e pautado por formas que impedem o desabrochar do novo. Essa realidade, que se pode atribuir ao ideológico não praticado, por exemplo no contexto pluripartidário, apresenta diversos aspectos. Um deles é a ineficácia e a ausência de assertividade na fomentação do diálogo para articular a pluralidade, dificultando o aproveitamento das diferenças amalgamadas que poderiam ser instrumentos na construção de novas respostas. Ao contrário, o ideológico praticado no âmbito partidário serve apenas para a defesa de interesses, manipulações e incompetente tratamento dos processos. Constatam-se insensibilidades e morosidades nos procedimentos para atender às necessidades do povo.
Há uma manemolência nos processos operacionais de governos, das diferentes esferas, também no atendimento das demandas de infraestrutura. Realidade reconhecida pelo Judiciário ao fazer o “mea culpa” sobre a velocidade e a qualidade das respostas institucionais. A sociedade brasileira vai ficando para trás. Vai ficando para trás em razão de governanças, exercícios e representatividades que não conseguem intuir o novo e encontrar o rumo das novas respostas. Esse mal se derrama sobre o conjunto da sociedade, atingindo também as esferas privadas, religiosas e particulares. O preço pago pela sociedade é muito alto. Vê-se uma crescente degradação social, particularmente atestada pelo recrudescimento da violência, já em muitos lugares, produzindo passivos que não serão superados senão a longuíssimo prazo.
A saída é a possibilidade do surgimento de novos líderes: não é uma questão etária e meramente cronológica. A exigência, em vista do atendimento de demandas urgentes, é a aposta no surgimento e desabrochar de novos líderes novos no lugar das lideranças comprometidas pelos vícios. Nenhuma instituição, seja ela qual for, dará conta de muita coisa sem líderes audaciosos, generosos, capazes de intuitir novos caminhos. Líderes prudentes e respeitosos, propositivos e inovadores, além de cônscios da importância das raízes e tradições. Ao se contemplar horizontes eleitorais, para além do mecanismo de apertar botões, é hora de refletir, apostar e apoiar o surgimento de novos líderes.
Novos líderes novos são os que podem, talvez por não estarem ocupando cargos há muito tempo, dar conta de gerir processos de forma adequada. Atribuição que inclui preparação científica e acadêmica, não dispensa experiências, mas exige sobretudo equilíbrio emocional e psicológico para formatar decisões próprias, agir com ética e responsabilidade, sem baixar a guarda, sem medo e lamentações.
É hora de a sociedade brasileira repensar e redefinir processos. Há um novo que precisa ser encontrado, mas não se pode fazer isso com instrumentos obsoletos e com as costumeiras dinâmicas. É hora de encontrar novos líderes, novos em isenção de vícios nos funcionamentos institucionais, novos pela audácia de ousar nas inovações, novos pela leitura competente da realidade, novos pelo gosto de governar para servir ao povo, transformando o quadro social, político e cultural. Assim, as instituições poderão ser instrumentos da construção de uma nova sociedade, de uma cultura de maior alcance em razão de suas raízes profundas e qualificadas, por vezes desconhecida ou pouco valorizada.
É a hora dos novos líderes novos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Março | Padres | |
02 |
Pe. Wanderlei Rodrigues dos Santos – São João Evangelista/MG |
Nascimento |
04 | Pe. José Martins da Rocha – Divinolândia de Minas/MG | Ordenação |
11 | Pe. Josemar Inácio da Rocha – Morro do Pilar e Sto. Ant. Rio Abaixo/MG | Nascimento |
29 | Pe. João Carlos de Sousa – São José do Jacuri/MG | Ordenação |
Março | Padres falecidos | |
11 | Pe. Cyriac Chaco Vadakkan – falecido em São Paulo em 26/04/2017 | Ordenação |
15 | Dom José Maria Pires – falecido em BH em 27/08/ 2017 | Nascimento |
Março | Funcionários/Colaboradores | |
17 |
Maria de Lourdes Magalhães Fonseca – cozinheira em Carmésia-M/G |
Nascimento |
As diferentes formas de violência crescem assustadoramente em todo o mundo, exigindo da humanidade urgência na busca pela paz. Uma tarefa árdua que não se realiza com promessas ou decisões simplistas, pois se trata de um fenômeno complexo: requer análises multidisciplinares, vontade política e o envolvimento de toda a sociedade.
As estatísticas, os números assustadores, delineiam um amplo quadro de perversidades. Além disso, há de se considerar também as muitas histórias compartilhadas nas redes sociais e as notícias que revelam situações absurdas, verdadeiros atentados contra a vida. Reconhecendo a importância dos números, das informações e das providências governamentais no âmbito da segurança pública, é preciso enfrentar a violência a partir de suas raízes que têm origem na compreensão do ser humano a respeito da vida e do que significa cada pessoa. Trata-se de um conjunto de valores que configura o próprio exercício da cidadania.
Nessa realidade, são inadiáveis os investimentos para se estabelecer um tecido socioantropológico capaz de restaurar uma referência inegociável: a compreensão da vida de todos, não apenas da própria vida, como dom de Deus. O investimento a ser feito toca os mais diferentes campos que integram a existência humana – o contexto familiar, escolar, a religiosidade, as práticas e os costumes, que constituem a cultura de um povo. Esses campos devem estar unidos na configuração de uma nova mentalidade. Afinal, sem o reconhecimento da sacralidade de cada pessoa, prevalecem a banalização da vida e a consequente expansão das violências.
Mais importante que todas as medidas reconhecidamente necessárias para combater a violência, o que se espera é uma verdadeira mudança de mentalidade, com força para fazer emergir novas posturas. Assim, a sociedade poderá superar o atual cenário, em que inúmeras mortes são provocadas por motivos banais – atenta-se contra a vida de alguém para apropriar-se de um bem material, por exemplo. É a verdadeira banalização do mal o que se vive na contemporaneidade. Por isso mesmo, embora sejam importantes as análises de especialistas, pois permitem o conhecimento mais aprofundado sobre as diferentes situações de violência, há um desafio que é de todos na busca pela paz.
Esse desafio contempla assumir as próprias responsabilidade e deixar de delegar sempre ao outro a atribuição de superar o mal. Deixar de acreditar que apenas as instituições ligadas à segurança pública têm o dever de vencer a violência. Urge contribuir para que todos partilhem uma nova compreensão a respeito da vida, do sentido de viver, que leve à prevalência das relações fraternas e solidárias. É assim que se alcança nova dinâmica cultural alicerçada na paz.
Para superar a violência, o percurso a ser seguido contempla muitas ações: cultivar a solidariedade, conhecer e respeitar a própria história, se perceber como alguém que realmente pertence a um povo, assumindo o compromisso de cuidar das pessoas que estão ao redor. Essas atitudes são contrárias às banalizações de todo tipo que alimentam o mal – das ações exclusivamente motivadas por interesses econômicos sedutores, manipuladores, aos comportamentos cotidianos que revelam falta de limite ético-moral.
