ANSIEDADE: UMA PERSPECTIVA TEOLÓGICA

Sempre escutamos dizer que a Palavra de Deus é fonte de vida, mas o que isso de fato significa? Podemos afirmar com base nos relatos bíblicos que todas as vezes que o povo de Deus escutou a voz do Senhor, houve uma transformação profunda na vida deles. Isso foi o que aconteceu quando Moisés liderou a libertação do Egito, quando Abraão partiu para a região que Deus lhe havia mandado e quando Maria disse seu sim ao projeto divino. O profeta Isaías diz que a Palavra de Deus nunca deixa de cumprir sua finalidade. Ela é sempre atual, porque o nosso Deus é vivo, e isso implica que ela tem algo a nos dizer hoje, e que ela tem a força de transformar e salvar a nossa vida no presente, reconstruindo o que está destruído, alargando os horizontes da nossa existência, solucionando os problemas, e tornando-nos pessoas melhores. Sendo assim, o que ela poderia nos dizer sobre o problema atual da ansiedade? Ela pode nos indicar um caminho?

A ansiedade é uma reação natural que todo ser humano tem diante da vida, seja em situações de perigo, de incerteza ou quando é necessário planejar algo em relação ao futuro. Ela desencadeia sentimentos como angústia, aflição ou perturbação, que fazem com que o corpo entre em ação. Até aqui não há problema algum na ansiedade, pois é uma reação natural do organismo. Contudo, quando ela ocorre em alta intensidade, gerando sintomas físicos como, respiração ofegante, falta de ar, ânsia de vômito, entre outros, deixa de ser normal e passa a ser um transtorno.

Mas a pergunta é: por que transtornos de ansiedade tem acometido mais e mais pessoas atualmente? Uma das causas mais citadas entre os especialistas é o estresse. Numa sociedade cada vez mais tecnológica, individualista, consumista, de relacionamentos humanos frágeis, o ser humano fica quase que obrigado a acompanhar um ritmo de mudança muito além do que consegue. Além disso, a incapacidade de estabelecer vínculos afetivos estáveis e saudáveis, o coloca numa situação moral muitas vezes degradante, que desgasta e prejudica sua vida social. O que se pode constatar é isso: o homem vive uma contínua pressão em viver por causa do modo como a sociedade está estruturada, ou pelo menos, por causa de alguns valores que tem regido o comportamento social. Esses são alguns dos principais gatilhos para o estresse, e consequentemente, os transtornos de ansiedade.

Em última análise, a ansiedade é um modo de “prevenir” situações desagradáveis ou catastróficas, mas quem seguramente pode ter controle sobre isto? A propósito, a Palavra de Deus insiste que não podemos nem sequer tornar branco um só fio de cabelo! (Cf. Mt 5, 36). E recomenda não nos preocuparmos com o dia seguinte, afinal, cada qual já tem os seus próprios problemas (Cf. Mt 6, 34). Ao contrário, devemos entregar a Ele todas as nossas preocupações, porque ele tem cuidado de nós (Cf. 1 Pd. 5,7).

É preciso a humildade de reconhecer que há coisas que não estão sob o nosso controle, mas nem por esta razão estão sem controle. Há quem cuide disso por nós. Uma vez mais, faz-se necessário crescer na capacidade de se conformar com as próprias limitações e confiar mais em Deus.

Ir na contramão de uma sociedade hedonista que, inclusive, tornou o sofrimento um tabu; importa é ser feliz, são os slogans! E não é a ansiedade um modo de intolerância ao erro, a infelicidade e ao sofrimento? Por isso nos atencipamos! Mas o que esperar de uma geração acostumada a fugir dos próprio medos e fazer calar as próprias dores, não saber lidar e sentir os próprios fracassos? Contraditório, não! A ânsia por nos vermos livres do sofrimento já é por si mesmo um tipo de sofrimento que em nada ajuda. É preciso aprendermos a sofrer com paciência, e não ficarmos ansiosos; não um tipo de resignação, de conformismo, de ressentimento! É se sentir nas próprias inquietações, como isto afeta, como isto faz realocar valores, como se constrói com isto; porque também construímos com ruinas; a beleza dos vitrais ensina isto: dos cacos de nossas misérias, do que sobra, fagulha, migalha, dos cacos de vidros fazemos preciosos vitrais. A Palavra de Deus e a arte cristã nos dão claros indícios de que é possível superar todo mal. Não seria muito diferente em relação a ansiedade e aos sofrimentos que ela gera ou os que pretende evitar.

Adquirir a consciência de que não podemos alterar aquilo que já aconteceu ou de que não controlamos o futuro, deve nos incentivar ao abandono profundo de nossas vidas nas mãos de Deus. Assim como reza uma antiga oração: “Que Deus nos dê a serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar, coragem para mudar as que podemos e sabedoria para distinguir entre elas”.

Escrito por Igor Neves e Gabriel Ferreira, seminaristas da arquidiocese de Diamantina e Diocese de Guanhães, respectivamente.

A Palavra do Pastor
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