O chamado divino e a nossa resposta – Homilia – Segundo Domingo do Tempo Comum ( Ano B)

Deus nos chama para que anunciemos a

Sua Palavra e não a nós mesmos, porque

nisto consiste a vocação do Profeta…

A Liturgia do 2º Domingo do Tempo Comum (ano B) nos convida a refletir sobre o chamado que Deus faz a cada um de nós, e a resposta esperada expressa em total disponibilidade, acolhendo também os desafios próprios daquele que se propõe a responder a este chamado.

A passagem da primeira Leitura (1 Sm 3,3b-10.19) nos apresenta o chamado que Deus fez a Samuel e a sua resposta, após quatro vezes ter ouvido o chamado.

A passagem nos revela que o chamamento é sempre uma iniciativa de Deus, que vem ao encontro da pessoa e o chama pelo nome, e o que Ele espera é uma atitude de total disponibilidade a este chamado.

Os primeiros capítulos do Livro, como o da Liturgia, retratam a fase pré-monárquica vivida pelo Povo de Deus com a experiência das tribos. É o início da sedução pela monarquia, e Samuel aparece neste tempo um tanto quanto caótico.

Destacam-se na passagem cinco pontos marcantes:

1 – A vocação é sempre uma iniciativa de Deus;

2 – Samuel foi chamado por Deus enquanto estava deitado, presumivelmente durante a noite, ou seja, é no momento do silêncio e da tranquilidade e da calma, que podemos ouvir a voz de Deus. A voz divina é mais audível quando o coração e a mente abandonam a preocupação com os problemas diários, e se tem maior possibilidade de entender os apelos de Deus.

3 – Samuel tem dificuldade de identificar a voz de Deus em meio a tantas vozes e diversos apelos que nos chamam a atenção e nos atraem: há a voz de Deus e outras vozes sempre em nossos ouvidos.

4 – O papel de Eli na descoberta vocacional do jovem Samuel. Muitas vezes as pessoas com quem convivemos têm um papel decisivo na descoberta de nossa vocação.

5 – A disponibilidade de Samuel de embarcar no desafio profético, ou seja, ser uma voz humana de Deus no mundo.

O Profeta não é Profeta pelo desejo próprio, mas pelo desejo de Deus que o chamou pelo nome e o enviou para uma missão própria: Deus nos chama para que anunciemos a Sua Palavra e não a nós mesmos, porque nisto consiste a vocação do Profeta, por isto precisará de tempo de recolhimento, espaço para a Oração, para a intimidade com Deus, para a descoberta do querer de Deus a seu respeito.

Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 6,13c15a.17-20),     o  Apóstolo escrevendo à Comunidade de Corinto exorta para que seus membros, tendo vida nova que vem de Deus, vivam uma vida correta em atitudes e hábitos, e não uma vida dissoluta e que contratestemunhe a fé professada.

A cidade de Corinto era uma cidade nova e muito próspera, com características próprias de uma cidade portuária.

A comunidade, por sua vez, formada por pessoas de origem grega e humilde, com o perigo de corromper-se numa moral dissoluta.

Neste contexto, Paulo escreve às comunidades sobre as exigências para todo aquele que aderiu a Jesus Cristo, de modo que a este tudo é permitido, mas nem tudo convém (1 Cor 6, 12).

Como batizados, nos tornamos membros de um só Corpo (Cristo) e, consequentemente, membros do Espírito Santo, com novos pensamentos, ações e comportamentos.

Deste modo, glorificaremos a Deus pelo culto e pela própria vida, pelos pensamentos, palavras e ações; não poderemos separar o culto e o louvor da vida concretamente, vivendo e testemunhando o que fala e professa no quotidiano. Deus nos chama e espera de nós uma resposta coerente, com comportamento também coerente ao compromisso batismal.

O verdadeiro culto é a adesão incondicional a Jesus Cristo e ao Seu Projeto de vida plena para todos nós, numa vida marcada pelo amor, entrega, doação e respeito pelo outro.

Somente assim agirá quem assumir plenamente a proposta de uma vida nova, em total liberdade e fidelidade, e para tanto, haverá uma necessária contínua conversão a Cristo e aos Seus valores, que são os valores do Evangelho.