Vale prestar atenção redobrada e cultivar valores fundamentais capazes de fazer surgir a fraternidade como princípio que ordena os diferentes modos de viver. Nesse sentido, todos os segmentos da sociedade partilham a responsabilidade de reavaliar as próprias atitudes, as posturas, para serem capazes de redesenhar um novo horizonte. Tarefa que exige sólido arcabouço ético-moral e a espiritualidade que reconfigura a vivência humana, na superação do desafio das violências. Esta deve ser a nossa grande batalha diária pela paz.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
A indiferença cidadã diante da necessidade de se formular entendimentos a respeito da política traz prejuízos graves. Por isso mesmo, é urgente investir, sem partidarismos e polarizações ideológicas, para que todos possam constituir qualificados juízos políticos – uma tarefa de diferentes instituições, particularmente as educativas, culturais e igrejas. O desinteresse das pessoas em participar, de modo qualificado, de debates e reflexões é um déficit crônico que inviabiliza a contribuição cidadã para edificar uma sociedade mais justa. Em vez de se buscar formar juízos políticos, delega-se a definição dos rumos do país a segmentos específicos, muitas vezes sem credibilidade. Continue lendo
A sociedade brasileira vive uma situação de caos completo, indicando a necessidade e a urgência de se recuperar a autoridade da moral na consciência de cada indivíduo. A luz da moral é imprescindível para o exercício da cidadania e para o cumprimento de responsabilidades políticas, profissionais, confessionais e familiares. Quando há deterioração moral, a sociedade degenera e impera o caos. Continue lendo
Data | Clero | |
04 | Dom Emanuel Messias de Oliveira – bispo de Caratinga/MG | Ordenação Presbiteral |
04 | Pe. Derci da Silva – Paulistas/MG | Nascimento |
07 | Pe. Bruno Costa Ribeiro – São Sebastião do Maranhão/MG | Nascimento |
24 | Pe. Luiz Maurício Silva – São Pedro do Suaçuí/MG | Nascimento |
Fevereiro | Seminarista | |
06 | Erlon Matheus Mendes Santos – Santa M. Suaçui/MG | Nascimento |
Fevereiro | Religiosa | |
28 | Ir. Juvência Gonçalves Pereira Ir. Néia (Clarissa Franciscana C.M.D.) | Profissão Religiosa |
Fevereiro | Funcionários/colaboradores | |
01 | Mágno Rodrigues Barroso (zelador VGP) | Nascimento |
02 | Valéria Gomes Cardoso Costa (zeladora São J. E.) | Nascimento |
02 | Terezinha Rosa da Silva (serviços gerais Sra. do Porto) | Nascimento |
06 | Tatiane de Aquino (secretária de Braúnas) | Nascimento |
11 | Adriana do Patrocínio de Araújo (secretária de VGP) | Nascimento |
11 | Joel Fernandes (Rádio Vida Nova FM) | Nascimento |
13 | Maria do Carmo e Silva Soares (serviços gerais C.M.D) | Nascimento |
23 | Gilda Aparecida Viana (secretária de Rio Vermelho) | Nascimento |
25 | Maria Aparecida Rosa Rodrigues (serv. Gerais Cantagalo) | Nascimento |
“A oração nos organiza por dentro”.
Sempre me fizeram refletir as palavras de Jesus: “Eu estarei convosco todos os dias; e sereis minhas testemunhas” (Mt, 28, 18-20; Mc 16, 15-6; Lc 24, 46-48). Esta máxima abre uma reflexão para irmos ao encontro do Ano do Laicato proposto pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) com o objetivo de olhar os cristãos leigos e leigas a compreender sua vocação e missão, atuando como verdadeiros sujeitos eclesiais nas diversas realidades em que estão inseridos na Igreja. Tudo isso, supõe um compromisso e capacidade de compartilhar, como Jesus o fez” (DAp, n. 363). Continue lendo
“Nunca saberemos avaliar os ouvidos que nos ouvem”
Sempre que um assunto aparece na mídia, em família ou na sociedade, gostamos de nos manifestar, opinar e argumentar. Isto faz parte do ser humano, não só como pessoa, mas, sobretudo, como cidadão dentro dos seus deveres e obrigações. Daqui que tenho refletido muito sobre o texto bíblico entre o diálogo de Jesus com Pilatos: “O que é a verdade?” (Jo 18, 33- 38). Jesus sabia quem Ele era. Pilatos nem tanto. Naquele tempo todos opinavam sobre Jesus, mas poucos sabiam quem Ele era de fato. Tenho receio de corrermos esse risco hoje. Muitas vezes gostamos de dizer a ‘verdade’, mas será que estamos aptos para ouvi-la. Nossos argumentos, como daqueles do tempo de Jesus, são abastecidos de nutrientes apetitivos. Enchemos-nos do acho que; penso assim; minha opinião é essa. Assim, nos colocamos diante de tudo o que é assunto. Contudo, quando nos toca a ouvir, será que estamos idôneos. Será que temos as proteínas necessárias e todo o cálcio preciso para nos manter de pé frente a uma verdade. No texto bíblico Jesus dá a resposta a Pilatos. Assim diz o texto: “De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade” (Jo 18, 37). Pilatos, por sua vez, questionou sobre a verdade e o entregou aos judeus (Jo 18, 38-40). Pilatos quis dizer a verdade, mas não a quis ouvir. Por isso, quem se habilita a dizer a verdade também deve ser seu ouvinte. A verdade dói. Só quem conhece o mapa da consciência sabe o quanto tem valor uma verdade. Não no sentido de ser dono dela, mas de fazê-la “caminho, verdade e vida” (Jo 14,6), e se sentir gente diante do que fala. Já nos diz Winston Churchill: “A verdade é inconvertível, a malícia pode atacá-la, a ignorância pode zombar dela, mas no fim; lá está ela”.
