Por diversas vezes Jesus usa a expressão eu, nos evangelhos. Solenemente, diz: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30); “eu estarei convosco todos os dias” (Mt, 28, 20) e “…agora, porém, eu vou para junto daquele que me enviou” (Jo 16, 5). Assim, vamos percebendo que a enunciação eu, demonstra uma segurança na consciência, coração e sentimentos de Jesus. O eu vai identificando a personalidade, o caráter e a maneira de ser do Mestre. Essa individualidade metafísica da pessoa, oferece uma confiança, na medida que expõe a qualidade do que é, e determina ao mesmo tempo, a particularidade, pessoal, social, moral, ética, sobretudo, o habitual do ser, que o distingue das outras pessoas.
Já imaginou a situação do eu de Jesus diante daqueles que queriam apedrejar a mulher adultera, (Jo 8, 3-5), ao responder: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra” (Jo 8, 7). O Senhor, no eu, nos brinda com suas características cognitivas, ou seja, de autoconhecimento; efetivas, de levar a efeito o ‘caminho, verdade e vida’ (Jo 14,6); volitivas, que determinam “eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10) e físicas, demonstrando o conteúdo doutrinal, responsabilizando os acusadores para a “misericórdia e não sacrifício” (Mt 9, 13).
Se a fé é o fundamento da Igreja, o eu é da pessoa. A fé outorga confiança e coragem a quem crê. O eu percebe que precisa avançar na maturidade. Essa característica é uma espécie de testamento espiritual, vislumbrando a realidade desta individualidade. O eu não se determina pela maioria de respostas ou de razões convincentes. Ao eu não pertence a maioria de aplausos ou acertos, como diz o Papa Bento XVI: “A verdade (no eu), não é determinada por maioria de votos”. Jesus testemunhou isso quando disse: “Vinde a mim vós todos que estais cansados e oprimidos” (Mt 11, 28-30). Em sua condição, Jesus foi além do ser e agir. O Papa Bento XVI acrescenta: “Amor é dar ao outro o que é meu”. Assim, compreendemos o Nazareno dizendo: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10, 10). “Deus não pertence a nenhum povo em particular”, afirma o Papa Francisco. Ninguém se arrogue em dizer que o eu é algo reservado ou intocável.
Com esta exposição, queremos contribuir com a ideia de que o eu precisa servir e não ser servido. A ele não compete um governo absoluto. Na vida o eu é convidado a ser caminho, erigindo pontes e alargando estradas. O eu que dialoga não pertence a nenhum povo, mas herança de quem o leva a sério. Pergunte-se com frequência. Como vai o eu? Santa Tereza D’Ávila diz-nos”: “O Senhor sempre dá oportunidade para oração quando a queremos ter.” Por isso, alarguemos a oportunidade do eu ser em nós de verdade. Nunca uses mascaras. Jamais serás aplaudido pela personalidade e caráter. Seja você de verdade. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Professor do Seminário Arquidiocesano de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina
imagem: recorte do vitral do Santuário em Conceição do M Dentro