A intercessão de Maria: 300 anos de Aparecida
Em 2017 o Brasil celebra os 300 anos do encontro da imagem da Imaculada Conceição, no Rio Paraíba do Sul, que passou a ser conhecida carinhosa e piedosamente como Nossa Senhora Aparecida.
O povo sabe que Maria intercede. Os títulos são “jeitos de dizer” a forma com que Maria colabora, já que a fé apresenta roupagens. O núcleo é a fé mas a roupagem é a forma como ela se expressa.
A intercessão de Maria não é dogma de fé. Este título está relacionado com maternidade divina, pois mãe é símbolo de intercessão, como podemos ver no “sinal” da Bodas de Caná – apesar de o texto não ter essa intenção nos ajuda a entender isso. Outros textos apresentam Maria presente desde os primórdios do cristianismo. Mas, donde veio ou quando começou essa piedade de invocar a intercessão de Maria de Nazaré? Onde estão os fundamentos da intercessão mariana?
Na tradição de Israel a intercessão aparece poucas vezes e quase sempre é em favor de outra pessoa e sobretudo pequeno, “inferior” (Moisés intercede a Deus em favor do povo, Ester intercede junto ao rei em favor do povo hebreu).
Ao procurar raízes históricas teológicas da intercessão de Maria encontramos acontecimentos marcantes e relevantes que ao longo dos séculos influenciaram a noção de intercessão fruto também da manifestação da fé (oração) do povo que expressa a confiança na intercessão de Maria.
Ao remontarmos as raízes distantes do cristianismo veremos que nas catacumbas de Santa Priscila, por exemplo, está uma primeira manifestação que é considerada a primeira, ou a mais antiga, representação de Maria (século II). Outra manifestação vem dos padres da igreja – Santo Irineu, por exemplo, é considerado o pai da Mariologia – num contexto de heresias a figura de Maria estava a serviço de imagem de Cristo.
Um dos primeiros testemunhos de invocação vem de santo Efrém “com o mediador és mediadora no mundo inteiro”. A intercessão de Maria – de forma orante – está registrado num papiro com inscrições de “sub tuum praesidium” que significa “a vossa proteção recorremos”. Apesar da dúvida sobre a data acredita-se que esta prece é do século III, portanto desde o tempo das perseguições a igreja confia na intercessão da “Serva do Senhor”.
A interceção não é uma novidade da piedade moderna (com seus exageros) nem algo da tão difamada Idade Média. É obra da igreja primitiva, conforme a tradição, registrada principalmente no coração do povo fiel.
No entanto a piedade mariana pouco serve se não se seguir o exemplo de Maria (praticante da palavra, responde com fé, serve e profetiza o Reino de Deus). Qualquer piedade mariana que não evoca a imitação de Maria no seguimento de Cristo é falsa. É superstição! Não se salva quem tem fé em Maria mas, quem tem a fé de Maria.
Saber disto nos anima a não perder esperança e contar com ajuda – interseção – daquela que disse: “o Senhor fez por mim Maravilhas” (Lc 1): “À vossa proteção recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”.
Pe Bruno Costa Ribeiro, colaborador