Um outro texto bíblico que me chama a atenção e motiva minhas reflexões é o de João 8: “Então, disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Eles responderam-lhe: Somos da descendência de Abraão e jamais fomos escravos de ninguém. Como podes tu afirmar que seremos libertos?” (Jo 8, 31-33). A verdade incomoda. Ela chama atenção em toda a sua organização e da forma como é dita. Falar é fácil. Organizar a metodologia da fala talvez peça um pouco mais de nós. Veja o que diz Ivan Panin: “Para toda verdade há um ouvido em algum lugar para ouvi-la”. Nunca sabemos quem nos vê e quem nos ouve. Aqui está que nosso falar deve respeitar e obedecer aos parâmetros da prudência. Quem fala de cabeça quente ou nervoso atropela o caráter, se envolve com os sentimentos e pode não encontrar a consciência. A verdade é como a mata atlântica, quem não a conhece pode se perder e, para se achar, precisa fazer um longo caminho de volta. Veja como se expressa Joseph Sugarman: “Cada vez que você é honesto e conduz a si próprio com honestidade, uma força de prosperidade impulsionará você em direção a um grande sucesso. Cada vez que você mente, mesmo uma mentira inofensiva, existe forças empurrando você em direção ao fracasso”. É bom ver o por dentro da palavra. O que mata um rato não é um quilo de veneno, mas um grama. A verdade pode não ter grandes espaços, mas enche o coração de quem a diz e, certamente, de quem a escuta. A mentira pode nos facilitar ou ajudar a sair de uma situação, mas sua validade fracassa quando se encontra com a verdade.
Mesmo que a verdade seja uma cruz, sempre nos levará a ressuscitar. Veja o que diz o Mestre Khane: “Não procures a verdade fora de ti, ela está em você”. Não te habilites a confundir a verdade com os requintes festivos da mentira. A verdade pode ser uma simples faísca, mas alcança a mais alta combustão do calor e da luz. Quem diz a verdade, apresenta os “documentos” oficiais apresentados e assinados pela consciência. Quem a escuta jamais coloca em questão sua autoridade. A história a seguir, tirada de um dos meios de comunicação pode nos ajudar a afirmar que, quem diz a verdade, também tenha a humildade de ouvi-la: “Uma senhora tinha um cachorro que lhe era extremamente fiel. Sua confiança no animal oferecia condições deste “cuidar” do seu bebê enquanto ela saía para cuidar de outros assuntos. Ela sempre voltava e via criança dormindo profundamente com o cachorro fiel cuidando. Um dia algo aconteceu. A mulher, como de costume, deixou o bebê nas “mãos” do animal fiel e foi às compras. Quando voltou, ela descobriu uma cena bastante desagradável. O berço do bebê foi desmantelado, suas fraldas e roupas rasgadas com manchas de sangue por todo o quarto onde ela deixou a criança e o cachorro. Chocada, a mulher perdeu o chão. De repente, ela viu o animal fiel saindo de debaixo da cama. Ele estava coberto de sangue e lambendo sua boca, como se tivesse acabado de uma refeição deliciosa. A mulher ficou com raiva e concluiu que o cachorro tinha devorado o bebê. Sem pensar muito, ela bateu no cachorro com um pedaço de pau e o matou. Mas, como ela continuou procurando os “restos” de seu filho, ela viu uma outra cena. Perto da cama estava o bebê que, apesar de estar no chão, estava a salvo e sob a cama uma serpente em pedaços. Foi uma batalha feroz entre a cobra e o cachorro, que agora estava morto. Então a realidade veio à mulher, que entendeu o que aconteceu na sua ausência. O cachorro lutou para proteger o bebê da cobra faminta. Era tarde demais para ela agora fazer as pazes, porque na sua impaciência e raiva, matou o fiel animal. Quantas vezes julgamos mal as pessoas e as rasgamos em pedaços com palavras duras e ações antes de ter tido tempo para avaliar a situação? É o pecado da presunção. Presumindo as coisas da nossa maneira, sem se dar ao trabalho de descobrir, exatamente, qual a real situação. Um pouco de paciência pode reduzir muitos erros ao longo da vida. Quem somos nós para julgar os outros? Não pense que você sabe o que os outros estão pensando. Tire um tempo para ter a verdade, antes de julgar. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Prof.º do Seminário de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – (ALAD).
