Campanha da Fraternidade 2020 na Quarta-feira de Cinzas

Campanha da Fraternidade 2020
Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso

Na Quarta-feira de Cinzas, celebramos o início da Quaresma e a abertura da Campanha da Fraternidade 2020. Confira a partilha de Vera Pimenta – catequista de Guanhães – e a entrevista de Padre Bruno – assessor diocesano da PASCOM – sobre o tema da Campanha deste ano.

Realizou-se no dia 30 de novembro, o encontro diocesano sobre a campanha da Fraternidade 2020, assessorado por Pe José Antônio de Oliveira, de Barão de Cocais, e autor do hino desta campanha, com a presença de nosso bispo, de padres e de leigos das paróquias.

Todo o encontro foi regado de fragmentos poéticos e músicas que provocam à reflexão sobre um olhar mais atento para os nossos irmãos e irmãs que sofrem e para o cuidado do nosso planeta, a nossa casa comum.

O tema é Fraternidade e vida: Dom e compromisso. O seu lema é “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

O cartaz se inspira em Irmã Dulce que acolhe e se compadece com o outro, com o mais pobre. O lema inspirado no bom samaritano, no ver, julgar e agir.

É preciso educar o nosso olhar para o outro. A classe mais pobre cada vez mais perdendo o seu poder aquisitivo e a elite ganhando mais poder

A Campanha da Fraternidade de 2019, que tratou das políticas públicas deparou-se com a insuficiência de inúmeras ações efetivas para a superação dos problemas da nossa sociedade. O papa nos convocou a vencer a globalização da indiferença. Se já não somos mais capazes de perceber a desumana dor do outro ao nosso lado, também nós nos tornamos desumanizados e nos convida a todo instante a abrir-nos mais para o outro. Há um clamor à nossa humanidade em meio a tantos que estão sofrendo.

O objetivo geral desta campanha é conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, na nossa casa comum.

E nós? O que temos feito? O que aconteceu conosco? O que vem ocorrendo com a humanidade que, embora percebendo o aumento dos números de sofrimentos, parece não mais sensibilizar-se com eles?

Encerrou-se o encontro após inúmeras provocações e reflexões com trabalho em grupo para levantamento e encaminhamento de ações concretas durante o ano vindouro para que se possa pelo menos amenizar um pouco as muitas urgências em nossa humanidade e comunidades locais. Que possamos colocar em prática o jargão: “Pensar globalmente e agir localmente”, olhando para mim mesma, para o outro e para Deus.

Dom Otacilio fez o encerramento, após a bênção irlandesa, dizendo que fomos privilegiados naquela manhã com a presença ilustre, poética e profética do Pe. Antônio. Que tenhamos, também, olhares poéticos e proféticos para a nossa comunidade e que vivamos o santo Advento.

Vera Pimenta
Comissão Diocesana de Catequese

 

 

Todos os anos, a CNBB apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. É uma atividade ampla de evangelização que pretende ajudar os cristãos e pessoas de boa vontade a vivenciarem a fraternidade em compromissos concretos, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de temas específicos.

Padre Bruno, assessor da PASCOM Diocesana, falou em uma entrevista à Folha Diocesana e trata sobre o sentido das Campanhas realizadas no Brasil.

FOLHA DIOCESANA: Sabemos que todos os anos a CNBB apresenta a Campanha da Fraternidade. Mas qual a relação entre “Campanhas da Fraternidade” e o tempo quaresmal?

PADRE BRUNO: Há quem pergunte “o que tem a ver “quaresma” com “campanha da fraternidade”. Sendo a quaresma um tempo forte de convite à oração, caridade (esmola) e penitência (jejum), como caminho de conversão, que nos levam a melhor viver a Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, também urge nesse período a necessidade de uma espiritualidade que gere transformação e compromisso com o bem comum. Assim, a Igreja no Brasil, há mais de 50 anos, promove no tempo quaresmal a Campanha da Fraternidade, para que a quaresma não se restrinja a exortações, mas que venha de fato levar à conversão pessoal, comunitária e social. Desse modo, todo ano é definido um tema a ser refletido, em consonância com uma realidade social, que atinge os nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis.

FOLHA DIOCESANA: A abertura da Campanha da Fraternidade coincide com a quarta-feira de cinzas, é o início do tempo quaresmal. Qual temática a CF 2020 abordará?

PADRE BRUNO: Neste ano de 2020, a Campanha da Fraternidade convida as comunidades cristãs a refletirem e se comprometerem com o dom da vida, ou seja, na busca em resguardar a dignidade da pessoa humana, onde quer que ela esteja sendo violada. O tema é: “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34). Diante deste abrangente tema, sendo a fraternidade a essência do Evangelho, a Igreja conclama a todos os cristãos e aos homens e mulheres de boa vontade, a exemplo do “bom samaritano” a lutarem contra tudo aquilo que aflige a vida, bem como a banalização do mal e a perda do sentido do viver. Para a divulgação desta campanha, a Igreja vale-se de diversos subsídios, um dos mais propagados são os cartazes e banners, que trazem em destaque a imagem da Santa Dulce dos Pobres, como grande “símbolo” de compromisso, empatia e personificação da caridade cristã de nosso País.

Assim, somos convocados, como afirma o Papa Francisco, “a transpor a realidade da indiferença”, a exemplo da Santa Dulce dos Pobres e ir ao encontro das realidades que ferem a dignidade do ser humano. Tais como: as diversas vulnerabilidades sociais; a cultura de morte que permeia a nossa sociedade, de modo a lutar na defesa pela vida desde a sua concepção até a morte; as desigualdades nas propriedades e posses de terra, especialmente no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, que têm seus direitos ameaçados; bem como ir ao encontro dos migrantes que carecem de acolhida e amparo; ser solícitos aos idosos desamparados e fragilizados na promoção de suas dignidades e ainda, dentre tantas ações que permeiam a dignidade humana, zelar pela casa comum, promovendo uma natureza sustentável e uma ecologia integral.

FOLHA DIOCESANA: É uma temática pertinente. Houve alguma preparação na diocese para entender sentido da CF 2020?

PADRE BRUNO: A nossa diocese Guanhães, em comunhão com toda Igreja do Brasil, com anseio em responder a esta convocação, no dia 30 de Novembro de 2019, promoveu um dia de Formação sobre a Campanha da Fraternidade de 2020, que ocorreu no salão de formação da Catedral, e foi dirigida pelo Pe. José Antônio de Oliveira, pároco da Paróquia São João Batista em Barão de Cocais e autor do hino da CF 2020. Para esta formação foi solicitado que cada paróquia enviasse ao menos 4 leigos.

Ainda sobre o sentido da CF 2020, o Secretário Executivo para as Campanhas da CNBB, Padre Patriky, da diocese de Luz (MG), em uma entrevista ao Vatican News explicou o seguinte: “Olhando o nosso cenário atual, não somente no nosso país, mas no mundo como num todo, nós percebemos diversas realidades onde a vida tem sido descuidada. O tema vai desde a questão do aborto, dos pobres e da questão ecológica, olhando sobretudo as periferias existenciais. Talvez essa deva ser uma das primeiras campanhas, que toca diretamente nas periferias existenciais como Papa Francisco nos fala. Situações como depressão, automutilação, também o número de pessoas desaparecidas, que no Brasil chega a 800 mil pessoas, segundo os dados que temos atualmente. Então, o desejo da Campanha da Fraternidade para 2020 é conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, esse dom e compromisso que se traduza em relação de mútuo cuidado dentre as pessoas, na família, na comunidade e também na sociedade. A vida é um intercâmbio de cuidados e nós, que cremos que Jesus é a vida, a Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a refletir isto: quando nós nos dispomos a cuidarmos uns dos outros, a vida recobre um novo sentido”.

FOLHA DIOCESANA: Por que a imagem escolhida para ilustrar a CF de 2020 foi de Santa Dulce dos Pobres, cercada de pessoas no Pelourinho em Salvador?

PADRE BRUNO: Ela é a imagem que caracteriza o bom samaritano para os dias atuais em nosso país. Lembramos de diversas mulheres, religiosas, leigas, e dentre tantas possibilidades, nós olhamos Santa Dulce, vida doada e vida santificada. Ela que fez de um galinheiro uma obra de cuidados extraordinários, não somente a obra em si, mas ela mesma foi sinal da obra de Deus, no cuidado, se aproximando e cuidando. Daí então a escolha de Santa Dulce como este ícone do Bom Samaritano para os dias de hoje, que estimula também a caminhada missionária da Igreja. Vida doada e vida santificada!

FOLHA DIOCESANA: de que forma o lema nos ilumina a viver a CF 2020?

PADRE BRUNO: O lema é um trecho do evangelho de Lucas (parábola do Bom Samaritano) e retrata a compaixão de Jesus. A expressão “sentir compaixão” também aparece como “tomado de compaixão” em algumas traduções; no entanto os textos bíblicos raramente dizem “sentir compaixão”; o que mais destacam é “mover-se de compaixão” (cf. Êx 3,7-8; Os 11,8; Lc 10,33; Lc 15,20; Mc 6,34)

A compaixão pode ser entendida como um “sentir com o outro”. Mas, o que a caracteriza não é só sentimento, mas o movimento (agir). Pois trata-se de um “sentir com” que constrange. É diferente do sentir dó pois é um sentimento que move e faz sair do afetivo e ir para o efetivo.

Jesus conclui a parábola ordenando aos seus seguidores: “Vai, e também tu, faze o mesmo” (v. 37). A compaixão e as obras dela se tornam parte da missão para os discípulos do Senhor; é a prática do evangelho, expressão da minha interioridade e é expressão do amor misericordioso e providente de Deus; um bálsamo que alivia de forma eficaz a pobreza, a fome e a violência. Tais pessoas são promotoras da solidariedade, da justiça e da paz.

FOLHA DIOCESANA: Alguma consideração sobre o lema?

PADRE BRUNO: no editorial da Folha Diocesana escrevi que o “lema é um trecho do evangelho de Lucas (parábola do Bom Samaritano) e retrata a compaixão de Jesus. A expressão “sentir compaixão” também aparece como “tomado de compaixão” em algumas traduções; no entanto, os textos bíblicos raramente dizem “sentir compaixão”; o que mais destacam é “mover-se de compaixão” (cf. Êx 3,7-8; Os 11,8; Lc 10,33; Lc 15,20; Mc 6,34). É um afeto profundo que brota do coração – num sentido figurado: sede das emoções, em nosso uso coração (Lc 1, 78; 2 Cor 6, 12; 7, 15; Fp 2, 1; Cl 3, 12; Fm 7, 20; 1 Jo 3, 17) – e transborda nos gestos.

A compaixão pode ser entendida como um “sentir com o outro”. Mas, o que a caracteriza não é só sentimento, mas o movimento (agir). Pois se trata de um “sentir com” que constrange. É diferente do sentir dó, pois é um sentimento que move e faz sair do afetivo e ir para o efetivo.

Jesus conclui a parábola ordenando aos seus seguidores: “Vai, e também tu, faze o mesmo” (v. 37). A compaixão e as obras dela se tornam parte da missão para os discípulos do Senhor; é a prática do evangelho, expressão da minha interioridade e é expressão do amor misericordioso e providente de Deus; um bálsamo que alivia de forma eficaz a pobreza, a fome e a violência. Tais pessoas são promotoras da solidariedade, da justiça e da paz.”

FOLHA DIOCESANA: Alguma consideração final?

PADRE BRUNO: Rogamos a Deus que nos encoraje a nos valer deste período quaresmal como oportunidade, de irmos como comunidades fraternas ao encontro de nossos irmãos sofredores e unidos a eles, lutarmos para que o dom mais precioso, que é a vida, seja salvaguardada e junto dela, seus direitos invioláveis.

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