Reflexão à luz da passagem do Evangelho de João (Jo 15,12-17), em que Jesus nos dá o Mandamento do amor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei” (Jo 15,12).
Em seguida também diz: “Ninguém tem amor maior do que Aquele que dá Sua vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando” (Jo 15,14).
Sobre a amizade divina que tanto precisamos, somos remetidos ao Tratado escrito pelo Bispo Santo Irineu, (séc. II), contra as heresias.
“Nosso Senhor, o Verbo de Deus, que primeiro atraiu os homens para serem servos de Deus, libertou em seguida os que lhe estavam submissos, como Ele próprio disse a Seus discípulos: ‘Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor, Eu vos chamo amigos, porque Vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15,15′).
A amizade de Deus concede a imortalidade aos que a obtêm. No princípio, Deus formou Adão, não porque tivesse necessidade do homem, mas para ter alguém que pudesse receber os Seus benefícios.
De fato, não só antes de Adão, mas antes da criação, o Verbo glorificava Seu Pai, permanecendo n’Ele, e era também glorificado pelo Pai, como Ele mesmo declara:
Pai, glorifica-me com a glória que Eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse (Jo 17,5).
Não foi também por necessitar do nosso serviço que Deus nos mandou segui-Lo, mas para dar-nos a salvação. Pois, seguir o Salvador é participar da salvação, e seguir a Luz é receber a luz.
Quando os homens estão na luz, não são eles que a iluminam, mas são iluminados e tornam-se resplandecentes por ela. Nada lhes proporcionam, mas dela recebem o benefício e a iluminação.
Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque Ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que O seguem e servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna.
Ele dá Seus benefícios aos que O servem precisamente porque O servem e aos que O seguem precisamente porque O seguem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é rico, perfeito e de nada precisa.
Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os Seus dons aos que perseveram no Seu serviço.
Com efeito, Deus de nada precisa, mas o homem é que precisa da comunhão com Deus.
É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a Seus discípulos:
‘Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolh’ (Jo 15,16), dando assim a entender que não eram eles que O glorificavam seguindo-O, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram por Ele glorificados.
E disse ainda: Quero que estejam comigo onde Eu estiver, para que eles contemplem a minha glória (Jo 17,24)”.
É sempre tempo de aprofundarmos nossa amizade com Deus e solidificarmos nossas amizades humanas, a fim de que sejam mais autênticas, mais conforme o Seu desejo; de modo que a autenticidade e profundidade de nossa amizade com Deus marcará também nossas amizades humanas.
Reflitamos:
– Qual a profundidade de nossa amizade com Deus?
– Correspondemos à amizade que Deus quer estabelecer sempre conosco?
– Como são nossas amizades humanas, nossos relacionamentos com o próximo, sobretudo na comunidade que participamos?
– Quais são as amizades que nos revelam e nos aproximam de Deus?
Oremos:
Ó Deus, Vós que sois tão bom e amável, ajudai-nos, a corresponder ao Vosso imenso Amor, adorando-Vos de todo o coração, vivendo o Novo Mandamento do Amor a nós dado por Vosso Filho, contando com a ação e presença do Santo Espírito, a fim de viver convosco uma amizade sólida, fecunda e sincera, de modo que fortaleçamos os laços de amizade e fraternidade com nosso próximo, construindo uma cultura de vida e de paz. Amém.
PS: Fonte: Liturgia das Horas – Vol. II – pp. 63-65.