Na passagem do Evangelho (Mc 1,35-42), temos o chamado dos primeiros discípulos de Jesus, ou seja, daqueles que são capazes de reconhecer no Cristo que passa o Messias esperado, o Messias Libertador.

Interessante a postura de João que apresenta Jesus, o Cordeiro de Deus, para os Seus discípulos. João tem consciência que sua missão não é congregar à sua volta um grupo de adeptos, mas a preparação do coração dos homens para o acolhimento de Jesus e Sua proposta.

João Batista não procurou os “holofotes” para a sua própria pessoa, soube retirar-se discretamente para a sombra, para que os projetos de Deus viessem a se realizar.

Aprendemos com ele a nunca atrair sobre nós as atenções: aprendemos a ser testemunhas de Jesus e não de nós próprios, a não sermos palcos de nós mesmos.

Assim temos os primeiros discípulos que serão aqueles que seguirão no caminho de amor e entrega, com anúncio e testemunho próprio de quem encontrou Alguém que transformou todo o seu viver.

Os discípulos caminham atrás de Jesus, percorrem o mesmo caminho de amor e entrega, adotam os mesmos objetivos e colaboram prontamente na missão.

Na segunda parte, temos o diálogo de Jesus com os discípulos: chamamento e resposta.

Jesus lhes faz um convite à pergunta que a Ele dirigem – “Mestre onde moras?”, dizendo –“Vinde ver”.

André e o outro discípulo aceitaram o convite e fizeram a experiência da partilha da vida com Jesus; uma experiência tão marcante, que André passará de discípulo a testemunha, no relato da vocação de Pedro, no final da passagem do Evangelho.

Um verdadeiro encontro com Jesus nos faz necessariamente discípulos missionários d’Ele por toda a vida, de modo que será cristão aquele que acolheu o chamamento de Deus e deu a sua resposta numa adesão radical e absoluta ao Projeto divino, na realização do Reino de Deus.

Este encontro com Jesus insere-nos, inevitavelmente, numa vida comunitária, porque, uma vez feita a experiência do encontro e vida com Ele, sentimos o desejo de que todos tenham a mesma graça, porque é um encontro que muda e marca todo o nosso viver.

Reflitamos:

– Quando foi que ouvi a voz de Deus me chamar?

– tenho consciência da vocação profética que me foi confiada?

– Tenho momentos de silêncio e recolhimento para ouvir a voz de Deus e perceber quais são os Seus Planos e Projetos para que eu realize?

– Quem são os “Elis” que me ajudaram/ajudam a compreender a voz de Deus em minha vida, em meio a tantas vozes que existem no mundo?

– Qual é a história da minha vocação dentro do Plano de Deus?

Concluindo, a Liturgia nos pede uma resposta ao chamado de Deus e que ela seja como foi a de Samuel – “aqui estou”.

Urge rever nossas escolhas, renúncias e assumir as consequências de quem se pôs a caminho como discípulo missionário do Senhor, com total adesão a Ele e ao Seu Projeto, testemunhando uma vida marcada pelo amor, doação, entrega e serviço.

Um sim vivido na gratuidade e generosidade nos permitirá alcançar a verdadeira felicidade que tanto desejamos e que somente no Senhor e com o Senhor encontraremos, de modo que seremos homens e mulheres da Igreja no coração do mundo, homens e mulheres do mundo no coração da Igreja.

Na Igreja, celebramos e nutrimos a nossa fé para que na esperança de um novo céu e nova terra, vivendo a caridade, fermentemos um mundo novo, irradiando o Espírito Santo que em nós habita, e sendo sal da terra, procurando dar gosto de Deus a tudo e a todos.

Nada sem Deus, tudo com Ele, pois sem Deus somos sal sem sabor que para nada mais serve, a não ser pisado pelos homens, como o próprio Jesus disse (Mt 5,13-16).

A vida é bela quando temos gosto de Deus e damos gosto de Deus a tudo o que fazemos: das menores às maiores ações.

Postado por Dom Otacilio F. Lacerda em

http://peotacilio.blogspot.com/2020/01/o-chamado-divino-e-nossa-resposta.html

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