A indiferença cidadã diante da necessidade de se formular entendimentos a respeito da política traz prejuízos graves. Por isso mesmo, é urgente investir, sem partidarismos e polarizações ideológicas, para que todos possam constituir qualificados juízos políticos – uma tarefa de diferentes instituições, particularmente as educativas, culturais e igrejas. O desinteresse das pessoas em participar, de modo qualificado, de debates e reflexões é um déficit crônico que inviabiliza a contribuição cidadã para edificar uma sociedade mais justa. Em vez de se buscar formar juízos políticos, delega-se a definição dos rumos do país a segmentos específicos, muitas vezes sem credibilidade.
A qualidade de discernimentos para o exercício da cidadania requer uma formação que ultrapassa o simples acúmulo de conteúdo informativo ou o conhecimento de números. As informações e estatísticas podem ser importantes, mas imprescindível é o conjunto de critérios éticos que permita identificar e combater configurações ideológicas ligadas a interesses distantes da necessidade do povo. A participação cidadã, a partir da ética, permite reconhecer também que o juízo político é algo complexo e não pode ser reduzido a “paixões partidárias”, com embates que se assemelham aos de torcedores de times rivais.
A obtusidade de cidadãos na tarefa de emitir juízos políticos é um contrassenso diante da “oportunidade de ouro” que a sociedade tem para dar um passo adiante no amadurecimento da democracia. É preciso reconhecer essa carência e superá-la para conseguir promover as mudanças necessárias ao país – o que inclui melhorar o quadro dos que se submetem ao sufrágio nas urnas. Todos sabem que o cenário atual é desolador. A falta de credibilidade da classe política faz com que até mesmo as pessoas íntegras sejam vistas com desconfiança por conviverem com muitas outras que deveriam representar o povo, mas se deixam seduzir por interesses mesquinhos.
O tratamento da corrupção, que é endêmica no Brasil, requer amadurecimento no processo de formação de juízos políticos e o primeiro passo nesse processo é vencer a indiferença, alimentada pela decepção diante do que se verifica no mundo da política. Com a efetiva participação do povo, a classe política será induzida a sair dos leitos de partidarismos. Deixará de ter como prioridade quase exclusiva a eleição de seus pares. E engana-se quem pensa que esse partidarismo, que nutre atitudes egoístas, restringe-se aos ambientes da política institucional. Esse é um mal sofrido por qualquer instituição, seja de natureza política, religiosa, seja cultural.
Há modos e escolhas ideológicas incapazes de promover avanços, mas que determinam a formatação de certos juízos. Consequentemente, são escolhidos caminhos e nomes que emperram processos de transformação. Há uma forte tendência, em todos os lugares, para se buscar manter tudo do jeito que está. Prevalece, assim, a “vista grossa” diante de mediocridades – são escolhidos até mesmo nomes e projetos que tornam distante a possibilidade de se alcançar um bem maior. A opção mais comum é pelo caminho que garanta “vantagens” individuais ou a pequenos grupos. Eis uma miopia cidadã, patologia que incide sobre juízos políticos e precisa ser extirpada, principalmente em ano eleitoral.
Grande é a responsabilidade cidadã nesse processo. Importante sublinhar ainda o dever da mídia na sua tarefa educativa e informativa. A participação política cidadã, no diálogo e no exercício do respeito mútuo, deve ser incentivada. Essa participação torna-se mais rica quando são socializados juízos políticos, um intercâmbio que qualifica compreensões e interpretações – da realidade e dos fatos. Cada pessoa esteja aberta para o diálogo, com a necessária disposição para escutar, ponderar, e, assim, amadurecer escolhas. Quando há efetiva participação cidadã, os juízos políticos deixam de ser influenciados por quem não prioriza as urgências do povo. Agora é a hora oportuna de investir para formar qualificados juízos políticos.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte