Como sinal sacramental da salvação, a quaresma abre, progressivamente, o ciclo pascal e, cada ano, descortina-nos um caminho espiritual no qual retomamos nosso batismo rumo à Páscoa, ponto alto do ano litúrgico, mistério fundamental de nossa fé, cuja expressão máxima é a Vigília Pascal. Durante 40 dias, a Quaresma nos encaminha para a Páscoa, ajudando-nos a reviver a experiência do povo de Deus, que amadureceu sua fé na travessia do deserto, e a experiência de Jesus que, após intenso tempo de oração e jejum no deserto, assume sua missão com solidária e total entrega.
Neste “tempo favorável” buscamos a conversão. A quaresma é tempo oportuno de penitência e de conversão. A palavra conversão significa ao mesmo tempo radical mudança de direção do caminho e radical transformação interior que acompanha a mudança de direção da vida. Segundo a imagem da parábola do filho pródigo, a
conversão marca o nosso retornodadispersão para a nascente inesgotável da vida, que é a Páscoa de Jesus, nossa verdadeira “casa paterna”.
A quaresma é uma pedagogia de Deus. Há que se ter disposição para a festa (sair de nós) e há que se ter disposição para o silêncio, o recolhimento, a oração (entrar em nós).
Na verdade, penso eu que precisamos superar uma “tradição” que coloca o tempo quaresmal na “gaveta” da tristeza, do desânimo, da falta da alegria… A quaresma não pode (não é da sua origem) ser apenas um devocionismo ou piedosismo individual. Talvez o exercício mais bacana deste tempo seja da “refontalização”.
Quaresma é voltar às fontes. Aquilo que o Apocalipse chama de “amor primeiro”. Por que mesmo eu tenho fé? Por que sou cristão? Qual o sentido disso? Tem sentido? E isso, obviamente, tem um duplo significado – olhar para trás e olhar para frente: nesse tempo, o que significa jejuar? O que significa esmola? O que significa rezar? Aquilo
que está na tradição responde a nossa experiência quaresmal? É possível ressignificar o sentido da quaresma?
Pe. Hermes F. Pedro