Membro da Academia Marial – SP
A responsabilidade de conduzir a própria vida reconhecendo-a como dom de Deus é muito séria e desafiadora. Uma tarefa que contempla responsabilidades profissionais, familiares e cidadãs. Pensar e julgar, de modo adequado, está entre os maiores desafios existenciais. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, mostra que superar dinâmicas viciadas e obscuras nos modos de pensar e julgar é “regra de ouro”. Um desafio a ser assumido por todos. Afinal, o exercício de pensar e julgar determina procedimentos e escolhas que norteiam o conjunto da vida, a competência para superar crises e encontrar novas respostas para os desafios cotidianos.
Frequentemente, esse exercício está emoldurado de maneira rígida por certa mentalidade vigente. Por isso mesmo, há dificuldade para admitir a necessidade de transformações no próprio modo de pensar e julgar. A tendência é a cristalização – com pouca abertura para o diferente, para outras perspectivas que ensejem novas percepções. Perde-se, consequentemente, a oportunidade para enriquecer a própria vida, conhecer mais e amadurecer a mundividência. Na sociedade brasileira, o preço que se paga por esse aprisionamento à mentalidade vigente é a carência de novos líderes, além da falta de credibilidade que se desdobra no caos político. Repetem-se esquemas e dinâmicas porque não há amplo engajamento em um permanente processo de renovação existencial.
É verdade que a capacidade para pensar e julgar, discernir e escolher, depende das próprias vivências, da influência cultural, familiar e de muitas instituições. Mas, acima de tudo, esse processo é uma experiência eminentemente espiritual. Sem reconhecer a importância da espiritualidade, a tendência é se encastelar nas próprias convicções, sem a necessária disponibilidade para permanentemente reavaliá-las. São perpetuados vícios e modos equivocados de lidar com problemas que exigem soluções urgentes. Tudo se torna mais difícil.
Quando a dimensão espiritual não ilumina a capacidade de pensar e julgar, as pessoas se prendem à mediocridade. Não conseguem proporcionar às suas instituições o fôlego da renovação. Em vez disso, ganham espaço a corrupção, a mesquinhez e a ganância sem limites. Desconsidera-se a sabedoria que alimenta a lucidez. É fácil constatar que a carência de novos modos de pensar e julgar é problema comum a governantes, líderes e muitas pessoas que integram o contexto social. Gente que apresenta um discurso articulado, mas que se revela equivocado do ponto de vista ético-moral. Homens e mulheres que não se valem de critérios que objetivam o bem, a justiça e a paz para interpretar, discernir e fazer escolhas.
Investir na espiritualidade é imprescindível. Porém, o momento em que todos vão reconhecer a importância da espiritualidade na fecundação de novos modos de pensar e julgar é realidade distante. Isso porque a cristalização de convicções obsoletas perpetua, nos indivíduos, sentimentos ruins. Ora, ao se reconhecer que a espiritualidade é fundamental para a saúde física e mental, deve-se também considerar que a dimensão espiritual tem força para fazer desabrochar a sabedoria. A espiritualidade permite enxergar até mesmo o invisível. É um fundamental remédio para romper com os parâmetros da mediocridade que são hegemônicos na sociedade brasileira.
