A passagem do Evangelho (Mt 26, 14-27,66) nos apresenta a Paixão de Nosso Senhor Jesus.
Com Mateus, o primeiro Evangelista, contemplamos a Paixão de Jesus: uma vida feita dom e serviço, culminando na morte de Cruz, em que revela o Amor de Deus que nada guarda para Si, que Se faz um dom total, para que sejamos redimidos.
Meditai sobre a Paixão do Senhor
“Meditai sobre a Paixão do Senhor,
Aumentai a caridade em vossos corações,
Consolidai a vossa fé, Renovai a vossa esperança.
Entrai em íntima comunhão com o Senhor!”
Ao celebrar o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciaremos a Semana Santa, e sejamos enriquecidos pelo Sermão do Bispo Santo André de Creta (séc. VI): “Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e Santa Paixão, a fim de realizar o Mistério de nossa salvação.
Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, Ele que desceu do céu por nossa causa – prostrados que estávamos por terra – para elevar-nos consigo bem acima de toda autoridade, poder, potência e soberania ou qualquer título que se possa mencionar (Ef 1,21), como diz a Escritura.
O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, e ninguém ouvirá Sua voz (Mt 12,19; cf. Is 42,2). Pelo contrário, será manso e humilde, e Se apresentará com vestes pobres e aparência modesta.
Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a Sua Paixão e imitemos os que foram ao Seu encontro. Não para estendermos à Sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a Seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que Se aproxima, e acolhermos Aquele Deus que lugar algum pode conter.
Alegra-Se Jesus Cristo, porque deste modo nos mostra a Sua mansidão e humildade, e Se eleva, por assim dizer, sobre o ocaso (cf. Sl 67,5) de nossa infinita pequenez; Ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-Se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a Si.
Diz um Salmo que Ele subiu pelo mais alto dos céus ao Oriente (cf. Sl 67,34), isto é, para a excelsa glória da Sua divindade, como primícias e antecipação da nossa condição futura; mas nem por isso abandonou o gênero humano, porque o ama e quer elevar consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra, de glória em glória, até torná-la participante da Sua sublime divindade.
Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo.
Revestidos de Sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a Seus pés como mantos estendidos.
Éramos antes como escarlate por causa dos nossos pecados, mas purificados pelo Batismo da salvação, nos tornamos brancos como a lã. Por conseguinte, não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte, porém o prêmio da Sua vitória.
Agitando nossos ramos espirituais, O aclamemos todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas Santas Palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”.
Ele desceu do céu e veio ao nosso encontro: um Deus que Se faz Homem, assume a nossa condição, faz-Se um de nós, igual a nós, menos no pecado, para exatamente destruí-lo e nos redimir como criaturas novas.
Não conhecendo o pecado, numa perfeitíssima oferenda agradável ao Pai, sacrifica-Se por Amor à humanidade, ensinando e vivendo o caminho do Amor e fidelidade, doação e entrega em favor do próximo. Fez-Se grão de trigo caído por terra para germinar e produzir frutos abundantes de vida, alegria e paz.
É este Jesus que acolhemos como Salvador; Aquele que entrou em Jerusalém aclamado por todos, com ramos deitados para que sobre eles passasse.
Não fiquemos insensíveis ao convite do Bispo, em seu Sermão.
Prostremo-nos diante do Senhor, e a Ele demos toda honra, glória, poder e louvor:
“… em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de Sua graça, ou melhor, revestidos d’Ele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a Seus pés como mantos estendidos”
Sejam os ramos sejam a expressão de que somente n’Ele e com Ele encontramos vida, somente diante d’Ele nossos joelhos se dobrem, e ternamente nossa língua proclame que Jesus é o Senhor.
Será a grande Semana em que a Igreja nos convida ao recolhimento, ao silêncio e a Oração, a frutuosa meditação da Paixão do Senhor, para que aumente em nós a caridade, consolidando a fé e renovando a esperança.
http://peotacilio.blogspot.com/2020/04/meditai-sobre-paixao-do-senhor-domingo.html?m=0
Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Ao celebramos hoje o Domingo de Ramos e a Paixão e Morte do Senhor, silenciemo-nos diante da Cruz e retomemos esta rica e oportuna citação, que nos convida a contemplar um Deus que, por Amor, Se fragilizou.
É a mais espantosa e incrível História de Amor: como não nos abismarmos ao contemplá-la, e como não renovar, no mais profundo de nós, os Sagrados compromissos de fidelidade no seguimento deste Jesus, com renúncias necessárias, e a cruz quotidiana carregando, com a firme convicção de que ela assumida, com coragem, nos levará a contemplar, um dia, a face deste Deus de Amor?
“Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil…
Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou Sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar.
Desse Amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco ‘até ao fim dos tempos’: esta é a mais espantosa História de Amor que é possível contar; ela é a Boa Notícia que enche de alegria o coração dos crentes…
Contemplar a Cruz, onde se manifesta o Amor e a entrega de Jesus, significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade…
Significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias. Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor…
Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da Ressurreição” (1)
Celebrando e meditando a Paixão de Cristo, sejamos fortalecidos na solidariedade e compaixão com sofrimento de tantos irmãos e irmãs que vivem em situações que clamam por vida e dignidade.
Paixão de Cristo e Paixão do mundo são indissociáveis!
Assim como cremos
que o caminho da Cruz é inevitavelmente,
o caminho que nos conduz à glória,
quando, através de nosso agir,
nos tornamos viva expressão
e sinal do Amor de Deus
por toda a humanidade.
Amém.
http://peotacilio.blogspot.com/2020/04/domingo-de-ramos-e-da-paixao-do-senhor_3.html?m=0
Acreditar, contemplar, imitar” a Paixão do Senhor!
Com a Liturgia do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa, em que celebramos o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Sejamos iluminados pelas palavras do Papa São Leão Magno (séc. V):
“Através d’Ele (Jesus Cristo morto na Cruz) é dado aos crentes a força na fraqueza, a glória na humilhação, a vida na morte”.
De fato a glória de Deus manifesta-Se incompreensivelmente através do insucesso, do fracasso. É o grande paradoxo que mantém e desperta a esperança no carregar de nossas cruzes quotidianas, nas várias formas de manifestação da morte.
Na Semana Santa somos convidados, pela Igreja e como Igreja, a vivenciar estes três verbos: acreditar, contemplar e imitar a Paixão de Nosso Senhor, para que na madrugada do Domingo, quando ainda for escuro, Sua Ressurreição possamos contemplar e ao mundo anunciar e testemunhar. Será o nosso grande Aleluia, guardado ao longo de toda a Quaresma.
Devemos vivê-la com prolongado tempo de recolhimento, de Oração, participando dos Mistérios e riqueza Litúrgica que a Igreja nos oferece, e assim teremos nossas forças renovadas, porque é próprio do Amor de Deus vir em socorro de nossas fraquezas, limitações, misérias, com a expressão máxima de Sua Misericórdia, Jesus Cristo.
Nossa aparente humilhação, dificuldades, serão configuradas ao Cristo Servo Sofredor, e assim, corajosamente carregando o peso de nossa cruz, trilharemos para o caminho da glória.
Nossos sinais de morte cederão aos sinais da Páscoa. A vida venceu a morte, o amor sempre fala mais forte. Esta é a Páscoa quotidiana que nos move, impulsiona, faz com que na vida de fé jamais recuemos, mas avancemos para o horizonte do inédito de Deus, e o melhor de Deus venhamos a alcançar.
É a Grande Semana para renovarmos aquilo que acreditamos, que nos faz comprometidos e apaixonados por Jesus e pelo Seu Reino. Crer na força da Palavra proclamada, lida, meditada, vivida para que nossa vida seja, enfim, transformada. Crer no Santo Sacramento da Eucaristia, que é força em nossa silenciosa e corajosa travessia no mar da vida, sem jamais submergir no mar das dificuldades, mas antes mergulhados no mar infinito de Deus que é Sua bondade, ternura, amor e misericórdia.
É a Grande Semana para em silêncio frutuoso e orante contemplarmos o imensurável Amor de Deus, cujas dimensões são impossíveis de serem abarcadas por nossas categorias do pensamento. Contemplarmos Cristo, mais que num crucifixo, nos crucificados da história: doentes, desanimados, famintos, despossuídos das condições dignas de existência, nos que estão bem ao nosso lado (Mt 25).
É a Grande Semana para imitarmos Jesus Cristo e o Mistério de Sua Vida, Paixão e Morte. Caminhar com Ele, seguir Seus passos, morrer com Ele e Ressuscitar com Ele. Imitar Jesus, tendo d’Ele os mesmos pensamentos e sentimentos (Fl 2): Amar, perdoar, viver, sonhar, sorrir, partilhar, alegria, a vida por amor doar, serviço, humildade, paciência e tudo quanto mais possa ser dito, cujas palavras são insuficientes para bem expressar.
Acreditemos, contemplemos e imitemos o Senhor. Amém.
http://peotacilio.blogspot.com/2020/04/acreditar-contemplar-imitar-paixao-do.html?m=0
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
http://peotacilio.blogspot.com/?m=1