“Desejei ardentemente celebrar esta Páscoa convosco”
(Lc 22,15)
Entre muitas semanas santas que já vivenciamos dentro do grande mistério cristão, Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, a deste ano tem algo especial, o Ano Santo da misericórdia. Vamos ver e sentir a presença de Jesus como o rosto de misericórdia do Pai, como nos diz o Papa Francisco na Bula de proclamação do Jubileu extraordinário da misericórdia. Assim, em toda a Semana Santa Jesus Cristo é o principal centro. O Santo Padre em um dos seus pensamentos nos diz: “Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados”. O grande mistério cristão é o da Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja celebra este grande Mistério em três grandes momentos na fé dos cristãos: A Encarnação do Filho de Deus (Lc 1 e 2), a Páscoa com a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor (Jo 18;19;20 ss) e o Pentecostes (At 2 ss). Nestes mistérios, incluindo a vida pública, desde o batismo (Mt 3, 13s; Mc 1, 9s; Lc 3, 21s; Jo, 1 29s), celebra-se a vida de Jesus até sua Ascensão ao Céu (Lc 24,50) e a vinda do Espírito Santo (Jo 16, 5ss; At 2 1-4). Estes mistérios estão dentro do tempo litúrgico que o ano tem. Entre todos os momentos o da Paixão, morte e ressurreição do Senhor é mais forte. Aqui se vive uma espiritualidade, jamais vista na história da humanidade. As palavras de Pilatos… Eis o Homem? (Jo 19,5), enriquecem o momento histórico, bíblico, pastoral da Semana Santa, tão querida e vivenciada por nossas comunidades. Desde as mais solenes celebrações às mais lindas teatralizações, vemos sempre um resgatar da fé e um grande desejo de se aproximar de Deus. Os Evangelhos se abrem para mostrar o Cristo sofredor (Mc 14,36; Jo 20,17; Mt 11,27).
Por isso, entre todas as semanas que o ano tem, certamente, para os cristãos, a Semana Santa tem um valor diferenciado. Tudo o que se vive e celebra tem um sabor que só quem participa e vive sabe o bem que faz à sua vida pessoal e comunitária. A Igreja Católica, em todo o mundo, celebra e vive esta semana, onde solenes celebrações, encenações empolgam atores e amadores com um único objetivo de celebrar os últimos dias de Jesus de Nazaré nos mais emocionantes e comoventes momentos de sua vida neste mundo antes de ir para o Pai (Jo 14, 1ss). Esta riqueza espiritual da piedade popular é cristocêntrica, mariana de estilo comunitário, missionário, buscando revitalizar a vida dos batizados para que permaneçam e caminhem no seguimento de Jesus. É o que nos atesta o Documento de Aparecida, capítulo 6. Todos nós vivemos uma espiritualidade adentrando nos Evangelhos, fazendo deles a verdade de nossa fé e o grande caminho para chegar ao grande Domingo da Páscoa. Cada um do seu jeito, vivenciando sua cultura, esforça-se para representar com gestos, palavras, oportunidades o que a humanidade jamais viu, os mistérios da morte e ressurreição de Jesus (Jo 18; 19; 20 e 21).
A partir daqui entra em cena o grande aleluia. Todo esse esforço quer buscar os alvores, desta vitória, alegria para o coração dos cristãos. Nada impediu Jesus de ressuscitar e nada nos pode impedir de cantar esse louvor anunciando que o sepulcro está vazio. Vós sereis minhas testemunhas (At 1, 8). Somos testemunhas vivas e, para tal não devemos ter medo de dizer: “Ele ressuscitou e está no meio de nós … eles viram e acreditaram” (Jo 20, 8). Não devemos ter a dúvida de Tomé (Jo 20, 24). Ao contrário devemos com todas as forças ser discípulos e missionários de Cristo para que N’Ele nossos povos tenham vida, pois nosso Mestre é o “Caminho a verdade e a Vida” (Jo 14,6), a certeza absoluta do nosso Aleluia. Ela (Aleluia) é o portal, no dizer do Papa Francisco, que só se pode ter acesso pela Gloriosa Ressurreição de Jesus. O Aleluia nos pede para caminhar e não ter a tentação de olhar para trás. O Papa Francisco nos assegura: “Nossa vida é um caminho, quando paramos, não vamos para a frente”. Sejamos Aleluia vivo. A palavra Aleluia na magnificência de sua etimologia quer nos anunciar o grande cântico de alegria e louvor, frequente nos salmos, adotado pela Igreja na liturgia, no tempo da Páscoa. É a grande expressão do sentimento de felicidade, contentamento, satisfação, júbilo, culminando com o regozijo da vitória de Jesus com sua Santa Ressurreição (Lc 24, 1ss; Jo 20 1ss). O Sábado Santo, na sua vigília, é a grande sucessão de fatos que ocorreram e que constituem a vida do homem, considerados como resultantes de causas independentes de sua vontade. Assim, caminhamos para o grande dia, o primeiro da semana, onde vemos o alvorecer deste cântico de louvor (Jo 20, 1). Como Batizados remamos com nossos barcos lançando as redes mar adentro, desejando comunicar o amor do Pai que está no céu e a alegria de sermos cristãos batizados, para que proclamemos com audácia Jesus Cristo a serviço de uma vida em plenitude para nossos povos. Com as palavras dos discípulos de Emaús e com a oração do Papa Emérito Bento XVI em seu discurso inaugural do Documento de Aparecida concluímos com uma prece dirigida a Jesus Cristo: “Fica conosco porque é tarde e o dia declina” (Lc 24,29). Seja Aleluia vivo. Pense nisso.
Côn. Dr. Manuel Quitério de Azevedo
Professor do Seminário Arquidiocesano de Diamantina e da PUC-MG
Membro da Academia de Letras e Artes de Diamantina – MG
Membro da Academia Marial de Aparecida – SP