O segredo para melhorar a realidade não é abraçar incondicionalmente convicções que já estão cristalizadas, discursos políticos, partidários e ideológicos. Deve-se conquistar a liberdade que ultrapassa o apego ao dinheiro, pois a ganância aprisiona consciências. A espiritualidade é remédio que cura a doença das mentiras e do egoísmo. A dimensão espiritual alimenta novos modos de pensar e julgar. Todos são convocados para uma autoavaliação, observando as próprias convicções e formas de ver o mundo. Vale acolher a orientação espiritual e humanística do Padre José Tolentino, escritor português: “Que os nossos olhos, feitos para olhar as estrelas, não morram olhando para os nossos sapatos”.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Um olhar sobre os acontecimentos ao redor do mundo indica que é urgente superar a violência, transformando as famílias, as cidades e as instituições todas em canteiros onde se cultive a paz. É preciso contribuir para que as dinâmicas capazes de criar a harmonia e a fraternidade prevaleçam no cotidiano de todos. O primeiro passo é fortalecer a paz no próprio coração, compromisso inadiável para reverter um preocupante cenário: o recrudescimento da violência. O consequente medo provocado por essa situação faz com que as pessoas se distanciem umas das outras, causando uma indiferença generalizada. Esse comportamento não contribui para semear a paz. Alimenta ainda mais a violência.
Em vez de buscar segurança no isolamento, acentuando distâncias, a humanidade precisa qualificar o modo como vê o mundo, indica o Papa Francisco. A percepção da realidade deve ser iluminada pela sabedoria da fé, permitindo que todos se reconheçam como parte de uma grande família. Assim, cada pessoa vai compreender que o outro também tem o direito às riquezas da Terra. A fé contribui para que haja a saudável alegria em ver o outro feliz. Alimenta o compromisso com a vivência da solidariedade – partilhar com quem precisa de ajuda.
O olhar contemplativo à luz da fé faz brotar a consciência indispensável para ser verdadeiramente cidadão – operário que semeia diferentes canteiros da paz. Imagine uma cidade compreendida como um canteiro da paz. E cada indivíduo, no seu campo de ação, no exercício de suas tarefas, agindo como operário que cultiva a paz. O resultado será o compromisso efetivo com a solidariedade, fraternidade e o gosto pelo bem, pela verdade e pela justiça. Para alcançar esse cenário ideal, uma certeza precisa ser aprendida e vivenciada: a reverência a Deus tem força educativa, com incidência transformadora em mentalidades e corações. Corrige descompassos terríveis que têm raízes na delinquência presente em toda parte.
Singular experiência, cultivar um olhar contemplativo, à luz da fé, é investir na capacidade para discernimentos e intuição de caminhos novos. Permite superar o marasmo que enjaula, na mediocridade, os responsáveis pela construção da sociedade. Esses descompassos é que contaminam discernimentos, fazendo com que sejam priorizados interesses contrários ao bem comum e à justiça. A falta do olhar que ultrapassa as superficialidades cristalizadas, possibilitando enxergar a própria interioridade, é que diminui, inclusive, a possibilidade de surgirem novos líderes. Sem clareza, habitua-se à ganância sem limites, busca-se apenas ajuntar para si.
Ver para além das aparências, graças à luz que se propaga com a presença amorosa de Deus, permite encontrar respostas para os enormes desafios que ameaçam a paz neste momento da história. Não bastam as considerações políticas, as estratégias adotadas com o objetivo de alcançar determinados números. Capacitar-se para ter um olhar contemplativo, experiência humana e espiritual, é uma necessidade. Abrir mão ou relativizar essa experiência significa adiar ou banir do horizonte a possibilidade de se conquistar uma competência indispensável para se buscar a cultura da paz.
A paz é também uma ciência com gramática específica, a ser aprendida, ensinada e testemunhada. Ela não “cai do céu”. É, pois, uma construção que exige o engajamento permanente de todos no irrestrito e incondicional dever de promover e respeitar direitos. Sem esse compromisso, perde-se a possibilidade de alcançar a verdadeira paz. O olhar contemplativo, que pressupõe a luz da fé e se desdobra no irrestrito respeito aos direitos de cada pessoa, deve inspirar as atitudes nos diversos contextos sociopolíticos e culturais. Todos unidos, trabalhando para fazer com que as cidades, famílias, instituições e outros ambientes sejam canteiros da paz.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte